[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Rosalind Franklin, a "Dama negra do DNA" | O POVO
ALESSANDRO RODRIGUES 05/02/2012

Rosalind Franklin, a "Dama negra do DNA"

"Rosalind Franklin foi uma biofísica inglesa que analisou a estrutura física de materiais carbonizados usando raios x "
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Anthony Hope, conceituado escritor inglês do fim do século XIX, disse certa vez que “poderia escrever um livro sobre a injustiça dos justos”. Injustiça científica foi o que sofreu a jovem biofísica inglesa Rosalind Franklin. Nascida de uma família judia de classe média alta, Rosalind era a filha caçula de um pai extremamente protetor que a imaginou apenas casada e com filho, não tendo, portanto, nenhuma aspiração profissional.

Porém, desde criança, Franklin mostrou grande aptidão para a ciência e, aos 15 anos, decidiu que queria ser cientista. Em 1941, graduou-se em Físico-Química no renomado Newnham College, em Cambridge, onde trabalhou com William Lawrence Bragg, que usava a difração por raios x para revelar a estrutura de cristais.

 

Franklin escolheu analisar estrutura física de materiais carbonizados utilizando raios x. Em 1947, começa a trabalhar no Laboratório Central dos Serviços Químicos em Paris, onde consolida a sua reputação internacional em cristalografia. De volta à Inglaterra, em 1951, assume um posto no laboratório de biofísica do britânico Maurice Wilkins.

 

No início dos anos 1950, havia três equipes liderando a corrida em busca da estrutura do DNA. O grupo americano, liderado pelo bioquímico Linnus Pauling do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Cal Tech) e dois grupos ingleses, um da Universidade de Cambridge, liderado por Francis Crick e James Watson, e outro do King’s College de Londres, encabeçado por Maurice Wilkins – ou seja, o mesmo laboratório em que Rosalind foi trabalhar.

 

Felizmente para Franklin, os seus resultados foram rápidos e muito bons. Em 1952, ela conseguiu, por meio de raio x, excelentes imagens da molécula de DNA. Em uma delas, a que ficou conhecida como “Fotografia 51”, via-se a molécula de DNA com excelente resolução. Um aluno de doutoramento de Franklin, Raymond Gosling, que tentava concluir sua tese sem a ajuda da sua orientadora, não conseguiu interpretar a fotografia 51 e a mostrou, sem que Rosalind soubesse, a Wilkins, que também compartilhou a imagem, novamente sem a anuência de Rosalind, com Crick e Watson, colegas de Cambridge.

 

Coube a Watson e Crick terem o “insight” que Rosalind não teve e, como conseqüência, publicaram na edição da revista “Nature” de 1953 uma proposta sobre a estrutura da molécula de DNA. Wilkins escreveu um comentário no artigo e o nome de Rosalind Franklin não foi nem citado.

 

Durante o período em que passou no King’s College de Londres, Rosalind sofreu preconceitos tanto por ser judia como por ser cientista, em uma época em que a participação feminina na ciência era pequena. Com o ambiente no King’s insuportável e as diferenças entre Franklin e Wilkins aumentando a cada dia, após dois anos, Franklin decide ir embora. Ela viria a morrer em 1958, vítima de câncer no ovário, aos 37 anos, causado pela radiação a que se sujeitou durante os estudos pioneiros sobre um vírus da planta do tabaco.

 

A Academia Sueca de Ciências não confere prêmios postumamente. E Rosalind já havia falecido quando Watson, Crick e Wilkins foram agraciados com o Prêmio Nobel de Medicina em 1962. Porém, em momento nenhum, o trabalho de Rosalind foi reconhecido. Cartas trocadas entre Watson, Crick e Wilkins mostram que eles tinham consciência de que não conseguiriam sem ela. Dias após a publicação na revista “Nature”, Wilkins escreve para Crick: “E pensar que Rosie teve todas aquelas imagens em 3D por nove meses e não viu uma hélice. Cristo.” Alguns historiadores da ciência defendem que ela foi cautelosa e evitou conclusões precipitadas a respeito dos seus resultados. Outros afirmam que ela não ousou o suficiente para chegar à estrutura atualmente aceita.

 

Rosalind Franklin ficou para a história como a “Dama Negra do DNA”, como uma cientista injustiçada por décadas e que somente nos últimos anos teve o seu trabalho reconhecido. E hoje é vista não apenas como uma grande cientista, mas também como um ícone feminista, por ousar quebrar todos os paradigmas conservadores e machistas que existiam na sua época.

 

Alessandro Rodrigues é biólogo e professor universitário, com mestrado em bioquímica, pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e doutor em Biologia molecular pela Universidade de São Paulo (USP).

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Thereza Bulhões 25/07/2013 12:10
MARAVILHOSA MULHER FOI ROSALIND FRANKLIN BIOFÍSICA, NASCIDA EM 25 DE JULHO DE 1920 PIONEIRA MOLECULAR VERDADEIRA "MÃE DO DNA" UMA GUERREIRA DA HISTORIA DA MULHER NO MUNDO.
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Anne Alice Toná Barbosa 25/07/2013 11:00
Parabéns pela homenagem a esta grande e pioneira mulher que pagou com a própria vida o amor pela ciência e pelas pesquisas
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Renato Correia Lacerda 25/07/2013 01:51
Descobrir a forma de uma molécula foi muito importante, como melhorar e usar este conhecimento ai é outra historia, o cancer seria a primeira doença curavel se houvesse dominio cientifico sobre esta molecula, mas é muito superficial ainda e a maioria dos cientista não admite.
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Renato Correia Lacerda 25/07/2013 01:45
ainda tem muito a ser descoberto sobre o DNA e certamente Rosalin ainda podera ser melhor compreendida no futuro, porque o que sabem do DNA hoje são apenas fragmentos.
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Margarida Célia Patrocínio 24/07/2013 23:54
Parabéns por homenagearem uma mulher além do seu tempo, que enfrentou todo tipo de discriminação, mas não escondeu a inteligência que Deus lhe deu. Mulher admirável e valorosa. Mais uma história verídica p/ comentar com meus alunos.
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