[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive]
Falar de “morte de Deus” soa como um contra-senso, pois como poderia um ser eterno morrer? O que significa dizer que ‘Deus morreu’? Tal ideia tem sentido? Seria uma nova forma de expressar o ateísmo do mundo contemporâneo?
Muito tem se falado do conceito de “Morte de Deus”, como sendo uma ideia catastrófica ou como a representação do fim da religião, tal ideia tornou-se conhecida de forma ampla através do filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900), no aforismo 125 (o Louco) da obra A Gaia Ciência e também em Assim Falava Zaratustra, embora o termo seja usado amplamente por esse filósofo, na verdade essa ideia remonta ao reformador Martinho Lutero (1483-1546) num hino pouco conhecido, além de ser usada pelo filósofo alemão Hegel (1770-1831) em sua filosofia. Falaremos um pouco sobre a origem deste conceito e seu significado para o mundo contemporâneo.
Lutero apresenta-nos a ideia de “morte de Deus” em um hino religioso que trata da morte de Cristo, o Deus encarnado, como um evento único na historia. Na esteira do protestantismo, o filósofo Hegel em especial na obra Fenomenologia do Espírito (1807) serve-se deste conceito para falar sobre a superação de uma concepção de Deus transcendente do judaísmo, que sucumbe diante da morte do Cristo (o Deus conosco), pois ao morrer aquele Deus das alturas, ressurge um Deus mais humano, que sofre nossas dores. Como diz Paulo na Carta aos Filipenses (cap.2, vers.6-7), Cristo, mesmo sendo de condição divina, rebaixou-se e tornou-se como nós, essa ideia é chamada de kenosis, esvaziamento de Deus. Ao mesmo tempo com a morte de Deus, será a própria morte que é aniquilada.
Nietzsche, conhecido filósofo da “morte de Deus”, retoma a ideia de morte de Deus, mas agora a partir da concepção do niilismo, a crise dos valores absolutos, fazendo dessa forma, um diagnostico de sua época que se estende a atualidade. Na obra Gaia Ciência no aforismo 125 (O louco) trata justamente dessa crise da religiosidade, segundo o personagem “Deus morreu e fomos nós que o matamos!”.
O mundo moderno passou por um processo de esclarecimento, de avanço cientifico e tecnológico que desembocou necessariamente na secularização, na perda de referências consideradas absolutas. A “morte de Deus” é uma metáfora, uma constatação de crise dos valores absolutos, em especial das ideias religiosas, o avanço da secularização que conduziu ao esvaziamento das crenças sobrenaturais. O processo de secularização é irreversível, pois o mundo alcançou um grau de desenvolvimento cientifico e tecnológico que coloca em xeque as idéias religiosas que predominaram durante a Idade Media e povoaram a mentalidade ocidental.
Depois do anuncio nietzscheano da “morte de Deus” surge toda uma corrente de pensadores e teólogos (os chamados teólogos da morte de Deus) que assumem tal conceito como mote para suas reflexões sobre a secularização moderna, com isso vemos uma deflação na abordagem religiosa do cristianismo. Segundo esses autores, entre eles citamos Willian Hamilton/J.Altizer (obra A Morte de Deus), Harvey Cox (A Cidade do Homem), não é possível falar de Deus segundo os padrões pré-modernos, baseando-se na crença em uma cosmologia ultrapassada, em milagres, intervenções divinas, revelações sobrenaturais, etc. Doravante a pregação cristã deve ser feita segundo a mentalidade do homem moderno, levando em consideração sua cosmovisão e a ciência que a fundamenta, a mensagem agora diz respeito ao aspecto existencial e histórico do homem.
Essa ideia também está atrelada a uma crise da religião instituição, a seu caráter hierárquico e vertical, conduzindo ora a uma visão fundamentalista e ingênua da fé do homem moderno, ora a uma negação da mesma, como por exemplo no movimento denominado ‘ateísmo cristão’.
Falar da ‘Morte de Deus’ hoje não é abandonar o conceito de Deus e da religião de modo absoluto, mas ao contrário, significa superar uma visão de Deus e de transcendência que ainda está atrelada aos conceitos da Metafísica antiga e medieval, em especial de uma visão abstrata, de um Deus distante o mundo, de um “Deus dos filósofos”, uma mera idéia, essa visão não alcança a problemática da finitude do homem e sua existência concreta no mundo de hoje. Depois da revolução cientifica moderna, da revolução francesa, das duas grandes guerras mundiais (em especial de Auschwitz) não podemos falar de Deus e de religião com antes, é preciso “matar o Deus transcendente e abstrato”, para reconhecer sua presença imante e solidaria junto dos que sofrem.
Francisco José da Silva é Prof. Mestre em Filosofia, coordenador do Núcleo de Línguas e Culturas Estrangeiras Procult - UFCA (Universidade Federal do Cariri)
Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje
Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object
Erro ao renderizar o portlet: Barra Sites do Grupo
Erro: <urlopen error [Errno 110] Tempo esgotado para conexão>
Copyright © 1997-2016