[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Fran Martins centenário | O POVO
Literatura 15/06/2013

Fran Martins centenário

Na última quinta-feira, foi comemorado o centenário de nascimento do escritor Fran Martins (1913-1996). Celebrando a efeméride, o Vida & Arte traz um texto do professor Sânzio de Azevedo discutindo o legado de Martins para a cultura cearense
FOTO: BANCO DE DADOS
Fran Martins: protagonismo intelectual que ajudou a consolidar o modernismo na literatura cearense
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Sânzio Azevedo

ESPECIAL PARA O POVO

Um dia desses lembrei ao Pedro Salgueiro que, em 2014, teremos o primeiro centenário de nascimento de Moreira Campos. Mas, conversando com outro amigo escritor, Raymundo Netto, chamei sua atenção para o centenário, neste ano de 2013, de Fran Martins.


Dos irmãos Martins, depois de Martins d’Alvarez, que vi somente uma vez no Rio de Janeiro, aquele com quem menos falei foi Fran Martins. Mas foi ele quem me fez a saudação quando ingressei na Academia Cearense de Letras (ACL) em 1973: é que, segundo me revelou Cláudio Martins (então Vice-Presidente da entidade), foi ele, Fran, quem, para minha surpresa, primeiro se lembrou do meu nome para ocupar a Cadeira nº 1, razão por que naquela solenidade (há 40 anos!) assumia o escritor a tarefa ingrata de procurar mérito na minha modesta bagagem literária, naquele tempo ainda menos significativa do que hoje...


Muitos anos mais tarde, ao pesquisar a história da ACL, cheguei à conclusão de que o escritor nunca ocupou a tribuna para saudar nenhum novo acadêmico, antes ou depois de minha posse. Posso assim afirmar, cheio de orgulho (o que, espero, o possível leitor destas linhas me perdoará), que fui o único e ser saudado por Fran Martins.


Nasceu o escritor em Iguatu, no dia 13 de junho de 1913 (há 100 anos) e veio a falecer em Fortaleza, no dia 29 de junho de 1996, dezesseis dias depois de haver completado 83 anos de idade. Seu nome civil era Francisco Martins, mas, seguindo o exemplo do escritor português Fran Paxeco (que residiu no Maranhão e era amigo de Adolfo Caminha), o prof. Antônio Martins Filho sugeriu ao irmão encurtar o prenome...


Autor de uma obra ficcional expressiva, tanto no conto quanto no romance, destacam-se, no primeiro, Manipueira (1934), Noite feliz (1946), Mar oceano (1948), O Amigo de infância (1960) e A Análise (1989) e, no segundo, Ponta de rua (1937), Mundo perdido (1940), A Estrela do pastor (1942), O Cruzeiro tem cinco estrelas (1950) e A Rua e o mundo (1962). Acrescente-se a essa lista a novela Dois de Ouros (1966). No meu livro Literatura cearense (1976), Fran Martins figura com um trecho de Dois de Ouros, seguido de comentário. Nessa novela há um personagem chamado Vicente Celestino. Antes de meu livro sair, encontrei o escritor à porta da Livraria Imperial na rua Guilherme Rocha, e lhe perguntei por que ele pusera num personagem o mesmo nome de um famoso cantor, e ele, rindo, me respondeu que não sabia, mas garantiu: “O meu é bem melhor do que o outro...” Somente em 1997, depois da morte do escritor, foi que, organizando a pedido de Antônio Martins Filho o livro Pireu, ida e volta e outras crônicas, de sua autoria, constatei, pelo texto “Irradiadoras”, a grande aversão de Fran Martins às repetições de discos interpretados pelo cantor que foi cognominado “A Voz orgulho do Brasil”...


Interessante é o fato de a crônica intitulada “Cangaço” reproduzir o caso – contado ao autor pelo jornalista e escritor Durval Aires – de dois meninos criados juntos e que se reencontram, já homens, em campos opostos: um, cangaceiro, e o outro, soldado da volante encarregada de prendê-lo. Esse seria mais ou menos o tema de Dois de Ouros, em que o cabo Firmino, que recebeu ordem de prender Juvêncio (o nome do cangaceiro), não esquece o fato de que este o salvara de morrer afogado quando, na infância, brincavam juntos.


Fran Martins como ficcionista aproveitou da história apenas o tema, mas o enredo criado por ele não deixa de ser verossímil, com o cabo Firmino, agradecido ao ex-amigo, fazendo tudo para que seus soldados não o encontrem: “Jamais, em tempo algum, Juvêncio quebrou a sua jura de honra, nem mesmo quando os dois se tornaram inimigos. E Firmino era grato por isso, pois, descoberto o fato, ficaria em posição de inferioridade na rua. Dever a vida a outro era uma situação constrangedora. Nunca Firmino teria voz altiva entre os seus companheiros com alguém, entre eles, a quem devia a própria vida.


Talvez por isso hoje se murmurasse essa história absurda de estar ajudando ao bandido. O sargento, novato na cidade, com certeza ouvira alguma coisa a respeito. E por tal razão andava desconfiado com o cabo Firmino. Vez por outra fazia uma pergunta dúbia, a ver se colhia o subordinado numa atitude favorável ao cangaceiro.”


Fran Martins construiu um personagem real, nada romântico: não era homem para grandes lances de valentia, e isso é mostrado desde sua infância, na rua da Vala. É assim, sob certos aspectos, um anti-herói visto dele contar quase que somente atos de perversidade, e nunca gestos nobres como os que são atribuídos a um Antônio Silvino ou, distorcendo a verdade, até a Lampião...


Autor de vários livros de Direito Comercial, professor que era da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, Fran Martins é bem conhecido, nacionalmente, por essas obras, mas ele também transpôs fronteiras com seus livros de ficção, e meu saudoso irmão Rubens de Azevedo, no livro Os 40 da Casa do Barão (1993), em que focaliza os componentes do Instituto do Ceará, informa que seu conto “João Redondo”, de Mar Oceano, “foi incluído no livro Português Para Principiantes, do professor Claude Leroy para o ensino de português na Universidade de Wisconsin, EUA”.


Fran Martins foi uma das figuras mais destacadas do Grupo Clã o qual, a meu ver, consolidou o Modernismo na literatura cearense. E sua obra de ficcionista mereceu alusões de Álvaro Lins, R. Magalhães Júnior, Joaquim Alves, Eduardo Campos, Roberto Alvim Correia, Raimundo Girão, Braga Montenegro, Raimundo de Menezes, Rachel de Queiroz e Massaud Moisés, entre outros.


Sânzio Azevedo é Historiador da literatura cearense e Doutor em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). 


Quem


ENTENDA A NOTÍCIA


Fran Martins foi um dos fundadores e mentores do Grupo Clã que reuniu, no Ceará, os escritores da chamada Geração de 45 do Modernismo. Jornalista e advogado, ele deixou vasta obra. Uma biografia de Fran Martins, por Carlos Alberto Bezerra, foi lançada pelas edições Demócrito Rocha (R$ 9,50).

 

Saiba mais

 

Obras literárias

Contos

Manipueira (1934), Noite Feliz (1946), Mar Oceano (1948), O Amigo de infância (1960) e A Análise (1989)

 

Romances

Ponta de Rua (1937), Poço dos Paus (1938), Mundo Perdido (1940),Estrela do Pastor (1942), O Cruzeiro Tem Cinco Estrelas (1950) e A Rua e o Mundo(1962)

 

Novela

Dois de Ouros (1966)

 

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