[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] O comerciante dono de shopping | Páginas Azuis | O POVO Online
Sérgio Gomes de Freitas 19/10/2015

O comerciante dono de shopping

No dia em que deixou os três shoppings que criou em Fortaleza, Sérgio fala sobre o futuro dele e do mercado
notícia 4 comentários
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Jocélio Leal leal@opovo.com.br
Foto: Fábio Lima
O empresário Sérgio Gomes de Freitas nunca teve uma relação 100% bem resolvida com os sócios, até que completou a venda de 100% da ações para a Ancar Ivanhoe na semana passada
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Sérgio Gomes de Freitas, 54, é a antítese do modelo convencional de dono ou gestor de shopping center. Não se espere dele aquele padrão de capa de revista de economia e negócios. Braços cruzados à frente do mall principal e pose de vitória. Contudo, a ideia de aceitar esta entrevista no dia em que deixou o escritório dele no North Shopping Fortaleza, mais conhecido como Bezerra de Menezes, teve esta pose nas entrelinhas. Brindava a certeza de ter vendido bem 100% das ações dos três shoppings que fundara na Região Metropolitana de Fortaleza: North Shopping Fortaleza, Maracanaú e Via Sul. Quando conversou com O POVO, na noite de quinta-feira, ele estava a algumas horas de deixar o endereço que frequentou desde o começo dos anos 1990. Nesta conversa de 51 minutos, ele conta o quão mambembe foi o começo – ele erguia o prédio sem saber quanto iria cobrar pelos espaços - revela que se sentiu discriminado no mercado e define o que é um lojista aproveitador. Capitalizado, ele não sai do ramo. Ganhou oxigênio financeiro para tocar três shoppings e seguir com a construção de mais três. Destes, apenas um no Ceará.


O POVO - Por que o senhor vendeu 100% do negócio para a Ancar Ivanhoe?

Sérgio Gomes de Freitas - Na verdade isso já era um negócio previsto, essa operação começou em janeiro de 2012. Começamos a fazer a due diligence (investigação da situação da empresa antes de fechar um negócio) em funcionamento. Como se diz, começamos a trocar o pneu do carro andando. A Ancar Gestão, que é uma controlada da Ivanhoe Cambridge começou a administrar os três shoppings que até então existiam, que eram o North Shopping Fortaleza, North Shopping Maracanaú e Via Sul Shopping. Em seguida, nós começamos a sociedade para construir o North Shopping Jóquei. De repente, a Ancar Gestão ficou com os quatro. No final de 2013 já tinham sido incorporadas as ações do North Shopping Maracanaú e parte do Via Sul. E ano passado, em novembro, nós concluímos tudo. Então a gente já sabia que a gente ia tentar ter uma relação boa com o comando dividido, mas 100% - tanto da minha visão como a deles -, por mais confiança, mais amizade, carinho e respeito que houvesse entre as partes, existia um choque muito grande de cultura. Nós temos o costume de ser como a nossa origem, somos supermercadistas, comerciantes, comerciante de atacado, e sempre as nossas respostas são de bate-pronto. Ou seja, a gente não tinha comitê. O nosso “comitê” era de repente até no corredor do hall. 

 

OP – Mas é uma questão de governança.

Sérgio – Sim, mas o choque de cultura já começou no primeiro dia, sem haver nenhum tipo de discordância. Aos poucos nós fomos vendo que a melhor saída seria eles conhecerem todo nosso processo, porque não dava pra fazer essa mutação, mudança de imediato. Pela própria governança, não é despreparo.

OP – O senhor acredita que quem insiste em seguir nesse mercado em carreira solo como tantos ainda seguem estão fadados a vender como fez o senhor?

Sérgio - Eu acredito que sim, cada dia que passa vai haver mais junção, mais aglutinação de equipamentos e até acredito que haverá junção de players. Hoje existem shoppings com três quatro players de sócio, porque no passado eles estavam comprando tudo. Às vezes pra não brigar, eles compravam equipamento juntos. Então o que a gente pensou na época: de ter a Ancar como uma máquina pra nos mover na seguinte coisa, nós íamos passando o controle pra eles e de shoppings maduros e, a partir disso, nós íamos fazendo shoppings “verdes”, e fazendo uma escala, uma esteira de negócios. Mas por um problema cultural isso acabou não existindo. Aí o que é que a gente tem que fazer? Nós estamos agora, graças a Deus, com caixa em ordem, bem capitalizados, com a experiência que não tem quem tome da gente. Então vamos buscar nicho de mercado onde hoje não interessa para os grandes e os pequenos não sabem fazer, porque os shoppings de rico vão todos quebrar.

OP - Vão quebrar?

Sérgio - Vão. Vão. Shopping de rico que eu digo é de empreendedor. Um dia eu disse uma brincadeira numa reunião que todo rico queria ter um shopping. Então aqui no Ceará tem uns três que têm shopping só pras mulheres comprarem sapato. Então isso não funciona.

OP - Quem são esses?

Sérgio - Não posso falar. Nem é Iguatemi, nem o RioMar.

OP – Quais são seus projetos?

Sérgio - Shopping que temos funcionando hoje são três. Nosso principal shopping é o Caruaru Shopping, em Pernambuco. Tem 60 mil m² de ABL (Área Brutal Locável). É um shopping com quase a pujança de faturamento do North Shopping de Fortaleza. Temos o Barretos (SP) e aqui no Ceará nós temos Sobral. Aqui em Sobral nós temos parceria com um fundo dinamarquês Retail e com o fundo suíço Tatmar. Em Barretos nós temos sociedade com a família Hamuche, que já foi parceira no North Shopping Fortaleza, e temos Votuporanga e Sertãozinho, em São Paulo, e ainda Três Lagoas, em Mato Grosso do Sul. Estes três últimos em obras.

 

OP - O senhor sentiu preconceito quando se tornou dono de shopping em Fortaleza?

Sérgio - Vou te falar, nós éramos a família mais importante de atacadistas. Quando meu pai veio a falecer, em 1981, eu tinha 21 anos de idade. E comecei a trabalhar no nosso atacado. E, modéstia a parte, com a graça de Deus, com três, quatro anos a gente conseguiu crescer demais no atacado. E eu achei que o atacado ficou um pouco démodé, pra gente, já que me julgava com mais capacidade, fui pra supermercado. Na primeira reunião que fomos com os supermercados, eu fui praticamente humilhado.

OP - Por quê?

Sérgio - Porque naquele tempo existia a maior potência, que era o Romcy. Então ele que dava as cartas do mercado. Mesmo tendo Pão de Açúcar, por ser uma corporação e aqui ser apenas um pedaço dele, o Romcy dava as cartas aqui porque tinha, na época da inflação, cartão de crédito. Ele fazia e acontecia porque emprestava dinheiro pro povo comer. Numa inflação altíssima como era na época. O Pão de Açúcar via urso pra poder concorrer com o Romcy. E a gente era pequenininho. Os grandes aqui eram Romcy, Pão de Açúcar, São Luiz e Bompreço da primeira gestão.

OP - Ainda era o Paes Mendonça na época.

Sérgio - Era o João Carlos Paes Mendonça, mas ele não tinha hipermercado, só tinha supermercado. Então, com dois anos que a gente tinha supermercado, estava na quarta loja e chegamos a 16 lojas, então no final do supermercado a gente já sentava com eles e o Romcy e o Pão de Açúcar não faziam nada sem combinar com a gente. Tinha uma amizade muito grande, ainda hoje gosto muito do Neto (Severino, presidente do Mercadinhos São Luiz e da CDL) e a gente era do mesmo tamanho. Além de Seu João (Melo, fundador do São Luiz), de saudosa memória. Quando veio o Plano Collor, que congelou a poupança e prendeu o dinheiro, o supermercado teve uma vantagem muito grande, pois ele passou a gerar recursos no outro dia. Quando ninguém tinha dinheiro, nós supermercadistas tínhamos caixa no outro dia. Era o próprio papel circulante, mudou de nome, mas era o mesmo papel. Então amanhã já tinha o dinheiro, as empresas em dificuldade pagavam os funcionários com vale pra comprar nas lojas da gente. Então todos os supermercadistas, todos se capitalizaram muito, tiveram esse fôlego até pra ajudar o outro sem saber que dia receber. E tivemos oito meses de lua de mel com a riqueza, a prosperidade e a felicidade. No nono mês, foi a gestação de desgraça. O mercado foi todo pra baixo. Aí o que aconteceu com a gente, nesses primeiros oito meses de felicidade, nós começamos o shopping. Ele assumiu em 15 de março, acho que mais 15 dias, dias dois, três de abril nós começamos a cavar o chão aqui pra fazer o shopping e viemos a inaugurar em 1991, após 18 meses, mais ou menos, nós inauguramos o primeiro.

OP – O senhor desistiu do supermercado por conta dessas circunstâncias e farejou essa oportunidade?

Sérgio - Não, não, na verdade foi o seguinte, quando a gente começou a fazer o shopping tínhamos ganhado muito dinheiro, tanto com o volume de venda que aumentou, por causa dessa, que falei, com a Tablita. Nós ganhamos desconto da metade da dívida. Nós passamos a gerar dinheiro no outro dia com o desconto da Tablita. Então sobrou dinheiro no caixa pra todo mundo, então eu pensei que tinha dinheiro pra fazer um shopping. Comecei. Quando o shopping tava no meio do caminho, o dinheiro acabou, porque veio o problema da desgraça que o mercado entrou, e a economia desmantelou, aí eu fui vender uma loja, tive sorte que sempre trabalhei muito com baixa liquidez, mas com altíssima concentração de propriedade, de patrimônio. Então nossas lojas, as 16, tinha 14 próprias. Aí o setor de supermercado ficou tão ruim que eu vendi minhas lojas todas como propriedade, porque hoje você sabe que o fundo de comércio de supermercado é uma fortuna, naquela época estava tão ruim que eu não consegui vender uma loja- exceto uma. Todas as minhas propriedades foram vendidas como prédio, como armazém. E fui botando dentro do shopping. Quando chegou perto da inauguração do shopping, eu nem tinha mais supermercado nem shopping. Em compensação, muita dívida. Aí Deus foi grande e a gente venceu, inauguramos o shopping com muito problema.

OP - Naquela época o que fez o senhor tomar a decisão de abrir um shopping no São Gerardo, para além das principais fronteiras comerciais de então?

Sérgio - Como eu tinha morado aqui...esse lugar onde nós estamos falando hoje, o North Shopping, era a casa do meu pai, e ele faleceu em janeiro de 1981. E vamos dizer, até janeiro, setembro de 1981 eu morei aqui nessa casa. Aí casei em setembro, aí mudei. Aí depois mudei minha mãe, que ficou na casa, e derrubamos tudo, que era o atacado, pra fazer a loja. Então a gente conhecia isso aqui, eu vivi a vida todinha aqui, sabia dessa necessidade, mas tive uma ajuda muito grande de uma pessoa chamada Inácio Capelo (dono da então Sapataria Belém). Quando nós começamos a fazer o shopping, era mais uma unidade de supermercado, então não era bem um shopping, era um street center, supermercado com uma galeria de meia dúzia, 20 lojas, mais ou menos. E um dia eu tava dentro da obra e chegou um cidadão, conhecia ninguém do varejo. Lembrou que eu conhecia de shopping, eu sempre digo que uma parede dava pra botar uma loja desse lado e uma loja desse outro. Então chegou seu José Adjafre, que eu não conhecia, ele disse “meu filho, o que é isso aqui?” Aí eu fui, mostrei a planta, aí ele disse “pois eu vou querer essa loja aqui”, eu digo “não, sei nem quanto é”, “pois bote meu nome aqui, no dia que você souber quanto é você vai lá no meu escritório e eu lhe dou o dinheiro”. E eram as luvas naquele tempo. Aí um dia eu achei o valor, disse “venha buscar o dinheiro”, eu fui. Aí ele espalhou essa história lá na CDL. Aí um dia eu estou aqui à tarde, aí chegou Inácio Capelo, Assis Vieira (Ocapana) e Pedro Casimiro (A Samaritana), aí chegaram. O que é isso aqui? Mostrou o projeto, aí disse…

 

OP – ...Não havia ninguém vendendo o shopping? Não tinha projeto comercial?

Sérgio - Nada.

OP - A sua ideia era fazer e depois…

Sérgio – Sim, e depois vender. Aí ele disse: “rapaz vamos conversar”. Eles me chamaram pra uma reunião, chamaram uma pessoa, se não me falha a memória, isso faz 25 anos, né? Chamado alguma coisa Di Salvi (Vicente de Salvi, consultor). Ele tinha vindo da Mesbla e botou uma consultoria. Aí quando disse o que era pra fazer, o Inácio Capelo e esses três, esse trio, eram muito ligados ao Iguatemi, porque eram amigos pessoais do senador (Tasso Jereissati, dono do shopping Iguatemi) e conheciam tudo e tinham lojas no Iguatemi. Então eles trouxeram tudo como era um shopping, ó, “seu shopping aqui merece ser metade do Iguatemi”. Aí tudo bem, aí sabe o que aconteceu? Eu tinha 26 lojas pra vender, eles vieram tudinho e fiquei sem nenhuma. Aí antes do shopping abrir, nós já fomos pra 46, quase dobramos o shopping. Aí depois veio uma sequência.

OP - Dobrou como, já com os espaços de outra forma, é isso?

Sérgio - Não, tinha medo de fazer grande, então nós começamos a fazer puxadinho. Porque o North Shopping, e isso não o desmerece, ele é um puxadinho, uma colcha de retalho, mas uma colcha que sempre deu calor, aqueceu a venda dos lojistas, que é um shopping de sacola na mão.

OP - O North Shopping é chamado por muitos, em tom pejorativo, disso, de um grande puxadinho. O senhor acha que o North Shopping sofreu preconceito da cidade, como o senhor diz ter sofrido?

Sérgio - Acho que não, porque o North Shopping tem vida própria, o próprio prédio acostumou-se a se defender das ofensas. As ofensas nunca vi de ninguém que gosta dele. Se você viesse aqui antigamente, as cadeiras dos cinemas dos shoppings da Aldeota eram todas cortadas de gilete. Aqui nunca tinha cadeira cortada, aqui a gente fazia obra sem tapume, aí era poeira, solda, ta ta tá, aí os fregueses, como eu gosto de falar, passavam “eu gosto do shopping porque aqui é todo tempo em obra, todo tempo prosperando”. Se fosse na Aldeota, queriam mandar prender a gente. Então o freguês do North Shopping não tinha, e não tem ainda hoje, pra onde ir, ele vem pra cá. Nós temos 4 mil ônibus na nossa porta, são 2.500 de um lado e 1.700 de outro.

OP - Caso o senhor tivesse não saindo da operação, mas chegando, o que faria diante deste concorrente gigante que está nascendo aqui do lado (RioMar Presidente Kennedy)?

Sérgio - Se preparar. Você quando vai fazer uma disputa em concurso de beleza, você tem que botar uma roupa nova e se maquiar, então esse local aqui ele era tão bom que a noiva aqui era maltrapilha, mas era caliente. Hoje tem que se reinventar. O grande problema foi porque a crise veio pra matar. Mas por exemplo, em condições normais de temperatura e pressão, o mercado cabe os dois.

 

OP – Cabe mesmo?

Sérgio - Hoje? Hoje não cabe nenhum. Por isso que tem que se reinventar.

OP- O que o senhor faria objetivamente?

Sérgio - Exatamente o que a Ancar vai fazer. Lá atrás quando ela anunciou isso aqui, nós nos preparamos pra fazer este investimento só em “roupa”. Ou seja, não para crescer, era só pra ficar com uma condição mínima de igualdade com eles. Então ele vai ficar nesse mesmo nível de acabamento, de revitalização. Porque o João Carlos Paes Mendonça veio muito pesado para cá. Fez dois palácios.

OP - E a cidade? São vários shoppings, mas os mesmos lojistas. Cabe shopping nessa cidade ainda?

Sérgio - O primeiro shopping de grande porte que foi feito no Ceará foi o Shopping Center Iguatemi, que inaugurou em 1982. Inaugurou com 20 mil metros de ABL. Nós inauguramos em 1991. Nove anos depois. Nós começamos com 8 mil de ABL. Mais uma do Pão de Açúcar de 4 mil. Em 2012, três anos atrás, o Iguatemi estava com 60 mil, nós com 50 e poucos, aí tinha Maracanaú com 10, Del Paseo com 10, Benfica com 10, shoppings incorporados. Juazeiro do Norte com uns 15. O Ceará tinha em 2012 uns 200 mil metros de ABL. Trinta anos de 1982 pra 2012. Nós estamos em 2015 e o Ceará, com a abertura desse aqui vai pra 600 mil. O que foi feito em 30 anos foi feito em quatro agora, duas vezes. Foi de 200 mil pra 600 mil. É muita ABL jogada de uma vez só na, dentro duma praça e o shopping é um equipamento muito vivo, muito forte. Em quatro anos não nasceu uma população que nasce em 30, então vai haver uma migração de lojas de rua para shopping, por causa de um problema muito sério que nós temos no País, que é segurança. Problema muito grande de mobilidade. Não tem estacionamento, não tem, quando você não está no shopping. Às vezes as pessoas reclamam de preço de estacionamento. Qualquer preço de estacionamento é barato se seu carro está guardado na sombra com segurança, você paga no shopping cinco, R$ 6 pra deixar seu carro por cinco horas. Com todo conforto, chega lá seu carro está direito, paga com cartão de crédito, paga do jeito que quer, aí você vai pra outro centro, vai entregar seu carro, andar no calor. Na minha opinião o ABL está muito grande, os operadores de shopping estão sofrendo muito em todas as capitais.

OP - O senhor diz que existe o lojista leal e o aproveitador. O que marca cada um?

Sérgio - É muito fácil. Porque por exemplo, a gente tem acesso às vendas dele. A gente tem acesso a toda a despesa dele. O dono do shopping realmente, ele tem que ter viés de varejista. O sucesso que o João Carlos Paes Mendonça tem é porque ele vem do supermercado. Então eu sou obrigado a conhecer o quanto que a farmácia tem de margem, quanto eletrodoméstico tem de margem, quanto é que o sapato tem de margem, pra saber analisar se o custo de ocupação dele está compatível com a despesa e a venda, porque a gente não tem acesso às margens, as margens nós conhecemos por experiência. Aí tem lojista que vem lhe pedir sem estar precisando. “Mas você não deu pro outro?”. “Mas ele está doente, você quer estar doente? Você não merece”. Cada caso é um caso. Shopping tem uma grande vantagem, por não ser dirigido por lei convencional, específica, não existe paridade. Eu posso ter uma loja aqui, alugar o metro quadrado essa dez, essa vinte e essa trinta. Existe um mix de negócio que cada um merece um percentual sobre o faturamento. Existe ramo que pode pagar um percentual mais caro e ramo que paga um mais barato. O preço do percentual que paga um cabeleireiro não pode ser o preço que paga um supermercado, o outro vende serviço.

 

OP – O senhor está plenamente feliz?

Sérgio - Eu vou te confessar uma coisa, que não sei nem se eu deveria falar assim ao vivo, mas hoje, eu não sei que horas eu vou sair daqui, mas é a última vez que eu vou estar aqui nesse escritório aqui no North Shopping. Eu pensei que hoje ia ser o dia mais infeliz da minha vida. Ao contrário. Está sendo o dia mais feliz da minha vida e estou saindo com vitória. Estou deixando nas mãos da Ancar Ivanhoe, que são pessoas legitimamente bem intencionadas, altamente capazes e, acima de tudo, com um compromisso comigo, é uma das coisas que eu mais pedi pra vender. Eu quero andar aqui sempre, não saio com mágoa, saio com a maior felicidade do mundo como há Jesus Cristo no céu.

 

OP – O senhor entregou a gestão dos equipamentos para a Ancar Ivanhoe já acertando que eles entrariam mais tarde como sócios?
Sérgio - Sim, já estava previsto. Nós já fizemos a entrega da gestão com todos os vamos dizer os preços as transferências de ações de 50% + 1% mais uma ação. Havia os contratos, as condições precedentes e as minutas que iam se formando e a cada dia tiveram que entender como era o nosso contrato. Porque o contrato do shopping ele é um contrato atípico, inclusive shopping center tem um problema muito grande quando se precisa demandar como o lojista na Justiça, porque a Justiça não conhece o contrato do shopping center. É um contrato totalmente atípico.
 
OP - Mesmo com essa cultura de shopping de 40 anos no Brasil?
Sérgio - Não existe, porque a relação contratual, o aspecto imobiliário foi uma brecha achada pelos americanos. Na verdade o shopping center, o operador do shopping center, o empreendedor ele é sócio de todas as operações. Sem ter o risco fiscal, sem ter o risco tributário, trabalhista e o lucro ou prejuízo. Ele ganha sobre faturamento. E o modelo mais adequado que se achou, os americanos acharam para fazer esse modelo de negócio foi através de uma relação imobiliária. Shopping é quase imobiliário, mas não tem nada de imobiliário. Quem pensar que shopping é você ter uma propriedade no Centro alugada pro Bradesco, Banco do Brasil, que todo mês dia 10 seu dinheiro está depositado, é totalmente diferente. Quando o shopping fecha é que começa o trabalho. Shopping trabalha 24 horas por dia. Na hora que o shopping fecha mais ou menos todo dia às 22 horas, embora o cinema se arraste até as 23h30min, depois disso é que entra lavagem, manutenção, então toda aquela parafernália pra que no outro dia de manhã às seis horas da manhã o shopping esteja limpo, já pra receber às 10h da manhã.
 
OP – Como se deu a sua aproximação com a Ancar Ivanhoe?
Sérgio - Na verdade, em agosto de 2011, a gente tava com um projeto de fazer um North Shopping Parangaba, comprado um terreno ali em frente à Lagoa, chegamos a anunciar. Foi uma sociedade entre nós, Claudio Vale e Deda Studart (Magis). E nessa mesma época nós estávamos adquirindo um shopping com este mesmo consórcio, em Mossoró (RN). E um banco nos procurou. Quando nós chegamos, nós e o banco financiador já sabíamos da construção do shopping da Marquise, o Shopping Parangaba. Nós chegamos a São Paulo para uma reunião em agosto de 2011. No meio da reunião tava tudo certo pra fazer os negócios, chegou um executivo vindo do Rio de Janeiro e falou na reunião “o que vocês estão tratando aí? Vocês sabem que nesse bairro aí vai ter um terceiro shopping?”.  No lugar onde era o Jóquei Clube, com o projeto da Diagonal com a Rossi e está sendo vendido pra Ancar. Todos nós ficamos muito surpresos. Ligamos para Fortaleza, ninguém sabia da notícia. Foi muito bem feito, muito bem guardado. Como eu gozava de amizade muito grande com Sérgio Carvalho e os filhos, tomei a liberdade de ligar para um deles. Um dos filhos. E ele disse “venha conversar com a gente no Rio de Janeiro”. A gente tinha tido no passado já uma, dado o respeito entre a amizade das famílias, tentado uma sociedade, mas naquela época os nossos equipamentos não estavam prontos para isso. Então quando cheguei lá pra saber se era, disseram que não era sim nem não a veracidade. Aí eles nos convidaram para fazer a parceria. Vamos crescer juntos, vamos fazer assim, assim, assado. Isso em agosto para setembro de 2011. E em dezembro de 2011 apertamos as mãos, dia 3 de janeiro já estava dentro dos três shoppings.
 
OP - Por que o senhor tomou a decisão de fazer esse negócio na época com eles?
Sérgio - Porque nesse mercado a gente não tem varinha de condão, não adivinha, mas é porque o Brasil, quando tinha 300 shoppings, existiam 200 e poucas famílias ou fundos que eram donas. Quando nós chegamos a 400, só existiam 50 donos de shopping. A BR Mall já tinha levado 30 na época. Foi maior concentração, ficando igual aos EUA. Então hoje dos 500 e poucos shoppings que existem no Brasil, são 40 grupos. Existem hoje poucos exemplos de um Center Norte (São Paulo), que é duma família só. No caso aqui do seu Nevaldo Rocha em Natal, com o Midway. A gente já previa que ia ficar muito difícil para quem tinha o nosso tamanho. Nós tínhamos um tamanho grande pra ser pequeno, e um tamanho pequeno pra ser grande.
 
OP - O cronograma foi esticado por conta desse momento da economia?
Sérgio - Sim e não. Até o dia de fechar o negócio a gente tinha, vamos dizer, até parado as obras, mas agora a gente vai continuar. Além da capitalização, nós ficamos quase sem emprego, sem serviço, então nós vamos nos dedicar a isso com corpo e alma. A gente também estava com o programa sobrecarregado, porque, por exemplo, a gente não podia por questão até de ética, estar expandindo e falando em nome de um grupo na qual o sócio não participava, mas hoje ficamos, o novo North Shopping pertence à gente. O grupo agora se chama SGPar. Não é mais North porque eu quis sair dessa página de North primeiro para não confundir. Porque o nome North ficou pertencendo à Ancar em Fortaleza e Maracanaú. Se eu quiser botar um shopping em Caucaia ou qualquer outro lugar que não seja Maracanaú nem Fortaleza, eu posso, mas a gente não vai fazer isso. A gente tá partindo agora para outro modelo.
 
OP – O senhor vai usar que marcas nesses outros empreendimentos?
Sérgio - Caruaru, que é o nosso maior equipamento, como está no Nordeste, nós já mudamos pra Caruaru Shopping. Sobral os sócios pediram pra gente não fazer isso agora.  Nós vamos usar North no interior de São Paulo, porque eles estão muito perto, e também Mato Grosso do Sul. Depois nós vamos comprar outro nome.
 
 
OP - A relação do lojista mudou, porque ele ganhou mais poder de barganha, já que tem muito shopping atrás dele pra negociar, não é?
Sérgio - Mudou demais, porque antigamente era de praxe vender luva. Hoje é o contrário, hoje existe uma palavra chamada allowance, não sei quem inventou essa palavra, palavra desgraçada, porque é a luva ao contrário, é você pagar pro sujeito vir. E o lojista, com todo respeito, e eu posso dizer aqui que isso, com a maior tranquilidade do mundo, que sou consagrado, modéstia a parte, no Brasil, uma pessoa mais próximo de lojista, mas existe lojista sincero, lojista leal e o lojista aproveitador.

 

OP - Como é que o senhor se sente, enquanto criador de uma ideia, ao passar 100% do controle para outra empresa?
Sérgio - Totalmente realizado, porque eu só fui reconhecido por um grupo internacional, que chegou aqui. E os valores que esse shopping foi negociado são valores ímpares ao mercado, tá certo? Há uma conveniência muito grande de não se falar nisso, porque como foi um, isso, foi acontecendo aos poucos, então existem valores que foram capitalização quando chegaram, ou seja, assumindo nosso, pagando dívida, é, todo tipo de contingência. Não sei se você sabe, mas a gente tinha um problema muito grande de meio ambiente.
 
OP - Sim. E não tem mais?
Sérgio - Nesse equipamento aqui. Nós fizemos um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) em conjunto com a Prefeitura no governo da Luizianne (Lins, PT). Quando veio o governo do Roberto Cláudio, eles não reconheceram o TAC. Mas o Roberto foi muito decente com a gente. Não aceitou o primeiro TAC, mas nos deu todo o conforto pra fazer o segundo. Foi feito o segundo TAC (NR: ele pagou pelo projeto executivo do Parque Rachel de Queiroz, bancou as estações de BRT da Bezerra de Menezes, a execução de três trechos do parque e vai manter os trechos por 10 anos). O shopping hoje é todo regularizado sobre o meio ambiente, então nós entregamos a ele todo resolvido, agora existem algumas coisas que ficaram pra eles (Ancar Ivanhoe) a responsabilidade, já que vão ampliar, revitalizar o shopping. Eles cuidam disso tudo, vamos chamar assim, da regularização total.
 
OP – O senhor fala de um TAC, mas por que o senhor fez a ampliação daquele modo, cobrindo um riacho? Caso o senhor fosse fazer nova ampliação, faria diferente?
Sérgio - Não, faria tudo igual. Porque houve, havia naquele tempo uma perseguição política. Em 1993 eu não era reconhecido como uma pessoa com capacidade de possuir um shopping. Então tudo que era dificuldade colocavam pra mim. Então tudo que era dificuldade, quanto mais dificuldade colocavam pra mim, aí existe uma coisa dentro de mim: eu sou igual a pão com fermento, quanto mais bate em mim mais eu cresço.

 

 

 

 

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espaço do leitor
Antonio Sampaio 19/10/2015 10:42
Faltou perguntar como foi a quitação de boletos do North Shopping na agência Dom Luis da Caixa Econômica Federal para que houvesse a inauguração do já referido shopping center. Caso muito estranho.
SergioRealista 19/10/2015 09:51
Em frente a faculdade FIC, tem um vendedor de salgado de apelido Bola. Ele vende muitas coxinhas e atende todo mundo feliz, brinca com todo mundo e vende muito! Talvez a entrevista não tenha sido bem direcionada. Mas ficou muito mais do mesmo. Faltou essencia, faltou buscar e rebuscar mais. As pessoas confundem felicidade e estar alegre. E como diria Roberto Shinyashiki: "Cuidado com os burros motivados". Mas boa sorte a todos! Sucesso sempre!
DEFENSOR DA FAVELA 19/10/2015 08:46
Muito bem, sabias palavras. Mas não suma doutor, Fortaleza precisa de gente como o sr.
PIXULECO 19/10/2015 07:42
reporter apenas pergunta obviedades. Nada de ?diferente. Tudo parece lindo e maravilhoso. Só muito trabalho e sucesso. Por que não pergunta sobre o caso do cheque da Caixa Economica
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