Émerson Maranhão
EDITOR DE TENDÊNCIASemerson@opovo.com.br
Faz parte do encantamento do cinema permitir o que a vida do outro lado da tela não permite. Morrer mais de uma vez, por exemplo. Por isso, desta feita, Vadinho esperou o Carnaval passar e só morreu às vésperas da Semana Santa. Um dos mais famosos personagens da obra de Jorge Amado, o malandro do triângulo amoroso formado em torno de Dona Flor encontrou no ator José Wilker seu melhor intérprete.
O cearense radicado no Rio de Janeiro deu tanta graça e safadeza ao baiano malemolente que nele se imortalizou. E o filme, dirigido aos 21 anos por Bruno Barreto, tornou-se um fenômeno de bilheteria, levando mais de 11 milhões de espectadores às salas de exibição.
Também é das graças da sétima arte viver muitas vidas. Por isso Wilker nunca deixou de ser Vadinho, mas desdobrou-se em muitos. A bordo da caravana Rolidei, seu Lorde Cigano encantou plateias, fez nevar no sertão e mostrou um País parido a fórceps em Bye Bye Brasil, de Cacá Diegues. O cinismo do misto de gigolô e mágico mambembe deu a vez aos dilemas éticos de Edgar, o contínuo humilde e indeciso entre o amor verdadeiro e a oportunidade de casar com a filha do patrão, que havia sido currada por cinco negros, em Bonitinha, mas ordinária, de Braz Chediak.
A estes se juntaram muitos. Do bélico Tenório Cavalcanti apaixonado por sua “Lurdinha” em O Homem da Capa Preta (Sergio Rezende) ao pistoleiro risível Zeca Diabo no recente O Bem Amado (Guel Arraes). Wilker também foi Antonio Conselheiro (Guerra de Canudos, de Sergio Resende), Tiradentes (Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade), Giovanni Improtta, Donizetti (Villa Lobos, de Sergio Resende). São tantos, que este espaço não daria conta dos cerca de 50 filmes que o tiveram no elenco.
Por ser tantos, Wilker partiu ontem, mas muitos dele permanecem na magia da sala escura, toda vez que o projeto mostrar Vadinho rebolando, bunda de fora, descendo a ladeira do Pelourinho; ou Antônio Conselheiro arregimentando seguidores para sua causa; ou Lorde Cigano seduzindo moçoilas pelo sertão e combatendo, a ferro e fogo, as “espinhas de peixe”, que nada mais são que o antídoto para a magia do seu charme ilusório. Assim como ilusório (e permanente) é o encantamento do cinema que Wilker tanto amou. Há melhor causa para um bom combate?
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