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Eleuda de Carvalho
da Redação
Uma tarde quente, há alguns dias. No saguão do hotel, à espera de Emiliano Queiroz, que voltou a Fortaleza para dois eventos: convidado especial, com Amir Haddad, de festival de teatro promovido pelo Centro Cultural BNB, onde conversou com o público no programa Nomes do Nordeste, e convidado especialíssimo para o aniversário de sete anos do teatro que leva seu nome - o Teatro Sesc Emiliano Queiroz. Aproveitou para lançar a biografia, escrita por sua mulher, Maria Letícia, Na Sobremesa da Vida, volume da coleção Aplauso/Perfil, publicado pela Imprensa Oficial de São Paulo. O ator, de 71 bem vividos anos, tinha acabado de almoçar, pediu cinco minutos para escovar os dentes. Desceu, lépido e fagueiro, sorriso aberto, cabelos espetados, à moda escovinha. Sempre amável, deixou as lembranças virem à tona, numa prosa boa, temperada por muitos risos, que só terminou porque ele tinha outros compromissos.
Da minha própria lembrança, a mais antiga de Emiliano Queiroz - o tímido, gago e reprimido secretário-capacho do prefeito Odorico Paraguaçu, da novela O Bem Amado. Depois, vieram outros, o afetado tio Bilu e seus três gostosos sobrinhos, da novela Cambalacho, de 1986, ou o diabo velho, na minissérie Hoje é Dia de Maria. Também o incrível Chico do Sal, do filme Casa de Areia, dirigido por Andrucha Waddington, e o ex-boxeador do filme Madame Satã, do cineasta Karim Ainouz. Apenas alguns dos inúmeros personagens que ele fez, em mais de cinco décadas dedicadas à arte de representar. E o começo de tudo estava lá na infância, entre os casarões azulejados de Aracati, onde ele nasceu, no primeiro dia do ano de 1936.
A mãe, dona Ana, era de Russas. O pai, seu Henrique Severino, um paraense, filho de paraibanos. Foi na companhia do pai que o menino viu um filme, pela primeira vez. Ainda em Aracati, assistiu ao primeiro espetáculo de sua vida, uma representação da Paixão de Cristo. Quando estava com 14 anos, a família vem pra capital. Era a época da II Guerra e a visão dos "blimps" (zepelins) no céu da cidade marcaria sua imaginação. Adolescente, trabalhava de contínuo, na fábrica Progresso, e estudava à noite no Colégio Dom Bosco, do educador Oscar Costa Soares, pai do cantor e compositor Ednardo. O diretor dava todo apoio ao teatro e lá Emiliano criou o Teatro de Arte de Fortaleza. Dali, ele foi para o Teatro Experimental de Arte, criado por B. de Paiva e Marcus Miranda, entre outros, onde conheceu Waldemar Garcia, com quem Emiliano aprendeu "a arte de maquiar, a caracterização, prosódia, noções de música, confecção e pintura de cenários e telões". Com o grupo, encenou a peça Lampião, de Rachel de Queiroz. Na estréia, a já famosa escritora estava na platéia do Theatro José de Alencar.
No livro, Emiliano Queiroz desfia as lembranças desse tempo, a amizade com Tarcísio Tavares, seu colega de colégio e de teatro, a beleza da jovem atriz Fernanda Quinderé, "linda, aos 14 anos. Todos nos apaixonamos por ela", relembra. Ary Sherlock, o garoto Aderbal Freire Filho, Haroldo Serra, o bailarino Hugo Bianchi, "um homem belo". Nesse tempo, ele queria ser Clayton, nome artístico. Continuou Emiliano Queiroz. Com o nome próprio, integrou o cast da Ceará Rádio Club, onde conheceu os amigos Guilherme Neto, Eduardo Campos, a locutora Neide Maia. Foi ela quem, encontrando o ator em São Paulo, disse-lhe que estava para ser inaugurada a TV Ceará. Emiliano, que tinha ido para o sudeste de pau-de-arara, voltou a Fortaleza de avião, e com uma certa bagagem como ator. Quando chegou o vídeo tape, e o fim das produções locais, Emiliano percebeu que era hora de ir-se embora outra vez.
Em São Paulo de novo, fez novela, fez teatro, até ser convidado para atuar numa emissora que estava surgindo, a TV Globo. Auxiliar da famosa novelista Glória Magadan, foi Emiliano o responsável por trazer ao canal de Roberto Marinho uma das maiores autoras de novela do Brasil, em todos os tempos: Janete Clair. Dela, ele fez as novelas Irmãos Coragem, Véu de Noiva e Selva de Pedra. Mas foi no teatro que demonstrou toda a sua capacidade de interpretação, às vistas do público. Ele fez, entre outros personagens, o Veludo, de Navalha na Carne, de Plínio Marcos, e do mesmo autor o Tonho, de Dois perdidos numa noite suja. Peças que causaram furor, em meio à repressão política do país. Em Recife, Navalha conseguiu ser montada no famoso teatro Santa Isabel por conta do apoio de Dom Hélder Câmara. Emiliano também viveria outro personagem do submundo, a Geni, da Ópera do Malandro. Ele sorveu com intensidade os anos da repressão e do desvairio. Aos 71, confessa-se um homem feliz e sem arrependimentos. E continua soltando os bichos.
O POVO - Como foi a sensação de ter um teatro aqui, com seu nome?
Emiliano Queiroz - Muito gratificante. Fiquei muito surpreso quando eles me comunicaram que iam colocar meu nome num teatro que ia ser inagurado. E passei a ter um carinho mais especial pelo Teatro Sesc Emiliano Queiroz. Procuro saber o que está acontecendo lá, me mantenho em contato. E queria muito vir, em todos estes sete anos tenho sido convidado mas sempre coincide de eu estar fazendo um trabalho. Queria vir também tendo uma outra coisa, além da comemoração, e este ano estou vindo para o lançamento do meu livro (Na Sobremesa da Vida), editado pela Imprensa Oficial de São Paulo. Neste livro, conto minha trajetória profissional e alguns capítulos estão ligados ao Ceará, à minha infância, a Aracati, ao meu despertar para o teatro e para o grande acontecimento que foi a TV Ceará, na mudança cultural desta cidade.
OP - No livro, você até fala de um dos aspectos desta mudança que a televisão trouxe: o fim das cadeiras na calçada... Mas queria saber como foi o princípio de tudo, digo, a começar pela presença do teatro em sua vida.
Emiliano Queiroz - Comecei no teatro em 1952, eu tinha 16 anos, fazia teatro na escola, no Colégio Dom Bosco, criei lá o Teatro de Arte de Fortaleza, eu tinha paixão. Quando soube que o Teatro Experimental de Artes estava fazendo testes para selecionar novos atores, eu fui. E aí foi um aprendizado maravilhoso, com B. de Paiva, Marcus Miranda, Waldemar Garcia, que foi um grande mestre. Tudo que aprendi de caracterização, de maquiagem, de cenário, figurino foi com o Waldemar. Ele era uma escola. Com 17 anos, fiz o Jesus Cristo no famoso Mártir do Gólgota, que ele montava todos os anos. A minha passagem pelo rádio também foi assim: soube que ia haver um teste na Ceará Rádio Club, a famosa PRE-9. E o João Ramos, que era o diretor, me escolheu. Éramos eu, Ary Sherlock e Nyl Rocha. Ganhei prêmio de melhor comediante, tive uma atividade muito intensa.
OP - E quando foi que você decidiu sair de Fortaleza?
Emiliano Queiroz - Quando eu vi a Bibi Ferreira representando... A gente ia todas as noites, ela nos abriu a porta do teatro. Morri de inveja do Herval Rossano, fazendo o galã. E vi que a Bibi tinha uma técnica apurada, um processo de trabalhar, uma profundidade maior do que nós, que fazíamos uma peça três, quatro dias. Fiquei curioso. Já tinha visto a Maria Della Costa também, estas mulheres maravilhosas, grandes atores, grandes montagens, aqui em Fortaleza. Disse, vou pra São Paulo. E fui, com a coragem e a cara, viajando num pau-de-arara. Quando terminei o curso de teatro, estava-se inaugurando a TV Ceará, seguindo um processo que estava começando em Belo Horizonte, em Salvador. Encontrei, em São Paulo, com a Neide Maia, que foi minha colega de rádio aqui, ela disse, o Guilherme Neto vai ser o diretor, vamos lá. E eu já tinha feito um pouco de televisão em São Paulo, um pouco de cinema. Disse, quero ir pra Fortaleza, aprendi aqui pra levar pra lá. Trazia uma bagagem, né, em comparação com a maior parte dos colegas que não tinham nem visto televisão, quanto mais atuado. Vim, preparei as rádio-atrizes para serem atrizes de televisão, preparei as garotas-propaganda, tive uma atividade meio de professor, na época. Eu mesmo fui garoto-propaganda, fazia sorteios do Romcy Magazine, tive uma atividade muito intensa. E continuei no rádio, ainda frequentei a universidade, que o B. de Paiva estava dando aulas naquela época (no Curso de Arte Dramática da UFC), fiz peças de teatro, peças infantis. E todas as férias eu ia para São Paulo. Numa dessas, fiz um filme com o Mazzaropi, fiz também um cine-documentário alemão... Nunca imaginei sair daqui mas, numa das vezes que voltei pra lá de férias, vi o vídeo tape. Vai matar a tevê regional, pensei. E vi que era hora de voltar pra São Paulo. Depois, só tive oportunidade de passar aqui não mais que três ou quatro dias, com alguma peça ou participando de algum evento. Nunca vim de férias.
OP - E pra Aracati, você nunca mais voltou, nem a passeio?
Emiliano Queiroz - Nunca voltei. Você sabe que nasci em Aracati por um processo das bruxas, mesmo, eu tinha que nascer num lugar daquele. E voltei lá com uns 18 anos de idade, por causa de uns amigos de meu pai, um rapaz que meu pai tinha criado me levou. Depois, nunca mais, nunca mais. E todas as vezes que venho, alguém me diz, vamos te levar a Aracati, mas nunca dá certo, nunca tem tempo. Agora mesmo, estou começando a gravar Eterna Magia, a próxima novela das seis, do Carlos Manga...
OP - Qual será seu personagem?
Emiliano Queiroz - Um padre. Já fiz vários, mas este é mais na linha do padre de O Pagador de Promessas, intransigente e tal. Ele vai até um determinado ponto da novela, por causa da idade ele é afastado pra vir um outro padre. A sorte minha é que coincidiu, esta semana em que estou aqui eles estão gravando na Irlanda e o padre, naturalmemnte, não foi. Foi a minha sorte pra eu vir. Porque fui convidado também pra gravar o DVD sobre a TV Ceará, uma coisa muito importante, quero registrar o máximo de coisas que eu puder em Fortaleza, porque foram coisas decisivas para a cidade. E coincidiu de eu estar aqui, todo feliz.
OP - Você esteve no começo da TV Ceará e também na TV Globo, desde o início. Como foi chegar lá?
Emiliano Queiroz - Eu trabalhava no canal 5, a TV Paulista. E a Globo, quando ia inaugurar, procurava uma afiliada em São Paulo, e aí comprou o canal onde eu trabalhava. Voltei pra São Paulo um craque em televisão ao vivo, tinha feito três anos aqui, voltei com uma bagagem que ninguém me segurava. Decorava que era uma beleza! Porque ninguém, mesmo em São Paulo, tinha trabalhado com a intensidade que eu, aqui, naqueles três anos. Aí fiz uma novela ao vivo lá, que teve muito sucesso, e a Globo quis levar pra ser feita no Rio. E fui pro Rio de Janeiro fazer essa novela, com o diretor Líbero Miguel. O elenco maravilhoso da Globo, naquela ocasião: Glauce Rocha, Reginaldo Faria, Leila Diniz, Iracema de Alencar... Era um elenco all star. Na montagem de São Paulo, foi a estréia de Dênis Carvalho na televisão, tinha a Nydia Lícia. Gravei um mês, a censura proibiu. Era a história de um rapaz com complexo de Édipo, que era o meu personagem. Eu já estava lá no Rio, fui ficando, fiz teste para uma peça... E acompanhei todo o processo da TV Globo, do pioneirismo mesmo, as primeiras novelas, último lugar de audiência... Depois, quando a gente fez O Sheik de Agadir, da Glória Magadan, que foi um sucesso absoluto, conquistou o público masculino, pela primeira vez. Eu fazia um vilão, apanhei na rua, foi uma loucura. Aí houve aquela explosão da Globo, a gente nem se deu conta. Eu trabalhava também como adaptador para a Glória Magadan, e ela resolveu adaptar um folhetim, que o Ary Sherlock já tinha adaptado aqui no Ceará, chamado A Toutinegra do Moinho. E, de repente, no meio daquela história, que não tinha nem pé nem cabeça, porque ela fazia umas novelas juntando quatro, cinco romances... E a gente ficou desesperado, nem eu sabia botar aquilo pra frente, nem ela. Foi quando indiquei a Janete Clair, e ela disse isso até o fim da vida, que ela chegou à TV Globo através de mim. Mas eu já sabia que ela era uma grande novelista, tinha feito muito rádio dela, desde o Ceará, e sabia do trabalho dela na TV Tupi. Mas no Rio ela não estava tendo oportunidade. E aquilo me aproximou muito dela e do Dias Gomes. Aí fiquei o ator que a Janete amava. E ela me botou um personagem maravilhoso em Irmãos Coragem (o Juca Cipó). Dias Gomes começou a escrever com o pseudônimo de Stella Calderón, por causa da censura. Esta história da novela acabou que reverteu pra mim como ator. E eu não tinha interesse de escrever porque sempre senti muita preguiça pra escrever...
OP - Mas você escreveu algumas peças.
Emiliano Queiroz - Tenho... Inclusive, uma que se reporta à minha infância aqui, na época da Segunda Guerra. Chama-se Sara e Severino no tempo das coca-colas, que montei e depois serviu de base também ao curta metragem inspirado no conto da Rachel de Queiroz, Tangerine Girl. E enquanto eu fazia isso, fui chamado pra fazer Navalha na Carne, o lançamento de Plínio Marcos no Brasil, e era tudo que eu queria, naquele momento.
OP - Aí você fez o Veludo, depois a emblemática Geni, da Ópera do Malandro, do Chico Buarque. Como foi encarar estes dois papéis transgressores numa época de repressão e ditadura?
Emiliano Queiroz - Fauzi Arap foi meu diretor na Navalha, ele que me chamou. Aí a Tônia Carrero disse, aquele bigodudo da novela, pra fazer o Veludo? Ele me chamou por causa de um exercício que ele viu meu, no curso de teatro do Eugênio Kusnet. Ele queria não uma história de um casal com um homossexual engraçado, a história do Plínio não é essa, mas a história de três seres humanos, com a mesma força. Ele queria um cara que tivesse um potencial violento também, e ele me chamou. Anos depois, quando ele me viu na Ópera do Malandro, me disse que a Geni era a tia rica do Veludo, rá-rá-rá! Há menos de um mês, encontrei a Tônia na Fiorentina, fazia muito tempo que a gente não se via, ela me chamou, me abraçou, falou, tá tudo vivo aqui na cabeça da gente. Depois que saí, estava na minha mesa, ela falava: Veludo? - Chamou, Neusa Sueli? Foi um desafio, fazer esta peça. Em todos os sentidos. Primeiro, pelo problema da censura, depois, porque todo mundo achava que eu corria um risco com relação à minha carreira na televisão, pelo personagem muito atrevido, que fazia todas aquelas coisas em cena, que não eram poucas! Mas como nunca sonhei fazer Hamlet nem Jeca Tatu, nunca tive idéia de personagem, sempre quis atuar. Achei que a peça era maravilhosa, um momento importante no teatro, não me bateu nada da coisa do preconceito, nem me passou pela cabeça que aquilo podia ser um impecilho, mas que ia alavancar coisas boas pra mim. E fui, pensando no seguinte: não quero fazer o Veludo com nenhum estereótipo, do 'bate o pezinho', do 'ai-ai-ai', uma visão distanciada. Fiz o Veludo usando minha alma. Os sentimentos dele eram os meus. Logicamente eu não era um faxineiro de bordel, nem uma pessoa tão despreparada para a vida, sexual e social, como ele, mas usei as minhas emoções. E isso foi uma felicidade. Porque juntou de tal forma ao trabalho do Nelson Xavier e da Tônia, e as pessoas viram uma coisa tão real em nós três, que a peça foi uma coisa gloriosa, que é uma palavra que gosto de dizer em relação à Navalha. E me abriu imediatamente o caminho. Fauzi Arap tinha feito Dois perdidos numa noite suja em São Paulo, houve um acidente com ele depois, ele não pode fazer no Rio, eu entrei e tomei o papel pra mim. Acabei fazendo no cinema os dois trabalhos. Do elenco de Navalha no teatro, só eu, com Glauce e Jece Valadão. Íamos fazer um outro filme de peça do Plínio, Homens de Papel. Começamos a ensaiar, mas a censura não liberou. Eu estava num momento muito bom, trabalhando com os melhores autores. Ia fazer um Zé Vicente, tinha acabado de fazer um Dias Gomes, que era Dr. Getúlio - sua vida, sua glória. E, de repente, meus autores não podiam mais escrever, não podiam mais ser montados. Eu tinha passado uma experiência difícil, quando viajei o Brasil todo, com a peça do Plínio Marcos. No Sul, nossa senhora! Em Recife, não fora o Dom Hélder, eu não ia fazer o espetáculo. Dom Hélder é maravilhoso, adorava ele.
OP - Mas, e a Geni? É verdade que o Chico compôs Geni e o Zepelim especialmente para você?
Emiliano Queiroz - Eu e Maria Letícia fizemos uma viagem de volta ao mundo, e fomos até o Japão. Por causa de uma amiga nossa, tive acesso ao teatro kabuki. Fiquei muito impressionado! Por isso que o Brecht se apaixonou pelo kabuki. Porque eles desenham na cara a alma do personagem. A maquiagem é a alma. E voltei com esta corda toda, tinha havido um hiato, as peças que apareciam não eram tão interessantes, umas coisas assim meio lá meio cá. Eu tinha feito Equus, tinha trabalhado com a Dulcina de Morais. Valorizava meu trabalho por esses encontros, muito mais do que pelas peças em si. Quando foi um dia, o Chico Buarque liga pra minha casa. Conheci ele assim, quando ele começou a namorar a Marieta Severo, fiz muitas peças com ela. Nessa época em que eles se conheceram, era o Sabiá. Ele me chamou pra fazer a Geni por causa do Veludo, que maravilha! A canção (Geni e o Zepelim) ele só escreveu depois que a peça estava sendo feita, não tinha aquela música. Tive que interromper os ensaios, porque fui gravar uma novela em Nova York, naquela época era uma coisa rara. Tive muita sorte de viajar com minha carreira, rodei o mundo. Nós tínhamos uma casa, muito grande, em Ipanema, era dos pais da Maria Letícia, está com a gente até hoje. Fizemos lá um estúdio, a gente ensaiava. Teve uma hora em que a Ópera não tinha onde ensaiar, ensaiou lá em casa. Fizemos toda a trajetória, desde a Ópera dos Mendigos, do John Gay, depois a Ópera dos Três Tostões, do Brecht, pra entrar na peça do Chico. E um dia ele foi ver o ensaio, ainda eu fazendo a personagem do Brecht, a Jeni dos Piratas. Ele viu, falou assim, esquece essa música aí. Vou escrever uma nova pro seu personagem. E eu viajei, pros Estados Unidos. Quando voltei, ouvi a música. Cara, que que é isso, que coisa maravilhosa! Falei pro Chico, é a história do Bola de Sebo, do Guy de Maupassant... - Você conhece o Bola de Sebo?, me disse. - Não só conheço como fiz o personagem na TV Ceará. E ele falou, a minha inspiração primeira foi o Maupassant. A Glorinha Beuttenmüller, muito minha amiga, me ajudou muito. Foi meu primeiro grande encontro com a 'imagem da palavra', uma idéia dela. E eu soltava os bichos, toda noite, no Teatro Ginástico.
OP - Como foi aquela vez em que você ficou trancado no camarim?
Emiliano Queiroz - Fui beber água, fazer não sei o quê, deixei a chave na porta. E a camareira trancou! Minha deixa era a Marieta cantando com a Elba Ramalho, O Meu Amor... Elas começaram, tá na hora deu ir, todo faceiro... A porta, trancada. Chamei baixinho, depois eu esmurrava aquela porta e as duas cantando e a orquestra, ninguém me ouvia. Atrás do teatro, dava para um estacionamento onde ficavam muitos travestis. Chamei um deles, falei, olha, sou o Emiliano...- Olha a Geni, a Geni tá na janela! Já tinham visto a peça, eu acho. Elas foram lá na frente, esmurraram a porta, o homem abriu apavorado, o que que é? - A Geni está presa no camarim! Foram lá, me soltaram. Naquela época, a gente também sofria interrupções da platéia. Oficiais, militares, que paravam a peça. Teve um dia... Quando terminava a música, eu falava pro delegado da peça, gostou? Quer mais? Pede bis! E o delegado, bis, bis, bem de má vontade. Aí eu falava, agora não quero, tô cansado. Quando o cara mandou eu parar, chega, chega, chega!, eu nem liguei, continuei cantando. O resto da platéia aplaudia. Quando acabou, eu falei: Gostou? Quer mais? E a platéia, queremos! - Pede bis! - Bis, bis! - Agora não quero, tô cansado... Mas tudo dirigido para o cara. Eram desafios enormes. E as pessoas me cumprimentavam na rua assim, com esta expressão: cara, você solta os bichos. Uma expressão muito da época. Era desafiador. E foi maravilhoso.
OP - Este vigor, como artista. Como foi fazer então um dos tipos mais emblemáticos da sua carreira, o tímido e gago Dirceu Borboleta, secretário do prefeito Odorico Paraguaçu, de O Bem Amado?
Emiliano Queiroz - O Dirceu Borboleta nasceu num momento muito especial, que foi a chegada da tevê a cores, foi a primeira novela a cores do Brasil. Eu já tinha feito um especial a cores, falei pros meus colegas, gente, isto não é igual à tevê americana colorida. No Brasil, cada um tem uma cor. Era um viveiro de pássaros! Quando a gente começou a ensaiar o Bem Amado, que vinha de uma peça, a gente falou, olha, não podemos seguir aquela representação que existia, do cinema dos anos 50. Era uma coisa feérica. E fui aprendendo a lidar com a cor. Descobri que eu ficava vermelho, comecei a tirar partido disso. Quando eu transpirava um pouquinho, aquilo realçava. E foi havendo uma união entre o elenco. Até que um dia o Paulo Gracindo, o Odorico, xingando, xingando o Dirceu, ele ficando nervoso, quando fui falar, a voz não saiu e nasceu a gagueira. A gagueira do personagem nasceu assim. Quando fui fazer o seriado dez anos depois, tive muito medo, porque o seriado trazia, aparentemente, uma coisa pronta. Tanto que os primeiros capítulos eu não gosto, acho que estava falso. E não acho que o seriado tenha a mesma qualidade da novela, tinha como alfinetadas sociais e políticas, não como interpretação de nenhum de nós. Por outro lado, este lado do Dirceu, tímido, assexuado, também busquei numa timidez que é minha. O fato de eu ser muito atrevido, muito aventureiro, todas essas ousadias minhas, mesmo a ousadia de fazer televisão, quando começou, aqui no Ceará... Tinha um lado sagrado e profano. Era um santuário, aquela caixinha, mas ao mesmo tempo era uma coisa perigosa, meio maldita. O que era maravilhoso! Fosse só o santuário não me interessava. Mas tinha dentro de mim, naturalmente, como tem em toda pessoa, um medo, uma timidez, coisas assim. E esse lado meu levei ao extremo no Dirceu Borboleta. Aí vi que todo personagem tem um lado meu. Todos os atores que fazem filhos meus ou afilhados ou sobrinhos ficam muito ligados comigo. Porque é um lado paternal que tenho. Como comecei muito jovem, nunca senti concorrência no jovem. A Geni... Devo ter um lado perigoso, eu me expus à beça, embora nunca tenha puxado navalha pra ninguém, nem enfrentava briga, nem jogava capoeira. O Karim Ainouz me chamou pra fazer o Amador em Madame Satã... Quando fui concorrer ao prêmio do festival de cinema aqui do Rio, o cara botou no programa: Emiliano faz o Amador com uma economia de recursos. Por que? Eu fiz um ex-boxer. Como seria um ex-boxer? Fui pela contenção, senão, eu não ia convencer. Sempre me usei. Quando fiz o Chico do Sal, em Casa de Areia, usei os tropeiros que vi na minha vida. Disse pro Andrucha, vou andar descalço. - Mas você não consegue. - Como? Eu jogava bola no Ceará de pés descalços! Conheço a areia, não tenho medo da areia. Todos os meus personagens estão ligados às minhas emoções, às minhas experiências, ao que eu sou.
OP - Fale um pouco de sua família, de sua mãe, dona Ana, da sua irmã Terezinha...
Emiliano Queiroz - Donana era uma sábia. Nunca vacilou. Quando fiz Navalha na Carne, ela estava no Rio de Janeiro, mandei buscar ela pra ficar morando lá. Não morávamos no mesmo apartamento, sempre tive uma vida muito independente, mas ela morava perto. Morreu em meus braços... Quando ela foi ver a Navalha, me disse, como as pessoas diziam pra você não fazer este personagem? Talvez seja o personagem que você tenha feito melhor na sua vida, vai começar uma outra história daqui pra frente. Ela me via assim. Ao mesmo tempo, quando foi ver Dois Perdidos no cinema, ficou revoltada, porque o Nelson Xavier me maltratava muito. - Mas é um filha da mãe, dizia. Era uma defensora. Ela via meus trabalhos. Quando eu era criança, aquele episódio que conto no livro, que eu queria ser padre. Ela dizia, a vocação desse menino é o teatro, eu conheço ele. Porque todos os meus colegas sofreram repressão dos pais, eu não tive esse problema, eu não tive. Estudei dança aqui no Ceará, adorava o Bianchi. Não cheguei a fazer aulas com o Hugo Bianchi , mas eu estudava, eu trabalhava com ele como podia, escrevia os programas dos balés dele, me ligava naquela história. Depois, quando fui pro Rio, estudei dança, muito. E antes, desde São Paulo. Meu primeiro espetáculo profissional em São Paulo foi no I Festival de Dança Contemporânea, no Teatro Municipal. A única cobrança que tinha na minha família em relação ao teatro era assim, não pode parar de estudar. Quando eu estava com 15 anos, eles descobriram que eu estava matando o dentista, faltando, pra fazer teatro. Aí a minha mãe pegou uma revista, a Cena Muda, com as estrelas de Hollywood. - Engraçado... Não tem ninguém faltando dente... As ironias de Donana! Eles foram muito leves, comigo. Só tive duas irmãs, uma já falecida, Anézia, e a Terezinha. Na realidade, o único filho vivo que ficou de Donana fui eu, Terezinha é irmã por parte de pai, e Anézia era adotada. Minha família era especial, até nisso.
OP - Com 18 anos, você teve que servir o Exército. E o soldado Queiroz ficava se imaginando num filme da Metro...
Emiliano Queiroz - Eu me imaginava, imaginava... No dia que tinha que atirar de canhão, eu dizia, menino, este filme está difícil. Porque eu tinha medo, todos nós, porque dava um soco assim pra trás, se não fizesse direito, deslocava a clavícula. E tinha as lendas, do menino que perdeu o braço... E eu, tudo era o cinema. Esta experiência me serviu muito, depois. Porque, onde eu ia pegar em arma? Foi ali que aprendi, pros meus faroestes. A Maria Letícia acha que tudo que eu vi foi sob a ótica do teatro, desde criança. E uma hora eu ia usar aquilo.
OP - Censura, repressão e desbunde. Como foi viver os anos de chumbo e das "viagens"?
Emiliano Queiroz - Foi muito difícil e surpreendente. Quando eu estava fazendo Catarina da Rússia, eu tava muito desbundado, por tudo. Por ter perdido meus autores e tal e tal, e foi quando houve um derrame lisérgico no mundo - uma coisa que tive contato, me deslumbrou, e experimentei, vivi aquilo. Eu achava que tinha um domínio sobre aquela coisa. Todas as minhas experiências, na droga, no sexo, na liberação, na liberdade, na própria promiscuidade, natural aos anos 70... Vivi a época do desbunde no Rio de Janeiro, o que não era fácil. Hoje, sou um homem que não bebo, não fumo, nada. Mas tudo isso foi forte na minha vida e me levou até o limite. Posso dizer que vivi toda a época do desbunde, das drogas, da repressão política sem medo nenhum. E intensamente. Provei de todos os cálices que a vida botou na minha frente, sem pudor, sem remorso. Nunca deitei num travesseiro pra dizer, ó, o que eu fiz? Posso ter deitado com medo, o que é diferente, mas não com culpa. Vivi uma época que foi a minha. Não seria coerente nem teria cabimento se hoje, na minha idade, eu estivesse vivendo a vida que vivi. Mas vivi tudo isso e tudo serviu como um grande aprendizado e tudo foi muito positivo, porque teve um lado lúdico, maravilhoso, o lado do éter das coisas, entende? Vivi intensamente, não me poupei a nada e nem me neguei a que estas experiências se refletissem no meu trabalho. Tudo serviu, principalmente a mim como homem. E como sou uma só pessoa, o homem e o ator se confundem, vivi a minha época em todos os sentidos. Como vivi a TV Ceará intensamente, bebi o cálice da TV Ceará desbragadamente. Fazia aquilo com a coragem de quem vai pra guerra porque é guerreiro, não porque foi convocado, como fui pro Exército! O que ficou de bom, não sei se por uma compreensão, entendimento meu, vivi a minha vida pensando assim, o que fica pelo caminho é pra sempre, não volta, mas também não preciso carregar as coisas. Você viveu, teve a experiência, se expôs a ela, correu todos os riscos. Não tenho saudade, tenho lembranças. Quando estávamos no auge do desbunde, no auge da exposição, os perigos que se corria socialmente e politicamente, quando eu tava em tudo aquilo, pensava, é um período. Estou nos anos de chumbo, vou fazer uma comédia cor de rosa, pra não passar pelo perigo? Tenho é que saber quem eu sou, no meio de tudo isso. E quem eu sou? Um ser humano, que tem uma vida limitada, como todos nós, que tem um tempo de duração, depois vence a validade. E a coisa que marcou muito, no sentido positivo, esta amizade enorme com a Terezinha, ela mora aqui em Fortaleza, tem netos e bisnetos. O que consegui fazer na minha vida, sem me negar a nada, foi não ter lembrança de ter atravancado a vida de ninguém, de ter magoado ninguém profundamente. Tanto que continuo com os mesmos amigos. Fui ao aniversário de 80 anos do Guilherme Neto, parecia que dali a pouco nós iríamos nos encontrar na TV Ceará. Sou amigo do Ary Sherlock, mesmo que eu passe um ano sem falar com ele, no Dia do Soldado, que é o aniversário dele, tô eu ligando. No dia do Ano Novo, meu aniversário, ele me liga.
OP - E você resolveu então dar um balanço em sua história, com Na Sobremesa da Vida...
Emiliano Queiroz - Quis lançar o livro em Fortaleza. Não lancei no Rio de Janeiro, ainda. O livro é da Imprensa Oficial, de São Paulo, que faz uma coisa muito boa, no resgate dos atores. E aí eles fizeram um lançamento em São Paulo, um pré-lançamento, com mais cinco atores - Ary Fontoura, Vera Holtz, Tony Ramos, Pedro Paulo Rangel e eu, foram os nossos livros que saíram no mesmo dia, fizeram uma festa, foi muito bonito. E encontrei diversos atores daquela época, Nydia Lícia foi lá, me dar um beijo, tudo coisa de mais de 40 anos, eu já estou há 40 e poucos só no Rio de Janeiro... O que fica pelo caminho é para sempre nesse sentido. Não me preocupo em conquistar coisas, mas em conservar. No sentido bom! Eu me sinto um privilegiado, um homem da minha idade, 71 anos, trabalhando desde os 16. Sou funcionário de uma estação de televisão, meu último contrato se estende a 30 e tantos anos, o que me dá segurança. Não trabalho mais porque estes dois últimos anos andei meio balançado por uma labirintite, por excesso de trabalho, e comecei a maneirar. Mas trabalhei com todos os diretores novos, fiz peça com Guel Arraes, com Bia Lessa. Bia me levou pra fazer peça na Alemanha, a televisão me levou pra gravar seriado na França, Estados Unidos. Fiz filme em Portugal. Sou um homem feliz. Lógico que quando você vê um universo em desencanto... Sofro com todo este processo, como todos nós. Mas, individualmente, eu tenho que fazer uma parte, pelo menos aos que estão perto do meu raio de ação. No meu trabalho, principalmente, tento semear uma coisa mais ou menos doce. Porque peso e amargura já são muito fortes, viver não é fácil. Agora, você procurar temperar isso que não é fácil com certa doçura, com certo carinho, é obrigação de todos nós.
APERITIVOS
NOVELAS
Alma Gêmea (2005, Bernardo)
Começar de Novo (2004, Mikhail Karamazov)
Senhora do Destino (2004, padre Leovegildo)
Chocolate com Pimenta (2003)
As Filhas da Mãe (2001)
Pecado Capital (1998, Quidoca)
Era uma Vez... (1998, Catulo)
Quem é você (1996, Honório)
Deus nos acuda (1992, Quaresma)
Barriga de Aluguel (1990, Dr. Barroso)
O Sexo dos Anjos (1989, padre Julião)
Top Model (1989, Manfredo)
Que Rei Sou Eu? (1989)
Cambalacho (1986, tio Biju)
Ti-Ti-Ti (1985, Seu Futuro)
Pai Herói (1979, Horácio)
Estúpido Cupido (1976, padre Almerindo)
Pecado Capital (1975, Valdir)
O Bem Amado (1973, Dirceu Borboleta)
Selva de Pedra (1972, Marcelo)
Irmãos Coragem (1970, Juca Cipó)
Véu de Noiva (1969, Tomás)
O Sheik de Agadir (1966, Hans Stauben)
Eu amo esse homem (1964)
TV CEARÁ
(De 1960 a 1963)
Poeira Vermelha (texto e direção: Guilherme Neto)
O Morro dos Ventos Uivantes (direção: Péricles Leal)
A Dama das Camélias (direção: João Ramos)
Orgulho e Preconceito (direção: Ary Sherlock)
Oliver Twist (adaptação e direção: Ary Sherlock)
A Toutinegra do Moinho (direção: Ary Sherlock)
Passagem para o Havre - Bola de Sebo (com Augusto Borges, Jane Azeredo, Neide Maia)
A morte prepara o laço (de Eduardo Campos)
Chá e simpatia (adaptação: Emiliano Queiroz)
CINEMA
Mulheres do Brasil (2005, Nicolau)
Casa de Areia (2005, Chico do Sal)
Xuxa e os Duendes 2 - No Caminho das Fadas (2002)
Madame Satã (2002, Amador)
Xuxa e os Duendes (2001, Mika - o rei dos duendes)
O Xangô de Baker Street (2001, Dr. Saraiva)
Tiradentes (1999, Cláudio Manoel da Costa)
O Grande Mentecapto (1989. Com Regina Casé e Diogo Vilela)
Independência ou Morte (1972, Chalaça)
Dois Perdidos numa Noite Suja (1971, Tonho)
Navalha na Carne (1969, Veludo)
Jovens pra frente (1968. Com Oscarito, Jair Rodrigues e Rosemary)
Conceição (1959, Playboy)
MINISSÉRIES
Hoje é Dia de Maria (2005, Asmodeu Velho)
Um Só Coração (2004, Juca do Amaral)
A Muralha (2000, Dom Falcão)
Chiquinha Gonzaga (1999)
Anos Rebeldes (1992, Dr. Alcir)
Tereza Batista (1992, Alinor)
Hilda Furacão (1998, Profeta)
O Pagador de Promessas (1988, Zarolho)
Tenda dos Milagres (1985, Fontes)
TEATRO
Lampião (1954. Texto de Rachel de Queiroz. Direção: B. de Paiva)
Essa mulher é minha (1956. Direção: Marcus Miranda)
O Mártir do Gólgota (1957)
O Pagador de Promessas (1959. De Dias Gomes. Direção: Flávio Rangel)
Depois da queda (1964. De Arthur Miller. Direção: Flávio Rangel)
Sabiá 67 (1967. Com Marieta Severo e Gracindo Jr.)
Navalha na Carne (1967. Peça de Plínio Marcos)
Dois perdidos numa noite suja (1968. De Plínio Marcos)
Dr. Getúlio, sua vida, sua glória (1969. De Dias Gomes e Ferreira Gullar)
Catarina... da Rússia, naturalmente! (1969. Com Dulcina, Thereza Rachel e Rubens de Falco)
Equus (1977. Com Ricardo Blat, Ana Lúcia Torre e Monah Delacy)
A Ópera do Malandro (1978. De Chico Buarque de Holanda)
Feira Livre (1979. De Plínio Marcos. Direção: Emiliano Queiroz)
A desinibida do Grajaú (1983. Com Pedro Cardoso e Stela Miranda)
O tiro que mudou a história (1991. Direção: Aderbal Freire Filho)
Lisbela e o Prisioneiro (2001. Direção: Guel Arraes)
Medéia de Eurípedes (2004. Direção: Bia Lessa)
PIPOCAS
Emiliano Queiroz nasceu em Aracati, Ceará, no dia 1º de janeiro de 1936. Das lembranças da meninice, o som do piano que vinha da casa de Jacques Klein e "as brigas por amor de dona Priscila com seu marido". O primeiro mergulho no mar foi em Canoa Quebrada, levado pela mãe, dona Ana.
A primeira vez que viu um filme, "devia ter uns três anos", relembra Emiliano Queiroz, em sua biografia. Foi levado pelo pai, Henrique Severino Queiroz, natural do Pará. O teatro entrou em sua vida ainda em Aracati, quando ele viu uma apresentação da peça O Mártir do Gólgota, dirigida por Abel Teixeira. Anos depois, já na capital, Emiliano Queiroz participaria da encenação da Paixão de Cristo. Ele também se divertia com o Pastoril popular.
Em Fortaleza, na época da II Guerra Mundial: a cidade cheia de marines americanos e logo depois com a presença de outro americano famoso, o diretor de cinema Orson Welles. Lembra-se de vê-lo comendo "o prato típico da terra: arroz, feijão e peixe". No começo dos anos 50, ele estréia no Teatro Experimental de Arte, com B. de Paiva, Marcus Miranda, Glice Sales e Ary Sherlock. O grupo montou, no Theatro José de Alencar, a peça Lampião, de Rachel de Queiroz.
Emiliano Queiroz foi rádio-ator na Ceará Rádio Club, a PRE-9. Fazia parte do grupo de pioneiros Guilherme Neto, João Ramos, Augusto Borges e a locutora Neide Maia. Alguns anos mais tarde, o grupo também iria fazer parte de um outro meio de comunicação, a tevê. A TV Ceará tinha programação local, com peças e novelas, entre outros. Com a chegada do vídeo-tape (e o fim da tevê regional), Emiliano Queiroz se fixa de vez em São Paulo.
O ator se muda para o Rio de Janeiro, onde vive desde então, a partir de 1965, para trabalhar numa nova emissora de tevê: a Globo. Foi ele o responsável por levar à emissora a novelista Janete Clair. Dela, ele fez as novelas Irmãos Coragem, Véu de Noiva e Selva de Pedra. Do marido de Janete, Dias Gomes, ele atuou em Verão Vermelho, Ponte dos Suspiros (esta, Dias com o pseudônimo Stella Calderón) e O Bem Amado, onde deu vida a Dirceu Borboleta.
No teatro, dentre as inúmeras peças em que atuou, Emiliano Queiroz fez dois textos emblemáticos de Plínio Marcos: Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja, depois transpostos ao cinema. Mais recente, destacam-se as atuações dele em Madame Satã, do diretor cearense Karim Ainouz, e A Casa de Areia, dirigido por Andrucha Waddington. O ator está escalado para a nova novela das seis, da Globo, Eterna Magia. Vai viver um padre rabugento.
PERFIL
Nascido em Aracati, Emiliano Queiroz começou a atuar em 1952, no Colégio Dom Bosco, de onde foi chamado para fundar o Teatro Experimental de Arte. Passou a integrar o elenco de rádio-atores da Ceará Rádio Club. Se muda para São Paulo para estudar teatro e retorna, já formado, para a fundação da TV Ceará. Volta a São Paulo em meados dos anos 60 onde desenvolve profícua carreira no teatro, cinema e televisão, vivendo personagens inesquecíveis como Veludo, da peça Navalha na Carne, Dirceu Borboleta, da novela O Bem Amado, entre dezenas de outros. Aos 71 anos, lança sua biografia e se prepara para novos desafios.
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