[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] A voz da praça | Páginas Azuis | O POVO Online
20/09/2009 - 23h09

A voz da praça

Na Praça do Ferreira há 55 anos, José Rufino da Silva, o Pirrita, é um dos personagens mais famosos desta que é considerada o coração de Fortaleza. Misturando momentos de alegria e seriedade, nunca tristeza, as muitas memórias do tradicional engraxate arrematam a série de reportagens de O POVO sobre as praças do Centro

Por MARCOS SAMPAIO marcossampaio@opovo.com.br
Foto: IGOR DE MELO igordemelo@opovo.com.br


Diariamente, o engraxate José Rufino da Silva chega à Praça do Ferreira às seis horas da manhã, pega seu material de trabalho, toma seu café em algum restaurante próximo e se instala no seu posto de serviço, próximo ao Centro Cultural Sesc Luiz Severiano Ribeiro, o antigo Cine São Luiz. Como apoio, ele usa os próprios bancos da praça, onde coloca duas almofadas para melhor acomodar os clientes. Lá, ele é conhecido como Pirrita, apelido que ganhou ainda na infância. Hoje, os cabelos brancos, a pele enrugada e os calos das mãos e dos pés não escondem a longa jornada que se iniciou, em 13 de junho de 1942, dia em que nasceu em Cajazeiras do Farias, próximo a Barbalha.

``Pode perguntar o que quiser. Na minha vida não teve nada de errado``, adianta, com a voz rouca de quem já conta com 59 anos fumando, antes de começar uma entrevista de quase duas horas sobre a curta infância no Interior e a chegada na cidade grande. ``Aqui me tornei um capitalista``, brinca, sobre o fato de ser um homem da Capital. Filho mais velho, ele também relembra a emoção da primeira viagem de trem, acompanhado da mãe e das irmãs Lurdes e Lúcia, em direção a Fortaleza. Corintiano de coração que traz sempre um São Jorge no peito, ele ri ao contar a curtíssima carreira como jogador de futebol. Sério, ele enumera os vários empregos, todos em torno da Praça do Ferreira, até se tornar engraxate. ``Essa foi a profissão mesmo que eu abracei. Nessa eu me sinto mais livre``.

Esta entrevista com o Pirrita encerra a série Praças do Centro publicada no O POVO entre os dias 13 e 18 de setembro. O mote? O lançamento do Livro das Horas da Praça do Ferreira, de Jarbas Oliveira e José Mapurunga, no último dia 3, que contou com o engraxate entre seus muitos convidados/personagens ilustres. ``Praça é um ponto de lazer. Praça é um lugar onde você senta e pode refletir alguma coisa da sua vida, seus bons pensamentos, de bondade, de ruindade, de favorecimento, de aborrecimento``. Com muita propriedade, ao longo dos seus 55 anos de Praça do Ferreira, ele já até arrisca a adivinhar seus pensamentos. ``Se ela (a Praça) falasse, diria -pelo amor de Deus, deixem de tanto me baterem. Vocês me batem demais-``. Confira.

O POVO - Embora muito popular na Praça do Ferreira, o senhor não é fortalezense de nascimento. Que lembranças guarda de Barbalha, da sua infância, do lugar onde nasceu?
José Rufino da Silva - Pirrita - Eu nasci num município próximo de Barbalha chamado Cajazeira do Farias (região do Cariri). Hoje, com as mudanças, transformaram de nome e é Arajara. Meu nascimento foi por lá, mas tive lá pouco tempo. Aos seis anos, eu vim pra Fortaleza com a minha mãe. Eu morava lá com ela. Meu pai era galego e tinha ido embora. Lá, era casa de taipa mesmo. A minha mãe tinha criação de tudo. Cabra, carneiro, porco, galinha, tudo que se cria no interior. E tinha plantação. Minha mãe trabalhava com alho, cebola, coentro, alface. Quando chegava na época da plantação, se unia aquela turma toda que faz o plantio.

OP - Como foi a sua infância ainda nesta área rural?
Pirrita - Lá no interior, não se brinca. E outra é que a gente morava muito afastado lá dos vizinhos. Eu não tinha nem com quem brincar e, em casa, só era eu e duas meninas. Minhas irmãs. A Maria Lúcia da Silva e a Maria de Lurdes da Silva. Com seis anos, nós viemos pra Fortaleza e, aqui, eu já fazia mandado.

OP - Que lembranças o senhor tem da primeira viagem do Cariri para Fortaleza?
Pirrita - A minha mãe achou por bem sair de lá e vir visitar uma amiga que tinha aqui. Uma comadre dela que morava no Pirambu. Eu nunca tinha andado de trem e, quando você faz uma coisa pela primeira vez, você acha duas coisas: ou acha bom ou acha ruim. Eu, pelo menos, achei boa. Era a época da Maria Fumaça, com máquina à lenha. Chegamos aqui já com o dia amanhecendo. Foi um dia de terça-feira. E eu, chegando aqui, só sabia que era no Pirambu, mas não sabia onde. Na chegada, nós ficamos numa pensão e, com três dias, eu arrumei logo um emprego.

OP - Qual era esse emprego?
Pirrita - Deixar leite lá na Rua Conrado de Cabral. Eu apanhava o ônibus com dois litros de leite, ia deixar lá e voltava. Também ia ao mercado com a senhora da pensão. Só servindo de companhia, né? Mas, o leite eu já ia deixar só.

OP - De onde surgiu o apelido de Pirrita? Vem desta época ou é coisa de juventude?
Pirrita - Isso era desde eu pequeno, na Praça da Estação, jogando ``cabiçulinha`` (bila). Lá tinha uns pés de eucalipto muito grandes e tinha feira livre. E eu jogando com os meninos, meus amigos, eles diziam: ``Pirrita, pega a bola ali e bota pra cá``, ``Bora, Pirrita``. E eu era ``maguim``, parecia um faquir, só o couro e o osso. Aí, botaram esse apelido e ficou até hoje. E parece que eu vou morrer como Pirrita. Se chegar ali na Praça e perguntar como é meu nome, ninguém sabe. Agora, se disser ``quem é Pirrita``, acho que até os cachorros sabem. O nome certo é José Rufino da Silva. Agora, esse Pirrita pregou mais do que cola. Depois que bota o apelido, quem tá ouvindo, vai chamar é daquele apelido. Eu nunca achei ruim, não. Quando o sujeito acha ruim, aí é que o povo chama mesmo.

OP - Qual foi sua primeira impressão de Fortaleza logo ao chegar numa cidade grande vindo de um sítio tão afastado de outras casas?
Pirrita - Aí é que se seguiu essa coisa, né? O sujeito que sai lá dos matos, quando chega na cidade, tudo pra ele é bonito. E a maior alegria que eu achava era os carros. Menino é bicho besta pra se animar com carro. Rapaz, naquela época, eu não tenho nem lembrança de quais eram as marcas, porque era pouco carro e eram aquelas ``fubica`` que tem só nos museus. Muito poucos tinham aro de ferro. Nos anos 1950, foi que começaram a sair outros carros mais bonitos. Você fica sabido na cidade. Já se torna um capitalista, claro! Sair do interior e vir morar na capital é capitalista. Num era um cara capitalista em dinheiro, mas era na cidade.

OP - Mas teve alguma coisa em Fortaleza que o senhor não gostou, que estranhou a princípio?
Pirrita - Não tinha nada que eu não gostasse. Nada me incomodou. Só teve uma coisa que veio me fazer uma raivazinha que foi quando eu fui pro mar. Um bocado de menino foi jogar bola na Praia Formosa. A Praia Formosa, nessa época, era ali onde é aquela quadra esportiva do Marina Park. E eu, como um bom jogador, na primeira vez que botaram a bola pra mim, dei uma ``arreada`` na bola, chutei foi uma pedra e quebrei o pé. Até hoje, eu sinto um defeito no pé. Minha carreira no futebol acabou aí, num ia pra frente. Quando eu pensei em começar, foi ponto final em matéria de futebol. Passei 15 dias com o pé no gesso.

OP - Como o senhor conheceu a Praça do Ferreira?
Pirrita - Arrumei o emprego pra ser guia de cego. Nessa época, eu comecei a ter conhecimento com as praças. Saindo da Praça da Estação, eu ia praquela pracinha ali do Banco do Brasil, pro Mercado Central. A Praça do Ferreira eu não conhecia ainda. Vim conhecer em 1952. Eu saía com o ceguinho da praça do Banco do Brasil e ia pra Praça do Ferreira, fazer aquela volta dos ônibus ali. Fazer a arrecadação com ele. Aí, nós íamos embora às seis da tarde. Eu fiz duas viagens com ele, lá pro Iguatu. Foi lá que eu descobri que ele era um cego rico, tinha três filhos, tomava conta de um posto (de combustível), tinha seis jipes, casa na rua do cemitério do Iguatu. O ``véi`` tinha umas quatro casas lá. E ele ainda dizia dentro do ônibus: ``Olha a esmola do cego rico``.

OP - Qual foi sua primeira impressão desta Praça do Ferreira que viu? Era muito diferente de hoje?
Pirrita - Muito bonita a Praça e a Coluna da Hora que era a coisa mais engraçada que tinha. Só aquele negócio batendo já era bonito. O movimento da Praça, o Abrigo Central, que era um negócio que chamava a atenção. O coração da cidade, que até hoje tá na lembrança do povo. Fortaleza, toda vida, teve o centro bonito. Se tornou mais estragado agora. Mas Fortaleza tinha umas ruas bonitas, bem ajeitadas mesmo. Ainda permanece o Centro da cidade bonito, movimentado, como sempre foi. Quando eu cheguei aqui, a Praça do Ferreira só tinha dois prédios, o Excelsior e o edifício J. Lopes, lá no meio do quarteirão, entre (as ruas) São Paulo e Senador Alencar. Tinha casa de dois andares, tinha a Caixa Econômica. Depois é que foi evoluindo e veio o (banco) Sul América, o (hotel) Savanah, aí lá vem o São Luiz. (A Praça) foi se construindo, foi se enchendo.

OP - Que outras profissões o senhor teve para que a Praça do Ferreira nunca saísse da sua vida?
Pirrita - Lá, eu tive um bocado. Já limpei carro. Limpar carro e pastorar carro é tudo a mesma coisa. É o mesmo segmento. Antes disso, eu vendi pente, agulha, desinfetante ali na parada dos ônibus. Foi quando eu comecei a conviver com o povo. Deixei e passei a limpar carro. Também trabalhei numa fábrica de vela, carregando manta de sebo. Aí, vi que limpar carro era um negócio bom. Você limpava o ``carrim``, recebia o dinheiro e todo tempo tinha dinheiro no bolso. Parti pra isso e passei um bocado de tempo. Comecei a dar polimento, arrumei uma boa freguesia e me tornei conhecido. Com uns 30 anos, comecei a engraxar sapatos. E sempre na Praça do Ferreira.

OP - Por que justo a Praça do Ferreira? Que diferença ela tem?
Pirrita - Praça é um ponto de lazer. Praça é um lugar onde você senta e pode refletir alguma coisa da sua vida, seus bons pensamentos, de bondade, de ruindade, de favorecimento, de aborrecimento. Todo desabafo o sujeito tem na praça. Porque a praça é do povo. Tinha outras praças, mas nunca entrou no meu conhecimento que elas fossem um ponto ideal pra mim. Só a Praça do Ferreira porque é mais movimentada. Quando eu comecei a entrar, já tinha gente conhecida lá. E, onde tem um conhecido, fica mais fácil de você se aproximar. Na Praça José de Alencar eu trabalhei, mas foi por poucos dias. Em todas as praças que tinham feira livre no domingo, eu trabalhei. Mas, só a Praça do Ferreira foi que me pegou mesmo. Eu também passei muito tempo vendendo jornal. Nesse tempo, eu também vendia a (revista) Cruzeiro e a Manchete, então, eram dois pacotes na cabeça. Era igual a um jumento. E fazia essa rota: Castro e Silva, Padre Mororó, Domingos Olímpio, Atapu, Visconde do Rio Branco e saía na Praça do Ferreira de novo. A minha vida toda foi desse jeito, de luta, sem prosperidade. Foi uma vida mesmo desmantelada. Depois achei de me habilitar, tirei carteira (de motorista) e arrumei logo emprego. Fui trabalhar na TBA e, depois, fui trabalhar em táxi, mas passei pouco tempo. Eu não tinha conhecimento na praça, e taxista precisa ter bom conhecimento, saber aonde é que o passageiro quer ir, e se ele (o taxista) não sabe, passa mal. Se for atrás de passageiro, não dá. Se for ficar parado, também não. E é trabalhar pra três. Quem não tem carro, trabalha pro carro, pra si e pro dono do carro. Quando o sujeito vai trabalhar pra arranjar o dinheiro do dono, falta o da gasolina. E quando arranja o da gasolina, falta o do dono. Aí fui engraxar sapato e essa foi a profissão mesmo que eu abracei. Nessa eu me sinto mais livre. Isso eu tinha uns 50 anos. O sujeito trabalhar por conta própria é melhor coisa que existe. O cara só tem três coisas a pensar: se controlar, economizar e cumprir com o seu dever.

OP - Como o senhor aprendeu este ofício de engraxate?
Pirrita - Vendo. Observando os outros fazerem. Aquela Praça ali já teve muito engraxate. Eu me lembro da época de eu menino que conhecia muito engraxate ali. Eu vivia no meio de 38 engraxates e todos cadastrados na Prefeitura. Hoje, restam, cadastrados na Praça do Ferreira, quatro. De 38 tem quatro. Lá tem mais de 30. Agora, cadastrados na Prefeitura, só tem quatro e eu sou um deles. É tanto que eu deixei até de pagar. Falei lá na Prefeitura com o chefe, expliquei a situação, que os meninos estavam atrapalhando a gente. Ele foi e disse: ``Mas são meninos e esses meninos são melhores trabalhando do que roubando no meio da rua, cheirando cola``. Eu disse: ``Isso aí é. Se eles trabalhassem e não fizessem isso, era bom. Mas é que eles trabalham e fazem``. Não tem condições. Quando há roubo, dizem logo que são os engraxates da Praça. E, se são os engraxates da Praça, eu tô no meio. Eu sou engraxate. Eu vou pagar pelo erro dos outros?! Também não paguei mais.

OP - Como foram esses anos como engraxate? O senhor conheceu muita gente? Quem já foi seu freguês?
Pirrita - Já engraxei o sapato de muita gente. Vicente Fialho, que foi o melhor Prefeito de Fortaleza, o segundo foi o Juraci (Magalhães); o deputado Ferreira Aragão; (o deputado federal) Ciro Gomes, já até brinquei com ele, o pai dele também era gente muito boa. A gente engraxa sapato ali de várias pessoas. De Tasso, não. Mas já foi sapato dele lá pra eu engraxar. O conhecimento é que traz a fama. Tem que trabalhar bem pra ganhar conhecimento, aí vem a fama. E tudo que eu faço, imagino fazer com especialidade, perfeito, bom. Que o sujeito goste e fique satisfeito comigo.

OP - Como é o dia a dia na Praça do Ferreira? Um dia é igual ao outro ou tem muita diferença?
Pirrita - Quando tem evento, festa é tudo na Praça do Ferreira. Aquela praça tem um sofrimento tão grande que, se ela falasse, diria ``pelo amor de Deus, deixem de tanto me baterem. Vocês me batem demais``. Rapaz, eu vou te contar. Tinha um período aí que era tirando um palco e colocando outro. Tirava um de tarde, de noite colocava outro. Dois, três dias, quatro dias. Pancada ali, marreta. Se falasse, ela diria: ``Não me maltrate tanto porque eu não mereço isso. Sou muito amiga de vocês. Aceito todos de coração, aqui sentados nos meus bancos. Ouvindo as palestras de vocês. Vocês desabafando, vocês namorando, conversando, falando tudo que é de bom e de ruim. E eu só aqui ouvindo e levando porrada a cada dia que passa``.

OP - Neste tempo todo trabalho em torno da Praça do Ferreira, o senhor acompanhou todas as intervenções que ela recebeu. Como foram estas mudanças?
Pirrita - Foram quatro mudanças. Duas fazendo e duas restaurando. Ali já tiraram aqueles banquinhos de madeira e botaram outros de mármore, tiraram os de mármore e botaram de cimento, tiraram de cimento e agora botaram de madeira. Quando eu cheguei, tinha só os trilhos dos bondes. A Praça do Ferreira era a praça mais bonita que nós tínhamos em Fortaleza. Eu comparo duas praças: a Praça do Ferreira e a Praça Cristo Rei no Crato. Aí, o (prefeito) José Walter (1967-1971) acaba com a Praça, constrói uns paredões. Ele só fez bem porque fez junto a Galeria Antônio Bandeira, que era subterrânea. O pessoal entrava lá pra ler, mas, eu só ia pra usar o banheiro. Ninguém sabia daquela cacimba (próxima à Coluna da Hora) e lá naquela última banca que tem na Guilherme Rocha tinha outra cacimba, mas foi aterrada. A Coluna da Hora que tem hoje é igual a de antigamente. A diferença é que era uma de concreto e essa é de ferro.

OP - Como é sua relação com os outros frequentadores da Praça? Todo tipo de gente aparece por lá, não é? Todos amigos?
Pirrita - Eu, ali na Praça, me torno uma pessoa muito conhecida, muito amiga. O maior conhecimento com as pessoas. Boas amizades que tenho porque nunca fiz mal a ninguém. Tenho uma boa convivência com o povo. Com o usuário e com os frequentadores, com quem trabalha lá. Somos todos amigos. Tem uns que são efetivos, estão lá todo dia. E tem os usuários que vêm de vez em quando. Eu tô lá todo dia. Tem uns que vem só na hora do almoço, outros vão só fazer uma horinha. A Praça tá ali disposta pra tudo.

OP - Como é sua rotina de trabalho? Como é o dia do Pirrita?
Pirrita - Às cinco horas da manhã, tenho que tá acordado. A única coisa que faço é tomar banho, visto a roupa e vou nas carreiras, porque as coisas estão lá fora (Pirrita guarda seu material de trabalho numa banca da Praça. Quando a loja vai abrir no dia seguinte, ele pega de volta). Meus dois sacos e minha caixa já estão ali. E, se eu não chegar nesse horário, a negrada pode roubar. Por duas vezes, eu já fui buscar lá na Praça dos Leões. O caboclo bota no carro de mão e sai levando. Isso é todo dia, só o domingo é que é reservado. De segunda a sábado, seis horas eu tenho que tá ali. E o café da manhã, tendo dinheiro no bolso, pra onde se virar tem. Tomo meu cafezinho, abro a caixa, fico ali de prontidão enquanto os fregueses aparecem. Quando eles começam a aparecer, aí eu começo a trabalhar. Nove ou dez horas chega a cafeteira arrastando o carrinho. Tomo mais um cafezinho, pão passado na manteiga. Quando dá meio-dia, uma hora, aí é que eu vou almoçar ali pela Pedro Pereira, que tem restaurante demais. Lá na Praça, eu não tenho horário pra ir embora. É o horário que dá o sono. Eu me dirijo pra casa. Depois do trabalho, vou me divertir um pouco jogando biriba. E só janto depois das dez horas.

OP - Qual é o maior desejo do senhor? Que sonhos tem?
Pirrita - Desejo nós todos temos. Viver bem é um desejo de todos. Muito gente deseja possuir 300 coisas, quando não pode possuir nenhuma. Mas ele deseja. Eu só tive um reconhecimento na minha vida, que eu queria. Nada mais, nada menos do que uma casa própria. Só. É o que eu peço a Deus. É o meu pensamento. Outra coisa, não. Só isso mesmo.

1 -

Entre as paixões de Pirrita na Praça do Ferreira, está o Cine São Luiz. ``Já entrei lá. Por sinal, eu digo que é o mais bonito do Brasil``

Pirrita é pai de dois filhos. Francisco José da Silva, o mais velho, mora em Manaus e dificilmente vê o pai. Maria Alves mora em Caucaia e sempre vai à Praça para encontrá-lo

2 -

A mãe de Pirrita, Maria Pureza da Silva, faleceu em 1973. O pai era galego (mascate de origem turca ou libanesa) e ele nunca conheceu. Por conta de divergências envolvendo herança, ele está sem contato com as irmãs há alguns anos

Atualmente, Pirrita mora sozinho numa quitinete alugada no Centro da cidade, próxima ao seu local de trabalho. Ele está separado da esposa há um ano

Pirrita se orgulha de dizer que nunca bebeu. Sua principal diversão é o jogo de cartas com os amigos do Centro ao final do expediente. ``Dia de domingo é pra ficar em casa vendo televisão``

Para Pirrita, não foi nenhuma surpresa ser convidado para uma entrevista. Logo no primeiro contato, ele disse que faria sem problema. O espanto só veio quando soube que, na semana anterior, o entrevistado havia sido o deputado federal Mauro Benevides. ``E eu vou sair aí? Eita como eu tô importante!``, fez graça

E-Mais

O Livro das Horas da Praça do Ferreira une a crônica de José Mapurunga com as imagens de Jarbas Oliveira. O texto segue a estrutura das horas canônicas do cristianismo.

A série sobre as praças de Fortaleza, publicada em O POVO, seguiu a seguinte ordem:

Dia 13 & Início da série com Vida & Arte Cultura focando o Passeio Público, Praça do Carmo, Coração de Jesus e Lagoinha

Dia 14 & Praça José de Alencar

Dia 15 & Praça da Estação

Dia 16 & Praça dos Correios

Dia 17 & Praça da Bandeira

Dia 18 & Praça dos Leões

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