Políticos e Super-heróis, o que há em comum?
Rennan Torres Pinto
Quando crianças, a falta de competência cognitiva para interpretar e compreender a realidade nos leva ao mundo – geralmente imposto pelos pais,– da ficção. Assim, temos nossa primeira percepção dos estereótipos da narrativa: mocinho, vilão, anti-herói e personagens secundários. Durante o amadurecimento intelectual, é notório perceber que tais estereótipos fogem desse mundo imaginário e assumem papeis importantes na realidade política em que vivemos. O vilão, em forma de dinheiro, corrompeu aqueles que em teoria deveriam assumir os demais papeis, envenenando e manipulando a sociedade a acreditar que a existência dos outros estereótipos - em particular o mocinho – só será possível na figura de um ” Salvador” , seja ele uma figura religiosa, ideológica ou política. A partir disso, surge a angústia e a pergunta: Quem é o super-herói da sociedade contemporânea?
Apesar de muito criticado por fazer parte de uma cultura de massa que muitos acreditam em nada contribuir para a formação intelectual de um indivíduo, produções como “ Batman “ e “ Os Vingadores “ nos mostram a incapacidade do Estado de agir dentro dos parâmetros legais para combater de forma eficaz e totalitária o crime e qualquer ameaça à sociedade, seja por falta de estrutura adequada, ou pela organização inteligente dos criminosos . Daí observa-se a primeira divisão ideológica do povo: de um lado aqueles que apoiam tal prática ilícita desses justiceiros; do outro, aqueles que os veem como uma ameaça ao bem estar social e à organização politica. Tal discussão, imposta nessas produções, reflete a atual realidade política do nosso país. Vivemos hoje num governo tão desacreditado e insatisfatório, que qualquer político que traga propostas de melhoria social e fuja dos parâmetros legais da Constituição é aclamado e aplaudido com um “Vingador “. E mais uma vez, assim como na ficção, a sociedade se divide em duas, escolhendo o lado que melhor convém seja ele a Esquerda ou a Direita.
Todavia, ainda discutindo sobre super-heróis, o que muitos não percebem é que o super-herói contemporâneo não luta mais pelo interesse do povo, e sim pelos próprios interesses. Realidade metaforizada no enredo da grande obra “ Watchmen” , escrita por Alan Moore nos anos 80 . Numa nova realidade multifacetada e caótica onde “a liberdade de expressão deu voz a milhares de imbecis “ como defendeu Eco, como agem os políticos? Com certeza , não mais defendendo os interesses do povo, mas agindo de uma forma que possa conservar o próprio poder. Contudo, persiste a crença de um governo divido entre ideais, quando na verdade, o que há são alianças e acordos.
Nesse mundo contemporâneo, portanto, fica cada vez mais difícil acreditar em heróis. Diferente dos quadrinhos, onde a sua grande maioria é dotada de superpoderes – isso quando não são alienígenas- na vida real, nossos heróis são apenas humanos. Ou, como diria Nietzsche, demasiadamente humanos.