[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive]
-->
Tião Santos já era referência dentro de Jardim Gramacho, o maior aterro sanitário da América Latina, como líder entre os catadores de lixo. Ganhou projeção internacional quando foi retratado em obra do artista plástico Vik Muniz. O quadro foi a leilão em Londres e arrematado por 28 mil libras.
Mas, fama mesmo veio com o documentário Lixo extraordinário, que retrata o processo de criação da obra de Vik, entre 2007 e 2009. O filme foi indicado ao Oscar de melhor documentário. O catador de lixo Tião foi a Hollywood e dividiu o tapete vermelho com astros de cinema. O prêmio não veio, mas a indicação já deu enorme visibilidade ao seu trabalho.
Tião começou a articular em 2004 a criação da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho. Na época, preparava-se para o processo de desativação dos lixões, conforme previa a Política Nacional de Resíduos Sólidos. “Parecia que eu era o Noé, junto com os meus amigos. Parecia que eu era o profeta maluco dizendo que ia acabar o mundo. Os caras num acreditavam muito”, conta.
Mas, com o tempo, as coisas começaram a acontecer. A luta da associação rendeu aos catadores indenização de R$ 14 mil. Dinheiro para que não passassem fome e buscassem novos caminhos com o fechamento do aterro. Nem todos acharam o bastante. Até há pouco tempo, Tião respondia a 160 processos, todos movidos por catadores. Situação que o deixou revoltado e, por algum tempo, levou-o a se afastar. Mas voltou.Desde que se tornou leitor de Maquiavel, quando encontrou O príncipe jogado no lixo, ele passou a entender as relações de poder e dinheiro dentro de fora do aterro.
Em pouco mais de uma hora de conversa, Tião conta sobre a trajetória do menino que encontrava no lixão um parque de diversões e do adolescente revoltado e vítima de preconceitos, até a transformação em especialista em resíduos respeitado internacionalmente. “Ao contrário do que minha mãe dizia, que tem que estudar pra não ser lixeiro, eu fui estudar para ser especialista no que eu sei fazer”. Fala também sobre a violência, a presença do tráfico, a insalubridade e sobre a participação em arrastões e brigas em bailes funk. “Brigava, apanhava. Depois, voltava pra casa sem ódio no coração. Foi ótima terapia”.
O POVO – A relação das pessoas com o lixo costuma se encerrar no momento em que elas jogam fora. Quando permanece, é o mau cheiro, a doença. Para quem convivia com o lixo, qual era a relação...
Tião Santos – Qual é. Qual é a minha relação com o lixo. É a mesma (que era quando trabalhava no lixão). Não consigo ver o lixo de outra maneira, nunca. Aquilo que cheira mal, que te incomoda, que pra você traz doença, pra mim, é meu mecanismo de sobreviver. É aquilo que traz comida pra minha casa, aquilo que banca a minha filha, aquilo que consegue fazer com que minha vida não seja pior do que poderia ser. Onde você vai ver um monte de garrafa pet, você vai falar: “Olha quanta garrafa, quanto lixo”. Eu vou saber quanto custa cada garrafa daquelas e quanto está se perdendo. Um monte de papelão, para você, é um monte de papelão. Para mim, é um monte de dinheiro. E sempre vai ser assim o meu olhar. A primeira relação que um catador vai ter com o material reciclável não é uma questão ambiental. É econômica. A primeira relação que eu tive com material reciclável foi uma questão de sobrevivência. Depois, estudando, crescendo, entendendo a cadeia toda, e a própria valorização do nosso trabalho, você começa a agregar outros valores. Ambiental, o valor social que esse trabalho tem para a sociedade. Mas, primeiro, você vai pro lixão para sobreviver.
OP – Em um dos primeiros momentos de Lixo extraordinário dentro do lixão, a equipe do documentário fica até surpresa de observar os catadores, ver que eles conversam entre si, brincam.
Tião – É, porque as pessoas achavam que a gente era tipo os homens das cavernas. “Aaah! Vamos matar eles, vamos chupar o sangue”. Acho que pensaram isso.
OP – No fim, eles retomam a discussão e um deles comenta: “Eu achava, no primeiro momento, que aquelas pessoas eram felizes ali. Mas, hoje, não sei se eles são”.
Tião – Eu, pra mim, eu sempre fui feliz. Não posso responder por todos. Porque felicidade depende muito. Outro dia, cheguei à minha casa para uma entrevista. Levei o repórter à minha antiga casa, que foi o primeiro barraco onde eu morei. Quando cheguei lá, eu chorei. Aí o cara falou pra mim: “Fica triste não, cara, isso aí já passou. Agora é bem melhor hoje”. E falei: “Cara, eu tô chorando porque senti saudade”. Não é saudade da chuva, do rato. Mas, dos meus amigos, de quando a gente podia juntar um pouquinho de dinheiro e fazer um churrasco, todo mundo feliz. Sol, churrasco, funk, jogando sinuca. Ir num bar, zoar. Saudade de onde eu criei minha filha, de vê-la correndo. Do Natal. São outras coisas. E eu sempre fui feliz ali. Eu não sou menos feliz nem mais feliz hoje do que eu era antes. Lixo pra mim sempre foi algo muito diferente. Teve um momento, sim, na minha adolescência, em que eu não gostava, por vários preconceitos que eu passei. Mas, depois eu entendi que isso era uma questão de olhar e ver que as pessoas são preconceituosas mesmo. Acho que uma das coisas em que as pessoas pecam é achar que têm que chegar, fazer isso tudo, porque esse lixão... As pessoas crescem ali, né. As relações são outras. Você tem seus amigos, seu afazeres, suas histórias. Minha história está ali. Se divertir, brincar com o lixo da Vasp. Boas lembranças.
OP – O trabalho no lixão começou aos 11 anos.
Tião – 11 anos. Mas, no começo, num trabalhava tanto assim, não. Ia para levar comida e ficava lá, me divertindo com os amigos. Era onde estava minha mãe, também. Não queria ir embora. Porque o lixão virava meu parque de diversões. Só depois, na adolescência, entendi o que o lixo era, na reação das pessoas, quando minha mãe foi vender lixo. Até ali, pra mim era maneiro trabalhar lá. Zoar, brincar, liberdade. Não tinha patrão, ninguém mandava na gente.
OP – O senhor comentou sobre o preconceito e imagino como é algo presente na vida de um pobre, negro, catador de lixo. Encontram-se vários preconceitos.
Tião – Não foi mole, não. Só faltava ser gay também (risos). Desculpe a brincadeira. Aí que você paga um preço. As pessoas sempre vão ficar com estereótipo. Você sempre fala a mesma coisa e sempre vai ter que falar isso, porque é essa a imagem que as pessoas têm do catador. Mendigo, tem que ter um barbão, tem que falar errado, estar com a boca sem dentes, andar com um garrafão de cachaça ou drogado. Tem várias coisas que as pessoas já falam: é isso. Se não é isso, sofre dois preconceitos. Primeiro, porque você é catador. E, segundo, porque você não tem o estereótipo. Já tive que ouvir gracinha de neguinho da PUC (Pontifícia Universidade Católica): “Você não é catador, você é...” Como é que fala? Uma coisa falsa. Foi numa palestra do Viva Rio. Fiquei até puto. Porque, quando eu viajei pro leilão do quadro, ganhei um monte de roupa. (O documentário) é uma coprodução Brasil e Inglaterra. O cara que era a parte inglesa gostava muito de roupa. Me deu um monte de roupa de presente. Dolce, Prada. Tenho até hoje isso. Quase nem uso. Primeiro, que eu nunca tive interesse de usar aquelas roupas. Porque, no baile funk, no baile de hip hop, se o nego quer estar bem vestido, ele tem que estar de Nike. Ninguém quer saber se está de mocassim. Cara sabe nem o que é isso, nem Prada, nem nada. Para você ver como é que as gerações são diferentes, com moda e tudo. Ali, estar bem vestido é está com moletom, Redley, roupa cara e que é status dentro de uma favela. Mas, como eu tinha as roupas lá, resolvi, na palestra do Viva o Rio, numa grande casa de shows lá do Rio de Janeiro, chique pra caramba. Ah, vou colocar essas roupas. Depois da palestra, todo mundo lá fazendo várias perguntas, a menina falou pra mim que eu num era catador. Catador com roupa chique. Eu tive que responder pra ela o que eu falei pra você. Que, quando eu saí de casa, eu saí correndo, então esqueci minha fantasia. Minha garrafa de cachaça, barba grande. Esqueci em casa. Era isso que ela esperava. Então, ofende também as pessoas. As pessoas não querem ver. É muito legalzinho. Mas tem hora que eu tenho que dizer pras pessoas que Lixo extraordinário não é um filme, é um documentário. Porque as pessoas, quando me conhecem, simplesmente acham que não tem como contextualizar esse moleque morando dentro de um lixão. Eu fui nascido e criado dentro do lixão. Se me pedir muita explicação, eu não sei dar. Mas, sempre tive meus sonhos. Cada avião que passava, na minha cabeça, eu pensava como que era do outro lado do mundo. Eu nunca fui um moleque como os meus amigos, de só pensar dentro do lixão. Teve amigo meu que nasceu e morreu e nunca saiu de dentro do lixão. Eu sempre falava que um dia ia conhecer o que tinha do outro lado. Principalmente, o aeroporto. Quando fiquei adolescente, a primeira coisa que eu fiz foi pegar um ônibus, ir pra praia. Você ver as pessoas te olharem de lado. Aí, tu faz logo um arrastão também, de revolta. Você está falando: também é meu espaço. A praia num é deles. Pode até ser dono do prédio, mas da praia, não.
OP – Havia, então, um simbolismo em participar de arrastão?
Tião – Tinha um simbolismo de que eu pertenço. Aquilo que eu não posso ter, eu tomo na marra e deixo o pânico ali na cara do playboy. É uma questão de juventude. Você, quando é jovem, independente de ser filho de catador, é explosivo. Precisa canalizar todos aqueles hormônios que estão em mudança dentro do seu corpo. Se autoafirmando. Então, quando você tem menos acesso a informação, busca outras formas de extravasar aquilo que te incomoda. Eu tinha um pai alcoólatra que, de vez em quando, me batia. Tinha de desafogar isso em alguém. Aí, de vez em quando, ia no baile funk, que tinha os bailes de briga. Era ótima terapia para mim. Não me arrependo nem disso (ri). Brigava, apanhava. Depois, voltava pra casa sem ódio no coração. Foi ótima terapia. Metia porrada em alguém, alguém metia porrada em mim de vez em quando. Assim, conseguia extravasar tudo aquilo que eu sentia quando adolescente. A revolta de não ter, não pertencer.
OP – Em certo momento do Lixo Extraordinário,Vik Muniz e a mulher dele na época, Janaina Tschäpe, comentam sobre os riscos de alimentar o sonho de mudança. Pegar alguém do lixão e levar para outro país. Mas, depois, a pessoa voltaria para aquela realidade anterior. Como mexeu com a comunidade a perspectiva de mudança?
Tião – Aconteceram várias coisas... Pra mim, eu sempre sabia que aquilo dali era um momento que estava acontecendo na minha vida. Eu tinha pleno conhecimento, entendimento do meu papel e de onde eu vim. Não sei se aconteceu isso com todos. Se todos tiveram a mesma cabeça. A maioria das pessoas olha, parece que a Janaina é uma má pessoa quando ela fala aquelas preocupações (no trecho do filme, preocupada com o perigo de o sonho se transformar em frustração). Teve amigo meu que ficou meio pirado. Eu soube aproveitar. E bem aproveitado. Com a cabeça tranquila. Se não, ia se perder na maluquice. Saber que a minha família é de catador, lá estão os meus amigos. Aproveito muito tudo que aconteceu para melhorar a minha vida. E, consequentemente, o trabalho que eu venho fazendo. Mas é totalmente surreal, imaginar que num dia você está dentro de um lixão e no outro dia você está no Oscar. Você tem que ter uma cabeça muito tranquila para entender que eu sou o Tião. Mas é muita coisa na tua cabeça. Teve muitos amigos que... Teve outros, como a Isis, que me surpreendeu. Conseguiu aproveitar a oportunidade dela. Seguiu a vida dela muito bem. Zumbi teve os problemas dele. A Irmã aproveitou muito bem. O Carlos teve um problema. De voltar pra sua própria realidade. Depois das fotos, depois do glamour, eu sabia que tinha que voltar pro meu barraco. Que seu alguém tinha que mudar realmente a minha vida, esse alguém seria eu. Claro que o Vik me ajudou. Mas o Vik só podia ajudar. A ajuda é bem-vinda. A continuidade, quem tem que fazer é cada um. O Vik não tinha que ficar me ajudando pelo resto da vida. Eu sabia que ele não ia fazer isso. Ele ajudou todo mundo. Dar dinheiro, comprar sua casa. Isso eu agradeço a ele muito. Depois, a minha vida quem tinha de seguir era eu. Tinha plena responsabilidade disso.
OP – Como é uma festa do Oscar?
Tião – Eu nem liguei muito. Sério. Estava lá, feliz pra caramba, aproveitando tudo. Mas sem essa coisa de: “Oh, o Oscar. Tem que ganhar”. Estava me divertindo, aproveitando a oportunidade de levar a minha mensagem, fazer a diferença. Saber que eu estava ali representando toda uma comunidade que nunca tinha sido vista. Eu sabia que meu papel era aproveitar. E, claro, me divertir também, ver os atores. Quando você tem a plena consciência, você sabe qual é teu papel. Tanto que minha filha ligou. As pessoas não acreditam nisso, acredite quem quiser. Ela ligou em seguida, chorando. Não sei quem conseguiu arranjar um telefone para eu falar com ela. Eu, rindo, falei com ela. Logo em seguida, ela parou de chorar. Porque é uma coisa tão grande, velho. Acho que o maior do Oscar, de tudo, é, por exemplo, eu estar agora falando com você aqui sobre meu trabalho. Sobre a valorização do trabalho dos catadores. Sobre o reconhecimento e a valorização de um trabalho em que as pessoas não tocavam. Isso eu acho que ninguém pode arrancar da gente. Isso é o maior Oscar do Lixo extraordinário. Dar visibilidade àqueles que não eram vistos.
OP – Sua vida tem muita relação com aquilo que as pessoas desperdiçam, aquilo do que elas abrem mão, jogam, fora. Qual a sua relação com o desperdício?
Tião – O desperdício é muito inconsciente. É a relação do não-valor e aquilo que você fala: não, isso tem alguma utilidade. Essa é a diferença. Aquilo que eu olho e pra mim não tem mais serventia nenhuma. Porque quando eu fui no Jô (Soares) eu falo: eu não sou catador de lixo e sim catador de material reciclável (o trecho do programa é exibido no fim de Lixo Extraordinário). Por justamente isso: a percepção de que o que é lixo pra sociedade é aquilo que não vale nada. Se você cata lixo, o que vale a sua profissão? Nada. Se você é catador de material reciclável, que é a matéria-prima que pode ser transformada em um novo produto, isso tem um valor social, ambiental e econômico pra sociedade. Aí, é outra percepção.
OP – O que o Tião joga no lixo?
Tião – Quase nada. Jogo revoltado comigo. Inclusive porque não está em mim esse resíduo que eu estou gerando. Reciclo tudo o que é possível, mas tem rejeito ainda. Por exemplo, tem vários tipos de embalagem, principalmente as embalagens que são conservantes, de temperos, biscoitos e outras coisas, que, por mais que elas tenham símbolo de reciclagem, não tem dentro do mercado de reciclável uma empresa recicladora daquele produto. Então, o que fazer com isso?
OP – Ela pode ser reciclada, mas não tem quem recicle.
Tião – Isso. Essa é a grande discussão. Por isso que, quando as pessoas começam a falar sobre a lei das sacolinhas (em supermercados, proibidas em alguns lugares), isso me torra a paciência. Quando você discute a sacolinha, esquece de discutir o setor da embalagem, que é muito mais problema. Você pega uma sacola plástica e enfia 20 embalagens dentro, ai depois fala: “A culpa é da sacolinha”. E outras sociedades passaram pela mesma discussão que a gente está passando agora. Não é dizer que o Brasil não tenha jeito. Quando eu fui à Alemanha, a ministra me deu a lição. Quando eu disse: ah, vocês, alemães, já nasceram com essa consciência. E ela disse que foi preciso educação, mobilização, cobrança em lei para conscientizar as pessoas. Essa geração, ela falou, já tem a consciência. Mas foi preciso educar. No Japão... Em todo lugar que eu passei com o documentário que eu pude aproveitar essa viagem para conhecer também o que cada cidade faz com o lixo. É uma curiosidade minha. É algo que parece uma cachaça. Gosto de entender. Porque a relação lixo/personalidade das pessoas é muito próxima. O Vik faz esse desafio no documentário, se a gente tinha a capacidade de saber quem era a pessoa abrindo o saco de lixo. Você sabe tudo da vida dela. Se ela é rica, se ela é pobre. O que ela consome. O lixo entrega tudo.
OP – Como está hoje a situação dos catadores depois que Gramacho fechou?
Tião – Gramacho, não vou dizer que foi totalmente caótico, porque eu estaria exagerando. Mas posso te dizer que primeiro fechou, para depois discutir um planejamento. Começou a pensar de trás pra frente. Ainda bem que uma das premissas que a gente fez foi brigar pelo que eles chamavam de indenização, mas a gente sempre considerou pagamento pelo tempo que as pessoas trabalharam lá. Foi de cerca de R$ 14 mil por catador, independente de quem tinha mais tempo. Que isso aí também foi decisão de assembleia com mais de 1,3 mil catadores, tudo feito democraticamente. Isso pelo menos amenizou o impacto maior, que é o impacto da fome. Mas planejamento pra construção do bairro, urbanização, isso eu acho que tinha que ter acontecido tudo antes. Ainda falta maior planejamento de inclusão econômica das pessoas. Independente de o polo em Gramacho ainda não estar pronto completamente, mas vai agregar 650, 700, no máximo, empregos nos galpões que vão ser feitos. Dos 1.707 catadores que tinha, isso era emprego direto. Dentro de Gramacho, você tinha mais de 200 fábricas, mais de 300 depósitos, que geravam de 20 a 50 empregos, cada. Imagina quantas pessoas que dependiam dali. Mais de cinco mil pessoas.
OP – E, no polo, serão no máximo 700 empregos diretos. Então, tem mil que ficarão fora.
Tião – Ah, o que acontece é que tem pessoas, possivelmente os mais jovens, isso tem pesquisa, que desejam ingressar, vamos dizer assim, no trabalho formal. A gente precisa, pra esses jovens, de capacitação, formação, tanto educacional como também técnica, para que ele possa ser um mecânico, alguma coisa que ele possa aprender e estar incluído no mercado sem ser... Porque Gramacho recebia 12 mil toneladas de resíduos por dia. Resíduo pra caramba, entendeu. Então, o quantitativo de catadores que ali se abrigou durante os e cresceu estava ligado à quantidade de resíduo que a gente recebia. E isso não tem mais. O polo, hoje, gera 70 empregos. A capacidade que tem hoje pode gerar até 120. Por que não gera 120? Porque não adianta eu querer colocar 120 pessoas para ganhar menos de um salário (mínimo), que justamente a própria lei do cooperativismo proíbe. A lei 5.764, que foi reformulada há pouco tempo. Então, para eu gerar emprego, tenho de ter produtividade. E o salário está ligado diretamente à produtividade. Para gerar trabalho, tem de produzir em escala para ter um bom quantitativo de resíduo, para gerar um bom salário. Tudo está ligado à produtividade.
OP – Como as pessoas se viraram nesse processo que o senhor considera caótico?
Tião – Ah, cara, se eu for te explicar, Gramacho hoje parece uma cidade meio que fantasma. A parte onde morava a maior parte dos catadores parece uma cidade fantasma. Não tem ninguém. Porque não tem o principal. Já na parte mais no Maruim, onde o pessoal começou a se organizar mais em cooperativa... Porque, todo mundo gostava de morar na parte mais próxima do lixão. Pela facilidade.
OP – A comunidade era criada ao redor do lixão.
Tião –E, depois que eles fecharam, as pessoas se mudaram mais para frente. Na parte de dentro mesmo só ficaram aquelas pessoas mais ligadas a droga, álcool, essas coisas todas. Porque essas pessoas, justamente quando elas pegaram a indenização delas, quem tinha já uma mente melhor, a cabeça tranquila, buscaram um lugar mais afastado do lixão. Porque o interessante de morar do lado do lixão era justamente o lixão, que fechou.
OP – E a tua vida, o que mudou depois do trabalho doVik, do filme?
Tião – Muito. Minha vida hoje é totalmente diferente. A única coisa que nunca mudou, e não vai mudar nem tão cedo, é meu trabalho em Gramacho. Mas minha vida é totalmente outra. Por exemplo, o trabalho com a associação. Eu tô à frente da organização do polo. Mas eu não vivo disso. (Vivo) Das minhas palestras, das minhas consultorias, do negócio todo, das minhas coisas que eu faço. Depois do Lixo extraordinário. Claro que também não está só ligado à questão de ter feito um documentário. Existe também a capacidade para prestar tal serviço. Quando resolvi que eu ia seguir o caminho de ser catador, eu tinha que entender do meu trabalho do começo até o final. Eu sempre me dediquei a isso. Procurei estudar. Ao contrário do que minha mãe dizia, tem que estudar pra não ser lixeiro, eu fui estudar para ser especialista no que eu sei fazer. Eu vivo do que eu sei fazer. Dei consultoria ao próprio Banco Mundial, tem um trabalho que eu faço com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), enfim. Muito freelance, duas, três vezes ao ano, atuando nessa questão de fechamento de lixão. Tem outro projeto, chamado CRS, voltado para os 42 lixões que serão fechados no Rio de Janeiro. Minhas palestras, que eu faço de vez em quando em grandes empresas. Ao mesmo tempo, também, minha imagem ficou muito ligada a essa questão da sustentabilidade. Tenho hoje projetos, também. Meu, pessoal, que eu estou apostando e que eu vou tocar, com alguns parceiros. Mas, isso é mais pra frente. Tem o livro, que lançou há pouco tempo. Um monte de coisa que a gente vem fazendo.
OP – O que mudou no trabalho na associação?
Tião – Confesso que tive um desgaste físico e psicológico muito grande. Só para você ter ideia, até há pouco tempo, eu respondia a 160 processos. Todos eles movidos por catadores. Eu, claro, agora começo a entender. Mas no começo eu me senti muito ofendido. O que me deixou mais tranquilo foi quando você vê a juíza falar: “Olha, se existe alguém que vocês têm que processar, esse alguém é a Prefeitura. Porque, não sei se vocês sabem, sendo pouco ou não os R$ 14 mil, foi a associação que lutou por vocês. Aí, isso aliviou a minha mágoa. Então, depois, eu me afastei muito de discussões políticas. Virou muita politicagem, muito jogo de interesses, muito dinheiro envolvido. Tem uma coisa de exploração de gás e um monte de coisa. Então, resolvi me afastar durante um bom tempo. Mas, nos últimos oito meses (até maio, quando a entrevista foi realizada), quando eu comecei a sentir a necessidade de que tinha de voltar a discutir isso junto com as pessoas. Porque tem um momento em que você cansa, isso é normal. A hora em que eu preciso trabalhar um pouco pra mim. E o momento em que acho que agora está na hora de voltar. Então, quando eu voltei para discutir isso, eu vi que as coisas estão para acontecer, mas, se não tiver bom acompanhamento, boa discussão, uma participação afetiva das lideranças locais, discutindo os benefícios pro bairro. Sem deixar que a politicagem se integre, aí a gente consegue construir esse plano de urbanização. Aí o pessoal começou a me chamar. “Está precisando disso aqui”. Aí monta jogo de interesse, já foi falar de dinheiro, milhão, aí nego já começa a se movimentar. Por mais que a gente fique magoado, a gente tem o compromisso com as coisas que a gente faz. Nasceu pra isso mesmo (risos).
OP – Gramacho era o maior lixão que tinha no Brasil, um dos maiores do mundo. Agora, isso está se reproduzindo Brasil afora, com a legislação para desativar os lixões.
Tião – A Política Nacional de Resíduos Sólidos, o prazo dela terminou em agosto (de 2014). Expirou já o prazo. Parece que deram mais um prazo agora. Se ficar dando prazo, não vai. Tudo passa pelo plano de transição. Gramacho sofreu menos impacto que os outros, muito, justamente porque a gente se organizou o suficiente para pelo menos garantir a sobrevivência das pessoas após o fechamento. Mas, você garante a água, garante o dinheiro, você vai comer durante algum tempo. Mas, depois vai fazer o que da vida? A gente vai discutir uma nova economia para substituir aquela. Porque imagine as pessoas que estão há 20 anos, 15 anos trabalhando numa coisa. Que entende de plástico muito mais do que o cara que está se formando em Química lá, pra estudar reciclagem. Tem gente lá que entende muito mais, porque foi nascida e criada naquilo ali. Tem moleque, como eu, que começou a trabalhar lá com 10 anos de idade. Sabe o que é PAD, o que é polipropileno, o que é PVC. A gente aprendeu. Talvez não vá usar o nome técnico. Mas ele entende o que é.
OP – Por que vocês resolveram criar a associação lá atrás?
Tião – Justamente porque, quando a gente começou a militar no movimento, sabia que, dentro da Política Nacional de Resíduos, quando ela fosse aprovada, estaria inserida a desativação dos lixões. Como a gente já vinha desde 2002 militando, em 2004 a gente começou a tentar formar a associação. Só em 2006 ela foi, de fato, constituída enquanto associação jurídica.
OP – Já nasce porque vocês sabiam que aquilo ia acabar.
Tião – Ah, mas foi muito difícil. Parecia que eu era o Noé, junto com os meus amigos. Parecia que eu era o profeta maluco dizendo que ia acabar o mundo. Os caras num acreditavam muito. Depois, o processo foi começando a se concretizar. As notícias vão andando, você vai vendo entrevista, briga de prefeito com prefeito para quem vai segurar o pepino. Aí as pessoas começam a se movimentar. Ninguém é tão idiota. As pessoas começaram a entender. De 2008 até 2012, foi o boom de todo mundo. Não vou dizer todos, mas, dos 1.707 catadores, a gente encerrou nossas filiações tinha 1.480.
OP – Em um momento no Lixo extraordinário, vocês falam sobre livros que encontram jogados. E há seu comentário sobre Maquiavel.
Tião – Foi o primeiro livro.
OP – O que tirou de aprendizado dali, até para entender as relações humanas e relações de poder?
Tião – Eu tirei tudo. A relação da família Bórgias com a família Médici, então, você pode entender o mundo. Só que você não pode ficar preso lá em Florença. Tem que ler Maquiavel no contexto de como se entrelaça com os interesses dentro da sociedade. Aí que comecei a entender com quem eu estava lidando. Quando eu começo a militar em Gramacho, também, a minha intenção era lutar por direito. E eu acho que ninguém vai ser contra mim, porque o que tem de errado em um povo pobre lutar por direito? Aqui que num tem (faz um gesto obsceno). Desculpa o palavrão. Aí você começa. Eu estou incomodando porque existem realmente jogos de interesses. Qual é o jogo? Eu tive que descobrir. Parece que Maquiavel é o cara mau. Maquiavel não é o cara mau. Ele escreve sobre os caras que dominavam as relações políticas, os jogos de interesses. E cada um usou seus métodos. Tinha um que usava a força, outros usavam da inteligência, por isso conseguiam reinar por mais tempo. Outro é pela sorte, mas a sorte não durava muito. E ele vai falando sobre como se mantém no poder. Como esse jogo de interesses se dá.
OP – Que relações de poder se estabeleciam em Gramacho, dentro e, inclusive, fora?
Tião – Dentro, eu sabia qual era o jogo de interesses. O que eu não sabia era quanto interesse tinha fora. O quanto o lixo envolvia tanta coisa. Muito dinheiro, as empreiteiras.
OP – Muito mais dinheiro do que o que ficava ali.
Tião – Muito mais dinheiro que a comercialização do material. Que também não era pouco. Não era, simplesmente, o trabalho na cadeia produtiva, em que a gente catava, os caras do depósito separavam por cor, qualidade e mandava para a fábrica e transformar no melhor material. Na minha cabeça, estendia só até ali. A licitação do novo lixão, o interesse das empreiteiras, isso aí é muito maior. Quando a gente se organizou, a gente teve de ir pra audiência pública. Discutir com Odebrecht, com Júlio Simões, os caras que estavam entrando na licitação do novo aterro sanitário. E, acima de tudo, todos ali têm direito. Estamos num país democrático. Então, como vai discutir para cada um conseguir garantir a sua parcela? Aí que foi o jogo.
OP – Como é a relação com o crime, o tráfico, como uma das esferas de poder dentro do lixão?
Tião – (Risos) Pra mim, sempre foi uma relação muito tranquila. O cara que um dia se tornou traficante um dia foi meu amigo, catador de material reciclável. Só que, depois que a gente cresceu, a gente decidiu qual caminho seguir. Seria leviano da minha parte dizer que eu tinha uma relação difícil com o pessoal. Tive muito mais problema com as relações externas. Os meus amigos que optaram pelo outro lado têm muito respeito por mim. Porque eles sabem o quanto eu tive de resistir para não ir pro lado negro da coisa.
OP – Mas a violência é um fator...
Tião – Claro, tinha a violência, cotidiana. Dentro do lixão, a zona de sobrevivência é quase o último fio da navalha. Quase não, é o último fio da navalha. Você acaba convivendo com o lado mais pré-histórico do ser humano. Então, tem horas em que as pessoas se agridem. Tinha hora que as pessoas se matavam. Porque é uma questão de sobrevivência, acima de tudo. Cresci vendo isso.
OP – Uma problemática também muito presente num lixão é a questão da saúde, a doença para quem manuseia esse tipo de material. Como vocês lidam com isso?
Tião – Esses dias, foram receber lá um monte de gringos (risos), aí eles estavam mexendo lá. Tinha uns ratos, cobra. Falei para um cara, que era o guia deles. Ele estava perguntando, que tem algumas pessoas (catadores) que manuseiam e nem botam luva. Eu disse: avisa a eles. A relação lixo e ele (catador) é tão de simbiose que para ele mexer o lixo com a mão não tem problema nenhum. Mas, pra esses meninos aí, não. Fala pros teus brothers aí, fala para eles pararem de mexer nisso aí. Agora, claro, quando você começa a crescer e ter uma militância e vendo a forma de se trabalhar você começa a perceber que não há imunidade nenhuma. Tinha um alto índice de tuberculose, alto índice de doenças de pele, de hanseníase, de doenças respiratórias. Tanto que a gente começou, como associação, para que as pessoas entendessem a importância, era a questão de documentar as pessoas que não tinham documento. Tinha gente na terceira geração que não existia. Não tinha documento nenhum. O cara era Zé porque a mãe dele sempre o chamou de Zé. Agora, o Zé não existia. Foi uma das grandes dificuldades de formar a associação e até de indenizar os catadores. A falta de documentação. Então, a gente fez uma campanha de saúde. Diagnosticada a tuberculose, você tinha que tratar, buscar ajuda do Estado.
OP – A mortalidade é muito alta? No documentário não aparece muita gente de idade.
Tião – Ah, porque ali já tinha morrido a maior quantidade de gente velha. O grande fato de as pessoas morrerem precocemente, não vou nem chegar a dizer a questão da saúde. Claro, acabava chegando a uma questão de saúde. Mas, a saúde debilitada por vários outros motivos. Excesso de droga, álcool, sexo sem preservativo, o que leva a contaminação por HIV. Tem todas essas coisas. Essa coisa da falta da informação, da prevenção, educação sexual, causava todas essas questões, que acabavam ceifando a vida das pessoas precocemente. Não era diretamente ligada com o lixo. Há questões sociais que envolvem o lixo. O lixo é um vetor de doença. A questão é de você não ter informações nem tampouco a questão de acesso à saúde.
OP – Quem ganha dinheiro com o lixo?
Tião – Quem ganha dinheiro com o modo com que se é tratado o lixo hoje no Brasil são as grandes empreiteiras. O lixo, hoje, no Brasil, está ligado a logística e tratamentos básicos. Que envolvem a questão do chorume e canalização do gás. Quem presta esses serviços hoje são as grandes empreiteiras. Elas ganham dinheiro com esse tipo de gestão. Mesmo que seja um lixão daqueles a céu aberto. Sempre vai estar envolvida alguma empreiteira de transporte. Tratar lixo é questão de logística, basicamente, no Brasil. A gente só pensa numa gestão muito medíocre. Coleta, transporta, enterra. A empreiteira ganha pra isso. Só que, no final das contas, ninguém ganha. Por mais que haja uma empreiteira ganhando por trás disso, o quanto que se perde por não ter uma gestão integrada dos resíduos é muito maior. Cada área debilitada, destruída, como foi a própria Gramacho, Gramacho era uma área de 1,3 milhão de metros quadrados, situada na cidade de Duque de Caxias, que, na época, em 1976, era uma cidade muito pobre. Então, pode receber lixo, porque é assim. Em qualquer lugar do mundo. As pessoas sempre querem por o lixo o mais distante possível de suas casas. Por quê? O Rio de Janeiro é lindo, Copacabana, princesinha do mar. O Rio de Janeiro não queria lixeira dentro da cidade. Gramacho cresceu durante esses 35 anos. Hoje, a maior vergonha do Rio de Janeiro em sediar os Jogos Olímpicos é a Baía da Guanabara. Quando, durante 25 anos, 20 anos, não tratou lixo em Gramacho, quanto chorume, quanto lixo vazou de Gramacho para a Baía da Guanabara? Qual é o custo de tratar a Baía da Guanabara hoje? Quem ganha com isso? Ninguém, no final das contas. Tratar pode parecer caro no começo. Mas, a médio e longo prazo, só tende a ganhar, até mesmo economicamente. Mas tudo tem um começo. Se eles pensassem que um dia o Rio de Janeiro sediaria os Jogos Olímpicos, será que teriam coragem de fazer a mesma coisa com a Baía da Guanabara?
PERFIL
Sebastião Carlos dos Santos, 36 anos, é presidente da Associação dos Catadores do Aterro Metropolitano do Jardim Gramacho (ACAMJG). Filho de catadora de lixo, passou a trabalhar no aterro aos 11 anos. Aos 19 anos, foi eleito presidente do conselho fiscal da primeira Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis do Jardim Gramacho, a Coopergramacho. Aos 25, começou a organizar a ACAMJG, oficializada como pessoa jurídica dois anos depois. Projetou-se na comunidade durante a transição para o fechamento do aterro, que se concretizou em 2012. Nesse processo, ganhou notoriedade ao ser retratado em obra do artista plástico Vik Muniz. O processo de criação virou documentário e deu fama internacional a Tião. Hoje, não cata mais lixo, mas seu trabalho é todo relacionado a resíduos sólidos. Deu consultorias a prefeituras, entidades e até ao Banco Mundial e estrelou campanha da Coca-Cola incentivando a reciclagem. Realiza palestras sobre gestão de resíduos e sustentabilidade. No ano passado, lançou o livro Tião: do lixão ao Oscar.
PERGUNTA DO LEITOR
Waldemberg Oliveira, articulador da Coordenadoria Especial de Limpeza da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos da Prefeitura de Fortaleza
Quais os principais entraves para formar associações ou cooperativas de catadores de materiais recicláveis e qual o papel dos governos nesse processo?
Tião – O primeiro entrave é você conseguir um espírito coletivo na organização do grupo. Qualquer cooperativa e associação nasce, primeiro, do desejo do grupo de se organizar e se formar em cooperativa. Esse é o maior desafio: conseguir encontrar essas pessoas dispostas a organizar e, juntamente com você, avançar nos próximos desafios. Que serão outros. Tem dificuldade burocrática, falta de incentivo. A grande dificuldade está na própria relação que a gente tem com material reciclável, resíduo reciclável, que ainda é visto como lixo. Que importância tem formar uma associação de catadores ou cooperativa de catadores numa sociedade que não dá importância pra reciclagem? O papel dentro dos governos é a mudança dos paradigmas, a matriz de pensamento. A gente ainda tem pensamento de que tratar resíduo é coletar tudo que a gente supostamente acha que é lixo, levar pro local mais distante e gastar um puta dinheiro para enterrar. Gestão de resíduos é implementar coleta seletiva, reciclagem, compostagem (processo de transformação de matéria orgânica em adubo). E, por último, o aterro sanitário. Você tem aterro sanitário no Brasil com uma média de vida de 25, 35 anos. Imagine um aterro sanitário que só vá receber aquilo que realmente não tem valor. Do 100% de resíduo produzido no Brasil, 40% é material reciclável. Outros 45% ou um pouquinho mais é orgânico. Tem um valor imensurável para a questão da compostagem. Os outros 15%, 13%, é o rejeito. Aquele tipo de embalagem, como falei, cartonada, outras embalagens de alimentos, que não tem um mercado que recicle. Mas tem um valor para reciclagem energética. O que é lixo, afinal?
SAIBA MAIS
Jardim Gramacho
Localizado em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, era o maior aterro sanitário da América Latina. Recebia 75% do lixo da cidade do Rio de Janeiro e todo o lixo de quatro municípios da Baixada Fluminense. Foi criado em 1976, com a destruição de 1,3 milhão de metros quadrados de mangue. O local fica às margens da Baía da Guanabara, é cercado por dois rios e é constituído de solo frágil, de argila orgânica. Durante mais de três décadas, chorume vazou para a baía e para os rios e a decomposição de matéria orgânica provocava explosões de metano. Havia 1,7 mil catadores que trabalhavam no local e toda uma grande economia girava em torno do negócio do lixo, dentro e fora do Jardim Gramacho.
Lixo extraordinário
Lançado em 2010 e filmado entre 2007 e 2009, o documentário mostra o processo de criação do artista plástico Vik Muniz com catadores em Jardim Gramacho. É uma coprodução entre Brasil e Estados Unidos e é dirigido por Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley. Conquistou dezenas de prêmios internacionais. Foi considerado melhor documentário pelo público no Festival de Sundance e recebeu prêmios da Anistia Internacional e do público na mostra Panorama, do Festival de Berlim. E, em 2011, foi indicado ao Oscar de melhor documentário.
Assista ao filme completo: http://bit.ly/lixo-extraordinario
Assista:
Catadores de sonhos
Confira como foi o processo de participação dos catadores nas discussões em torno da desativação do aterro de Jardim Gramacho.
-->-->-->Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje
Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object
Erro ao renderizar o portlet: Barra Sites do Grupo
Erro: <urlopen error [Errno 110] Tempo esgotado para conexão>
Copyright © 1997-2016