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O espetáculo Histórias Compartilhadas estreia hoje, às 19 horas, em apresentação gratuita no Sesc Emiliano Queiroz, no Centro. Documentário cênico do Outro Grupo de Teatro, a montagem levanta discussão sobre transexualidade masculina, evidenciando personagens que são “meninos nascidos em corpos de meninas”, como afirma o ator Ari Areia, que sobe ao palco sob direção de Eduardo Bruno.
“Os transhomens não têm tanta visibilidade e a sociedade ainda faz essa confusão sobre quem somos. É diferente das trans que já estão na luta há muito tempo e, por isso, são mais conhecidas”, destaca João Nery, primeiro homem transexual a fazer adequação corporal no Brasil, em 1977. Autor do livro Viagem Solitária, João é um dos personagens apresentados no espetáculo. Ele se faz presente em áudio que conta a própria história.
A proposta da montagem, inclusive, é evitar “cair numa apropriação indevida do discurso desses sujeitos” e, por isso, reúne fatos, documentos e entrevistas narradas em primeira pessoa por quem viveu essas histórias. “Eu não sou um transhomen e optei por não colocar o discurso deles na minha boa. Preferi me colocar no lugar do respeito”, afirma Ari Areia, que está sozinho em cena, mas recorre a recursos audiovisuais para incluir outros personagens.
Além de João Nery, também são compartilhadas as histórias do cearense Otávio Queiroz, do baiano Tiago Uchoa e dos norte-americanos Riley Moscatel e Buck Angel. Os discursos são perpassados pela presença de Ari, cuja atuação está mais ligada à performance.
“O objetivo é trazer o incômodo e não respostas, por isso, partimos pela performance, que busca presentificar, borrar a fronteira entre a arte e a vida”, destaca o diretor Eduardo Bruno, integrante do Emfoco Grupo de Teatro, companhia em intercâmbio com o Outro Grupo para realização do trabalho que estreia hoje.
Minoria da minoria?
“Nós somos uma sociedade machista, em que o lugar da mulher sempre tem um menor destaque. A prova é que temos muitos debates sobre gays, mas pouco sobre lésbicas e o transhomem está ainda mais à margem”, pondera Eduardo. O diretor afirma que, para muitos, “uma mulher não pode querer ser homem, porque mulher é inferior”, critica, e que, por isso, o transexual masculino pode “incomodar” ainda mais. “Já quando é um homem ‘querendo’ ser mulher, as pessoas já levam para o lugar da chacota”, afirma.
“Quisemos falar dessa minoria dentro da minoria, porque, às vezes, muita gente comete transfobia até sem perceber, por falta de conhecimento”, afirma Ari, pontuando que até as comunidades LGBT acabam não refletindo muito sobre o tema. “É sempre importante lembrar as diversas possibilidades que a sexualidade humana
tem”, conclui.
Serviço
Estreia de Histórias Compartilhadas
Quando: hoje, às 19 horas. E nos dias 11, 12, 18, 19 e 26 de julho, sempre às 20 horas.
Onde: Sesc Emiliano Queiroz (R. Clarindo de Queiroz, 1740-Centro).
Quanto: Hoje, gratuito. Na temporada, R$ 6 (inteira).
Telefone: 3452 9090
JOÃO NERY
“É como se só existisse homem e mulher”
“A sociedade continua cobrando uma obrigatoriedade binária das pessoas trans. É como se só existisse homem ou mulher”, afirma João Nery, que “nasceu Joana”, e hoje, aos 65 anos, é pai e avó. Ele completa: “Você pode se tornar um homem ou uma mulher, ou as duas coisas, ou outras coisas”, diz, defendendo maior liberdade de gênero.
João foi pioneiro ao se tornar a primeira pessoa designada mulher a mudar de sexo no País. Ele fez cirurgia para tirar seios, útero e ovários em 1977. “No passado, era diferente, não havia a categoria transexual, ainda era um assunto muito velado, tratado de forma discreta”.
Autor de Viagem Solitária - memórias de um transexual 30 anos depois, ele defende a importância de projetos como Histórias Compartilhadas, que traz para a arte a discussão de gênero e sexo. “É importante que a arte transcenda o que a gente é influenciado a ver”, diz.
Conhecida como “Lei João Nery”, o projeto de lei 5002/13, que estabelece o direito à identidade de gênero, tramita atualmente na Câmara. De autoria do deputado Jean Wyllys (Psol-RJ) e da deputada Erika Kokay (PT-DF), ele obriga o SUS e os planos de saúde “a custear tratamentos hormonais integrais e cirurgias de mudança de sexo a todos os interessados maiores de 18 anos, aos quais não será exigido nenhum tipo de diagnóstico, tratamento ou autorização judicial”. (Paulo Renato Abreu)
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