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AÇÃO CULTURAL 15/04/2012

Significante, sem significado

Um centro cultural surdo às demandas da cidade, assim o professor Tadeu Feitosa avalia a atuação do Centro Dragão do Mar
GEÓRGIA SANTIAGO, 27/9/2009
Segundo o professor, o equipamento teve momentos não de efervescência cultural, mas de fabricação e promoção de eventos
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Tadeu Feitosa

ESPECIAL PARA O POVO

Quando em 1993 tive acesso às primeiras impressões do que seria o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, eu estava às voltas com minha pesquisa de mestrado sobre as relações informacionais e culturais entre a Biblioteca Pública Menezes Pimentel – como espaço de difusão informacional – e a comunidade do Poço da Draga, com demandas complexas de informações. Naquele momento, começava a ler com mais interesse sobre as complexas e mal resolvidas políticas públicas de cultura e, por vezes, me posicionei sobre o que seria aquele equipamento cultural.


Dos posicionamentos mais otimistas se ouvia que o Centro Dragão do Mar viria atender às históricas demandas culturais da cidade em expansão. Os pessimistas alardeavam a chegada de mais um elefante branco. Na época de sua inauguração, eu mesmo escrevi sobre a precariedade das discussões sobre o entorno do Centro Cultural e da ausência de ações efetivas no sentido de o “Dragão” abraçar a Praia de Iracema, onde ele está. De lá para cá, o Dragão teve momentos de efervescência e de ostracismos. Não de efervescência cultural, mas de fabricação e promoção de eventos, o que é bem diferente da ação cultural que se espera de um equipamento como aquele.


Assim, ante a imponência de sua edificação e as muitas manifestações culturais e de entretenimento que aconteceram no Dragão, permanece a marca indelével de que o equipamento não pensou no seu entorno e nem estudou as diversas demandas reais e potenciais que poderia atingir. Entre uma ou outra boa intenção de ações para a chamada “formação de plateias”, o que se viu foi a supremacia de ações, eventos e serviços pensados por meia dúzia de agentes e produtores culturais quase sempre focados no pensamento de seus gestores e quase nunca ensejados pelas demandas culturais da cidade e de seus atores.


Num momento em que são discutidos em muitos fóruns mundiais a retomada e atualização das chamadas “ações culturais” que promovam o engrandecimento humano e cultural das pessoas; que possibilitem às pessoas uma ação mais crítica diante da arte, da cultura, da informação e da comunicação, o Dragão do Mar ainda se define pelas fabricações de eventos ou apenas como ressonância das demandas dos produtores e da chamada indústria cultural.


Ontem como hoje – para além das sempre minguadas verbas e financiamentos culturais – o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura continua sendo um significante em busca de um significado. Falta a ele uma política cultural democrática, inclusiva e participativa, onde as demandas sejam estudadas criteriosamente a fim de torná- las também produtoras e promotoras de cultura. Falta ao Dragão o fogo criativo, a desenvoltura política que lhe garanta pensar a cultura como possibilidade de desenvolvimento humano e social. O Dragão continua adormecido e míope no que


concerne ao mundo criativo que se espraia para além de suas paredes. Espaço de cultura, ele se conforma com a produção de evento, quando dele se espera dialogar com a cidade e com a cultura onde ele se encontra.


Falta ao centro cultural usar a tradição, a memória e as marcas culturais do povo em favor da criação artística, da liberdade de expressão, da democratização dos saberes, do exercício da fruição estética. É preciso auscultar a complexidade cultural do povo para que a instituição cultural fale a sua língua. Fala-se muito de um suposto desinteresse das pessoas pelos equipamentos culturais da cidade. Esse é um fenômeno que precisa – no mínimo – ser investigado com atenção e desvelo e não usar isso como álibi para a falta de ações culturais ousadas.


Se a existência de todo equipamento cultural pressupõe o atendimento de suas demandas, não pode o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura sobreviver ou planejar suas ações sem um estudo de comunidades e de usuários a quem deva representar.


É preciso conhecer as demandas, suas marcas culturais, seus sotaques e dicções e, a partir desse perfil cultural, incluir em suas ações essas demandas como produtoras e promotoras de cultura e de arte. Em outras palavras, mais do que gerir o espaço e seus jardins, é preciso gerir os sonhos e as expectativas do povo. Não apenas como demanda, mas como produtor de cultura e de arte.


Tadeu Feitosa é professor do Departamento de Ciências da Informação da UFC


 

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espaço do leitor
andré bloc. 15/04/2012 18:42
oi, hele e thaís, tudo bem? equipamento cultural é um termo mais amplo que espaço. enquanto espaço se refere apenas à área física de um local (no caso, de um centro cultural), equipamento é menos restritivo, incluindo todos os mecanismos que o tornam operacional. espero ter esclarecido.
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Maria Oliveira 15/04/2012 14:24
Acho que as coisas sempre podem melhorar. Mas dizer que o Dragão não tem função é estranho. Tanto eu como minhas filhas aproveitamos tudo lá: atividades/oficinas nos espaços abertos, shows, teatros, anfiteatro, cinema, planetário, exposições. E o lugar está sempre cheio!!! Como, isolado?
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Thaís Aragão 15/04/2012 12:25
Ótimo questionamento, Hele.
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hele 15/04/2012 11:12
Gostaria de indagar por que chamam esses lugares de Equipamentos?Entendo o Dragão do Mar assimcomo outrospontos de turismo e centro de culturas como ESPAÇOS, pois que definem o que realmente são: ESPAÇOS de cultura,lazer, inf. etc. estão distantes em tds os sentidos,da população.Não são convidativos
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Anônimo 15/04/2012 10:22
Perfeito, professor.
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