[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Ismar Carvalho. Em busca do continente apartado | DOM. | O POVO Online
AGUANAMBI282.DOM 07/06/2015

Ismar Carvalho. Em busca do continente apartado

O fóssil de uma ave de 115 milhões de anos, achado no Ceará, é chave para descobertas sobre a pré-história do continente que se partiu
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Demitri Túlio demitri@opovo.com.br
antônio gaudério/folhapress
Ismar Carvalho revelou a descoberta , no Ceará, do fóssil de uma ave de 115 milhões de anos
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Entrevista do domingo


O pássaro mais antigo do Brasil foi encontrado na Chapada do Araripe, no Cariri cearense. Com isso, alguns mistérios sobre o pré-histórico continente de Gondwana, que reunia a América do Sul, África, Índia, Antártica, Austrália e Madagascar, poderão ser revelados. É o passado geológico da Terra aflorando em um pedaço do Ceará onde viveram criaturas da era dos dinossauros. O cientista Ismar Carvalho, um dos responsáveis pelo achado e por um artigo publicado na revista Nature, falou ao O POVO, por e-mail, sobre o que isso tem a ver com as transformações globais.

O POVO – O fóssil foi encontrado durante uma expedição na Chapada do Cariri?
Ismar de Souza Carvalho – Realizamos regularmente as atividades de treinamento de nossos alunos de graduação e pós-graduação na região do Araripe. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) há mais de 50 anos possui programas de ensino e pesquisa voltados para a formação de novos geocientistas na região. Procuramos realizar em todo este período parcerias locais para o desenvolvimento de nossos trabalhos, já que nada mais apropriado que o conhecimento local dos pesquisadores que também atuam no estudo dos depósitos do Cretáceo. Efetivamente não se tratam de expedições, mas de trabalhos de pesquisa e ensino regulares apoiados pelas agências de fomento tais como CNPq, Capes e Faperj. O novo fóssil foi encontrado em 2011, como fruto destas parcerias institucionais e foram necessários quatro anos para sua preparação e avaliação técnica de seu significado.

OP – O pássaro pré-histórico tinha quais hábitos?
Ismar Carvalho – Optamos neste momento por reconhecer a que grupo pertence o exemplar. Trata-se de um Enantiornithes do grupo das Euenantiornithes. Como animais que podem se deslocar por grandes distâncias através do voo, tais como os pássaros, optamos por uma postura conservadora, que nos possibilitasse demonstrar cientificamente e assim receber opiniões da comunidade científica, antes da denominação final do mesmo. Já que o estudo implicou numa análise bastante acurada da morfologia e anatomia do fóssil não existe nenhum impedimento para interpretações acerca de seu hábito de vida.

OP – O que é inédito: a descoberta de um fóssil de ave no Brasil ou especificamente esse achado no Ceará?
Ismar Carvalho – Há vários aspectos inéditos. O primeiro deles refere-se ao fato de se tratar de um exemplar com excepcional estado de preservação, que possui ossos e plumagem associados. Isto possibilita uma comparação mais efetiva com outros exemplares descritos na literatura científica. Além disso, fósseis com penas longas na cauda, pertencentes ao Enantiornithes, haviam sido anteriormente descritos apenas na China. A descoberta amplia a distribuição paleogeográfica deste grupo de aves. Deve-se também levar em consideração que se trata do mais antigo fóssil encontrado no antigo paleocontinente de Gondwana, o qual reunia a América do Sul, África, Índia, Antártica, Austrália e Madagascar. Isto possibilitará novas interpretações acerca da origem e da evolução das aves.

OP – Como é feita a reconstituição paleontológica da ave, a exemplo do detalhe das cores diferentes no corpo?
Ismar Carvalho – A reconstituição foi feita com base nas proporções e características preservadas do fóssil. Em relação às cores, trata-se de uma percepção artística baseada no que se conhece das aves atuais.

OP – A Formação Santana é referência na pesquisa, por exemplo, de fósseis de pterossauros. O achado desse pássaro aumenta de que maneira a relevância da bacia do Araripe?
Ismar Carvalho – A descoberta deste fóssil amplia nossa percepção do quanto foi diversificada a biota existente na região do Araripe. Os ecossistemas terrestres daquela época foram bastante complexos e, como nos dias de hoje, a região seria uma verdadeiro oásis em que a vida florescia.

OP – Por qual motivo o fóssil não ficará permanente no Museu de Santana do Cariri já que foi retirado daquele território?
Ismar Carvalho – O trabalho foi desenvolvido com recursos financeiros exclusivamente obtidos através dos projetos de pesquisa submetidos pela UFRJ e por seus pesquisadores às agências de fomento nacionais e do Rio de Janeiro. Obedecemos à legislação brasileira, com a notificação ao Departamento Nacional da Produção Mineral acerca de todas as nossas atividades no local, bem como com nossos parceiros locais. Assim, o mais importante é demonstrarmos que temos no Brasil um trabalho de pesquisa novidoso e que revela o quanto nossos geocientistas são produtivos.

OP – Que informações poderão contribuir para o estudo da avifauna, hoje, na Chapada?
Ismar Carvalho – Trata-se de um estudo voltado para a análise dos ecossistemas terrestres do passado geológico da Terra, com implicações para a avaliação paleoambiental e as causas das transformações ecológicas globais no decorrer do tempo geológico. O fóssil desta Enantiornithes não possui nenhuma relação com a avifauna atual existente na Chapada do Araripe.

OP – O pássaro trará, então, quais informações sobre o passado da Terra?
Ismar Carvalho - Minha linha de investigação científica está voltada essencialmente para o entendimento das transformações ecológicas ocorridas durante o período Cretáceo, um intervalo temporal que vai de 145 a 66 milhões de anos. Entender como se deu a diversificação da vida e quais os fatores ambientais que levaram a extinção de muitos animais e vegetais que não possuem representantes atuais, é a chave para o entendimento do tempo presente e os reflexos no futuro das transformações planetárias, que hoje são induzidas principalmente pelos seres humanos.

OP – Por que não se tem em Santana do Cariri uma universidade de paleontologia?
Ismar Carvalho – No Brasil não possuímos o curso de Paleontologia como graduação acadêmica. Trata-se de uma disciplina oferecida nos cursos de graduação e pós-graduação em Geologia e Biologia. O mais importante é realizarmos o treinamento de novos pesquisadores da região, possibilitando fixação em instituições locais. Isto possibilitará o engrandecimento do País.

OP – Quanto custou o projeto de pesquisa que levou à descoberta do pássaro?
Ismar Carvalho – Trata-se de uma avaliação bastante difícil de ser feita, pois não se limita ao projeto propriamente, que cobre os custos de viagens e manutenção laboratorial. Há os recursos governamentais que realizam o pagamento de salários dos pesquisadores, técnicos de laboratório e do serviço de manutenção de nossas coleções institucionais. Todavia, por maior que seja o valor financeiro final que levou à descoberta, será ínfimo em relação a sua importância científica.

OP – O senhor diz que um dos benefícios da descoberta é a formação de pesquisadores locais. Quantos atuam hoje na Chapada?
Ismar Carvalho – Minha atividade profissional também está voltada para a qualificação de novos geocientistas, em especial no âmbito da paleontologia. Descobertas como esta são sempre um estímulo para que uma nova geração de estudantes se interessem pelo tema. Atualmente o número de paleontólogos brasileiros é muito pequeno, quando comparado com os de outros países. No estudo dos fósseis do Araripe, não temos no Brasil mais que 30 pesquisadores atuando regularmente na prospecção e análise desta região. 

 

Saiba mais


Gondwana era um dos continentes existentes na pré-história. Reunia a América do Sul,África, Índia, Antártica, Austrália e Mandagascar. Foi formado durante o período Jurássico
Superior, há cerca de 200 milhões de anos.

A descoberta do fóssil é atribuída aos pesquisadores brasileiros Ismar de Souza Carvalho (UFRJ), Francisco I. Freitas (Geopark Araripe) e José A. Andrade (DPMN). E pelos argentinos Fernando E. Novas, Marcelo P. Isasi e Federico L. Agnolín. 

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