A evolução e os medos de um talento
Paulo Renato Abreu, repórter do O POVO
Silvero Pereira é sagaz ao levar em consideração um detalhe que faz toda a diferença em seu trabalho artístico: o universo trans é o universo humano. Transexuais, travestis e transformistas não são um tipo diferente de gente, elas só estão mais expostas ao nosso estranhamento. E, se apropriando das muitas ambiguidades tão comuns a todos, o coletivo As Travestidas tem experimentado diferentes formas de contar essas histórias de vidas ornamentadas com perucas e maquiagens “babadeiras”.
Guardo a primeira vez que vi Silvero em cena. Foi em 2010, no antigo prédio do Centro Cultural Banco do Nordeste. Sem saber nada sobre aquele grupo que iria assistir, fui recebido por uma cena engraçada de interação com o público e logo associei aquilo aos humoristas travestidos que se apresentam em churrascarias. Em cinco minutos de Engenharia Erótica, porém, Silvero e suas meninas conseguiram me arrebatar e provar que aquela comparação não fazia o menor sentido.
E, se há seis anos aquilo já me parecia incrível, hoje essa evolução é ainda mais evidente e tem como ponto alto o sucesso BR Trans.
Diante das muitas formas que as travestis já foram apresentadas pelo coletivo, fico me perguntando sobre os medos que Silvero tem a respeito do que virá. Como não se repetir? Como o público pode ser levado a lançar novos olhares sobre as figuras trans nos próximos espetáculos?
O mais recente, Quem tem medo de travesti, é uma boa síntese do que o grupo já fez, mas resta saber o que vem depois dessa curva. A expectativa é de que o medo do repetido abra caminho para ousadia, marca de artistas potentes como Silvero Pereira.
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O desaguar de Silvero Pereira
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