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Após duas décadas de vigência do Plano Real, sobram elogios ao projeto por parte de um de seus idealizadores, o economista e sócio-fundador da Casa das Graças, Edmar Bacha. Filiado ao PSDB e escolhido para integrar a equipe econômica do presidenciável tucano Aécio Neves, ele não deixou de criticar a política econômica da presidente Dilma em entrevista exclusiva ao O POVO, por telefone.
OPOVO - Qual a avaliação do senhor sobre os 20 anos do Plano Real?
Edmar Bacha - É positivo. O objetivo básico do plano era acabar com a hiperinflação e acabou. O problema é que a gente não conseguiu fazer uma economia forte. Você não tem aquela inflação descabelada como tinha antes, mas tem inflação alta e déficit externo.
OP - A hiperinflação pode retornar?
Edmar - Não há risco de voltar a hiperinflação, porque quando o governo ameaça perder controle do índice, imediatamente cai a popularidade do Governo perante a população.
OP - Qual o grau de confiabilidade da moeda atualmente?
Edmar - A gente vive de preços surreais. A gente costuma brincar, aqui em São Paulo, que o pobre vai para Miami, a classe média para a Europa e o rico quando pode vai para o Nordeste.OP - Falta algo para o real inspirar maior confiança?
Edmar - O problema não é tanto com moeda, é que a economia brasileira está pouco produtiva. Temos um nível de renda per capita de US$12 mil por ano. Não é nem a metade do que tem Portugal. E é a política do atual governo quem está levando o País a essa situação.
Um grande problema nosso, por exemplo, é o isolamento comercial do mundo.
OP - Como assim?
Edmar - O Brasil é um dos países que não exporta quase nada, o pouco é de commodities e não tem acordo comercial com ninguém. Seria uma maravilha se, no Nordeste, em vez de se comprar produtos a preços surreais do Sul, pudesse estar negociando com o Norte.OP - Pode-se considerar o Real uma moeda forte?
Edmar - É uma moeda que dá para o gasto. O dólar valia 0,83 centavos de real. Hoje ta valendo R$ 2,20.
OP - Qual sua avaliação sobre o Real no que versa sobre importação e exportação?
Edmar - Para exportar tem que estar integrado nas cadeias produtivas internacionais. O governo não quer saber dessa integração e faz tudo aqui dentro e tudo muito mal, com baixa qualidade.OP - Existe uma um câmbio ideal?
Edmar - O importante é ter uma parcela muito maior da nossa produção exportada. Atualmente, do total da nossa produção apenas 12% é exportado e apenas 13% do consumo é importado. Seria melhor se exportássemos e importássemos o dobro, porque teríamos indústrias mais competitivas e, por outro lado, poderíamos ter produtos fabricados internamente.
OP - Como dobrar a exportação?
Edmar - Como parte da resolução desse problema para dobrar a exportação e importação, tem-se que atacar o Custo Brasil, a alta carga tributária e a falta de infraestrutura.OP - O Banco Central (BC) tem independência?
Edmar - Na teoria ele é dependente. O banco não tem independência formal. Além de tudo, no governo Dilma, o BC vinha reduzindo juros na marra e a inflação crescendo.
OP - Qual o impacto do aumento na concessão de crédito na moeda?
Edmar - Você tem, no Brasil, dois tipos de concessão de créditos: os livres dos bancos privados e o direcionado, dado pelo BB (Banco do Brasil) para a agricultura. Este último não é afetado pela politica econômica do BC. Quando ele sobe a taxa de juros, isso não afeta o crédito direcionado, então, o BC tem que subir a taxa de juros duas vezes mais para ter efeito na inflação. E esse é o problema: a taxa de juros extremamente alta.OP - O que o senhor espera para as eleições deste ano?
Edmar - Espero que a oposição ganhe e haja reversão total na política econômica, para que o País volte a crescer e tenha estabilidade econômica, além de reindustrialização.
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