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Ninguém sabe, de fato, o paradeiro de Jório Nerthal, nome artístico de José Teixeira Mendes, famoso ator do teatro e da TV cearenses nos anos 1960 e 1970. Nem mesmo a família e os amigos têm informações há pelo menos um ano. Os relatos são desencontrados; muitas vezes contraditórios.
Alguns dizem que ele morreu. Os fatos corroboram a versão. Nos últimos anos, contraiu uma doença que o impedia de salivar. Com isso, perdeu muito peso. Começou a se isolar do mundo. Não tinha filhos, nunca foi casado. Se estiver vivo, tem atualmente 84 anos. Nasceu em 30 de abril de 1929 e filho do poeta Carlos Teixeira Mendes.
Afora ele, são outros três irmãos. A única mulher – a artista plástica Maria Laura – migrou para o Rio de Janeiro. Um de seus netos pode ser encontrado pelo Facebook. O ator Claudio Mendes diz que a família perdeu totalmente o contato com seu tio-avô. Os parentes mais velhos, que ainda poderiam encontrá-lo, estão mortos.
Quando esteve em Fortaleza tentou um número de telefone que já não era mais de Jório. A última vez que ouviu a voz dele foi em 1997. Marcaram por telefone um encontro que acabou não acontecendo. Até hoje não conhece pessoalmente o parente. “Ele era um homem escorregadio”.
Ainda segundo o ator, Jório possuía um apartamento no Catete, bairro da zona sul do Rio. Quem administra o imóvel é o escritório do advogado Esequias Gomes de Lima. “Era sempre ele que nos ligava. Não quis deixar o número, porque tinha apenas celular. Nunca mais ligou de volta”, conta uma funcionária.
O escritório continua mandando, com sucesso, correspondências para o famoso edifício Jaqueline, na Avenida Beira-Mar. Na portaria, o funcionário Valter Araújo, que trabalha lá há 13 anos, conhecia Jório pelo nome de batismo. Só muito raramente o ator usava o 810. Depois de muito tempo que não via o inquilino, soube que ele morreu. Pede inclusive que as cartas retornem com a explicação de falecimento.
Jório tinha muitos imóveis. Outro deles era a casa na Avenida do Imperador, onde morou quando criança e que, agora, virou uma casa de show. No meio do ruge-ruge do Centro, uma funcionária, por detrás do portão fechado, não quis dizer o telefone do atual locatário, nem soube informar a imobiliária. O aluguel continua a ser pago.
Naquele mesmo endereço, um parente teria aparecido à procura do ator. Também queria saber seu destino. Ela nunca viu Jório. Conhecia-o como Teixeirinha, o mesmo diminutivo por que chamavam o pai dele, quando o poeta comandava a bomboniére do Theatro José de Alencar.
Trajetória
Sabe-se que Jório morou alguns anos no Rio. Trabalhou com o teatrólogo Paschoal Carlos Magno, no Teatro Duse. Agitador estudantil nos anos 1960, era assessor do ministro da Educação de João Goulart quando veio o golpe de 64. Teve de fugir para não ser preso. Passou um tempo incógnita no Ceará até o amigo e ator Ary Sherlock resgatá-lo para a TV.
“Fui eu que dei o nome de Jório Nerthal”, pontua Sherlock. Teixeira Mendes precisava de um distintivo artístico para sua volta à carreira. A TV Ceará Canal 2 apresentou, então, o galã de pomposo nome Jório Nerthal na telenovela O Conde de Monte Cristo. Era um sucesso.
Sherlock não vê o amigo há pelo menos um ano. Os dois se encontravam periodicamente para comprar roupas. Sempre vaidoso, na juventude Jório era musculoso, considerado bonito; levou uma vida de exercícios enquanto pôde.
Jório morou ainda numa casa na rua Dr. Justa Araújo, no Itaperi. O ator João Falcão, que trabalhou durante oito anos com ele no Grupo Quintal nos anos 1970, acha que a residência foi vendida e cedeu lugar a algum prédio. Não consegue mais achá-la.
Nos governos de César Cals (1971-1975) e Adauto Bezerra (1975-1978), eles participaram de caravanas artísticas que faziam apresentações teatrais no Interior. O Grupo se dissolveu em mágoas, segundo Falcão. “Ele tinha um temperamento muito agressivo. Era esquentado. Partia para a briga”, conta.
Na década de 1980, Jório tentou materializar um projeto grandioso. A ideia era construir em Juazeiro do Norte, no Cariri cearense, uma cidade cenográfica nos moldes de Nova Jerusalém, em Pernambuco, onde há a representação ao ar livre da Paixão de Cristo. Nunca deu certo.
Foi nessa época a última vez que o ator Ricardo Guilherme, assistente de direção em três peças do Grupo Quintal, se encontrou com ele. Lembra-se de seu trabalho de carnavalesco, destaca as decorações que fazia no período momino aqui e em outras cidades do Ceará.
O amigo Henrique Justa diz acreditar que a reclusão cada vez mais profunda foi uma decisão voluntária após a doença que o debilitou fisicamente. Depois que morreram os parentes mais próximos – inclusive a antiga e fiel empregada Maria –, Jório assentou-se numa casa em Lagoinha. Gostava muito da costa.
Justa soube que ele não mora mais lá. Soube ainda que os vizinhos espalham a notícia de sua morte há cerca de um ano e meio. Pelos cálculos, ele deve ter sobrinhos, filhos de um irmão com o mesmo nome do pai. Possivelmente para eles deixou os bens.
Jório se perdeu em algum lugar do tempo. E sua suposta morte parece suspensa, como os segundos que separam a última fala do aplauso.
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