[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Debaixo da peruca loira | Páginas Azuis | O POVO Online
05/08/2007 - 22h39

Debaixo da peruca loira

Irreverente, anárquica, exagerada. A atriz, cantora e entidade Elke Maravilha esteve em Fortaleza conferindo o festival For Rainbow. Convidada especial e tema de um dos filmes, Elke falou exclusivamente para O POVO. Sem papas na língua!
Elke exibe o anel, feito por seu marido Sacha (o oitavo!), que representa o sol: especialmente para vir ao Ceará(Foto: PATRÍCIA ARAÚJO)

Eleuda de Carvalhoda Redação

No apartamento do hotel, décimo oitavo andar. O cheiro do cigarro impregnando o ambiente, levemente desarrumado. Sobre um aparador, uma peruca loura gigante. A cama em desalinho. A artista nos recebe à porta, "oi, criança!", e dá cá aquele abraço. Uma mulher bem alta, mesmo excetuando-se o salto alto das botas, que ela adora. Vestida de lilás, unhas cor de uva e nos dedos anéis enormes. Na cabeça, um perucão com dreadlocks. Mais tarde, quando se voltou e caminhou à varanda, para outras fotos, a russa criada em Itabira do Mato Dentro me lembrou outra mulher, também artista, mais ou menos da mesma idade: Lia de Itamaracá. Uma branca, a outra preta, mas ambas com este porte de rainha e pixaim torcido. Elke Maravilha é um show.

Mais bonita de perto do que nas imagens da tevê, uma pele delicada sob a maquiagem, sem sobrancelhas - em seu lugar, uma nuvem de sombra fúcsia. Na boca, bem desenhada, o batom ultrapassando o limite dos lábios. Um curioso brilho nos olhos - artifício nenhum ou plástica dão este efeito. É natural, feito a gargalhada, que vem com facilidade. Elke Grunupp é mesmo uma maravilha.

Peixes com ascendente em escorpião e lua em câncer, misto de Carmen Miranda e Artur Bispo do Rosário, Elke chegou ao Brasil com seis anos. Nasceu no dia 22 de fevereiro de 1945, em Leningrado - União Soviética (que voltaram a se chamar São Petersburgo e Rússia). A mãe, Liezelotte von Sonden, de origem alemã. O pai, George Grunupp, oriundo da Mongólia. Elke tem mais cinco irmãos, três nascidos em Minas e dois no interior de São Paulo.

Rebobinando imagens antigas, da tevê. Elke antes dos 30, já com as roupas e adereços que lhe deram fama, jurada do Cassino do Chacrinha - a quem ela, dengosa, chamava de Painho. Só dava nota dez aos calouros (ela e a elegante Márcia de Windsor). Rainha dos gays, dos presidiários e das putas, Elke até parece um travesti. E com eles se identifica, pelo amor ao exagero, à irreverência. A coragem sem medida. Antes de aparecer na tevê, sua bela estampa estava nas capas de revistas - foi modelo do mais famoso costureiro dos anos 60-70, Guilherme Guimarães. Apolítica (em termos), foi presa e enquadrada na Lei de Segurança Nacional. Seu crime: rasgar cartazes de "terroristas procurados", no aeroporto do Galeão. Uma das fotos era de Stuart Angel, filho da estilista Zuzu Angel (de quem Elke foi muito amiga). Stuart já tinha sido morto pela repressão, e seu corpo torturado foi um que nunca, nunca mais apareceu.

Elke também foi jurada do Show de Calouros, do Sílvio Santos (quando o apresentador ainda era atração dominical da Globo), e depois comandou um "talk show" próprio no SBT. Ela agora está no elenco da novela Luz do Sol (Record), vivendo uma russa chamada Urânia. Muito antes, em 1973, ela viveu a Sofia da minissérie A volta de Beto Rockfeller, na TV Tupi, e também fez parte de Memórias de um Gigolô, minissérie dirigida por Walter Avancini (Globo, 1986). Além de ser a estrela absoluta do curta Elke no País das Maravilhas (apresentado na mostra competitiva do For Rainbow, festival de filmes sobre a diversidade sexual, que aconteceu aqui no final de julho), fez uma participação em Zuzu Angel, de Sérgio Rezende, como Liezelotte, uma cantora da noite. Luana Piovani a interpreta, neste filme. Em 1999, Elke fez Xuxa requebra. E teve atuação marcante em Pixote, a lei do mais fraco, de Hector Babenco.

Mas é na década de 70 que sua figura de Marilyn - a mesma lourice, os olhos castanhos entre ingênuos e pecaminosos, até mesmo a pintinha falsa perto dos lábios - não sai das telonas. Participa de Os Pastores da Noite, dirigido por Marcel Camus, em 77; Tenda dos Milagres, de 1976, com direção de Nelson Pereira dos Santos; Xica da Silva, filmado em 74 por Cacá Diegues; Gente que transa, do mesmo ano, uma chanchada com direção e roteiro de Sílvio de Abreu; O Rei do Baralho (de 72, dirigido por Júlio Bressane, com Grande Otelo e Wilson Grey); Quando o carnaval chegar, de Cacá Diegues; Os machões, de 71, direção de Reginaldo Faria, com ele, Erasmo Carlos e Flávio Migliaccio no elenco. Sua estréia no cinema foi com a chanchada Barão Otelo no barato dos Milhões, com Grande Otelo, Dina Sfat e Pelé. O filme, de 1970, dirigido por Miguel Borges, representou o Brasil no Festival de Cinema de Teerã.

A lista de filmes é grande, ainda podemos citar Elke Maravilha contra o Homem Atômico, de Gilvan Pereira, em 1978; Tanga, deu no New York Times, do Henfil, feito em 1987, e A noiva da cidade, de Alex Viany, com trilha de Chico Buarque e Francis Hime. No teatro, tem as experiências recentes com Gerald Thomas - no musical Luartrovado, inspirado no Pierrot Lunaire, de Schönberg. O polêmico diretor a convidou para seu próximo espetáculo, uma remontagem de Vestido de Noiva, do dramaturgo Nelson Rodrigues. E estrela o musical Elke - do sagrado ao profano, direção e concepção de Rubens Curi. Ela canta, de "Villa-Lobos a Falcão" (o nosso!): Titãs, Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Tonico e Tinoco, Cazuza, Pink Floyd, uma canção militar alemã num viés punk, uma cantiga de ninar turca, Summertime (de Gershwin) e, claro!, uma especial de seu amigo Itamar Assumpção, Vá cuidar da sua vida.

A fita foi e voltou, a conversa fluía, Elke gargalhava, a gente ria junto - com ela, no quarto, estava um grande amigo cearense, o produtor cultural Robério Belchior. A voz sedutora, bem modulada, Elke vai contando suas histórias, outras histórias. Mexe os braços, as unhas longas, acende outro cigarrinho. Remexe a bolsa, pra nos mostrar sua identidade de apátrida. (Quando foi presa, em 1971, ela perdeu a nacionalidade brasileira). De lá de dentro - como cabe coisa numa bolsa tão pequena - um papel dobrado. Um poema feito para ela por Itamar Assumpção, entregue pelo artista alguns dias antes de sua viagem para o lado de lá. Mostra também a foto do seu gato Kalunga e um postal. "É meu retrato, sou eu", diz. A imagem do cartão é a de um alce, cujo nome em sueco é "elk". No final, ainda conta uma versão nórdica para o mito do Papai Noel. Mas esta, vou contar de outra vez...

O POVO - Você sempre teve uma ligação com este universo gay. Como foi voltar a Fortaleza, e participar do For Rainbow (no final de julho, festival de filmes sobre diversidade sexual)?
Elke Maravilha - Ah, muito bom, ainda mais sendo aqui no Ceará, né, aí mata dois coelhos com uma cajadada só, né, porque esta terra é abençoada, adoro. E é muito bom fazerem este tipo de projeto, ligado à arte. Sempre gosto de citar o Nietzsche, quando ele diz que a arte veio pra salvar a gente da dura realidade. E a arte salva mesmo. Inclusive, fiquei até admirada, a prefeita e o governador dando apoio, né? Porque normalmente essas pessoas são tão burras, rá-rá-rá! Os de São Paulo são burros, aquele Serra é burro pra caralho. Lá no Rio, não fedem nem cheiram, não atrapalham. Rá-rá-rá! Mas o governo dando este incentivo é muito importante, porque afinal de contas as diferenças é que ensinam a gente. O Brasil é um país de diversidades, tudo junto. E um aprendendo com o outro.

OP - E você representa bem esta diversidade. Vamos voltar ao começo. Que lembrança você tem da sua infância na Rússia?
Elke Maravilha - Olha, daquela época nenhuma, não tenho memória de primeira infância. Vim pro Brasil com seis anos. A única coisa de memória que tenho é que eu tinha medo de Papai Noel, rá-rá-rá, do ronco do meu avô - ele roncava muito. E quando viemos pro Brasil, os botos acompanhando o navio. Agora, depois de adulta fui lá três vezes, pra ver qual era, de onde eu vim, como é que é, como é que não é, ver as pessoas, aprender um pouco.

OP - E como era ser de origem russa e ter um comportamento diferente, na época da ditadura?
Elke Maravilha - (Ela dá sua famosa gargalhada) Aconteceram coisas engraçadas... Eu fazia faculdade de filosofia, no Rio de Janeiro. Sentado ao meu lado tinha um cara que tava escrito na testa dele - Dops (o famigerado departamento de polícia da década de 70). Ele ficava me olhando, me estranhando. Um dia, ele começou assim: - Você é russa, né? - Não, eu nasci na Rússia, não sou russa mais. - Ah... E por que está no Brasil? - Meu pai teve problemas políticos lá. - Ah é? Você é comunista? Eu falei assim não, sou anarquista. Aí o chip dele, zummmmm. Não entendeu nada! Foi muito engraçado... Eram tão imbecis que nem sabiam disfarçar. Aconteceram muitas coisas na época, colegas meus que... Uma vez, um colega estava sentado do meu lado, ele panfletava. Eu estava com minha pastinha. Aí vieram duas pessoas do Dops, bateram na porta, ele, vieram me buscar! - Bota os planfletos aqui rápido, e não olha pra mim. - E depois? - Eu dou o meu jeito. E levaram o rapaz, sumiram com ele depois. Eu pedi licença ao professor, fui no banheiro. A faculdade era num casarão antigo, a descarga era daquelas de puxar e tinha que encher. Eu rasgando os panfletos, jogando dentro da latrina, puxava. Aquilo parecia três séculos. E gente batendo no banheiro. - Eu tô com dor de barriga! Porque sacaram que eu tava com os panfletos dele. Eu gemia, fazia de conta que tava com dor de barriga, até que consegui passar o último. Saí, a cara mais limpa do mundo! Mas era brabo. Tanto que fiz só dois anos de filosofia. A gente não pode falar de todos os filósofos. Não podia nem pensar. O que aconteceu com o Odair José... Ele foi chamado pelo Golbery do Couto e Silva, porque fez aquelas músicas pra homossexuais, pra empregadas, prostitutas. Golbery falou que tinha que cortar as músicas, censurar. - O senhor fala pra mim o que eu tenho que cortar. - O problema não é a letra da música, é a idéia. O problema são as idéias, eles não querem que a gente pense, pensar é perigoso. Querem todo mundo louro! Rá-rá-rá! Tadinhos...

OP - Você chegou a ser presa, nessa época?
Elke Maravilha - Fui presa, perdi a cidadania brasileira. Sou apátrida, nenhuma pátria me pariu. Quer ver meu documento? Mas Deus só dá o frio conforme o cobertor, e eu não faço corpo mole. Você conhece aquela fábula de La Fontaine, do lobo magro? O lobo tava magro, fudido, numa floresta, um frio do cacete. Não tinha caça e ele morto de fome. Aí chega um cachorro gordo pra ele, fala, nossa, lobo, você tá uma merda. Ele falou, tô. - Olha como eu tô gordo, bonito. Vamos lá em casa, lá em casa tem muita comida. Tavam indo juntos pra casa do cachorro, de repente o lobo sacou o seguinte: que o cachorro tinha uma marca aqui no pescoço. - Que marca é essa? - Ah, porque lá em casa, de dia me prendem numa coleira e de noite me soltam, por isso tenho esta marca. - Então, cachorro, você segue pra tua casa, continua gordo e bonito, que eu continuo aqui fudido, faminto, mas coleira eu não vou ter não. Rá-rá-rá-rá!Às vezes, a ditadura é necessária. É dolorida, ruim, desagradável. Mas é um aprendizado. Inclusive se aprende criativamente. Lembra as músicas que o Chico Buarque fazia? Nossa senhora! A toda ação corresponde uma reação, somos atrelados a esta lei física. As pessoas reagiam. Agora estamos numa ditadura e ninguém reage. Ditadura disfarçada. A censura está vogando, tá todo mundo politicamente correto, todo mundo parece mineiro, em cima do muro. O que está acontecendo com este país, caralho?

OP - Por falar em Minas... Li que você levou um susto, ao ver negros pela primeira vez.
Elke Maravilha - É, fiquei com medo. Mas meu pai foi muito sábio. Logo que a gente chegou no Brasil, queriam levá-lo pro Sul, ele não quis ir, disse, não, eu vim virar brasileiro. Aí veio um senhor, disse, olha, tem um problema lá na fazenda que o senhor vai cuidar, não sei se o senhor vai querer ir. Itabira do Mato Dentro. Lá só tem negros. - Ótimo, viraremos negros! Mas eu nunca tinha visto um negro, levei um susto. Meu pai era assim, ele falava duas vezes. Na terceira, era porrada. Porrada às vezes acorda a gente. Meu pai falou, você vai na casa deles. E eu chorando. - Você vai, temos que aprender com eles, são pessoas que nós não conhecemos, por isso que você está com medo. Me pegou, me levou na casa deles. Ah, meu amor, ele quase que teve de me dar porrada pra eu voltar pra casa depois!

OP - Foi seu primeiro encontro com a cultura brasileira...
Elke Maravilha - Gosto de candomblé, de umbanda. Sou de Xangô e de Nanã, a velha Nanã Buruquê. Sou da velha... A cultura negra é tribal. O negro continua tribal, as comunidades são tribais. E eu gosto muito de tribo. E adoro, adoro, adoro os sertanejos. Fui criada em Minas, lá começa o sertão. O sertanejo me parece um cactus. Você descasca, ele é tão doce, saboroso. Alimenta. Sou apaixonada pelos sertanejos. Gosto muito de vir ao Nordeste, aqui tem um gênio em cada esquina. Gosto de ir em lugares que me ensinem alguma coisa. Sou uma turista diferente, detesto shopping. Agora, sentar e ouvir o que as pessoas têm pra me contar, como as pessoas vivem, o jeito como elas interagem, me encanta. O Norte também é muito interessante, o Amazonas é um absurdo. Gente, os deuses moram lá no Amazonas ainda... Que, de resto, o Ceará é maravilhoso mas os deuses já fugiram daqui, né? Os deuses já fugiram do Rio de Janeiro, já fugiram de Minas Gerais, os deuses já fugiram. É o Amazonas, só. Fico arrepiada até os pentelhos do cu lá. E arrepio bom, nossa senhora! Tô falando e me arrepio. O que é aquilo? O mundo inteiro está de olho no Amazonas, porque eles querem, até eu que sou mais boba quero. Mas deixa na mão do caboclo. O caboclo não é predador.

OP - E como é que surgiu o Maravilha?
Elke Maravilha - Este apelido quem me deu foi Daniel Mas, um jornalista já falecido. Ele escrevia minisséries e novelas pra Globo também. E era um cara muito brabo, um jornalista daqueles brabos. Mas eu caí no 'goto' dele. Eu usava Elke, só. Porque Elke Grunupp não dá nem pro cafezim! Então, ele me deu este apelido, Chacrinha lançou no ar e ficou.

OP - Seu encontro com Chacrinha, como é que foi?
Elke Maravilha - Tive esta sorte, em 1972. Maravilhoso! Gozado... O Nordeste sempre me deu muita força, Pernambuco em primeiro lugar. No mesmo ano foi o Chacrinha, cinema - também foi um pernambucano, agora esqueci o nome do diretor... Fiz o filme Barão Otelo no barato dos milhões (o diretor era Miguel Borges). E em teatro fiz Viva o cordão encarnado, com Luiz Mendonça, também pernambucano. Eu fazia uma pastora do cordão encarnado.

OP - E sua experiência como atriz? A persona Elke, em cena, a Elke sempre ali.
Elke Maravilha - Eu gostaria de não estar tão presente às vezes, como atriz. Mas sou uma atriz meio bissexta. Agora tô fazendo uma novela na Record, Luz do Sol. Faço Urânia, uma velha russa que tem como bicho de estimação uma iguana. É viajandona, mas é interessante. Então, tem alguma coisa minha... Mas estou procurando fazer diferente. Tô gostando de fazer, é minha primeira novela, tô tirando o cabaço. Fiz uma novela na Tupi há muitos anos, mas eu era a Elke mesmo, não tinha texto, falava o que eu queria.

OP - E o começo de sua carreira de artista, como modelo?
Elke Maravilha - Na realidade, eu nunca soube o que queria ser quando crescesse. Até hoje não sei, confesso. Agora: eu sempre soube o que eu não queria, graças a Deus! Meu primeiro marido, Alex, um grego - eu já casei oito vezes. Eu chegando no Rio, bom: em que vou trabalhar? Porque eu já tinha sido bibliotecária, em Atibaia. Era bibliotecária e professora da Alliance Française. Em Minas, fui professora de inglês e francês pra crianças, no Fisk e no Ibeu, e dava aulas particulares de latim. Também de alemão. Fui tradutora e intérprete na Siemens. Depois, fui secretária da Western Telegraph Company, uma firma inglesa de telegramas. Fui bancária também. Quando fiz 12 anos, meu pai virou pra mim, falou assim: - Te ensinei muitas coisas, muitas línguas. Então, agora, com o que eu te ensinei, você vai trabalhar, porque não vou te sustentar mais. Chorei dois dias, me senti tão rejeitada... E olhe que não sou de chorar, mas chorei. Então, arrumei um emprego. Claro que ele continuou me dando casa e comida. Sinto muito a falta dos pais de hoje em dia, que não fazem isso com os filhos. Os filhos estão muito mamonas, né? Isto é tão ruim. Saí de casa pra viajar pra Europa. Peguei 20 dólares que eu tinha, peguei um navio. Eu tinha 20 anos. O Alex, eu conheci no navio. Eu tinha uma vó na Alemanha, fui pra lá. Mas minha avó alemã e eu... Ela era ótima dona de casa e eu não. Eu tinha muita intimidade com minha avó mongol, morei com ela dez anos. A primeira vez que falei da minha avó mongol pra nordestino, me disseram, coitada. Rá-rá-rá! Não, gente, minha avó era mongol, a mongolóide sou eu! Convivi muitos anos com esta minha avó, ela morava com a gente. Era uma coisa, uma sabedoria.

OP - Voltando à sua carreira de modelo. Quer dizer que foi o Alex quem sugeriu?
Elke Maravilha - Ele falou assim, você vai ser modelo. E vai ser a maior modelo do Brasil. - Você tá doido? Ele viu no jornal que Guilherme Guimarães, o maior costureiro da época, ia dar um desfile. Alex era redator da revista Manchete. Descobriu o endereço do Guilherme Guimarães, me levou até a porta do edifício dele, me falou, agora sobe e fala com ele. Peguei o elevador, ah, vou subir, vou descer e dizer que não deu certo. Mas aí bateu a curiosidade... Bati na porta dele, ele mesmo que atendeu. Eu tinha vindo de Porto Alegre, morei lá três anos. Disse, vim do Sul, preciso trabalhar, queria saber se podia desfilar pra você. Ele olhou pra mim, botou uma roupa em mim. - O desfile é dia tal, você vem provar a roupa dia tal, tá? - Tá. Foi assim. Ele não perguntou se eu sabia desfilar, eu também não disse que não sabia. Aí, no dia da estréia, me deu - sabe aqueles cinco minutos... Não, cinco segundos, graças a Deus, que eu pensei, que que estou fazendo aqui? Dei de cara com Vera Barreto Leite. Nós éramos atrelados culturalmente à França, não era 'top model'. A Vera era 'manequim vedette' de Coco Chanel. Depois, dei de cara com a Camille, 'manequim vedette' de Guy Laroche. Me veio a consciência, né? Ah, sabe de uma coisa? Não sei fazer isso que elas fazem, vou do meu jeito. Aí eu ria na passarela, eu não sabia tirar casaco direito, tirava do meu jeito. Disseram que eu inovei. Inovei nada, é que eu não sabia mesmo.

OP - E a Elke cantora, quando aparece?
Elke Maravilha - Gravei uma brincadeirinha, há muitos anos... Uma música do Gordurinha, Vontade de comer goiaba. Agora estou levando a sério a coisa de cantar. Estou fazendo um espetáculo que é muito bom. E junto vai ter uma exposição minha, dos objetos que bordo, adereços de cabeça, roupas, coisas que eu mesma faço. E tem o documentário que Júlia Rezende fez. Ela é filha do Sérgio Rezende, que fez Zuzu. E aqui no festival For Rainbow tem outro documentário sobre mim, da Solange Maia. No show, são quatro músicos e eu, canto 14 músicas, de Villa-Lobos a Falcão, passando por Sueli Costa, Antônio Nóbrega, Itamar Assumpção... Tive o privilégio de trabalhar com Itamar no último ano da vida dele, ele fez uma música pra mim, Elke Maravilha, que está no disco Pretobras. Dois dias antes dele morrer, mandou me entregar o poema que fez pra mim. - Robério, pega aí na minha carteira, deve estar espalhada na cama.

OP - O design da persona Elke, como surgiu?
Elke Maravilha - Tem uma influência negra, é claro. Quando eu morava na roça, quando as negras soltavam aqueles cabelos, ficava aquele cabelão, que coisa linda! Elas falavam, não, o seu cabelo é que é bom, o nosso é ruim. E eu dizia, não, o meu é que ruim. Sabe aquele cabelo lourinho? O meu. Tenho bastante cabelo, o Robério conhece. Mas é um cabelinho... Eu gosto de muito! Não sou de diminuir, é sempre mais.

OP - O exagero gay...
Elke Maravilha - O homem é melhor em tudo, até na hora de ser mulher. Agora: a gente pode virar gente. Eu estou tentando virar gente. Você vê, até entre os animais. O animal que é matriarcal é a hiena. Os EUA são matriarcal, olha a gente cagona que é. A Itália é matriarcal, tudo mamona. Onde mulher manda... Sou contra que alguém mande, mas mulher é muito pior. Eu sonho com o mundo em que ninguém mande. Hay gobierno? Soy contra. Os homens, quando vão ser mulheres, escolhem o melhor lado da mulher. As mulheres, sempre menos! Vai em cabeleireiro, é chapinha! Puta que o pariu!

OP - Homem é seu barato. Como é ter tido oito maridos?
Elke Maravilha - Começo virgenzinha. Não levo o passado nem sexualmente nem intelectualmente. Nada. Acho que isso é bom. Por isso já casei com intelectuais, com analfabeto, com judeu, com preto - duas vezes casei com negro. Já casei um monte! Até com psicopata. Este foi perigoso... Gosto de estar casada e acontece. Não sou de namorar, sou de casar. Você só conhece a pessoa casando mesmo, não tem outro jeito. Tem que comer um surrão de sal, meu pai dizia isso. Então, já vou comendo logo... Claro, a gente às vezes corre uns riscos. Com o que era psicopata, ficou perigoso, rá-rá-rá! Mas resolvi rápido, eu não dou sorte com o azar. Troquei a fechadura, botei as roupas dele lá embaixo, fugi por uns tempos. Eu acordava de madrugada, ele tava olhando pra mim assim, às vezes pegava uma faca, dizia, não dói nada. E enfiava na porta. Falei, bom, a próxima sou eu, né? Sou tão inconsciente, graças a Deus, que depois disso eu virava as costas e dormia. Meus anjos da guarda não cochilam.

OP - Li, em algum lugar, que você mora no edifício Copan...
Elke Maravilha - Nunca morei, é um rapaz que faz umas roupas pra mim que mora lá, vou de vez em quando. Nunca morei em São Paulo. Meus pais moravam na avenida Paulista, quando eu ia, ficava na casa deles. Moro no Rio desde 1969. Gosto muito do Rio, o Rio é muito bom.

OP - E como foi viver o barato dos anos 60, no Rio?
Elke Maravilha - Amor, nunca fui uma pessoa de entrar em sistema, eu navego em todas. Por isso que me deram outro dia uma frase do Álvaro de Campos, o heterônimo do Fernando Pessoa: 'Eu ergo em cada canto de minh´alma um altar a um deus diferente'. Mas era legal, o Rio ainda era aquela (canta) "cidade maravilhosa, cheia de encantos mil". Agora o Rio é "Rio 40 graus, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos". Que é uma maravilha também. Do caos renascem as coisas. Porque aquela 'cidade maravilhosa' veio a dar em nada.

OP - E da periferia, dos morros, talvez venha a novidade...
Elke Maravilha - Talvez não, toda! Toda, toda, toda. Porque a mediocracia... Os médios, não, tô fora de médio. Vou muito às periferias, sou madrinha dos presidiários há 30 anos. Vou em morro... Lá no Rio nem é periferia, porque estão juntos, é uma cidade democrática, a única das grandes que temos no Brasil. Porque preto é preto, branco é branco e a mulata é a tal. Adoro o Falcão, o cearense, é meu ídolo, canto música dele no espetáculo: "a burguesia fede, mas tem dinheiro pra comprar perfume". A burguesia no Rio, você não percebe, todo mundo usa a mesma roupa. Sou amiga da Deize Tigrona, ela é o máximo, muito interessante a figura. Sou amiga também do MV Bill. Nunca quis ter filho não, mas eu falo: tem duas pessoas que eu teria como filho, o Alexander Dario, de Belo Horizonte, e o MV Bill. O Adalberto Barreto, que é meu ídolo também, ele é aqui do Ceará, o doutor Adalberto Barreto. Sou madrinha do Projeto Quatro Varas. Ele falou assim, você não teve filho, né Elke? - Não tive. Fiz aborto e tudo sem a menor culpa, porque não sei educar uma criança. E acho que 70% das mulheres que têm filhos não deviam ter. Ele falou, você é muito otimista, Elke, é 85%. Admiro demais o Adalberto.
Antigamente, quando eu tinha alguma dúvida eu ligava pro meu pai. Meu pai já foi brincar de outra coisa, agora tenho duas pessoas, o Adalberto e o Abgar, um amigo meu lá de Minas Gerais, que também sabe tudo. Só que o Adalberto é mais universal. Um dia, eu tava vendo a Globo News, anunciando que numa favela do Ceará tinha um spa. Falei, pera aí, só pode ser o Adalberto Barreto. Que danado, né? Aliás, tenho uma pesquisa pessoal minha. Só as pessoas inteligentes conseguem amar. Não que todas as pessoas inteligentes amem, mas só uma pessoa inteligente chega a poder amar. As burras só dependem.

OP - E como é a Elke no cotidiano? Você fuma, toma cachacinha...
Elke Maravilha - Sou cachaceira, minha filha, nunca gostei de leite. Eu mamava num alambique lá em Minas. Fui criada no lugar certo! O mineiro é o único povo que, mesmo quando fica rico, toma cachaça. O Brasil todo é assim, toma cachaça quando tá pobrinho, quando enriquece um pouco é uísque. Faço tudo errado, não faço ginástica. E em casa sou uma pessoa meio preguiçosa - meu maior defeito e minha maior qualidade. Na realidade, acho que os maiores defeitos são qualidades. Dá muito trabalho ser gente ruim, meu amor, por isso sou legal. Mentir dá trabalho, roubar dá um trabalho do caralho, não dá? Passar os outros pra trás, ser vilão, dá uma mão de obra... É muito bom ser preguiçoso. Sou a pior cozinheira do mundo. Minha água fervida passa do ponto, rá-rá-rá, é horrível! O Sacha diz que minha comida é pior que a de presídio. Ele cozinha muito bem, é libriano igual a você. Ah, eu gosto tanto de comer! Arroz, feijão, quiabo e angu. É A comida. Adoro baião de dois, hummmm, não comi baião de dois ainda... E cajuína, ai, meu Deus como é bom! Coca Cola só quando eu tô numa ressaca do cacete, é bom desentupidor. Fora isso, não, tô fora. Gosto de bordar e gosto muito de montar coisas, juntar coisas culturais. Quando vou pra algum lugar, gosto de comprar coisas da cultura e gosto de misturar estas coisas com outras. Por exemplo, comprei, no Amazonas, miratinga, já ouviu falar? O Brasil é um país privilegiado, caralho nasce em árvore. Miratinga é uma árvore cujos galhos são caralhos. Peguei cinco daqueles, tirei as cascas, envernizei, o Sacha fez um negócio de prata. O Sacha faz jóias, todas estas é ele que faz (exibe os anelões, realmente lindos). Misturei corda de índio com prata, com âmbar e ficou um colar fantástico, xamânico. Vou fazendo, não vou pensando. Aliás, quando penso não sou boa. Meu inconsciente é bom, meu consciente não é. Porque a gente corre o risco de ficar com coisas prontas e coisas prontas é muito ruim. De repente, posso desdizer o que disse ontem.

OP - O que você anda aprontando nos palcos, além do show?
Elke Maravilha - Tem um mês, fiz uma ópera com o Gerald Thomas, Pierrot Lunaire, do Schönberg. Eram duas cantoras líricas e duas populares, Deize Tigrona e eu. E ele me chamou agora pra fazer Vestido de noiva, do Nelson Rodrigues. Farei a Madame Clecy, tá bom? Com Gerald Thomas! É bom aprender novas coisas. Porque, geralmente, as pessoas da minha idade, 62 anos, estão um pacote fechado, elas já são. E esta possibilidade de aprender coisas novas, entrar em novas searas, ah, é tão bom. E novos amigos também. Estou fazendo amigos novos e jovens, de vinte anos. É outro aprendizado. Tenho muita sorte, né?

OP - E o que você pensa desta cobrança por uma juventude eterna...
Elke Maravilha - ...influência americana. Envelhecer é fantástico, eu não precisei aprender, sou de Nanã, já nasci velha. E sou de peixes, peixes é o ancião do zodíaco. A minha energia, mesmo quando eu era jovem, não era jovem. Nunca tive espírito jovem. É que vocês têm uma idéia errônea do que é o velho. Velho não é brocha. Claro que o tesão do velho tá mais aqui (na cabeça) do que abaixo da cintura, isso é verdade. Mas nada que umas coisas não ajudem... Sou de fases. Posso ser absolutamente platônica, não tenho nenhum tesão físico. Agora tô numa fase dessas. Depois, volta, parece que a lagartixa subiu na parede! Não sou assim constante. Sou completamente mutante. Agora, de mente, nunca perdi o tesão, isso é o mais importante pra mim. O poeta Carlos Drummond de Andrade, que é de Itabira, falava pra mim, Elke, você é muito diferente, você não é em cima do muro, como os mineiros. Meu coração é brasileiro, mas a genética, a gente não arranca da gente. Tentei ser mineira, não adianta, porque não consigo ser politicamente correta. E a idade potencializa. Quanto mais velha, pior! A gente tem mais direito de dizer o que quiser. Não vê a Dercy Gonçalves?

OP - Fala um pouco de sua relação com o sagrado.
Elke Maravilha - O sagrado e o profano estão juntos. Aliás, meu espetáculo se chama Elke do sagrado ao profano. Tá tudo junto, pra mim não tem aqui e ali. Tanto que faço um pedaço do Apocalipse de São João, imediatamente depois faço um poema pro pentelho. Tão querendo escrever minha biografia. Tem um rapaz, ele é brilhante, ele me conhece, um rapaz novo, um novo amigo, talvez pra ele... Porque não gosto daquela biografia assim, ah, naquele dia eu caguei, eu peidei, eu trepei, não. Gosto assim, como a gente está falando. Atemporal. De repente, lembro de uma coisa, de repente eu tô aqui. Estas biografias normalmente são um saco, chatas demais. Eu, pra escrever, sou péssima. Meu marido é bom, ele faz letras lindas, é um artista plástico especial. Libriano. Aliás, outra pesquisa pessoal minha: os maiores pensadores do mundo foram librianos, sabia? Primeiro ídolo meu, Alexandre o Grande. Apesar do Caetano Veloso querer que Alexandre fosse leonino, fez até uma música. Sócrates, o filósofo grego: libra. Oscar Wilde, Friedrich Nietzsche. Um governante que é mau pra caralho mas eu gosto dele, o Vladimir Putin. É mau e mostra, porque o russo não disfarça nada. Deixa eu ver quem mais... Mahatma Gandhi! Ah, mas tem um que sou fã, é pisciano. O melhor homem de hoje em dia. Chama-se Bin Laden. Bin Laden! Alguém tem que reagir, porra, porque não é possível. Eles lá invadem quem eles querem, jogam bomba atômica, jogam napalm no Vietnã, deixam as Américas ignorantes e a África fudida. Alguém tem que reagir. E chama-se Binbin. No dia 11 de setembro de 2001, eu não sou leitora de Bíblia, mas de vez em quando abro aleatoriamente. Aí eu abri. Onde? Mateus, 10:34. Cristo falando: 'Não pensem que eu vim trazer a paz ao mundo, eu vim trazer a espada. Eu vim pra jogar irmão contra irmão, pai contra filho, nora contra sogra. E depois de mim todos os que estarão em sua volta serão seus piores inimigos. Quem amar mais seu pai do que a mim, não serve pra me seguir. Quem amar mais sua mãe do que a mim, não serve pra me seguir. Só serve pra me seguir quem pegar a sua cruz. Quem tentar conservar a sua vida, vai perdê-la. Quem perder a sua vida por minha causa, vai achá-la'. Amor, quem consegue ser cristão? Só Bin Laden! Largar pai, mãe e uma fortuna monstruosa! Um homem com aquela fortuna normalmente está num trono de ouro, a mulherada chupando o pau dele, e uma fila de 500 atrás. E ele está morrendo por Deus. E, pasme!, o homem tem 12 seguidores. Um dia, vi uma cena na tevê, falei, é a última ceia! Ele no meio, seis de um lado, seis do outro. E os dois, piscianos, Cristo do dia primeiro de março, Bin Laden do dia 10.

OP - O que você anda lendo?
Elke Maravilha - Não gosto de ler. Gosto de ler gente. Três autores me apaixonei, aí eu li tudo: Dostoiévsky, Nikos Kazantzákis e Monteiro Lobato. Por falar em ler gente, lembrei da Nise da Silveira, que era muito minha amiga, tive este privilégio. Não sou fraca de amigo não!

OP - Como se deu seu encontro com a Nise da Silveira?
Elke Maravilha - Um amigo meu era amigo dela. Aí ele falou assim, sou amigo de Nise da Silveira. Eu falei, ahn, ahn?, eu qué, eu qué... Rá-rá-rá! Eu qué, eu qué! Ele falou, vou te levar lá. Ficamos apaixonadas uma pela outra. Sempre que eu podia, às quintas-feiras, eu ia pro chá das cinco na casa dela. Que mulher, aquela! Sujeito homem! Sujeito homem independe de sexo, mas é muito raro mulher ser sujeito homem. E a gente tinha umas coisas em comum, ela também não quis ter filhos. Me falou, filhos são âncoras, né Elke? - E nós não podemos ter âncora, né Nise?

OP - E você gosta de gatos também, que nem ela?
Elke Maravilha - Ah, também! Só que ela tinha um monte, eu tenho um de cada vez: só sirvo a um senhor. A paixão dela eram os gatos e os loucos. Eu tenho Kalunga, vou mostrar pra vocês. Gotoso, gotoso, gotoso. Muito gotoso! Kalunga é afilhado de seu Zé da Kalunga, você conhece esta entidade da quimbanda? Porque, dois gatos antes, a Electra e o Schwarzennegger, que eu tive, morreram de causas que ninguém entendeu. Não descobriram. Aqui, a minha foto melhor que eu tirei ultimamnete (um cartão postal com a imagem de um alce - elk). Meu nome significa alce, em sueco. Ah, deixa eu te mostrar o poema de Itamar Assumpção. Alguém lê aqui.

DO NEGO DITO PRA ELKE

Apátrida de Itabira

Elke, mulher maravilha, russa grega afegã de Dakar, diamante, safira.

Elke, mulher maravilha, índia ninja titã néctar lixia guavira iara curupira urtiga vampira

Elke, mulher maravilha, orixá do Irã nó, manjar, lúcida que delira

Elke, mulher maravilha, albina catalã pop star mineira da Síria curió corruíra orquídea baunilha

Elke, mulher maravilha, galega talismã ímpar, par, brilha quanto fervilha

Elke, mulher maravilha, pisciana bambã verbo amar, musa culta caipira Clementina da vila, antídoto de ziquizira

Elke, mulher maravilha, loba tcham-tcham-tchã milenar, luz de farol de milha

Elke, mulher maravilha, Pomba Gira, Iansã Iemanjá, Maria Padilha aranha, armadilha, bruxa que fada vira

Elke, mulher maravilha, imã elo elã singular Oxum, versus mentira

Elke, mulher maravilha, prussiana no afã de doar a pátrida de Brasília Guairá, Altamira, pra acabar apátrida de Itabira

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