Raimundo Cela foi engenheiro e artista, mas sua alma era de pescador.
Apaixonado pelo litoral cearense, descobriu a jangada e a escolheu como musa.
De Sobral para Fortaleza, de Camocim ao Rio de Janeiro, do Brasil à França, mergulhou na arte e escolheu seu porto seguro: queria eternizar em pinturas e gravuras a lida do homem do mar.
Apartado das correntes modernistas que reformavam as artes nacionais na primeira metade do século passado, Cela escolheu seu próprio caminho. Nem cubista, nem impressionista. Nem futurista, nem surrealista. Distante da pop arte, do concretismo e do expressionismo, o artista foi um dos criadores da visualidade cearense. A ousadia e o apuro técnico de Cela serão revisitados na exposição Um Mestre Brasileiro, com abertura marcada para amanhã, 17, no Museu de Arte Contemporânea (MAC) do Centro Dragão do Mar.
“Ele é um artista que abandona aquela temática que Portinari trabalhou, dos retirantes, da seca, da fome. Cela escolhe outro caminho. Vai falar sobre a energia e a força do jangadeiro, sobre a persistência e a luta do homem do mar”, explica a paulista Denise Mattar, curadora da exposição. A retrospectiva foi inaugurada em junho de 2016 no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado, em São Paulo, seguiu para o Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Fortaleza é a cidade que encerra a turnê.
“Só agora a crítica está acordando para o Cela, porque ele é um artista de transição, está na passagem de um estilo para o outro. Não pode ser classificado como um trabalho apenas acadêmico”, diz Denise, explicando que Cela começou a produzir quando ainda estava no Ceará e continuou trabalhando no Rio de Janeiro e na França, onde finalmente se permitiu escapar do academicismo da Escola de Belas Artes e avançar em direção à temática social que o atraía.
Denise, que há anos vem organizando exposições retrospectivas de nomes de primeira grandeza como Alfredo Volpi, Di Cavalcanti e Portinari, se encantou pela obra do cearense. “Gosto de resgatar artistas que, por um motivo ou outro, ficaram escondidos. Quando vi Cela, fiquei impressionadíssima. Acho que conseguimos fazer as pessoas perceberem o super artista que ele é”, conta.
Nascido em Sobral em 1890, Cela estudou ciências e letras no Liceu do Ceará e se mudou para o Rio de janeiro aos 20 anos. Atendendo aos pedidos da família, foi estudar engenharia na Escola Politécnica. Ao mesmo tempo, matriculou-se como aluno livre da Escola Nacional de Belas Artes, tendo estudado sob orientação de grandes mestres das artes brasileiras do início do século, como o ítalo-brasileiro Eliseu Visconti. Por sua pintura clássica Último Diálogo de Sócrates - também presente na exposição - foi premiado com uma viagem à França.
“Ele fazia os dois cursos e ainda trabalhava na equipe de desenhos do Marechal Rondon. E foi incrível ganhar esse prêmio, porque ele não era um nome conhecido, nem de família importante. Ganhou pela qualidade de sua obra”, comenta Denise. Na França, Cela também se destacou, abrindo mão do classicismo e mergulhando no universo dos trabalhadores, funileiros e feirantes.
Mas o sonho europeu chegou ao fim quando Cela, aos 33 anos, sofreu um acidente vascular cerebral e precisou voltar ao Brasil.
“Ele volta pra Camocim, fica sem pintar durante nove anos. Quando decide voltar a trabalhar, aposta no mesmo universo dos tipos populares. Em Fortaleza, descobre a jangada, e é um momento de plenitude da obra dele, quando pode juntar seus conhecimentos de artista aos de engenheiro e fazer um trabalho de ritmo, precisão e muita qualidade pictórica. Foi um colorista excepcional”, diz Denise.
As 75 obras expostas no MAC cobrem a produção de Cela desde os anos iniciais no Brasil, com sua proposta fundamentalmente acadêmica, passando pela descoberta da dimensão social na Europa e a consolidação de sua estética da jangada no retorno ao seu país natal. Com visitação até março, a exposição é mais uma oportunidade para honrar os que nunca aceitaram se afastar de nossa terra.
Serviço
Expo Raimundo Cela -Um Mestre Brasileiro
Quando: abertura amanhã, às 19 horas (visitação a partir do dia 18, de terça a sexta, das 9 às 19 horas, e aos sábados e domingos, das 14 às 21 horas) Onde: Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81) Entrada Gratuita
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