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No fim de 1979, o então estudante de jornalismo Elian Machado - hoje professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) -, foi três ou quatro vezes até as salinas da família Diogo para fotografar. Ele morava perto, ali no trilho da Santos Dumont. A família comprava leite numa das várias vacarias da região, ainda pouco habitada naquela época. “Queria registrar aqueles trabalhadores sofridos e tinha também a estética das salinas, aqueles morrinhos brancos feitos de sal me fascinavam. Mas não tinha pretensão nenhuma”, conta Elian. Tanto que os negativos ficaram guardados quase 20 anos até serem revelados e irem parar num banco de imagens. Encontrada pelo Iguatemi, a sequência de fotos acabou sendo usada numa campanha publicitária do shopping e numa exposição, uma tentativa de salvá-lo da fama de vilão do Parque do Cocó.
O Iguatemi quis mostrar como a área era degradada antes de sua construção e como ele contribuiu para a recuperação e preservação do entorno, mas quem entende do assunto diz que não dá para vê-lo como salvador do mangue, pelo contrário. “Não se pode dizer que o Iguatemi proporcionou a revitalização do ecossistema, nem salvou nada”, afirma o professor do departamento de geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Jeovah Meireles. Ele explica: “A desativação da salina foi uma questão econômica, simplesmente não dava mais lucro. O que se percebe através de imagens de satélite é que os bosques de manguezais passam de 10 a 12 anos para chegar no nível adulto. A regeneração de uma salina abandonada é muito rápida”. Sendo assim, a área hoje ocupada pelo Iguatemi poderia ser um esplendoroso bosque de manguezal, assim como o espaço em sua volta, igualmente devastado pelas salinas.
“O shopping está instalado numa Área de Preservação Permanente”, diz Jeovah. O presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) – Ceará, Odilo Almeida, também entende que o mais adequado seria recuperar a salina e torná-la extensão do parque. “Se a gente tivesse aquela área preservada e a expansão urbana daquela região tivesse sido feita com um pouco mais de cuidado, a cidade seria mais harmoniosa, humana”, diz. Mas Odilo relativiza os danos causados pelo shopping hoje. “A história, a economia e as relações politicas e sociais têm sua própria dinâmica. Fazendo um balanço agora, é relativo dizer que o Iguatemi continua trazendo um prejuízo para a Cidade. A realidade impõe determinadas situações que não tem mais volta”, diz.
Construído antes da criação do parque - o que aconteceu apenas em 1989 -, o surgimento do shopping coincide com o início do movimento ecológico em Fortaleza. Numa época em que sustentabilidade ainda não existia no dicionário do politicamente correto, defender o mangue era uma tarefa meio solitária dos ativistas. “Já existia o movimento ambientalista, ele já se colocava, fazia críticas, tem fotos de grandes manifestações e passeatas em defesa do Cocó, mas a imprensa não dava muita visibilidade”, recorda Jeovah.
Ilia Freitas, diretora da Jereissati Centros Comerciais, proprietária do Iguatemi, acompanhou o processo de definição do local onde seria construído o shopping. “Foi uma escolha técnica. As tendências apontavam que o destino da cidade era crescer pra cá, se pensou como seria fácil chegar aqui de qualquer lugar da cidade - não existia esse trânsito louco de hoje -, e havia essa área enorme das salinas”. Ela lembra que grande parte dos quase 450 mil m² comprados na época foram doados para a formação do Parque do Cocó. O empreendimento ficou com 110 mil m². Uma contrapartida que não conseguiu apagar o fato do empreendimento ter matado definitivamente o mangue naquele pedaço. (Mariana Toniatti)
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