Esta sexta-feira, dia 24, foi o último dia para que o ator Ari Areia entregasse sua defesa à provocação feita pela OAB ao Ministério Público Federal (MPF) sobre a peça "Histórias Compartilhadas". O monólogo, que tratava a transexualidade masculina, foi motivo de polêmica após fotos terem sido publicadas em uma página do Facebook.
A apresentação, que utiliza uma imagem de Jesus crucificado em uma das cenas, aconteceu em maio, durante o I Seminário: Conversas empoderadas e despudoradas sobre gênero sexualidade e subjetividades”, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Em junho, a Comissão de Liberdade Religiosa da OAB enviou ofício ao MPF com objetivo de apurar a legitimidade da peça no que concerne à liberdade de expressão e ao crime de vilipêndio (escarnecer publicamente de ato ou objeto de culto religioso).
"O vilipêndio precede que haja intenção de ofender. E o que houve é que pessoas se sentiram ofendidas por uma imagem contextualizada e manipulada com uma legenda. Eles não haviam visto a peça", afirmou Ari. Conforme ele, na peça de defesa apresentada hoje, os advogados do escritório Frei Tito, de Direitos Humanos, deixaram claro as fundamentações estéticas e teóricas do trabalho, que foi exibido no contexto acadêmico, com a participação de professores conceituados.
INVESTIGAÇÃO DE AMEAÇAS
"Nós pedimos que o MPF investigue as pessoas que se manifestaram na rede social, com ameaças diretas e incitações. A defesa se constitui nisso", contou o ator. Ari disse que o MPF solicitou um vídeo com imagens da peça. Entretanto, conforme o ator, a peça de defesa fez um convite para que os membros do órgão assistissem ao vivo. "A filmagem, assim como a fotografia, não é a experiência do espetáculo", pontuou.
Hoje, em sua página do Facebook, o deputado Jean Wyllys publicou texto em defesa do espetáculo e contra a intolerância política. Um dos trechos finais do texto foi:"Não podemos continuar reféns da arbitrariedade de gente que não tolera outro ponto de vista que não seja o seu. As pessoas trans existem, são plenas de direito e devem ter garantida a mesma liberdade artística que todas as outras pessoas na sociedade. Aqueles que se incomodaram com o conteúdo da peça terão sempre a prerrogativa de não assisti-la. O que não podemos é aceitar silenciamentos e ameaças veladas cuja única motivação é o preconceito".A postagem foi compartilhada 95 vezes.
De acordo com a
nota de repúdio da OAB, "o ator excedeu o seu direito constitucional à livre manifestação de pensamento e expressão porquanto encontrou limite ao ofender o também direito constitucional de inviolabilidade de consciência e crença de dezenas de pessoas (art. 5º, VI, CF), que se sentiram insultadas com a performance".
Redação O POVO Online