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Tadeu Feitosa
ESPECIAL PARA O POVOQuando em 1993 tive acesso às primeiras impressões do que seria o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, eu estava às voltas com minha pesquisa de mestrado sobre as relações informacionais e culturais entre a Biblioteca Pública Menezes Pimentel – como espaço de difusão informacional – e a comunidade do Poço da Draga, com demandas complexas de informações. Naquele momento, começava a ler com mais interesse sobre as complexas e mal resolvidas políticas públicas de cultura e, por vezes, me posicionei sobre o que seria aquele equipamento cultural.
Dos posicionamentos mais otimistas se ouvia que o Centro Dragão do Mar viria atender às históricas demandas culturais da cidade em expansão. Os pessimistas alardeavam a chegada de mais um elefante branco. Na época de sua inauguração, eu mesmo escrevi sobre a precariedade das discussões sobre o entorno do Centro Cultural e da ausência de ações efetivas no sentido de o “Dragão” abraçar a Praia de Iracema, onde ele está. De lá para cá, o Dragão teve momentos de efervescência e de ostracismos. Não de efervescência cultural, mas de fabricação e promoção de eventos, o que é bem diferente da ação cultural que se espera de um equipamento como aquele.
Assim, ante a imponência de sua edificação e as muitas manifestações culturais e de entretenimento que aconteceram no Dragão, permanece a marca indelével de que o equipamento não pensou no seu entorno e nem estudou as diversas demandas reais e potenciais que poderia atingir. Entre uma ou outra boa intenção de ações para a chamada “formação de plateias”, o que se viu foi a supremacia de ações, eventos e serviços pensados por meia dúzia de agentes e produtores culturais quase sempre focados no pensamento de seus gestores e quase nunca ensejados pelas demandas culturais da cidade e de seus atores.
Num momento em que são discutidos em muitos fóruns mundiais a retomada e atualização das chamadas “ações culturais” que promovam o engrandecimento humano e cultural das pessoas; que possibilitem às pessoas uma ação mais crítica diante da arte, da cultura, da informação e da comunicação, o Dragão do Mar ainda se define pelas fabricações de eventos ou apenas como ressonância das demandas dos produtores e da chamada indústria cultural.
Ontem como hoje – para além das sempre minguadas verbas e financiamentos culturais – o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura continua sendo um significante em busca de um significado. Falta a ele uma política cultural democrática, inclusiva e participativa, onde as demandas sejam estudadas criteriosamente a fim de torná- las também produtoras e promotoras de cultura. Falta ao Dragão o fogo criativo, a desenvoltura política que lhe garanta pensar a cultura como possibilidade de desenvolvimento humano e social. O Dragão continua adormecido e míope no que
concerne ao mundo criativo que se espraia para além de suas paredes. Espaço de cultura, ele se conforma com a produção de evento, quando dele se espera dialogar com a cidade e com a cultura onde ele se encontra.
Falta ao centro cultural usar a tradição, a memória e as marcas culturais do povo em favor da criação artística, da liberdade de expressão, da democratização dos saberes, do exercício da fruição estética. É preciso auscultar a complexidade cultural do povo para que a instituição cultural fale a sua língua. Fala-se muito de um suposto desinteresse das pessoas pelos equipamentos culturais da cidade. Esse é um fenômeno que precisa – no mínimo – ser investigado com atenção e desvelo e não usar isso como álibi para a falta de ações culturais ousadas.
Se a existência de todo equipamento cultural pressupõe o atendimento de suas demandas, não pode o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura sobreviver ou planejar suas ações sem um estudo de comunidades e de usuários a quem deva representar.
É preciso conhecer as demandas, suas marcas culturais, seus sotaques e dicções e, a partir desse perfil cultural, incluir em suas ações essas demandas como produtoras e promotoras de cultura e de arte. Em outras palavras, mais do que gerir o espaço e seus jardins, é preciso gerir os sonhos e as expectativas do povo. Não apenas como demanda, mas como produtor de cultura e de arte.
Tadeu Feitosa é professor do Departamento de Ciências da Informação da UFC
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