Juiz relata risco de ser feito refém em centro educacional
O juiz Manuel Clístenes, da 5ª Vara da Infância e da Juventude, considera que a situação dos centros educacionais “ultrapassou o limite do aceitável”. Em quatro meses, segundo conta, o número de fugas superou as 200 registradas em todo o ano passado. Intervenções da Polícia Militar foram em torno de 100.
O próprio juiz depende de escolta. “Eu entrava em todos os centros tranquilamente. Hoje, não tenho condições de entrar em determinados locais. Há risco iminente de ser feito refém”, diz.
No Centro Educacional São Miguel, vizinho ao São Francisco e também visitado pelo O POVO, a precariedade estrutural é percebida em coisas mais prosaicas. Dormitórios são trancados com parafusos no lugar de cadeados. Mesas do refeitório foram queimadas em rebelião em dezembro, segundo a coordenação da unidade. Até hoje não foram colocadas novas.
Assim como ainda não foram repostas as torneiras dos bebedouros, quebradas no início do ano. De acordo com os jovens, às vezes falta água e eles bebem direto do chuveiro.
Problemas também vistos no São Francisco: paredes cobertas de fuligem dos incêndios, superlotação, jovens com feridas pelo corpo e umidade nas paredes.
O local tem estrutura para 60 jovens. Havia 103 na última quinta-feira, 5. Apesar de ser de internação provisória, cerca de 30 adolescentes já sentenciados estão lá. “Antes aqui que no Patativa (do Assaré)”, disse um deles, sobre o centro de internos sentenciados.
Os adolescentes ainda não tiveram nenhum dia de aula este ano. Eles podem sair por 45 minutos para atividades no pátio. No resto do dia, ficam trancados.
O juiz Clístenes diz que o problema é mais grave. “As pessoas dizem: ‘Ah, não está tendo aula’. Eu fico pensando: ‘Meu povo, não está tendo nem higiene’”. (IC)
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