[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Luz, câmera e muitos sonhos | O POVO
MATÉRIA DE CAPA 20/05/2015

Luz, câmera e muitos sonhos

Com pouco dinheiro e muita criatividade, Josenildo dos Santos fez do Bom Jardim sua Hollywood, é assediado na rua e já está próximo de lançar o quarto filme
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Marcos Sampaio marcossampaio@opovo.com.br
DIEGO CAMELO/ESPECIAL PARA O POVO
"Você é o cara do filme?", foi a pergunta que Josenildo passou a responder nas ruas do Bom Jardim
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Uma clínica psiquiátrica afastada da cidade começa a ser atormentada por mortes misteriosas. No comando da unidade está o doutor Mallone e a enfermeira Valéria, ambos intrigados com a série de assassinatos de pacientes. Pela natureza das mortes, todos suspeitam que algo sobrenatural está rondando aqueles corredores.

Nas mãos do diretor de filmes de horror John Carpenter, o roteiro acima seria um sucesso internacional que atrairia multidões de cinéfilos. De fato, O inferno é aqui foi um grande sucesso de público e vendas quando foi lançado em 2009, mas, pouca gente sabe disso. Esse desconhecimento tem motivo: o terror de pouco mais de 30 minutos foi produzido, filmado e lançado no bairro do Bom Jardim, em Fortaleza.


O pai desta aventura cinematográfica é Josenildo do Nascimento, 37 anos. Quando criança, uma de suas brincadeiras preferidas era escrever roteiros para serem encenados pelos amigos e desenhar histórias em quadrinhos. “Um belo dia, não sei por que, comecei a pensar que aqueles desenhos poderiam ganhar movimentos”, lembra o cineasta que recebeu O POVO em sua casa.


A ideia começou a virar realidade quando Josenildo, com 18 anos, entrou para o grupo de teatro do bairro. Encantado com a experiência de ator, ele estudou direção e voltou a escrever roteiros. O primeiro, A fera e a bela dorminhoca (2008), ficou só no papel. Como ele não desiste fácil, escreveu um segundo roteiro já pensando em cinema. Reunindo amigos do teatro, um pipoqueiro e quem mais se dispusesse, as filmagens de O inferno é aqui tomaram 10 dias entre novembro e dezembro de 2008.


Feita com uma única câmera de VHS, som direto e luzes penduradas em cabos de vassoura, a história de terror foi marcada pelo amadorismo. Para se ter ideia, a primeira noite de filmagem foi perdida por que ninguém sabia tirar a data e a hora do display da câmera da imagem. “Dentro das limitações técnicas, foi um filme sério”, avalia o diretor que, como terceirizado da Secretaria de Saúde do Município, conseguiu usar Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) como locação.


Com a edição pronta nos primeiros meses de 2009, Josenildo colocou o filme para alugar na locadora da mãe. Contrariando as expectativas, a produção foi um enorme sucesso no bairro. “Não fiz pensando em grana. Só queria saber se seria aceito pela comunidade do Bom Jardim”, lembra ele, que passou a ser parado na rua para ouvir sempre a mesma pergunta “você é o cara do filme?”. Depois de oferecer o DVD para outras locadoras e fazer o lançamento no ponto de cultura Casa AME, ele começou a vender cópias do filme em casa.


Mesmo com o sucesso absoluto de O inferno é aqui, as coisas não ficaram mais fáceis nos novos projetos de Josenildo. Se 14 pessoas colaboraram na estreia, Apenas detalhes contou com menos da metade da equipe. Ainda assim, a história de amor baseada no texto de Rubens Lima encontrado pela internet, foi um projeto ainda mais ambicioso, uma vez que teria mais de uma hora de duração e seria todo filmado numa câmera Cyber-shot. Na contramão das dificuldades, o filme tem cenas gravadas no Centro, em ônibus, cemitério e na Praia de Iracema, a “Paris do Bom Jardim”, como ele define. “Gosto de filmar na rua porque, quer queira, quer não, você mostra a realidade. Não imagino como seria gravar num estúdio”, justifica o diretor.


Mais uma vez, o sucesso foi enorme e Josenildo soube que Apenas detalhes já tinha vendido mais de mil cópias no “pirateiro” do bairro, sofrendo um dos males da grande indústria cinematográfica. Ainda assim, o próprio diretor vendeu em casa cerca de 100 cópias do romance – a R$ 10 cada um.


Depois de dois longas, um curta (Jéssica) e da fama no Bom Jardim, Josenildo confessa que anda pensando mais no que está fazendo. Ele vem avaliando o custo emocional e financeiro de suas aventuras cinematográficas. Nada que o impeça de finalizar um novo trabalho ainda mais pretensioso. Inspirado numa história de família, Botija é um filme de época e já está em fase de finalização. Filmado em Barreira e Itaitinga, o longa conta com 22 atores e apoios do BNB (que emprestou o transporte em troca de duas oficinas de quadrinhos) e de um supermercado (que cedeu a alimentação). Filmado em HD com uma câmara recém comprada, ele sonha lançar Botija em julho, no Cine São Luiz. Como um especialista em realizar sonhos, talvez ele também consiga resolver esse.

 

FILMOGRAFIA


O inferno é aqui (2009)

Pacientes de uma clínica psiquiátrica são misteriosamente assassinados e todos desconfiam de uma força demoníaca. O sangue foi feito com mel Karo e corante, e uma cena usa um olho de carneiro cedido pelo frigorífico.

 

Apenas detalhes (2011)

Em crise conjugal, Victor e Elisabeth tentam manter a família. A solução vem através de uma proposta esquisita. Na cena do cemitério, eles tiveram que pegar uma coroa de flores “emprestada” no túmulo de um desconhecido.

 

Jéssica (2013)

Fã de redes sociais, a pequena Jéssica se vê perseguida por um pedófilo durante suas férias no interior. Feito para preencher o tempo durante o fim de semana, o roteiro foi escrito, sem pretensões, na rodoviária.

 

Botija (sem previsão)

Baseado numa história de família, o filme se passa em 1965. As roupas de época foram feitas pela irmã do diretor. A cena de abertura foi a última a ficar pronta por que a equipe não encontrava uma casa com varanda nos moldes que a cena precisava.

SAIBA MAIS


Biografia

Francisco Josenildo Ferreira do Nascimento, 37 anos, é natural de Aracoiaba, a 83 km da capital. A chegada a Fortaleza aconteceu em 1984, quando passou pelo Canidezinho e, em seguida, se instalou no Bom Jardim, onde mora com a esposa Gislândia Barros. Formado em Análise e desenvolvimento de sistemas pela Fatene, ele trabalha como artista gráfico na Secretaria de Saúde de Fortaleza. Para a atividade de cineasta, ele já fez cursos de edição de videoclipe, direção e roteiro para teatro, e desenho animado, este último na Casa Amarela.

 

Referências

Citando sempre Glauber Rocha (“uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”), Josenildo aproveitou um descanso em Madalena, município a 186 km de Fortaleza, para filmar Jéssica. O curta sobre pedofilia e redes sociais foi usado para levantar discussões no bairro, em igrejas e escolas. “Gosto da ideia do Glauber, se bem que hoje não é assim. Para fazer filme, precisa de muita coisa”, pontua. Além do cineasta baiano, o cearense cita o neorrealismo italiano e Quentin Tarantino (“que também faz tudo nos filmes”) entre suas referências.

 

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