[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] O reverso do cangaceiro | Santificados III | O POVO Online
04/06/2011 - 17h00

O reverso do cangaceiro

DEIVYSON TEIXEIRA
Cruz do Xexéu, lugar de peregrinação no município de Catarina, no Ceará. No dia de São José, data do assassinato do cangaceiro, há celebrações e pagas de promessa lá

EM CATARINA, UM EX-BANDOLEIRO QUE TERIA SIDO DA TROPA DE LAMPIÃO ANGARIOU A BENEVOLÊNCIA DE SER PERDOADO PELO POVO E ACABOU VIRANDO DIVINO


O tempo e a situação fizeram o reverso. Pedro Santana Xexéu, um cangaceiro que teria se desgarrado do bando de Lampião, foi imaculado pelo povo que o temia. A reviravolta do destino virou história contada desde 1924. Em Catarina, lugar extremado no mapa do Ceará, longe 398 km da Capital, qualquer um dá conta sobre o mito da cruz verde fincada na beira da estrada que margeia a fazenda Santana.


Foi ali, num canto hoje sombreado por uma aroeira vigorosa, onde teria caído imolado o pistoleiro Xexéu. O sanguinário que, perdoado pela compaixão do povo, passou a intermediar para os outros, petições de socorro ao divino. Nas acreditações dos que se valem de promessas, quando na terra se esgotam os possíveis, o finado matador concede milagres.


Teria sido muito dó e um combinado de sucessões que resgataram o traiçoeiro Xexéu de uma sina de ruindade e vida de anti-herói. A começar porque avisou aos próprios algozes, depois de muito ser judiado, que tinha o corpo fechado por uma oração e rosário de Nossa Senhora das Dores de Juazeiro do Padre Cícero. Só findaria caso arrancassem os amuletos que carregava no pescoço.


Outro sinal avistado pelos que o isentaram no fim de sua história de homem foi ter sido martirizado no 19 de março de 1924. Iran Paes de Andrade, 59, autor de História e Estórias de Catarina, marca a data mitológica. Era dia de São José, padroeiro do Ceará, pai do menino fugido do Egito, esposo da Virgem e responsável por mandar inverno para o semiárido...


Mas o escárnio, a humilhação pública e a comiseração desmedida seriam o marcante na passagem das últimas horas de vida do cangaceiro para o que se acredita existir além da morte. O alagoano Xexéu veio parar no sertão cearense para servir de capanga do coronel Mário da Silva Leal ou “coroné Máro”, donatário poderoso, arrebanhador de simpatias e desavenças.


Pedro Xexéu tomou parte da milícia do líder político, mas num dia daqueles o calejado Mário Leal desconfiou que escapara de uma arapuca armada pelo forasteiro na estrada. Temente que o ex-cangaceiro fosse, na verdade, um pistoleiro encomendado por inimigos, tratou de traçar a prisão e o desterro dele para uma cadeia em Saboeiro.


O plano, conta um cordel de Iran Paes de Andrade, não era dar um ponto final na vidinha torta de Xexéu. Mas como o homem seria da cepa de Lampião, astucioso, devoto da mãe Das Dores, esperaram o festejo de São José e uma embriaguez o fez refém. “Amarram pés e mãos/ E pra um quarto levaram/ Levantaram suas mãos/ E pra cima estiraram/ Como Jesus Cristo/ A caminho do Calvário”.


Amarrado, Xexéu foi exposto no dia do Santo e quem quis viu a cena e contou para o tempo e o vento. Na estrada para a prisão em Saboeiro, escoltado por dois jagunços do coronel Mario Leal, “A morte do cangaceiro/ Foi muito injusta e cruel/ Mataram na escuridão/ E ficou a marca no céu/ Por isso se acredita/ Que virou Santo o infiel”.

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Ana Mary C. Cavalcante anamary@opovo.com.br
Demitri Túlio demitri@opovo.com.br
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