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JORGE HELDER 20/07/2015

Jorge Helder é um dos baixistas mais requisitados do País

Um dos músicos mais relevantes da MPB, Jorge Helder nasceu no choro, passou pelo rock e hoje é parceiro de Chico Buarque
notícia 2 comentários
Rodrigo Carvalho
Em passagem por Fortaleza, o músico Jorge Helder reconheceu sua importância no cenário da MPB atual: "Estou vivendo um momento de privilégio, por que estou trabalhando com música, o que é difícil no Brasil"
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“Com vocês, o baixo mais disputado do Brasil”. Foi assim que Maria Bethânia apresentou Jorge Helder, quando esteve em Fortaleza, para apresentar sua turnê Cartas de amor. O elogio poderia ser apenas um afago da cantora para o músico. Mas, o fato é que a baiana já vinha perseguindo o baixista há um certo tempo com a intenção de tê-lo em sua banda. Logo que conseguiu, tratou de convidá-lo para um posto de destaque no grupo que passava por mudanças.

 

Assim como Bethânia, é longa a lista de artistas em busca das notas discretas e certeiras de Jorge Helder. Cearense instalado no Rio de Janeiro há três décadas, o baixista conseguiu um lugar de destaque na música brasileira popular ou erudita. De Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) a Sandra de Sá, é longa a lista de nomes que já recorreram aos seus graves. Por exemplo, um dos que não largam o baixinho cearense é Chico Buarque, que até o apelidou de “São Helder”. Mas ele não é afeito a milagres. Avesso à fama e estrelismos, ele tem a fórmula para ser disputado como é: estudo, disciplina e respeito pelo conjunto.


O POVO - Como começa a sua história com a música?

Jorge Helder – Foi exatamente nos saraus que meu pai fazia todas as quartas-feiras na minha casa, aqui na (rua) Floriano Peixoto. Ele juntava um grupo de amigos e fazia uma noite de choro. Aí foi meu primeiro contato com a música, diretamente. Eu era muito pequeno, tinha cinco ou seis anos. Eu ficava sentadinho ao lado do meu pai, ouvindo. Não participava com nenhum instrumento. Meu pai tocava bandolim. Toda quarta tinha isso e eu adorava. Minha vida musical começou aí, ouvindo choro. Ao longo do tempo, isso veio se tornando a principal música da minha vida. Tanto que eu logo aprendi a tocar bandolim com o meu pai, depois violão com a minha tia e montei logo um grupo de choro chamado Choro Mirim.

OP - O que vocês tocavam?

Helder – A gente tocava samba, como Clara Nunes. Muito samba. Era um repertório vasto entre choro e samba. Tinha uma parte instrumental, dedicada justamente ao bandolim. Era o momento chorístico, com os chorinhos que eu tinha aprendido com o meu pai. Jacob (do Bandolim) e Pinxinguinha, que eram os principais autores da época. E os sambas que a gente cantava: Noel Rosa, Cartola...

OP - Na adolescência, você também passou pela fase do rock, não é isso? Como foi essa época?

Helder – Meu irmão é roqueiro. Ele ouvia Led Zeppelin, Black Sabbath, Uriah Heep, o rock pesado da época. Isso em 1975 ou 1976, quando eu entrei no conjunto do colégio como guitarrista. E aí eu montei uma banda de rock, que se chamava Pólen. A gente fazia cover dessas bandas pesadas. E eu conseguia conciliar o rock com o choro. Eu fazia os dois, não simultaneamente. Com meu grupo de rock eu fazia shows e, ao mesmo tempo, eu ensaiava meu grupo de choro e música brasileira.

 

OP - Como chegou ao baixo?

Helder – No colégio, eu tocava guitarra. Um dia cheguei pra ensaiar e estava cheio de guitarristas lá. Eu era o mais magrinho, mais franzino e eles elegeram que eu ia ser baixista. Aí, eu meio que covardemente fui tocar baixo. Só que eu nem sabia qual era a afinação. Minha tia é que fez uma pesquisa e achou em livros eruditos qual era a afinação do contrabaixo. Ela que me deu as primeiras noções do baixo, da clave de Fá. Ela não tocava, mas, super inteligente, foi me mostrando. Pegou algumas partituras de música clássica e eu fui me interessando. Mas, não era baixo elétrico, era acústico. Eu nem sabia o que era isso. Aí que me vieram as primeiras curiosidades sobre o instrumento.

OP - E gostou do baixo? Encantou-se rápido por ele?

Helder – Não. Eu tive que ir para Brasília. Meu primeiro contato com baixo acústico foi lá. O motivo de eu ir foi estudar na Escola de Música. Meu irmão, chegando em Brasília, a primeira coisa que ele fez foi dizer: “Jorge, vou te apresentar a Escola de Música”. Ele me levou lá em 1980 e eu pirei. Aí eu conheci o contrabaixo acústico. A Escola era só música erudita na época. Ainda estávamos sob a Ditadura (Militar) e não podia ter música popular, o regime era muito rigoroso. Me explicaram: “você vai ter que estudar um instrumento de orquestra, no caso, o que você está querendo é o contrabaixo, e, ao mesmo tempo, piano ou violão. E vai ter que fazer todas as outras matérias: teoria musical, percepção, harmonia”. Eu estava adorando. Voltei para Fortaleza nesse mesmo ano, acabei o segundo grau e, em 1982, me mudei para Brasília.

OP - Você também foi para Brasília com a intenção de prestar vestibular para Música, não é?

Helder – Fiz o teste, não passei. Eu tinha que tocar um concerto. O instrumento que eu escolhi foi o violão, só que eu nunca estudei violão erudito. Cheguei lá achando que eu ia tocar uma música simples. Na verdade, eles me mandaram um cronograma do que eu tinha que estudar e eu fiquei apavorado. Já cheguei em Brasília sabendo que não iria passar. Mesmo assim eu fui e fiz o vestibular, pelo menos pra saber como é o critério para a UNB (Universidade de Brasília), que é muito difícil.

 

OP - Você deixou o Ceará no início dos anos 1980 para estudar em Brasília. Como era a Fortaleza que deixou? Como era a cena musical da época?

Helder – Eu tocava com o Rodger, a Teti, com o Calé (Alencar), o Lúcio Ricardo. Isso tudo só na intuição, no peito e na raça. Eu não tinha informação (técnica sobre música), a não ser pela minha tia. Mas, era muito superficial. Ela estudava através de livros que chegavam do Rio. Livros que eu nem quero citar o nome, mas Paulinho Nogueira, por exemplo. Perigoso (risos).

OP - Já circulava bem pela música local, então?

Helder – Eu não participei do Massafeira. Eu era muito novinho. Minha mãe não queria que eu me tornasse músico de jeito nenhum. Não por maldade, mas ela tinha outros planos para mim. Ela via que essa coisa artística, viver da arte, era muito difícil. Ela achava que eu nunca sairia do Ceará. E eu meio que ia cedendo a essas coisas. Não frequentava ambientes musicais, pra eu tocar com esses músicos tinha que ter uma conversa muito boa, apresentar boas notas. Tinha que ter essa troca. Então, eu faltava ensaio, o pessoal reclamava. Ficava nesse dilema. Às vezes eu levava caderno e ficava fazendo dever de casa nos ensaios. A Teti marcava ensaio lá na casa dela. Eu chegava com o caderno e, enquanto ela arrumava, eu estava fazendo o dever de matemática, história. Ela perguntava: “o que é isso?”. E eu fechava o caderno com vergonha. Isso tudo com a intenção de ser músico.

OP - Você começou com o choro, participou de bandas de rock e estudou o erudito. São muito diferentes as abordagens nesses estilos? Consegue sentir estas influências na sua música?

Helder – Eu achava que música era choro, o resto é que foi novidade. Meu pai gostava dos Beatles e minha referência era meu pai. Se meu pai gostasse, aí eu ouvia Beatles. As outras músicas, da Teti, do Calé, tudo era novidade para mim. Eu nunca sabia como me portar profissionalmente. O baião, por exemplo, mesmo estando na minha veia, por ouvir tanto baião, tanto forró, pra mim, em termos de instrumento, eu não sabia como me portar. Que ritmo eu vou fazer? Como é que eu vou dar essas notas aqui no baixo? Não tinha internet, então tinha que ouvir no disco. Eu pegava Os Três do Nordeste, que é um grupo de forró, e ficava prestando atenção. Mas, não tem baixo. Gente, não tem baixo! É sanfona, zabumba e triângulo.

OP - A zabumba é que faz o som do baixo.

Helder – Exatamente. E eu ficava: será que o baixo é esse zabumba? Então, eu começava a tocar o baixo igual à zabumba. Quando o Calé apresentava alguma coisa, eu ficava: “caraca, que negócio é esse? Que música é essa?”. É tipo uma ciranda. O que é isso, cara? (risos) Quando chegava essas músicas, eu não sabia o que fazer no baixo. Eu suava, misturava.

OP - Queria saber como foi sua formação depois da Escola de Música de Brasília.

Helder – Eu ainda fiz o bacharelado em cello, no Rio de Janeiro, no Conservatório Brasileiro de Música. Isso aos 46 anos. Quando eu cheguei no Rio, fui estudar com o professor de todos os contrabaixistas eruditos do Brasil. Os contrabaixistas eruditos que tocam em orquestra passaram pela mão do Sandrino Santoro. O meu professor lá em Brasília falava muito no Sandrino e eu queria muito conhecê-lo. Tudo que eu aprendi em termos técnicos lá em Brasília foi “terceirizado” dele. Quando eu cheguei no Rio, uma das primeiras coisas que eu fiz foi procurar o Sandrino e ele dizia: “todo contrabaixista deveria aprender cello para ter uma visão completa de toda essa família de instrumentos. Saber como é a posição, a arcada,

a leveza”.

 

OP - E essas palavras o incentivaram a estudar?

Helder – Eu fiquei com isso na cabeça. Um dia, minha filha mais velha, com nove anos, resolveu estudar cello. Eu comprei o cello, arranjei o professor e ela começou, mas depois desistiu. Aos 15 anos, ela disse que queria voltar a estudar o instrumento. E eu deixei. Acabei pegando o cello dela e descobrir que a afinação é em quintas, igual à do bandolim, meu primeiro instrumento, e comecei a tocar um monte de choro. E minha filha: “pai, você toca cello?”. “Não, filha, eu sei tocar arco, por conta do baixo acústico, e toco bandolim, que é a mesma afinação” (cantarola Brasileirinho). É a questão mecânica, não sou gênio. “Então, por que o senhor não estuda?” (sugeriu a filha). Então, tá, vou fazer bacharelado.

 

OP - Em Brasília, você tocou com Zélia Duncan, Cássia Eller e outros nomes. Como foi esse período? Que relação construiu com essas pessoas?

Helder – Meu primeiro trabalho em Brasília com um cantor foi com a Zélia, que na época se chamava Zélia Cristina. A gente trabalhou muito. Eu fiquei quase cinco anos lá e toquei quatro anos com ela. Logo em seguida, conheci a Rosa Passos e comecei a trabalhar muito com ela. E, nesse mesmo período, conheci a Cássia.

OP - Tirando a Rosa, as outras duas estavam bem em início de carreira.

Helder – A Cássia, então, tinha 16 anos! A gente ficou super amigo. Ela ia para minha casa e meu irmão achava que eu iria namorar com ela. Tá difícil (risos). “Por que tu não namora ela? (perguntava o irmão)” A Cássia era bem bonitinha, bem que eu gostaria. Não vai dar. Mas ela ia pra minha casa direto, a gente saía, ia para o cinema.

OP - Depois de Brasília, você foi ao Rio a convite da Sandra de Sá. Como aconteceu esse convite?

Helder – Eu tinha uma banda instrumental em Brasília chamada Artimanha e, por causa dessa banda, eu fui tocar com a Sandra de Sá no Rio de Janeiro. A gente só tocava funk e composições próprias. Eu estava fazendo um show na Sala Funarte, lançando o disco que a gente tinha gravado, e o diretor musical da Sandra foi assistir. Ela estava montando uma banda e só queria gente nova. “Você não quer ir pro Rio ficar um tempo lá?”, perguntou. Eu aceitei na hora e fui no peito e na raça. E fiquei, estou lá até hoje. Era 1986.

OP - Como foi a chegada no Rio de Janeiro?

Helder – Eu cheguei no Rio com uma mala e o baixo e fui pra casa do diretor musical. Eu dormia na sala, num colchonetezinho. Mas, eu não quero me vangloriar com isso não. Acho essas coisas piegas e detesto pieguice. Mas, foi o que aconteceu. Passei um sufoco no começo. Eu cheguei sem conhecer ninguém. E fui conhecendo as pessoas, me entrosando, fazendo amizades. Isso foi aumentando, eu fui mostrando meu trabalho, fui tendo oportunidades. Tinha poucos baixistas acústicos no Brasil. Em 1986, tinha o grande Nico Assunção, um fenômeno que eu não perdia um show. Eu agradecia a Deus por estar vivo e estar vendo aquele cara tocar. Ele já tocava o baixo de seis cordas, já era à frente do tempo dele. Tinha também o Adriano Giffoni, que era outro cearense, que me ajudou muito. Sou muito grato a ele. (Continua listando os baixistas da época). Luiz Alves e o grande Paulo Russo, que tocou muitos anos com o Victor Assis Brasil. E o Luizão Maia, de quem eu me tornei amigão (com ênfase). Era um cara super engraçado, super inteligente e respeitado no mundo inteiro. Então, eram poucos baixistas e eles iam me indicando.

 

OP - Pra muita gente, você está numa posição privilegiada quando toca ao lado de Chico Buarque, Bethânia e outras grandes estrelas. Você se vê como privilegiado?

Helder – (Depois de dar voltas no assunto) Eu não posso negar que estou num momento privilegiado. Mas, viver é um privilégio. Estar vivo é um privilégio. Sem esse romantismo, eu acho que estou vivendo um momento de privilégio, por que estou trabalhando com música, o que é uma coisa difícil no Brasil. Tocar com grandes artistas, nomes de peso, é um privilégio. Mas, não é só meu. Tem muitos amigos que estão compartilhando comigo esse privilégio. O Brasil (musical) está cada vez mais difícil devido a várias crises causadas, talvez, pela internet. A vendagem de CDs, por exemplo, causou uma crise muito grande nas gravadoras, tiveram que buscar outras formas de mercado e isso refletiu na vida de todos os artistas. Então, esse privilégio eu compartilho com todos esses artistas.

OP - Por conta dos trabalhos que você faz com outros artistas, sua produção autoral acaba ficando de lado. Isso te frustra?

Helder – É engraçado. Às vezes, eu fico grato por essa frustração. Quando você demora muito a concluir uma obra, você começa a repensar o que fez até agora. Isso é bom, mas você acaba ficando frustrado e acaba não fazendo nada. To querendo dizer com isso que eu já não gosto muito do que fiz há três anos para esse disco (autoral e solo que tem guardado). Ao mesmo tempo, é muito difícil fazer o disco. Eu estou pagando todo mundo, tudo sai do meu bolso. Ninguém quer cobrar, mas eu pago. E essa falta de recurso me causa uma frustração muito grande. Mas, às vezes, essa frustração acaba sendo benéfica por que eu fico reavaliando, querendo reconstruir, começar do zero, achando uma merda (gargalhadas). O risco que eu corro é de nunca fazer esse CD.

OP - No show de Bethânia, você assumiu um papel que foi, durante décadas, de Jaime Além. Como foi assumir esse papel?

Helder – Eu demorei muito a aceitar isso aí. Relutei bastante, por questões de ética profissional. E de amizade também. Foi o Jaime quem me colocou na banda dela. Eu aprendi muito com ele. Então, tudo que eu faço com a Bethânia, eu aprendi com ele. Logo que ele saiu, a Bethânia me chamou para ser diretor musical e eu falei “de jeito nenhum. Eu toco com você, mas diretor musical eu não vou ser”. A saída (do Jaime) não foi tão tranquila não. Ele queria continuar, ela queria que ele continuasse, mas teria que ser de outra maneira. Houve um certo conflito. Ela ficou procurando (um diretor) durante seis meses, até que o Wagner Tiso aceitou e formou a banda. Eu fiquei como baixista. Esse ano ela me convidou, não para ser diretor musical, mas para que eu coordenasse a parte psicológica da banda. Que eu deixasse a coisa bem democrática, por que ela viu que eu gosto disso. Todos, atualmente, fazem a banda, dão ideia, inclusive ela. Na época do Jaime, era só ele. Todas as ideias vinham da cabeça dele e dela. Ela quer uma solução dessa música para outra música, e fica uma pessoa só tentando achar enquanto os outros tinham a solução, mas eram proibidos de falar por que tinha um general. Quando o Wagner entrou, já começou a deixar mais solto, aceitar opinião. Agora, todos participam, falam, dão opinião, e ela ouve todo mundo.

OP - Muitos dos nomes com quem você trabalha são conhecidos pela exigência, como é o caso da própria Bethânia. Você lida bem com essas exigências?

Helder – Sim. Eu não tenho sofrimento com isso não. Posso até contar um caso, sem citar nomes. Uma vez fui participar de um concerto na Sala São Paulo, com a Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). A gente foi tocar Villa-Lobos e o projeto era o Villa-Lobos Popular. Então, eu fui colocado bem no centro da orquestra e era a intercessão entre o erudito e o popular, com o baixo acústico. A gente estava tocando uma introdução do Trenzinho caipira original, que a gente vai tocando sem alternar o compasso, e a impressão que vai dar é de um trem acelerando. É um negócio musicalmente muito difícil de ser executado. Eu fui colocado bem no meio do naipe de contrabaixos e não estava muito atento ao maestro. Ele me chamou atenção da seguinte forma: “garoto, eu não estou aqui para fazer amizade com ninguém. Eu quero resultados. Então, o maestro sou eu. Você olha para mim”. Eu, simplesmente, fiquei calado, nervosíssimo, suando frio e fiquei atento. Cara, a partir de agora, eu vou ser o cara mais responsável do mundo. Eu tenho que estar atento na regência, na partitura, executar da melhor forma possível para não passar por isso de novo. Não quero nunca mais passar por isso na minha vida. Com esse tipo de exigência, você acaba crescendo. Eu adoro ser chamado atenção, ser exigido.

OP - A Ithamara Koorax costuma dizer que ser reconhecida como uma cantora de jazz foi “uma maldição”, por que atrapalha a carreira dela no Brasil. Embora nem tudo que você faz seja jazz, muita gente confunde música instrumental com jazz. Existe mercado no Brasil para a música instrumental?

Helder – Existe e devemos agradecer a Victor Assis Brasil (1945 – 1981), Radamés Gnatalli (1906 – 1988), Heitor Villa-Lobos (1887 – 1959), Altamiro Carrilho (1924 – 2012), Pixinguinha (1897 – 1973), Leo Gandelman, Cesar Camargo Mariano. Estou querendo falar dessas pessoas que deixaram a música instrumental com uma presença muito forte no Brasil. A música brasileira instrumental tem espaço sim e muito. A gente não vai ficar rico, mas meu objetivo não é esse. Nem ficar famoso.

 

OP - Como é a vida no Rio? Tem vontade de voltar ao Ceará?

Helder – Estou há muito tempo fora de Fortaleza, mas estou sempre muito ligado aqui. Sempre falo com a minha família daqui. Mas, eu tenho família no Rio. Já tenho uma filha de quase 20 anos e mais dois, um de 11 e outro de 9. Eu me dedico muito a eles. Sou um “pãe”. Não que eles não tenham mãe. Eles têm, mas é que eu viajo muito. E, quando estou no Rio, minha vida é voltada para eles. Eu vivo o momento escola deles, vivo o lazer deles e todo trabalho que eu faço é pensando justamente nisso.

OP - Você também dá palestras e aulas em instituições de música. Como é esse contato com jovens músicos? Que tipo de curiosidade, ansiedade as novas gerações guardam?

Helder – Eu sinto, nesse momento, muita ansiedade. Eles estão muito preocupados com a carreira, como viver de música. Eu tento mostrar pra eles que é necessário que a gente valorize a nossa profissão. Cito sempre o exemplo que, quando a gente vai tocar numa orquestra, o dono da festa fala “mas não dá pra fazer um preço mais em conta?” É um exemplo simples e eu comento assim: “vem cá, o garçom te deu um desconto? O cara que fez a luz te deu desconto? O cara do buffet fez um desconto pra você? Seu médico faz um desconto para você?” Não. Então, eu também não. Eu sou profissional. Eles (alunos) adoram ouvir isso e começam a citar exemplo de uma festa que um cara pediu para tocar de graça. Isso não pode. Você não pode tocar de graça para ninguém. Não faça da sua arte uma forma de lazer para os seus amigos, ainda mais de forma gratuita. Por trás de tudo isso, tem a dificuldade, o percurso, o caminho. Você tem que buscar sua sorte, não dá para esperar chegar. Você tem que estar preparado para que, naquele dia X, quando você for requisitado, você esteja bem preparado.

 

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espaço do leitor
Gael 21/07/2015 20:32
A abelha rainha da MPB, Maria Bethânia fala de Jorge Helder com muito carinho...
Joao Luiz Saraiva 20/07/2015 09:13
Foi um prazer rever Jorge Helder nas páginas Azuis, pois lembro dos nossos encontros na época de colégio na casa da Celina e ele tocando, que maravilha, Parabéns Jorge, um grande abraço João Luiz Saraiva
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