[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] O poder político da Fifa | Mundo | O POVO Online
ANÁLISE INTERNACIONAL 04/05/2014

O poder político da Fifa

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Nos últimos meses, durante as viagens que tenho feito, observo diversos anúncios sobre o Mundial de Futebol da Fifa no Brasil. Quando vejo estas referências, confesso que dois sentimentos - de imediato – tomam conta de mim: orgulho e preocupação.


O primeiro, certamente deriva do fato de ver o nome do Brasil como país anfitrião da competição. É muito bom ver alusões ao Brasil escritas em diferentes idiomas. O segundo sentimento, remete ao fato de que o evento não é do Brasil, e sim de uma entidade e dessa forma, tende a ser direcionado de acordo com outros interesses, que não os nacionais.


Em 2006, Kofi Annan, então Secretário Geral da Organização das Nações Unidas escreveu um artigo intitulado “A ONU inveja o futebol “ onde mostra o poder da FIFA e o que outras organizações e países poderiam aprender com a entidade mundial do futebol.


De forma discreta, mas objetiva, Annan afirma que “o Mundial de Futebol da FIFA faz a ONU ficar ‘verde de inveja’, pois a competição é verdadeiramente um evento global, contando com a participação de todos os países, independente da raça ou religião”.


A observação do ex-líder da ONU tem bastante fundamento. A Fifa, com suas 208 associações-membro, é provavelmente mais influente - e certamente mais conhecida - do que as Nações Unidas, com os seus 192 países membros.


A Fifa foi fundada em 1904 – mais antiga que muitos Estados Nacionais – e se tornou responsável pela organização e gestão de grandes torneios internacionais de futebol, principalmente a Copa do Mundo, realizada uma vez a cada quatro anos desde 1930.


De fato, se existe uma sigla que tem dominado a mídia mundial e mentes de muitas pessoas certamente deve ser a Fédération Internationale de Football Association. É claro que a ascendência da Fifa sobre a opinião pública mundial vai diminuir após o término da Copa do Mundo no Brasil. Mas quantos outros organismos globais podem ambicionar manter a atenção de bilhões de pessoas por um mês? É bom ressaltar que a Fifa controla os direitos de transmissão dos jogos internacionais importantes com um punho de ferro.


O Mundial de Futebol é sem dúvidas um bom negócio quando o país, a priori, conta com uma infraestrutura importante como ativo. O melhor exemplo é a Copa organizada pelos Estados Unidos em 1994, que custou ao país aproximadamente 50 bilhões de dólares e permanece ainda hoje como a mais rentável na história ainda que não tenha gerado benefícios a longo prazo para nenhuma das cidades-sede, como demonstrou o economista Robert A. Baade.


Segundo Baade, uma das razões pelas quais foi rentável é que a compatibilidade dos estádios de futebol americano com os de “soccer” fazia desnecessária a construção de recintos adicionais.


Ademais, o público, superior às médias europeias e da América Latina e sua ampla e consolidada rede de serviços turísticos, fizeram que o mundial de 1994 — não muito memorável em termos desportivos — ainda possua o recorde de assistências por partido, ainda que desde 1998 as equipes participantes passaram a ser 32 em vez de 24.


Outra consideração importante reside na ideia de que o evento de futebol é sem dúvidas uma grande atividade econômica que movimenta cifras estratosféricas. A Fifa tem seis patrocinadores corporativos para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil (que ela insiste em chamar de’’ parceiros’’): Adidas, Coca-Cola, Visa, McDonald, Emirates, Budweiser e Castrol.


Apenas um exemplo para justificar a participação destas marcas: no Mundial de Futebol de 2010, a Adidas faturou mais de 2 bilhões de dólares com a venda de bolas e camisetas.


Mas se alguém pensa que a Fifa tem poder exclusivamente entre as quatro linhas do campo de futebol, equivoca-se profundamente. Para evidenciar esta afirmação, gostaria de apresentar três situações ilustrativas sobre a força desta entidade.


Em 2013 o governo chileno alterou a Lei de Televisão Digital, devido à ameaça da Fifa de impedir que a seleção nacional de futebol e os clubes nacionais participassem em torneios internacionais, se não se modificasse o regulamento.


Em 2014, os alvos da ‘intervenção’ da Fifa foram o Brasil e a Espanha. Aqui, surgiu a Lei Geral da Copa, em caráter transitório desde 2012 foi encomendada pela Fifa para ser aplicada na Copa das Confederações de 2013 e no Mundial de Futebol de 2014. Em outro episódio esclarecedor sobre o poder da organização, também em 2014 o presidente da Fifa, Joseph Blatter, ameaçou o governo espanhol com a suspensão da Federação de Espanhola de Futebol de competições internacionais.


O que dizer da afirmação de Blatter ao declarar sem sutileza – diferentemente de Kofi Annan – que “na Fifa somos como as Nações Unidas, mas com mais poder. Nós temos 208 membros contra 192 ou 193. E quando tomamos uma decisão, é aplicada imediatamente”?


Em pronunciamento – agora altruísta – Blatter afirmou durante discurso em 2013 que “O futebol tem o poder de construir um futuro melhor e que o trabalho da Fifa está ajudando comunidades necessitadas através do futebol”.


Como podemos perceber, quem tem o poder deve saber manejá-lo, tanto contra Estados como contra outros membros (Federações). Machiavel já nos indicou com seu Príncipe os fundamentos do poder e o que fazer para mantê-lo.


A Fifa demostra ser um digno sucessor do ilustre italiano.

 

João Bosco Monte

Presidente do Instituto Brasil África

> TAGS: fifa bosco copa
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