[an error occurred while processing this directive] Íntegra da entrevista com dom Bertrand | Páginas Azuis | O POVO Online
páginas azuis 28/11/2016 - 10h51

Íntegra da entrevista com dom Bertrand

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Dom Bertrand tem oito nomes e dois sobrenomes. A citação de todos é extensa demais para um texto jornalístico e incomum o suficiente no Brasil para ser deixada de lado em introduções oficiais e informais. Facilita-se apresentações e se arranja o primeiro nome com os sobrenomes: Dom Bertrand de Orleans e Bragança. O príncipe, pois, não tem trono a herdar, nem filhos a quem passá-lo.

Celibatário, o que o bisneto da princesa Isabel possui é o sangue da Casa Imperial e vida devotada unicamente à causa monárquica. Não ter “obrigações de família” nem ser o herdeiro direto do trono – é o segundo na linha de sucessão, precedido pelo irmão, Dom Luís Gastão –, acredita, lhe dão “muito mais liberdade” para se dedicar à “restauração católica e monárquica” do Brasil. Confira a conversa do O POVO com Dom Bertrand, durante a última visita dele a Fortaleza:

O POVO - Como o senhor avalia o momento do País?
DOM BERTRAND -
Nós estamos num momento muito interessante. Porque, a impressão que tinha é que o Brasil ficaria atolado nesse governo que introduziu um verdadeiro caos na nação. Que é o PT. E o problema do PT não era só a corrupção. O problema do PT é que tinha uma agenda de reforma do estado que, a realizar-se, iria transformar o Brasil em um país perfeitamente comunista. Quando o Lula tomou o poder, o José Dirceu, chefe da casa civil, no seu discurso de posse disse claramente: nós temos um projeto de governo pra 30 anos. nosso objetivo é construir um País socialista. O Lula confirmou isso em uma entrevista que deu ao jornal ‘El País’ de Madrid. Ele disse a mesma coisa: o objetivo é fazer do Brasil um país socialista.Essa corrupção toda que houve havia muito desejo pessoal de enriquecer, tirar proveito, mas sobretudo fazer caixa para poder segurar o Congresso e fazer o projeto socialista deles avançar. Eles entraram já com o PNDH-3 (Plano Nacional de Direitos Humanos), que graças a Deus fracassou. Mas se aquilo tivesse prosperado teria feito ali uma república soviética. A Dilma, depois, tentou um outro projeto semelhante que também graças a Deus fracassou. O que eles não contavam é que no Brasil houvesse uma reação. O brasileiro é infenso a isso. Não gosta disso. O brasileiro é a favor da propriedade, da religião, da família e etc. E ainda levaram a coisa longe demais. Depois, com a questão do mensalão, petrolão, esses... Lava Jato, o brasileiro deu conta de que “nós estamos sendo saqueados”. E aí, o Brasil autêntico saiu às ruas.Eu fui a São Paulo no dia 13 de março. Tinha praticamente 1 milhão de pessoas nas ruas. Não houve uma briga, não houve um mal entendido. Uma harmonia completa. No fim do dia, as ruas estavam limpas. Não tinha garrafas de plástico no chão, nem jornais, nem papel. É o Brasil real. E o que que o brasileiro bradava nas ruas: “nossa bandeira verde e amarela jamais será vermelha”. Os brasileiros se deram conta de que estavam querendo levar o País ao comunismo. Aí, isso não. Depois outra coisa muito interessante: “quero meu Brasil de volta”. O que é esse Brasil, hoje, que querem de volta? Era o Brasil que estava na alma de todos nós, que é um Brasil cristão. Um Brasil católico.

OP - E o sr. acha que esse Brasil que querem de volta é o Brasil de 130 anos atrás?
DOM BERTRAND -
De 130 anos e muito mais. É o Brasil da Terra de Santa Cruz. O Brasil das harmonias no período antes da independência. Um Brasil próspero do período de Dom Pedro II.

OP - Mas no imaginário das pessoas o período Imperial não foi um tempo obscuro e a república um tempo de redenção pro Brasil?
DOM BERTRAND -
No fundo, tentaram criar essa imagem com uma história falseada. Mas na realidade não há um brasileiro que não considere Dom Pedro II o melhor chefe de estado que nós tivemos. Essa é a realidade. Todos sabem disso, todos que têm o mínimo de conhecimento de história sabem que o Brasil deu certo na monarquia, e não na República. A República foi um caos. Você não encontra um brasileiro que diga de boca cheia que a república deu certo. E aí se começa a perguntar: valeu a pena a república? Será que a solução não é voltar ao único regime que deu certo nesse País? Por exemplo: nessas manifestações que houve de norte a sul do Brasil contra o governo do PT, o Brasil inteiro apareceram bandeiras do império, e foram vistas com simpatia. Nós, os príncipes, fomos convidados a falar do alto de carros de som Uma ou outra bandeira do PT que tentaram aparecer foram enxotadas.

OP - E o sr. foi bem recebido, no caso.
DOM BERTRAND -
Muito bem, e muito aplaudido.

OP - O sr acha que o momento que o sr. descreveu do País, com o PT, se deve também pelo sistema e forma de governo? República-federativa presidencialista?
DOM BERTRAND -
Não funciona. Você imagina uma empresa que, a cada 4 anos, muda tudo. Toda a estrutura, de cima abaixo. Funciona? Me lembro que uma vez, nos EUA, eu dei uma palestra que não era sobre monarquia. Mas ao fim, fizeram algumas perguntas, uma das quais foi sobre monarquia. E eu expliquei porque eu era monarquista. “Sou do Brasil, sou monarquistas por tais e tais razões”. Acho a monarquia em tese superior à república por tais tais tais. E aí um empresário presente, grande empresário, muito rico, levantou a mão e disse que não concordava. Ele disse que achava a república superior por duas razões: na República, o povo escolhe livremente o chefe de estado. Em segundo, na república qualquer um pode ser presidente da República. Em primeiro lugar: dizer que qualquer um pode ser chefe de estado, ninguém tem a cabeça no pescoço vai levando a sua vida a partir do princípio que vai vencer a ‘leitoria?’. Segundo lugar, o povo numa República não escolhe absolutamente nada. Nem nos EUA nem aqui no Brasil. O máximo que nós fazemos é votar, entre duas ou três candidatos, que os grupos do poder, que dominam os partidos políticos, nos representam. Nós não escolhemos nada. Em terceiro lugar, o sr. tá tão convencido das vantagens da república, porque não proclama a república na sua empresa? A cada quatro anos o sr. faz uma eleição. Vamos escolher o chefe do setor de risco, o engenheiro responsável pelas obras, o mecânico, motorista de caminhão, faxineiro, todo mundo. Pra saber que vai está no seu lugar e os chefes. “Ah, vai anarquizar minha empresa”. É a mesma coisa. Se não funciona numa empresa, porque que funcionaria num País, que é muito mais complicado?

OP - Mas, numa Monarquia, o chefe de Estado seria escolhido por direito divino ou por direto consentido/adquirido? As pessoas escolheriam ele, a família. Porque, na República, até certo ponto, existe uma noção de que o chefe de Estado é escolhido por mérito: pela capacidade, pelas qualidades.
DOM BERTRAND -
Isso não se deu. E, numa tradição se viu que os regimes que mais dão certo são os hereditários. É uma ordem natural. Assim é nas famílias, nas fazendas, numa empresa. É experiência histórica. E a gente vê que tá nos planos de Deus que assim seja.

OP - Então, seria por direito divino?
DOM BERTRAND -
Digamos que está nos desígnios de Deus que seja tal família, que foi escolhida pra aquele papel, em certas circunstâncias. Em Portugal, por exemplo, dom Afonso Henrique era o conde de Gorgonha, que foi quem liderou as guerras de independência de Portugal. No fim, ele acabou sendo aclamado rei, e assim fundou-se o reino de Portugal. Depois, João I… Mas foi uma coisa que foi se dando organicamente, naturalmente. Quer dizer, não há uma indicação direta de Deus. Não é assim. Mas são as tradições, os resultados de uma série de circunstâncias históricas. Fica claro que está nos desígnios de Deus que assim seja. Precisamos entender um ponto: todo o poder vem de Deus. É uma delegação do poder de Deus, a começar pela família. O estado natural é que a autoridade seja o pai e a mãe. Está na Sagrada Escritura, na ordem natural. Assim é na fazenda. Em todo lugar. Assim também é em uma nação.

OP - Por que numa Monarquia a realidade do Brasil seria diferente?
DOM BERTRAND -
A resposta foi dada por um filósofo grego, muito antes de Cristo. Os gregos perguntaram a Sócrates, o filósofo maior: “o que faremos para voltar a ser felizes?”. Sócrates responde: “façam aquilo que faziam quando eram felizes”. A mesma resposta poderíamos dar no Brasil. O Brasil deu certo na monarquia. Não deu certo na República. E daí exatamente está se dando, já que o movimento monárquico está mais forte do que nunca, se perguntar: o Brasil realmente deu certo na República? Será que a solução não é voltar pra aquele regime, o único que deu certo no nosso País, que foi a monarquia? Como seria esse regime? Conforme nossa experiência, nas atuais circunstâncias, uma monarquia deveria ser uma continuação de como foi o Brasil no tempo do Império, com algumas indispensáveis adaptações nas circunstâncias do mundo atual.Por exemplo, o Brasil no Império era um regime unitário. Agora, tornou-se uma federação. Deveria até ser federação, porque corresponde melhor ao princípio fundamental da sanidade sócio-econômica da nação, que é o princípio de subsidiariedade, que é a autonomia das regiões. O que a República promete e não dá. Mas porque que o Brasil era um regime unitário no Império? Quando foi proclamada a independência, o Brasil naquele tempo tinha 4 milhões de habitantes. Havia uma tendência aos separatismos, como foi na América espanhola. Para manter a unidade, era preciso um regime unitário. Mas o Brasil evoluía pra um regime federativo. Dom Pedro II já fazia estudos sobre isso naquele tempo. Nas atuais circunstâncias seria uma monarquia parlamentarista, como foi no tempo de Dom Pedro II, em que o chefe de estado era o imperador e o poder executivo era exercido por um primeiro-ministro – que naquele tempo era chamado de presidente do conselho de ministros. O poder legislativo era bicameral, com a Câmara eleita pelo povo com voto distrital, e o poder judiciário tinha a tríplice garantia, que até hoje, teoricamente, tem: vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de seus vencimentos. O poder moderador, que estava definido no art. 98 da Constituição Imperial, de 1824, era exercido pessoalmente pelo Imperador numa coisa muito simples e indispensável: a harmonização dos demais poderes em função do bem supremo da nação. Havia também o conselho de estado, que é um conselho de sábios que em certas circunstância o imperador consultava antes de tomar certas decisões. Agora, a opinião do conselho de estado não era vinculante, porque ele podia ter decisão contrária a todos os conselheiros. Aí assumia a sua responsabilidade histórica.

OP - O sr. diz que o tempo que o brasileiro sente saudade é, na verdade, o período de monarquia – que deu certo no Brasil. O que dava certo?
DOM BERTAND -
O Brasil até 1889 deu certo. Tínhamos, sobretudo, um regime que garantia a unidade, a estabilidade e a continuidade da nação e do governo.

OP - E por que veio a proclamação da República?
DOM BERTRAND -
Um golpe de Estado de uma minoria. Um golpe que, em seu primeiro momento, não tinha em vista a República, mas apenas a derrubada do gabinete do Visconde de Ouro Preto. Foi no entardecer do dia 15 de novembro de 1889 que foram dizer ao Marechal Deodoro (da Fonseca) que para substituir o Visconde de Ouro Preto o Imperador havia convidado um político gaúcho (senador Silveira Martins) pra assumir a presidência do Conselho de Ministros. Deodoro disse: “esse não”. Aí lhe deram um decreto redigido por Rui Barbosa proclamando a república. Ele teve a fraqueza de assinar. Por que assinou? Porque como fora comandante na praça de Porto Alegre, ele disputava com Silveira Martins os amores da filha do Braão de Triunfo. Perdeu na disputa. Por causa disso, tem um ódio de morte contra Silveira Martins. Na realidade, então, a República é um regime espúrio que nasceu da disputa de dois homens pelo amor de uma mulher. Foi uma minoria ínfima. Mas tinham a guarnição do Rio e prenderam o Imperador e o colocam no presídio.

OP - E é possível restaurar o Império? No plebiscito de 1993, apenas 13% votaram a favor da monarquia.
DOM BERTRAND -
Foram 13% dos votos validos. Naquele tempo, em 93, em todos os debates que os monarquistas enfrentaram os republicanos em pé de igualdade, no fim, fazia-se uma simulação de plebiscito e a monarquia sempre vencia. O que faltou naquele momento foi informação. Se uma corrente política teve seus direitos cassados por 99 anos fomos nós monarquistas. A república nasceu – decreto número 1 da república prometia no art. 7º uma consulta popular. Previa-se que o povo deveria ser ouvido se de fato queria república ou continuar com monarquia. Em vez de fazer o plebiscito, alguns dias depois, o decreto número 85a da república ôs a monarquia fora da lei. Ficamos com os direitos políticos cassados até o dia 3 de outubro de 1988, quando entrou em vigor a atuação constituição, que revogou a limitação dos nosos direitos políticos. Foram 99 anos de deformação da história pela república. Toda a máquina governamental contra, grande midia contra e, apesar disso, 13%, com esse aspecto muito interessante: em todos os debates, o plebiscito simulado vencia a monarquia.

OP - E o que fazer para reverter a falta de informação?
DOM BERTRAND -
Numa entrevista como a sua, por exemplo. O povo precisa voltar a ter conhecimento do que foi o passado monárquico. Qual a solução pro atual impasse político. Porque o povo é naturalmente monarquista. Ninguém vai negar que o Pelé “é o rei do futebol”. Ninguém vai se dizer, em um carrinho de feira, o “presidente da panelada”: é o “rei” da panelada. Em padarias, “padaria imperial”, e etc.

OP - Os símbolos da monarquia ainda fazem parte do imaginário das pessoas, em associação ao poder?
DOM BERTRAND -
A índole do povo é monárquica, porque a ordem natural das coisas é monárquica. As crianças nascem monarquistas e depois vão sendo corrompidas pela mãe, pelo falso ideologismo e ficam republicanas. Mas o interessante é que hoje no Brasil de 2016 o governo monárquico está muito mais vivo do que estava em 1993, quando houve plebiscito. Em toda parte do Brasil, de norte a sul, o sentimento monárquico está renascendo na juventude. Até alguns anos atrás, havia um encontro monárquico no rio de janeiro, no mais de junho, que coincidia com o aniversário de Dom Luiz, meu irmão, chefe da Casa Imperial. Esse ano já fizemos encontro monárquico no Rio, em Minas Gerais, Porto Alegre, Curitiba, amanhã um aqui em Fortaleza. Vai ter em Santana Catarina, em novembro. Nunca o sentimento monárquico esteve tão vivo. E o público do qual esse sentimento está renascendo é a juventude. Não são maioria, mas são minoria muito ativa. Porque a minoria é que chamam de “centro decisivo”, que vai de um lado pro outro, onde essas minorias ativas têm mais força. E a maioria acaba sendo influenciada.

OP - Como é a vida pessoal do sr? O sr. não é casado, não tem filhos. Por que essa opção?
DOM BERTRAND -
Sou celibatário. Eu sempre me dediquei ao ideais de uma restauração católica e monárquica no Brasil e considero que posso fazer muito mais me mantendo celibatário, sem ligações de família, se tivesse que tratar dos filhos e todas as ocupações.

OP - E, apesar de não ser o primeiro na sucessão, o sr. é o que luta mais pela causa.
DOM BERTRAND -
Pelo fato de eu não ser o herdeiro, tenho muito mais liberdade pra dizer certas coisas, dar entrevistas e viajar do que se fosse herdeiro. Tenho feito muitas palestras e sou sócio do Instituto Plinio Corrêa de Oliveira (IPCO). Nele, dirijo um setor chamado de “Paz no campo”, que tem em vista a defesa de direito de propriedade no campo, que acaba sendo , num certo sentido, como manter no campo o regime monárquico. Porque, numa fazenda, o proprietário é, na verdade, um pequeno rei, dentro de seus limites. Assim como o pai é o rei de uma família, o proprietário é um pequeno rei de sua fazenda. E a reforma agrária que ainda se quer impor no Brasil acaba sendo uma proclamação da República no campo. Seria, inclusive, o caos republicano no campo. Nessa “paz no campo”, temos campanha de manter a estabilidade no campo porque, se abolirem o direito de propriedade, teremos socialismo. O direito à propriedade é natural. É garantia da liberdade. A definição mais curta de propriedade está numa Encíclica do Papa Leão XIII (Carta Encíclica “Rerum Novarum”, 1891): “capital é igual a trabalho acumulado”. Se eu não for dono do fruto do meu trabalho, sou um escravo do estado. A garantia da liberdade é a propriedade.

OP - O sr. pensa em uma monarquia liberal, então.
DOM BERTRAND -
Uma monarquia orgânica, na qual se respeita o que está de acordo com a lei natural. Quais são, do ponto de vista sócio-econômico, esses princípios fundamentais: primeiro lugar, a livre iniciativa. Sem ela, se inibe a capacidade criativa de um povo. Em segundo lugar, a propriedade privada, que é garantia de liberdade, como falei. Em terceiro lugar, o princípio de subsidiariedade, segundo o qual um órgão superior só deve fazer o que um feudo não for capaz de fazer por si. Isso vale pra uma empresa, pra qualquer sociedade, e pro Brasil. No Brasil, simplificando a realidade, temos a base universal da sociedade, que é a base da família. O sistema básico da sociedade é a família. A família está no município e o estado na União. Segundo esse princípio, o governo municipal só deve fazer aquilo que o conjunto das famílias no município não for capaz de realizar por si. Por sua vez, o governo do estado só deveria fazer o que a família e os municípios ao forem capazes de realizar por si. Finalmente, a união só deve fazer o que a família, os municípios e os estados não foram capazes de realizar por si. De uma forma que, no topo dessa pirâmide, o governo da união seja pequeno, leve, capaz de dar os grandes rumos da nação, e não no sistema atual, que temos uma pirâmide de cabeça pra baixo. Temos um governo da união hipertrofiado que esmaga o estado, sangra os municípios e escorcham as famílias com impostos sempre maiores.

OP - Há um crescimento, também, do discurso contra a "Proclamação da República", em 1889, especialmente nas redes sociais. Para o sr., foi realmente um golpe? Por que?
DOM BERTRAND -
Realmente tem crescido nas redes sociais, como reflexo de um percepção que vai crescendo pelo País todo, um discurso contra a "Proclamação da República". Vivemos uma das maiores crises do nosso sistema republicano. Neste momento, em que é difícil encontrar um brasileiro que diga de boca cheia que a República deu certo, parece que a única preocupação de muitos políticos é salvar a própria pele e dar-se uma auto-anistia. E a outra preocupação é a próxima eleição presidencial. Como já tive oportunidade de frisar, a República pensa nas próximas eleições, enquanto a Monarquia pensa nas próximas gerações. Por isso muitos se questionam se não é chegado o momento de repensar nossas instituições republicanas e retomar nosso caminho monárquico. Mas não é apenas nas redes sociais que aumenta esse questionamento. Nas escolas, nas ruas, no trabalho, o debate arejado a respeito da Monarquia X República ganha espaço. E isso é proveitoso, a meu ver. Muitos, especialmente jovens, começam a interessar-se pela nossa história e a deitar sobre ela um olhar diferente de certos clichês surrados e maledicentes com que os republicanos ideológicos contaminaram nossos meios de ensino. É por isso também que crescem, por todo o País, os Encontros Monárquicos, como o que foi realizado há pouco em Fortaleza. A proclamação da República, que eu chamaria da imposição da República foi, sim, um golpe.

OP - Mas nem sempre um golpe é caracterizado como algo ruim ou mal elaborado – como, para muitos, não é o caso do golpe de 1964, onde se acredita ter removido a ameaça comunista do poder. A data de 1889 deve ser comemorada como fazemos hoje? Há o que se celebrar?
DOM BERTRAND -
Em 1964 não houve propriamente um golpe, mas uma reação do povo que saiu às ruas e das instituições à tentativa de um golpe por parte da esquerda, o que é hoje reconhecido por muitos, inclusive pessoas de esquerda, como Fernando Henrique Cardoso. A intervenção militar teve anuência do Congresso. Já com a Proclamação da República as coisas se deram de modo diverso. Houve uma suspensão da ordem institucional e os republicanos implantaram um governo de exceção. Tudo era feito à base de decretos, um dos quais, o chamado decreto-rolha, proibiu que os monarquistas se manifestassem livremente. Também é preciso não esquecer que o regime republicano, sobretudo sob a ditadura de Floriano Peixoto, matou muitos brasileiros. Além disso, a Família Imperial foi banida e enviada para o exílio, sem que lhe fossem imputados crimes e sem qualquer julgamento. No fundo, diante da grande popularidade de que gozava o Imperador Dom Pedro II, bem como toda a Família, os republicanos receavam uma reação popular, precisamente ao golpe. É por isso que não me parece que tenhamos o que comemorar nessa data de 15 de novembro.

PERGUNTA DO LEITOR - Airton de Farias, 42, historiador e escritor - “Na República, com as crises econômicas e políticas, vários governantes perderam mandatos em golpes ou implantaram ditaduras. Não é um exagero achar que apenas um modelo monárquico bastaria para evitar tais crises?"
DOM BERTRAND -
Nós, monarquistas, não apresentamos a solução monárquica como algo mágico que resolve todos os problemas. É claro que pode haver crises econômicas e políticas numa monarquia. Mas é preciso entender que a Monarquia, propondo um chefe de Estado afastado das disputas de poder partidário, cria as condições de unidade, de estabilidade e de continuidade que tornam mais difíceis as crises. Na República presidencialista o Chefe de Estado, eleito por um partido ou por uma coligação de partidos, também é o chefe do governo. E ele transporta para a chefia do Estado as turbulências, por exemplo, de um programa econômico que se pode tornar desastroso e que é em boa medida calculado para vencer eleições. Estamos vivendo uma situação assim, um desastre econômico, fruto de um projeto de poder político que visava se perpetuar. Com os mecanismos próprios a uma Monarquia, com um regime parlamentarista, haveria maneiras, inclusive com o Poder Moderador, de o Imperador evitar ao País um tal descalabro. E temos ainda que considerar a experiência histórica. Durante o Império a estabilidade econômica foi invejável, com uma moeda respeitável e estável, isso até mesmo durante a Guerra do Paraguai. Com a implantação da República veio, imediatamente, a instabilidade
econômica com o enfraquecimento de nossa moeda. Não me consta, nos dias que correm, alguma Monarquia onde tenha havido uma grande crise política ou econômica que tenha gerado instabilidade forte ou até mesmo convulsão das instituições.


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