[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Sertão das memórias | Santificados III | O POVO Online
Ponto de vista 04/06/2011 - 17h00

Sertão das memórias

Vivi a infância e a adolescência em Catarina ouvindo estórias sobre o cangaceiro Pedro Xexéu, que obrava milagres. A crendice do meu povo me permitiu acreditar na existência de um assassino santificado. Diziam que ele tinha nascido pras bandas de Alagoas e, após haver se desligado de uma corja de malfeitores do agreste, acertou com o caminho do Ceará.


No patamar da igrejinha de São José, ao lado de minha residência, na época, as conversas dos mais antigos apontavam que o finado Xexéu tinha sido martirizado antes mesmo de ser atingido pelos tiros de um bacamarte. Crime ocorrido numa estrada carroçável que liga Catarina ao distrito São Gonçalo, trajeto que muitas vezes percorri caçando passarinhos.


Ainda hoje existe fincada na beira da estrada, do lado direito de quem vai também para São Bento e Arara, a cruz indicando o local onde Pedro Xexéu tombou sem vida. O marco ou túmulo chama atenção por estar sempre enfeitado com rosas, galhos de plantas, ex-votos e coberto por cotocos de velas. Vi muitas vezes pessoas ajoelhadas ao pé da cruz fazendo suas orações em silêncio.


Manoel Ferreira, de tradicional família do município de minha origem, contava coisas interessantes sobre Xexéu. Conversa ouvida dos mais antigos. Citando entre os contadores da estória do cangaceiro, o próprio pai (Antônio Ferreira), e os comerciantes Quincas Cavalcante e Manoel Balbino. Dizia o velho Ferreira que o pistoleiro apareceu nos Inhamuns e pediu para se esconder na fazenda Mucuim, em Arneiroz. Propriedade do coronel Mário Leal, fazendeiro respeitado da região.


Porque foi morto Pedro Xexéu? Para responder, Manoel Ferreira, cauteloso com parentes do coronel ainda vivos, fazia uma pequena pausa e dizia: “o finado Xexéu sabia muito”. Em seguida, seu Manoel encarava a pequena plateia, acomodada no patamar da igreja Matriz, e desfechava: “Agora, matem a charada”. E encerrava a prosa.


O Butim Tibúrcio contava, no café do Antônio Gato, que alcançou uma graça depois de ver a morte de perto. Após se engasgar com uma espinha de peixe numa comilança. ‘’Na hora me agarrei com a alma do finado Xexéu. Tossi forte e a espinha de curimatã voou longe”. A conversa do Butim se assemelha a tantas outras que ouvi contar em Catarina sobre os milagres do cangaceiro santificado.

 

Landry Pedrosa, repórter do Núcleo de Cotidiano

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Landry Pedrosa landry@opovo.com.br
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