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O Carnaval nasce entre a metade e o final da década de 60, quando pela primeira vez fui com a bruguelada de irmãos assistir a um ensaio na sede (“barracão”) do Maracatu Leão Coroado, em São Gerardo, antiga Rua Teofim - hoje Moreninha Irineu, pertinho de onde morava. E apreciei com singular curiosidade um sujeito diferente, elegante, lapa de homem que era um setenta (quase dois metros). Zé Tatá, alvarento, gestos suaves, dançando em slow motion ao som retumbante dos tambores, à paisana, em meio aos demais componentes pintados de preto. Agora nos ensaios do grupo pelas ruas do bairro, como que alheio aos olhares de censura da gente, o celebrado carnavalesco chamava a atenção tanto quanto a negra da calunga, o balaieiro, o casal de pretos velhos, a princesa e o príncipe luxuosamente vestidos.
A minha grande referência do Carnaval foi o maracatu, de batida que jamais sai da cabeça, do coração. Tanto que ao ouvir “Pavão Misterioso”, do Ednardo, tema de abertura da novela Saramandaia da Rede Globo, de 1976, ligeiro me transportei ao Leão Coroado e ao Zé Tatá, “que marcou época em Fortaleza, no tempo dos bordeis, uma espécie de Madame Satã, em versão cearense, e que sempre saía de princesa”. Com força me veio também à lembrança o aviso do colega que alertava, ante provável vaia nossa à estranha figura: “Fresque com ele não, senão a chibata come de esmola. O home é brabo feito siri na ‘latra’!”
Dias mais tarde, de carona na Rural Willys do tirador de loas do Leão Coroado, estávamos na Duque de Caxias para ver in loco o desfile do maracatu querido, em disputa com agremiações famosas - Az de Ouro, Rei de Paus. Alegres que nem pinto em balseiro, de pé na calçada, eis que episódio traumático fez este cristão largar a ideia do corso. Um papangu aparece fazendo moganga, grunhindo, ao que parece melado, dizendo que faria churrasco de tudo que era menino “malino” ali presente. Nunca mais um carnaval de rua, cujo mela-mela atual mela.
Já rapaz, superado o susto do mascarado (seria um papangu de quaresma?), os apelos dos clubes da periferia para quatro dias de inesquecível folia eram ordem a quem desejasse arrumar amor que desaparecesse na Quarta de Cinzas. Daí a festa renasce no Clube de Regatas. O repertório da banda colorida de metais faz troar verdadeiros hinos, hoje encontrados apenas no Carnaval da Saudade do Náutico: “Mamãe eu quero”, “Ó abre alas”, “Cidade Maravilhosa”, “Cabeleira do Zezé”, “Cachaça não é água”, “A jardineira”, “Me dá um dinheiro aí”, “O teu cabelo não nega”, “Daqui não saio”, “Pierrô apaixonado”, “Aurora” e aquela que já foi meu mantra - “Bandeira branca”.
Carnaval que ultimamente tem estado mais bacana, como a Chiquita da música. Guaramiranga possibilita curtir enredo nota 10. Se as águas rolarem e o frio vingar, a escola de jazz e de blues, em cima da serra, terá mais verde, o verde do meu maracatu.
Tarcísio Matos
tarcisiovalematos @hotmail.com
Jornalista, compositor, articulista de O POVO (Aos Vivos)
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