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Na ampla sala de seu apartamento, no Meireles, o octagenário Aécio de Borba, um ex-poderoso parlamentar e ex-secretário que Virgílio Távora preparou para sucedê-lo como governador nas eleições de 1982, se despede do O POVO agradecendo pela lembrança de ir resgatar suas memórias de uma longa trajetória na vida pública. Uma conversa de pouco mais de uma hora, na última quarta-feira, porque ele, ainda ativo como presidente da Confederação Brasileira de Futsal, estava com viagem marcada ainda para aquele dia. Aliás, segundo sua versão, lá permanece porque não lhe deixam sair.
A política, aliás, é uma atividade da qual prefere se manter afastado, mesmo na condição de cidadão. Sem disputar mandatos desde 1998, quando encerrou a última passagem pela Câmara Federal,atribui a desistência de participação em novas campanhas ao fato de muita gente ter ido buscar nos parlamentos a imunidade para crimes cometidos fora da atividade pública. Garante estar feliz, hoje, com a opção.
Na entrevista, que pode ser conferida a seguir, Aécio fala de como era a politica no passado, defende mais reconhecimento à época dos coronéis, cita quem considera os dois maiores líderes da história e garante que permanece presidente da Confederação de Futsal porque não hoje deixam sair de lá. À leitura.
O POVO –Como o senhor se apresenta hoje? Como ex-político? Como parlamentar aposentado?
Aécio de Borba–Há um tempo para tudo no mundo. Ninguém faz as coisas fora do prazo. Iniciei minha vida pública por muita insistência do meu pai, que foi um político na área estadual, na área federal, até em secretarias de Governo e em movimentos cívicos, e que não tinha sucessores. Fui o quarto filho e nenhum dos meus irmãos anteriores tinha vivência política. Meu pai insistia muito para que tivesse alguém que o sucedesse e, quando houve a candidatura do Faustino de Albuquerque que, talvez, fosse o maior amigo que ele tinha. Inclusive de morarem na mesma rua, jogarem gamão toda noite etc, era uma amizade muito profunda. O que acontece é que meu pai, como era comum aos políticos da época, tinha uma tradição de palavra valor mais do que qualquer documento. Ele, então, se comprometera com o presidente da República de votar no candidato apontado por ele para disputar o governo. Acontece que a UDN não aceitou a indicação e lançou o Faustino de Albuquerque, mas aconteceu que meu pai optou por manter a palavra junto com o Fernandes Távora de não apoiar um candidato diferente daquele com o qual se tinham comprometido. Então, ele achou-se sem condições de ter qualquer participação na atividade política no governo Faustino, coisa muito pouco comum. Qualquer político, afinal, quer ter mando, quer ter participação nas atividades que o governo exige. Então, ele deixou a UDN e, praticamente, deixou também a política no Ceará. Sou da época em que aqueles que se elegiam eram as pessoas que tinham maior projeção no Estado.
OP – Hoje não é mais?
Aécio –Posso considerar esquecida, pelo menos. Naquela época não havia o que há hoje, que é o sujeito ser do partido tal um dia e no dia seguinte ser de outro partido completamente diferente. Não é uma característica antiga, isso, pode ter certeza. Meu primeiro partido é o do meu pai e ainda hoje sou filiado ao PP, porque a UDN teve uma porção de mudança de nomes, mas os participantes são os mesmos. E nós, ao longo dessa vida pública, tivemos muitos convites para deixar o partido e, até, ir participar de outras campanhas de adversários, mas até hoje permaneço filiado ao PP.
OP – Foi isso que afastou o senhor da política?
Aécio – Além disso, uma série de outros fatores influenciaram para o meu afastamento. Quando ingressei na política, por herança do que meu pai havia feito em todos os setores administrativos e políticos, do Estado e do País, fui militar na Câmara (federal) com essa tradição. E, infelizmente, começaram a aparecer algumas pessoas que tinham alguma mácula, algum ajuizamento de coisas ruins, e começaram a comprar mandatos porque assim não poderia ficar sujeito a julgamento.
OP – Atrás da imunidade parlamentar.
Aécio –Era a imunidade parlamentar, que existiu por muito tempo. Então, começou a aparecer gente de toda espécie na Câmara e a imprensa, vigilante como é sempre, passou a denunciar tudo que de mal ocorria na política e, especialmente, no Congresso. Até que o deputado passou a ser odiado, criticado. Chegava numa roda, alguém apresentava a pessoa como deputado e logo havia o tratamento como sendo da curriola, sendo ladrão etc.
OP – O senhor sentia isso, particularmente?
Aécio – Várias vezes. Não digo que de amigos ou de conhecidos, mas de pessoas que sabiam apenas da titularidade, era notória a hostilidade. A situação, somado à queda do nível intelectual, moral, cívico, da Câmara, não estimulava que ninguém permanecesse. Posso dizer que quando o Tasso (Jereissati) assumiu a governança, tentou levar todo o pessoal que era ligado à UDN, os deputados, fez assim com o Carlos Virgílio, Haroldo Sanford, e eu não fui, apesar de ter condições de me eleger ainda, mas por não me sentir mais atraído pela possibilidade de ser deputado.
OP – A “aposentadoria” da política, então, foi uma decisão pessoal que não se deve a uma circunstância eleitoral, digamos assim. O senhor teria como se eleger à época?
Aécio – Graças a Deus. Fui o deputado mais votado quando fui candidato a primeira vez e sempre tivemos performances eleitorais que reconheciam a atividade que desenvolvíamos e a moralidade que fazíamos sentir a quantos apoiavam nossas candidaturas.
OP – Mas, o senhor acompanha a política hoje? Dispomos atualmente de instrumentos como a TV Câmara, TV Senado, TV Assembleia, que nos permitem ver o andamento das coisas em plenário, nas comissões etc. O senhor considera que houve piora?
Aécio –Posso lhe dizer que depois que deixei a Câmara a política passou a não ser mais aquilo que representava para mim durante cerca de 50 anos. Houve, realmente, um desinteresse pela vida política, tanto que tivemos alguns convites para voltar à militância, mas isso nunca me atraiu, de maneira nenhuma.
OP – Quando foi última vez que o senhor disputou como candidato?
Aécio – Meu último mandato terminou em 1998. Ali desisti de tentar reeleição,mesmo sendo aquele período em que, como lhe falei antes, o Tasso atraiu muita gente que era da UDN, no PP da época, para serem candidatos.
OP – Tasso sinalizou, à época, com apoio à candidatura do senhor?
Aécio – Ele sinalizou com a inclusão na legenda que era a legenda da atualidade...
OP – O PSDB?
Aécio – O PSDB. Não aceitei e não fui mais candidato, de maneira nenhuma?
OP – Quem, na visão do senhor, foi o maior líder da história política do Ceará? Imagino que o senhor pense em Virgílio Távora.
Aécio –Posso lhe dizer que aprendi muito em duas etapas da minha vida política. Uma delas foi quando vivi a experiência de ser vice-prefeito de Cordeiro Neto, que tinha uma moralidade, uma integridade e uma dedicação à atividade como prefeito. À época ele me delegou algumas atividades administrativas..
OP – O senhor foi vice dele, mas foi eleito para o cargo, não é?
Aécio – Fui eleito, sim.Eu, inclusive, tive mais votos do que ele. Nós dois tivemos um relacionamento o mais objetivo possível e dentro de um interesse muito grande de servir a Fortaleza. Trabalhamos diuturnamente, dezenas de dias antes de assumir o governo, vendo a necessidade funcional, o que era possível ser mantido, ou não, pondo em prática uma administração de alta moralidade e que visava o crescimento de Fortaleza. Fizemos um levantamento aerofotogramétrico da cidade, que, na época, tinha registrados na prefeitura pouco mais de 80 mil casas e estabelecimentos comerciais e nosso estudo encontrou mais de 280 mil imóveis. Nós fizemos a avenida Beira Mar, destruindo uns casebres de prostituição que existiam lá. Um dos maiores ricaços de Fortaleza tinha umas enormes vacarias no caminho do aeroporto e nós fizemos a rua, de uma maneira até surpreendente, dando a Fortaleza o que ela precisava. Fizemos a Perimetral, fizemos o alargamento da São Gerardo, enfim, Fortaleza teve, na administração de Cordeiro Neto, uma revolução que, acredito, ainda hoje é reconhecida por quantos dela tiveram conhecimento.
OP – A cidade reconhece tudo isso? O senhor crê que assim seja?
Aécio – Acho que ela não permanece com a amplitude que se conseguiu na época, mas, de qualquer maneira, acho que de pessoas que viveram a época de quem conhece a história de Fortaleza, elas têm noção do que foi feito na administração Cordeiro Neto.
OP – E o outro nome cuja experiência marcou o senhor pela experiência de conviver com ele?
Aécio – O outro é Virgílio Távora, claro. Não tenha dúvida de que a mesma integridade, a mesma maneira de administrar com a visão de dar ao Ceará, o que ele conseguiu na época do Virgílio,um enfrentamento no sentido de acabar com tudo aquilo que lhe era prejudicial. Ninguém, nessa época, tinha interesses pessoais ou arrumação para manutenção de autoridade política.
OP – Na época era mais fácil fazer as coisas? Havia menos resistência, o grau de consciência das pessoas em relação aos seus direitos não parecia menor do que como aparece hoje?
Aécio – Não. O que acontece é que hoje se tem quase um paradigma de fazer alguma coisa que interessa à continuidade política, não há a dimensão estrita predominante na época, que era apenas de servir. O que foi feito na época do Cordeiro Neto em Fortaleza, a mesma coisa se teve com Virgílio, multiplicado, para todo o Ceará. Nós tivemos o Governo das Mudanças e não tenho dúvida de que a mudança existiu, porque quando o Tasso se elegeu governador pela primeira vez não tinha qualquer atividade política anterior, o que lhe permitiu tentar, no início, fazer um governo sem qualquer interveniência política. Porém, ele não chegou a fazer para o Ceará uma parte daquilo que o Virgílio conseguiu. Antigamente, o político de qualquer municípioqueria ter a polícia, a professora e o arrecadador de impostos, era só isso que ele buscava. Eram os três objetivos de quem fazia política naquela época. Pois Virgílio criou a carreira de delegado, criou a carreira de delegado da Fazenda e, entre os professores, estabeleceu a ascensão.
OP – O problema hoje, então, é que os grandes projetos sempre contemplam interesses políticos ou pessoais, há um ganho que não necessariamente é do Estado. É isso?
Aécio – Essa é a visão que se oferece a quantos examinam.
OP – O Virgílio chegou a preparar o senhor para sucedê-lo?
Aécio – Não digo que o Virgílio me preparou, digo que a atividade que nós desenvolvemos, no atendimento àqueles que eram do nosso partido, levou a uma situação em que somente um dos deputados não queria minha candidatura à sucessão de Virgílio, que tinha em mim uma confiança ilimitada. Porque, não tenha dúvida, até na visão de leis, decretos, de tudo que era feito, ele sempre contava com minha interpretação. Uma coisa muito peculiar ao Virgílio é quando alguém chegava lhe dizendo que tal coisa era ilegal ele dizia que não estava procurando ilegalidade, mas se era moral e de interesse do Estado. Se for, dizia, dispomos de maioria na Assembleia Legislativa e, sem dúvida, modificaremos a lei para fazê-la mais próxima da representação da sociedade no momento.
OP – Quem era o único deputado dentro do partido que era contra a candidatura do senhor?
Aécio – (risos) Era um deputado de Caucaia, o único a não se integrar comigo totalmente.
OP – Ele é que inviabilizaria os planos do senhor, então?
Aécio – Não, não. O Virgílio me fez candidato, foi comigo aos diversos eventos da campanha para minha candidatura.
OP – Por que ela não deu certo?
Aécio – Não deu porque as forças políticas começaram a influenciar e, principalmente, Virgílio não podia deixar o Governo sem ser Senador. Não por interesse dele, pessoal, mas por interesse do Estado. Com as pressões políticas, inclusive reuniões na presidência da República, ele saiu daqui de Fortaleza para uma conversação dele, Adauto (Bezerra) e o César (Cals), com o ministro Leitão de Abreu. Ele foi até lá com apoio à minha candidatura e me ligou dizendo que havia uma possibilidade de unir as três Arenas da época. Seria lançar um nome alternativo, mas que só apoiaria aquilo depois de me ouvir. Disse a ele: ‘Virgílio, não tenho nenhum interesse de ser o governador do Estado. Até porque, quando fui convidado para ser secretário de Estado mostrei que já tinha uma herança financeira e empresarial que precisava dinamizar’. Ele disse que precisava apenas de minha participação, ajuda e tal. Fui, dos secretários dele, o que trabalhava doze, treze, quatorze horas por dia, emendadas, tratando dos interesses do Estado. Por isso é que mereci uma confiança ilimitada dele.
OP – Qual foi a reação pessoal do senhor ao ver que o nome capaz de “unir” as Arenas na época era do então secretário Gonzaga Mota?
Aécio – Era um candidato que tinha uma simpatia muito grande, especialmente dos dois outros que não era o Virgílio, porque se sabia que Gonzaga não era político, tinha sido recrutado para fazer o planejamento técnico do segundo governo do Virgílio Távora...Você sabe que no primeiro governo VT existiu o Plameg, que foi delegado pra mim e fui eu quem mais lutou para que ele fosse executado. O Virgílio dizia: Aécio, nunca houve um planejamento para Governo e nem se pode fazer isso. Depois, convencido, perguntou-me se eu faria. Disse a ele que não considerava algo do meu nível, indiquei que tínhamos o maior homem do Brasil para área de planejamento, fazer projetos e etc, e sugeri que o procurássemos. Virgílio disse que era muito caro etc, mas eu afirmei que talvez não fosse um por cento do Orçamento do Governo...
OP – Isso no Plameg I.
Aécio – No Plameg I, exatamente. A mim ele acabou delegando as coisas e eu acabei indo aos 84 municípios então existentes para o lançamento do projeto. Há coisas até jocosas, como se deu em determinado município onde fomos à prefeitura saber quais as prioridades etc, o que se considerava realmente importante para o desenvolvimento daquela comunidade. O prefeito perguntou se nós daríamos mesmo o que solicitassem, dissemos que sim, estávamos lá para planejar o que devia ser feito, ele disse que o mais importante para a cidade era assegurarmos os bancos da Igreja porque era o que todo mundo pedia (risos). Era um momento diferente, não se fazia para atender Chico, Manoel ou Pedro, mas para atender ao desenvolvimento do Estado.
OP – O Plameg II, então, pé que deu a projeção a Gonzaga Mota até fazê-lo o candidato do consenso entre os coronéis naquele momento?
Aécio – Não tenho dúvida de que ele foi um dos que elaborou o segundo Plameg.
OP – Analisando tudo isso hoje, tantos anos depois, o senhor considera que acabou sendo uma alternativa ruim para aquele impasse político?
Aécio- Não digo ruim, mas não tão boa. Não há dúvida quanto à competência de Gonzaga, quanto à sua embocadura no planejamento, mas não tinha comando. Ele foi um alheio ao meio que não predominava.
OP – O que se diz, embora ele negue, diga o contrário, é que ele sequer teve condição de formar a equipe já que os cargos foram divididos entre os coronéis. Este acordo existiu? Ele existiria se fosse o senhor o candidato e o governador?
Aécio – Posso dizer que acredito que o acordo existiu. O Gonzaga Mota, quando foi escolhido e eu era o candidato, ele veio a mim e disse que precisava do meu apoio, o adversário era meu cunhado (o ex-senador e atual deputado federal Mauro Benevides) essa coisa toda, precisava da minha integração à campanha. Disse que não havia dúvida quanto a isso, porque era uma pessoa partidária, que sempre pertenci ao mesmo grupo de ação, que ele poderia ficar descansado. Na ocasião, ele me ofereceu o cargo de deputado federal, a estrutura que havia montado para se eleger, e eu disse que poderia até disputar, ajudando a legenda, mas não gostaria de ir para Brasília porque tinha meus negócios coisa e tal. ‘Não’, ele disse, ‘você vai ser meu Secretário igual foi para o Virgílio, vai me ajudar etc’. Na divisão, um dia fomos jantar e perguntei o que iria querer de mim como Secretário e ele disse que eu teria de ver com o Virgílio, que iria ter tantos cargos, para ele me incluir na relação. Eu agradeci, então, e avisei que se o Virgílio fosse me indicar eu não aceitaria, porque a palavra comigo tinha sido no sentido de eu continuar a mesma atividade que tinha no governo do Virgílio. Para ser um simples secretário indicado, talvez ocupando um cargo talvez não condizente, a mim não interessa. Obrigado.
OP – O certo é que o governo Gonzaga Mota terminou com rompimentos, uma crise séria, administrativa e financeira. O senhor projetaria algo diferente se tivesse sido o governador daquela época?
Aécio – Olha, o que o Gonzaga não teve foi pulso para comandar o governo. Depois de eleito, se ele tivesse posicionamento firme logo no começo, dizendo que não entregaria o secretariado a ninguém, que faria a melhor equipe etc. O Virgílio, lembro, saiu procurando um grande financista para comandar a secretaria de Finanças, um general com tradição para a pasta da Polícia, um homem que conhecesse a educação, como Antônio Albuquerque, comandar a secretaria na área, quer dizer, ocupou os cargos com o que existia de melhor no Estado. Totalmente diferente de qualquer imposição, então, se taisbases não existiram o secretariado era para atender os interesses de alguém, não era o interesse do Estado.
OP – A história política do Ceará, para o senhor, faz justiça com os coronéis?
Aécio – Não digo que faz justiça, porque para isso acontecer precisava que esses governos fossem referenciados em todas as coisas voas que realizaram. Por exemplo, na época do Virgílio um dos problemas que enfrentávamos era que no deslocamento aos municípios era necessário ficar na pensão da dona Maroca, na pousada de não sei o quê, era uma situação ruim, e nós fizemos sessenta e tantos prédios em várias cidades do Interior. Não eram prédios luxuosos, eram hotéis planos tal, mas havia característica de hotel. Então, em cada setor que você falar existe uma vinculação, um desenvolvimento, proporcionado por aqueles governos.
OP – Por que o senhor acha que acontece isso, o não reconhecimento?
Aécio – Porque não é referenciado, não é visto, não é dito que foi ele quem fez, foi ele quem organizou. Isso era para ser sempre mencionado, como exemplo. Veja que Coelce, Daer, essas coisas todas, era um inchamento de coisas do governo, de órgãos, e foram totalmente modificados, fundidos, traçado o que ser para cada um, o que cada um faria, então, tudo isso são coisas que deram muito ao Ceará. O sujeito instituir carreira de delegado naquele contexto, doutor, era exemplo!
OP –A falta de referência não pode ser efeito de uma vinculação do período à democracia, a governos de caráter menos democrático?
Aécio – Democracia é boa só para imprimir o respeito à maioria. Se não houver comuma democracia pode até fustigar a execução.
OP –O senhor considera que, hoje, há mais corrupção?
Aécio – A evolução da corrupção é notória, amplamente. Não tenha dúvida de que acredito de que ela se multiplicou numa taxa geométrica da época em que entrei na política aos dias de hoje.
OP – Aumentou ou passou a ser mais divulgada? E, até, combatida, como é muito comum se ouvir dos governantes atuais?
Aécio – Olha, acho que passou a ser até oficializada. Todo dia a gente vê prefeito sendo preso, acusado de idoneidade...
OP – O senhor não vê isso como sinal de que há mais controle, mais combate?
Aécio – Acredito é que se houvesse mais gente estaria presa.
OP - Como o senhor avalia a nova geração de políticos do Ceará. Temos um governador jovem, a prefeita igualmente, o prefeito eleito também, muito novo...
Aécio – Acho que essa avaliação só poderá ser feita depois que cada um mostrar a que veio. Tenho esperança da mocidade, porque a gente tem na própria Câmara, no próprio Senado, pessoas que não fazem outra coisa senão procurar que as coisas se desenvolvam sem a interferência da corrupção.
OP – O senhor vê bons exemplos em todos os partidos ou seria privilégio de um segmento, um grupo, um pensamento? É algo que independa de ser de direito, de esquerda, de centro, ou se trata de algo localizado dentro de uma ideologia?
Aécio – Eu não acuso o PT de ter profissionalizado a corrupção ou algo do gênero. O que acontece é que a nova presidente da República, ao assumir, demitiu sete ministros por sintomas, ou suspeitas, de mau procedimento. Isso, porém, não é o PT em si, não é a filosofia do PT, é porque o PT não possuía a amplitude de pessoas capazes nas mais diversas aéreas. O PT é um partido que nasceu do trabalhismo brasileiro, então, não dispunha de quadros e teve de recrutar pessoas que não tinham a amplitude necessária para exercer os cargos.
OP – A crise de valores que o senhor menciona seria um problema do sistema, portanto?
Aécio – Do sistema, não tenha dúvida.
OP – Para o senhor, o ex-presidente Collor de Melo, atualmente senador, que sofreu um impeachment, teria sido vítima desse sistema?
Aécio – Acho, só, que ele trouxe um acompanhamento que tinha outras intenções diferentes da dele. Collor foi deputado comigo, nós tivemos várias reuniões sobre coisas que tínhamos a apresentar sobre o Nordeste, temas como os fundos constitucionais para as regiões menos favorecidas, e ele era um dos sempre demonstrava muito preparo. Todo o pessoal que tinha projeção histórica internacional ele conhecia a biografia e tinha vontade, a gente sentia. Quando entrou era aquele negócio, vou acabar com isso, acabar com aquilo etc, mas o problema é que ele foi mal acompanhado.
OP – A era Tasso, que também chegou com a perspectiva de mudar práticas políticas, mudar costumes etc, como o senhor avalia. Qual herança ela deixou para o Ceará?
Aécio – É difícil a gente fazer uma avaliação precisa sobre a trajetória que ele exerceu. Você vê que o Tasso, realmente, veio com desvinculação total de qualquer mordaça política. Não duvido da vontade dele de fazer mudanças, tema que elegeu como marca. E, realmente, na área de pessoal, de emprego etc ele implementou uma visão empresarial ao tratamento que então era dado na área política. Ao mesmo tempo em que fez obras para o Ceará que se assemelham àquelas realizadas pelo Coronel Virgílio e, me parece, dentre aqueles que exerceram o cargo de governador, é aquele que o fez com mais proveito para o Estado.
OP – A derrota dele há dois anos na disputa pela reeleição como o senador, então, teria sido uma injustiça do eleitor com ele?
Aécio – Não, é o desgaste natural de quem se perpetua.
OP – O senhor teve experiência no jornalismo, também.
Aécio – Eu comecei no jornalismo. Fui locutor esportivo da rádio Uirapuru, da rádio Dragão do Mar, fui jornalista do dia-a-dia na Gazeta de Notícias, sempre com muita dedicação como se deu em todos os setores onde atuei.
OP – Sob o ponto de vista da ação pública, digamos assim, o senhor hoje concentra atividade na Confederação Brasileira de Futsal, da qual é presidente?
Aécio –Em 1979, quando eu era do governo Virgílio Távora, também fui presidente da Federação de Futebol de Salão aqui do Ceará, que liderava o ranking do Brasil inteiro. Por isso, talvez, quando o governo de João Baptista Figueiredo instituiu a obrigação de todas as modalidades terem suas próprias Confederações... É que naquele período havia apenas a Confederação Brasileira de Desportos, a CBD. Como se falava então de coisas erradas que aconteciam no futebol etc e tal, Figueiredo decidiu retirar todas as áreas que fortaleciam o pessoal. Quando convocado para fazer essa instalação, cheguei no Rio de Janeiro e fui procurar o Giulite Coutinho (presidente da CBD na época) para dizer a ele que o futebol de salão, na verdade, era futebol. Portanto, deveria ser o único a ser dispensado de ter uma confederação, permanecendo ligado ao futebol. Ele não admitiu porque o objetivo da lei do Governo Figueiredo era, exatamente, abrir espaço para que não votasse tanta gente que se prendia e era dominado pela CBD. Então, fizemos a Confederação logo em maio de 1979, posteriormente reconvocada para junho. Quando cheguei lá houve unanimidade de todas as federações para que fosse eu o candidato à presidência da entidade, levando-me à eleição por unanimidade. Uma aclamação e o resultado é que desde 1979 até hoje só houve uma eleição, em 2005, quando um vice-presidente achou que era a vez dele e quis me enfrentar. O resultado é que quase a unanimidade das federações não concordou que houvesse mudanças, pelo crescimento vertiginoso que o Futsal granjeou no Brasil. O esporte já existe, hoje, em mais de 148 países que têm atividades na Fifa, situação que tem me obrigado, quase, a permanecer dirigindo a Confederação. Em 1998, quando terminou meu último mandato de deputado federal, o grande medo que tinha era de ficar de pijama em casa, sem ter o que fazer. Como já militava no Futsal, passei a me dedicar à Confederação.
OP – No entanto, há um movimento no Congresso para proibir reeleição nas confederações esportivas para combater a continuidade ou o continuísmo. Inclusive, o senhor é apontado como um dos mais longevos...
Aécio – Isso é uma interpretação de quem não vive e que tem vontade de chegar. Porque quando a entidade tem realmente uma direção condigna e que atende a todos os objetivos e interesses, não há razão para modificar. Basta dizer que hoje temos patrocínio dos Correios, do Banco do Brasil e da Chevrolet, três empresas que mais investem na área esportiva e as três patrocinadores do futsal. Coisa que não é comum às outras patrocinadoras, que no máximo conseguem o apoio de um deles. É uma atividade que já exercia desde menino, quando atleta de futebol de salão, e a história precisaria de mais tempo do que nós tivemos para discutir minha vida na política para mostrar porque não me deixam sair da Confederação.
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