[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] A vida na valsa | Páginas Azuis | O POVO Online
16/05/2010 - 21h05

A vida na valsa

Alan Neto, o ``homem do Trem Bala`` e de muita pândega, passa a limpo os 45 anos de jornalismo e as mais de seis décadas de vida, neste bate-papo com quatro aprendizes
Foto: Fco Fontenele

Ana Mary C. Cavalcante
Cláudio Ribeiro
Demitri Túlio
e Luiz Henrique Campos


Alan Neto escolheu ser um personagem. Era Simplício, mas aproveitou a deixa do artista francês. "O Hider, meu irmão, passa no Centro e tá passando um filme do Alan Delon. Ele chega em casa e diz: Arrumei um pseudônimo pra ti". Nesta entrevista, realizada na Redação do O POVO, final de expediente, o "homem do Trem Bala" conta suas versões.

Zagueiro ''perna-de-pau''. Repórter amador enquanto a voz engrossava. Profissional do rádio, do jornal e da televisão. Jornalista "no peito e na raça". Boêmio "da água mineral". Contrarregra e "galã de meia tigela". Apaixonado pela eterna cantora do rádio. Pai de Alana, a bailarina que quis ser psicóloga. Avô de Júlia, a "petúnia". Devoto de Nossa Senhora das Graças e do Menino Jesus de Praga. Um gentleman, para quem o conhece.

Em síntese, são 45 anos de jornalismo, casados com um viver intenso. Alan vai driblando o tempo, divide a bola com a nova geração. Sabe ganhar o jogo. É fiel a si.

Ele acompanhou a fase de ouro do basquete cearense, os artistas do Irapuan Lima, o balé da filha. Divertiu-se. Diverte-se, aliás, ao cirandar com a neta, um de seus risos.

"Pé de ouro" desde a mocidade, há 44 anos faz par com Ivanilde Rodrigues. Não almoça fora de casa, de jeito nenhum. E, mesmo que o trabalho se vá pela noite, ele volta, para as conversas cotidianas da madrugada com a mulher. Ivanilde, que "canta como um rouxinol", é seu bolero maior. "É o amor da minha vida", faz questão de registrar, nos bastidores da edição.

Alan se declara ainda torcedor do Ferroviário. Desliga o celular, não abre e-mail. Recusa-se ao aborrecimento. Nunca teve nem carteira de motorista. Enfim, conduz a vida na valsa.

O POVO - Alan, começa falando de como foi sua carreira...
Alan Neto - Comecei na Rádio Iracema. Tinha 14, 15 anos, quando houve o lançamento da pedra fundamental, na (rua) Tristão Gonçalves. Eu jogava pelada, na calçada, e olhei pra dentro, tinha o (radialista) Armando Vasconcelos, que é meu primo. E fui assistir à solenidade. Depois, disse pra ele: ``Armando, sou filho do Zé Júlio, teu tio. E gostaria de trabalhar em rádio``. Ele disse: ``Passa aqui``. Um ano depois, eu fui. E ele me mandou pro (radialista) Aécio de Borba, compor o departamento de Futebol. Ele me mandou pra ser repórter amador, fazendo cobertura de basquete, futebol de salão, voleibol.

O POVO _ Você gostava de jogar?
Alan Neto - Era um zagueiro perna-de-pau! (gargalhadas).

O POVO - Mas jogava...
Alan Neto - Era o capitão!

O POVO - O dono da bola...
Alan Neto - Era o dono da bola, eu comandava! (risos) Aí, fui cobrir basquete, na época de ouro do basquetebol, e resolvi aderir ao basquete. Fui o maior ``mão-de-pau``! Nunca consegui fazer uma cesta, na minha vida!

O POVO - Nessa época, você ainda não brincava com bordões?
Alan Neto & Não. Nem falava. A voz estava engrossando...

O POVO - Só levantava a notícia pra passar para o locutor...
Alan Neto - Pronto. O redator era o Astrolábio Queiroz, e o Chico Alves, chefe do departamento esportivo.

O POVO - No rádio, você passou quanto tempo?
Alan Neto - Um bom tempo. E o Chico Alves preparava as matérias do jornal O Estado. Era o editor. Um dia, ele faltou e mandou eu fazer. Foi uma lástima. Fiz uma série de matérias de Fortaleza, Ceará, Ferroviário... Uma série de erros também, não tinha prática.

O POVO - Quando veio a oportunidade para ser titular e não um sobressalente?
Alan Neto - Um dia, o Chico Alves disse: ``Não quero mais rádio. Você quer comandar o programa?``. Eu disse, ``Você, falando com o Zé Parente (diretor-presidente), tô no ato!``.

O POVO - O Zé Parente topou?
Alan Neto - Topou. Aí, eu disse: ``Vou fazer um programa diferente``. O programa não tinha audiência e publicidade. A Gilete patrocinava todos os programas esportivos. Eu disse: ``Vou meter a Gilete aqui, por minha conta``. Comecei a anunciar: ``A partir de segunda-feira, um programa revolucionário, com patrocinador espetacular: a Gilete`` (risos). O Zé Parente: ``Você é louco? Que negócio de Gilete é esse?``. ``Tem Gilete nenhuma, seu Zé. Quero, através da Gilete, atrair clientes``. Ao cabo de dois meses, comecei a atrair publicidade.

O POVO - E a Gilete fez patrocínio?
Alan Neto - Nunca! (risos) Mas atraí, pelo menos, cinco grandes patrocinadores locais. ``Gilete? Então é porque o cara é bom. Vamos ouvir``.

O POVO - Teve alguma ameaça física em virtude dessas situações que você criava?
Alan Neto - Tinha demais! Eu dizia: ``Se não for verdade aqui, que desmintam em outro canto, ora!`` (risos). O cara desmentia. ``E desde quando a versão dele é a verdadeira e a minha não é?``. Aí, criava o problema! (risos) Mas driblava...

O POVO - O que o Zé Parente achava?
Alan Neto - Ele dizia: ``Você é um louco``. Chamava o Flávio (Ponte, irmão) pra me repreender. ``Alan, você está espalhando muito boato``. ``E daí? Futebol é um boato``. Fez tanto sucesso que o Zé Parente me deu mais meia hora. A primeira coisa que eu fiz foi: ``Não quero mais Esporte no Ar. Vou botar Programa do Alan``.

O POVO - Mas seu nome não é Alan Neto...
Alan Neto - Não, meu nome é Manoel Simplício de Barros Neto. Com Simplício, eu não ia a lugar nenhum! (gargalhadas) Eu disse: ``Tenho que ir atrás de um nome novo``. O Hider, meu irmão, passa no Centro e tá passando um filme do Alan Delon (risos). Ele chega em casa e diz: ``Arrumei um pseudônimo pra ti. Tá passando um filme com Alan Delon! Põe Alan Neto!``. ``Pronto!`` (risos). Foi quando comecei a retirar o nome, paulatinamente. Colocava: Simplício Alan Neto (gargalhadas). E o bode que criou na minha família! Tive que explicar. Eles aceitaram.Tempos depois, fiz a retificação no registro: Manoel Simplício Alan de Barros Neto.

O POVO - Já agregando: como você voltou para jornal?
Alan Neto - Wildo Celestino, o Didi, que era o editor da Gazeta de Notícias, ouvia muito o meu programa. Eu me encontro com ele, ele disse: ``Topa fazer uma coluna na Gazeta?``. ``Topo!``. Eu já redigia, pra Rádio Iracema, notícia esportiva. Fui pra Gazeta e fiz uma coluna. Lá vem o Hider, de novo. Como encontrar um título? O Hider sugeriu: ``Põe -Confidencialmente-``. Não passei 20 dias na Gazeta.

O POVO - Por quê?
Alan Neto - Eu estava no PV, e o (Antônio Pontes) Tavares era o editor de Esportes daqui (O POVO). Aí, eu tô sentado na tribuna da imprensa, ele falou: ``Quer levar a tua coluna pro jornal O POVO? Teu irmão já tá lá. Quero esse mesmo estilo. Vamos estrear daqui a um mês``.

O POVO - E qual era o estilo? Era o mesmo da Rádio?
Alan Neto - Era notícia de bastidores...
O POVO - Mas, verdadeiras!
Alan Neto - Verdadeiras! (gargalhadas) E eu ia trazer boato pro jornal, rapaz? (risos).

O POVO - Como você conseguia essas notícias de bastidores se, na Rádio, inventava um bocado de coisa?
Alan Neto - Começaram a aparecer as fontes: ``Essa notícia, tu pode dar pela metade. A outra metade, não dá`` (risos). ``Que notícia pela metade, homem!``.
O POVO - As melhores fontes eram quem? Jogadores, dirigentes...
Alan Neto - Jogador, nem tanto. Eram dirigentes e, principalmente, aquele pessoal que cerca os dirigentes. Diretor de futebol queria plantar informação. Até plantava em troca de duas notícias exclusivas.

O POVO - A prática, hoje, é a mesma?
Alan Neto - Não.

O POVO - Como é a relação, hoje, com esse tipo de fonte? Durante sua carreira, você criou uma experiência para saber filtrar...
Alan Neto & Eu checava. Não tinha uma fonte só num lugar. A pior fonte é o presidente de clube. Porque ele quer que dê a notícia conveniente do clube, não quer que dê o outro lado.

O POVO - No jornalismo, a fonte boa é aquela que nunca aparece... Na sua trajetória, você usou muito esse tipo de artifício?
Alan Neto & Massagista é bom. O médico do clube. O médico é ótimo porque não recebia dinheiro, na época, e era uma forma de se vingar. ``Não quero que meu nome apareça``. ``Não aparece``.

O POVO - Como você foi aprendendo a ser jornalista? Na marra?
Alan Neto & No peito e na raça. Era o dom. Pegava o estilo de um, de outro. Meu grande padrinho, aqui, foi seu Costa (José Raymundo Costa). Seu Costa descobriu o potencial que eu tinha pra repórter.

O POVO - Ele lhe dá uma oportunidade como repórter, para você fazer aquela sessão ``Tintim-por-tintim``...
Alan Neto - Foi um desastre! Como eu não tinha boa redação, na época, mandava pra ele revisar minha coluna. Quando ele revisava e tirava os erros, eu vinha pra máquina e redigia.

O POVO - Um dia, ele disse: ``Você vai fazer reportagem...``
Alan Neto - Ele disse: ``Vamos descobrir outro campo pra ti. Quero criar uma página semanal. É um fato da semana, e você, com a sua veia de repórter investigativo, vai atrás e mostra os fatos reais``. Não fui na quarta semana! Um foi uma besteirinha, o outro também. Aí, um crime no Monte Castelo! Que fria eu entrei, rapaz! (risos). Comecei a receber telefonema: ``Se essa matéria sair, você morre!`` (risos).

O POVO - Como foi sua saída para o Diário do Nordeste?
Alan Neto - Foi traumática! O Diário estava sendo implantado pelo Edson Queiroz. Ele disse: ``Quero quatro do jornal O POVO: Sílvio Carlos, Lúcio Brasileiro, Alan Neto e Regina Marshall``. Me deram jornal, rádio e televisão.

O POVO - Foi sua primeira cantada para televisão...
Alan Neto & Pagaram três salários por três fontes diferentes.

O POVO - Você já tinha quanto tempo de jornal?
Alan Neto - Uns 20 e poucos anos. A Regina acertou rápido, o Sílvio também, o Lúcio, a dona Albanisa brecou e eu tinha que dizer ao seu Costa, que era meu padrinho aqui... Foi um auê! Expliquei: ``São três salários e eu não posso perder, tô casado``. Fui e tive uma convivência boa lá.

O POVO - O que lhe trouxe de volta?
Alan Neto & O Demócrito (Dummar).

O POVO - A amizade?
Alan Neto & A amizade. Esse calor humano. -
O POVO - E sua mulher o influenciou a voltar?
Alan Neto & Ela disse: ``Ele volta!`` (risos).

O POVO - A Ivanilde, você conheceu no rádio. Ela cantava, e você cantou ela lá (risos)?
Alan Neto - Dei uma cantada nela! Ela me chamou de ``galã de meia tigela!`` (gargalhadas). Ela era noiva!

O POVO - Qual era a rádio?
Alan Neto - Rádio Iracema. Eu digo, ``mas que olhos lindos os seus!`` (gargalhadas). Fiz amizade com a mãe dela, dona Celeste, e pronto! (gargalhadas).

O POVO - A Ivanilde era uma das grandes cantoras do rádio...
Alan Neto - Era. Ela e a Ayla (Maria). Era pau a pau! A Ayla, na Ceará Rádio Clube.

O POVO - A conquista demorou muito?
Alan Neto - Foi através da mãe dela! Eu dizia: ``Dona Celeste, esse namorado dela não quer nada! Ele já veio buscar ela aqui?``. ``Nunca!``. ``E quem manda deixar ela em casa?``. ``Você!``. ``Então? Sou seu candidato!``.

O POVO - Antes da Ivanilde, você era galanteador?
Alan Neto & Eu tinha umas namoradas por aí (risos).

O POVO - Isso não é segredo, pode sair na entrevista...
Alan Neto - Pode! (risos).

O POVO - Você fazia o contrário do jornalista: não bebia, não fumava...
Alan Neto - Não jogava. Mas gostava da noite: era boêmio da água mineral e da Coca-Cola (risos). Sempre gostei da noite.

O POVO - Você dança, né, Alan?
Alan Neto - E bem! E ela (Ivanilde) dança pouco!

O POVO - Quanto tempo de casados?
Alan Neto - Estamos fazendo 44 anos.

O POVO - Ainda da sessão não beber, não fumar. Você também não dirige...
Alan Neto - Não.

O POVO -
E, naquela Fortaleza que você começou a trabalhar, andava muito a pé?
Alan Neto - Muito. Tudo era no Centro, pertinho. Sempre morei no Centro: Princesa Isabel, Tristão Gonçalves, Imperador, Liberato Barroso... E tem também a história do Irapuan Lima, rapaz!

O POVO - O que foi?
Alan Neto - Ele tinha um programa de auditório e inventou de ter um contrarregra. O Irapuan Lima é meu primo. E eu, pra ficar mais perto da Ivanilde (risos), fui ser contrarregra. Ela cantava lá. Ele inventa d-eu ir buscar os artistas! Uma pândega! Nelson Gonçalves, Ângela Maria, Elza Soares. No Excelsior Hotel ou no Savanah. Resolvi fazer raiva ao Nelson Gonçalves. Cheguei e disse: ``Se arrume que o Irapuan está lhe esperando às 5 e meia da tarde``. Ele disse: ``Só saio daqui quando eu quiser``. ``O auditório tá cheio, rapaz, e você ainda tá nu da cintura pra cima. Coisa mais feia!``. ``Você quer mandar na minha vida?``. Era uma pândega! E ele ia reclamar do Irapuan: ``Não mande mais aquele seu secretário magrelo que ele é muito chato!``. Um dia, ele traz o Belini pra participar do programa.

O POVO - O jogador?
Alan Neto - Foi a maior decepção. O Belini no auge, jogador do Vasco. Aquele portento de homem, lá vou eu atrás no Excelsior Hotel. E o Belini nada de falar. O auditório cheio. O Irapuan apresenta, e o mulheril: ``Belini, Belini!``. Quando o homem fala, com aquela voz do Dom Aloísio Lorscheider... (gargalhadas). Foi uma ducha de água fria nesse auditório! O Irapuan: ``Tu sabia que esse homem tinha a voz fina e não me disse nada?``. ``Como é que eu podia saber se ele nem falou comigo!`` (risos).

O POVO - Você entrevistou o Roberto Carlos, não foi?
Alan Neto - Ele se hospedava com a Wanderlea e o Erasmo na casa do Irapuan. Tanto que ele chamava o Irapuan de ``Papai Puan``. O Roberto sempre foi daquele jeito: nunca completa as frases, até hoje (risos). Não rendiam, as entrevistas dele. Com o Pelé, sim, foi o auge da minha carreira como repórter. Foi quando consegui aquela bomba: ``A minha última Copa é a de 70``. Agora pra entrevistar esse homem, no Savanah Hotel... Seu Costa: ``Cê vá pra lá e traga uma matéria-bomba com o Pelé. Se vire``. Chamo Sérgio Ponte, com um gravador deste tamanho. ``Vou começar a distribuir gorjeta com o garçom pra, na hora do almoço do Santos, eles me colocarem dentro``. Pelé ia passando, com a caneta na mão, pra dar um autógrafo. Eu disse: ``Não é bem um autógrafo que eu quero teu!``. ``O que é?``. ``Rapaz, eu tô começando em jornal agora, e o diretor me deu uma missão de levar uma grande notícia porque, se não, serei demitido. E tu começaste no Santos com 17 anos, me ajuda nessa porque eu sou pobre. Veja aqui meu irmão, magro...`` (risos). Aí o Pelé: ``Vou dar uma entrevista pra salvar o teu emprego``. ``Me dá uma notícia pra primeira página do jornal``. ``Bote aí: -Eu encerro a minha carreira, como jogador de futebol, na Copa de 70. Não jogo mais pela Seleção-``. Ganhei a primeira página.

O POVO - Alan, você tem uma performance, e eu queria saber se é natural, ou você vai criando?
Alan Neto - Fui criando, mas me espelhei pelo Flávio Cavalcante. Fui ao programa do Flávio e percebi que, quando o Flávio entrava, era uma coisa completamente diferente do Flávio dos bastidores.

O POVO - A sua coluna, no jornal, na Internet é a mais lida. Você chega a ver os comentários que são feitos lá?
Alan Neto - Não. Não abro e-mail, nada. Porque não quero me aborrecer. E também não quero me envaidecer.

O POVO - Você torce qual time?
Alan Neto - Ferroviário. Lá em casa, eram dez homens. Meu pai torcia Ceará e minha mãe, Fortaleza. ``Vai torcer qual, Ceará, ou Fortaleza?``. ``Ferroviário. Vou bancar o Robin Hood``. Isso me faz um bem tão grande! Porque ninguém dá murro na cara e nem persegue e nem atira em torcedor do Ferroviário, é ou não é?

O POVO - Ô, Alan, essa tal de Umarizeiras das Lages existe mesmo?
Alan Neto - (risos) Lá vem você! Nasci em Senador Pompeu. Com o nome do meu avô. Meu pai era do Dnocs, viajava pra fiscalizar açude. Nasço com quatro quilos e meio, ó! Fui pesado na balança dum açougueiro (risos)! Minha mãe disse: ``Vou botar o nome de Manoel Simplício de Barros Neto! Manda registrar``. Meu avô, quando soube, disse: ``Vou criar esse menino``. Com nove meses, fui pra Umarizeira das Lages, que é um condado, né (risos)? Quer dizer, é um distrito de Maranguape! A caminho de Palmácia. Ele me criou, durante oito anos, lá.

O POVO - Você lê muito?
Alan Neto - Leio. São três personalidades diferentes. Onde encontrei meu personagem, foi na TV Jangadeiro. Através do Wagner (Borges), que me levou pra lá: ``Quero o Alan Neto polêmico, que bate na mesa. Mas televisão é diferente, você tem que redigir e colocar no teleprompter``. Foi um fracasso. Na época do piloto, eu ia lendo e o meu raciocínio é muito mais veloz e atropelava. E ele queria que eu fizesse o programa só. ``Wagner, não vai dar. Sou muito feio. O cara não fica um minuto me olhando na televisão, desliga. Você tem que botar uma mulher bonita, perto de mim, pra ser o contraponto``. Deu certo. E eu disse: ``No rádio, faço mungango``. ``Faça aí também!``.

O POVO - E o Alan Neto em casa é muito diferente do Alan Neto da TV e do rádio?
Alan Neto - Totalmente.

O POVO - Você é excêntrico pra caramba, cheio de manias. Tinha uma história que você pulverizava o ambiente com desodorante, abre a malinha, dois copos d´água...
Alan Neto & Isso é sexta-feira, quando sai todo mundo, aí, eu pulverizo! Tenho um bocado de mania!

O POVO - Mas em casa, você diz que é totalmente diferente...
Alan Neto & Sou diferente demais até. A Ivanilde diz: ``Ele é esquisitão!``. Eu digo, ``Não sou esquisitão. O que eu tinha pra conversar contigo, já conversei!`` (gargalhadas).

O POVO - Também, 44 anos de casados...
Alan Neto - O que é que tem pra mais dizer, ainda! (risos). Estou brincando! Como ela dorme muito tarde, ela diz: ``Bom, se passar de duas da manhã, vou procurar ele no necrotério, no hospital. Que ele chega até duas horas`` (risos). Não durmo e nem almoço fora de casa. Se um diz: ``O governador mandou te convidar pra almoçar``. ``Rapaz, diz a ele que, se for pra jantar, eu vou``. Vou em casa, almoço, tiro uma soneca de uma hora, faço a pauta do programa, um lanche e saio. Com a Ivanilde, tem uma sintonia muito grande. Como sempre trabalhei à noite, chegava em casa uma hora, duas da manhã. Ela tá vendo televisão e a gente conversa, põe os assuntos em dia da neta.

O POVO - Ela escuta o programa?
Alan Neto - É uma ombudsman chatíssima! Ela acha que eu tenho que fazer o programa pra ela! (risos). Ela diz: ``Cara, tu tá muito repetitivo, muito cheio de mungango!``.

O POVO - Ela tem algum time?
Alan Neto - Fortaleza. Ela diz: ``Tu puxa a orelha, o nariz!``. Eu digo: ``Menina, não é pra ti que estou fazendo o programa! (risos). Tenho que fazer aquilo, ser autêntico!``. A gente conversa, depois, eu vou ler e ela vai dormir. Enfim, temos um relacionamento ótimo. Às vezes, tem coisa chocante. Por exemplo, vem um cara e diz: ``Sabia que o teu marido é um pé de ouro?`` (gargalhadas). ``Pois é. Ele dança muito bem, e eu não danço nada e ele vai dançar. Pronto`` (risos). Ela acaba logo com o papo aí.

O POVO - E a neta?
Alan Neto - A neta é demais, rapaz! Botei o apelido nela de ``petúnia``! Fez um ano. Quem dá a educação a Júlia é a Ivanilde. É impressionante a convivência das duas! Ela diz: ``E ali, na televisão?``. ``Vo-vô`` (risos). ``Olha a Fabiana, a bela! Quem é a bela do vovô?``. E ela diz: ``EU!`` (gargalhadas). Quando chego, é o destroço! Ela vem pra cima da mesa, derruba livro, tudo!

O POVO - Qual o papel do avô?
Alan Neto - Bobão de marca maior! Faço trejeito, ela aprende. Faço careta, ela faz. Ela me pega roncando, começa a imitar! É um barato! O pai não tem tempo pra filha, trabalha pela sobrevivência. Vai curtir o neto. Por isso é que Carlos Drummond diz que o neto é o filho com açúcar.

O POVO - Alan, o que você traz dentro da sua maleta?
Alan Neto - Tenho tudo ali dentro. Tem pó de pirlimpimpim (gargalhadas)! Tylenol, remédio pra pressão, o que você pode imaginar.

O POVO - E uns santinhos...
Alan Neto - Também. Sou cercado de santos.

PERFIL

O quinto filho de seu Zé Júlio e dona Zeneida - de uma prole total de dez homens e uma mulher - nasceu em Senador Pompeu (275,1 quilômetros de Fortaleza), no dia de Nossa Senhora das Graças (27 de novembro), com quatro quilos e meio. ``Fui pesado numa balança dum açougueiro, rapaz!``, ri-se. Alcançou 1,84 m, ensaiou o basquete, mas nunca marcou uma cesta. No máximo - e porque era o dono da bola -, foi capitão do time de pelada que jogava na calçada da rua Tristão Gonçalves. Criado pelo avô, até os oito anos, no ``condado`` de Umarizeira das Lajes, forjou-se homem e personagem na Capital e na imprensa. Nasceu Manoel Simplício de Barros Neto e se inscreve, na história do jornalismo cearense, como Alan Neto.

A entrevista com Alan Neto foi em uma quinta-feira, depois que ele concluiu a Confidencial da manhã seguinte. A conversa estendeu o expediente até quase as 23 horas. Resultado:26 páginas de entrevista original transcrita, em cinco dias de trabalho

No O POVO, alguém repara: ``O Alan Neto sabe viver``. É que o colunista chega ofertando beijos. De uma ponta a outra, até abancar-se, Alan cumprimenta, afetuosamente, quem lhe cruza o caminho. Seja mulher, ou homem.

Alan Neto comanda o Trem Bala, de segunda a sexta-feira, das 17 às 18 horas, na Rádio O POVO/CBN. E entra em cena no Jangadeiro Esporte Clube (TV Jangadeiro, segunda a sexta, 11h40min)

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Comentários
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TRICOLOR INDOMAVEL 26/05/2010 15:07
Comparar o Frankstein com o Alain Delon francês, é piada, no inicio dos anos 70 em sua coluna ele se dizia torcedor do Saudoso Calouros do Ar, eu acho que ele é mesmo torcedo da URUBUCHADA.
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Pedro da Porteira 23/05/2010 22:42
Alan, deixe de papo furado. Mulherengo pra burro. Não aloça e janta fora para não gastar, muquirana, mão de vaca. Leve sua mulher para jantar fora,
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RAIMUNDO NONATO ROCHA 23/05/2010 09:31
SE O ALAN NETO NÃO EXISTISSE TINHA QUE SER INVENTADO. DESDE DA PRIMEIRA COLUNA LIDA, NUNCA MAIS A DEIXEI NEM O SEU EMBALADO TREM BALA. UM GRANDE ABRAÇO ALAN NETO.
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Benedito Vieira Lima (Beni) 21/05/2010 21:06
o personagem Alan Neto é muito simpático, bom de ler, interessante ouvir e engraçado na TV. A etrevista é muito leve. Lembrou o PASQUIM dos velhos tempos. PARABÉNS. ABÇOS BENI.
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Ricardo 20/05/2010 16:48
Muito interessante a entrevista do grande Alan Neto, sou leitor assíduo da sua coluna esportiva no jornal e quando posso, assisto seus programas na TV e Radio. Um abraço e tudo de bom!
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