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As dores de cada dia
Lílian Calixto de Vasconcelos
Ele fez uma cara feia no mesmo momento em que deu aquela freada brusca. Quase fechou os olhos pra não ver o estrago que iria ser aquela batida. Como não ouviu barulho estrondoso ou nenhum gritinho assustado vindo da rua, percebeu que não houve nada. Apenas o susto.
Fiquei a pensar sobre o episódio: o que será que nos assusta, realmente? Bater no carro da frente, ter prejuízo a pagar, discutir quem está errado no trânsito? Ou quebrar nosso pára-choque , lanterna e ficar com o carro no conserto por algum tempo? Afinal, o que é pior? Machucar os outros ou machucar a si mesmo?
Não queremos nenhum dos dois e rezamos para que nunca aconteçam batidas de carro conosco. Mas a verdade é que acidentes acontecem, façamos cara feia ou não. Não se pode estar imune aos estragos no trânsito. Nem na vida.
Bateu? Vamos ver o que aconteceu e resolver com a maior brevidade a situação. Melhor para você, para o outro e para a fluidez do trânsito. Ou você quer ficar com o carro batido por não sei quanto tempo? As pessoas precisam ir e vir. O trânsito não pára.
Nem a vida.
Machucar o outro é horrível. Dói talvez até mais que machucar a si mesmo. Mas se já aconteceu, o que há de fazer? Não há a opção de trazer o sofrimento do outro pra si. Cada um com sua vida. Cada um com seu prejuízo.
O carro da frente não seguiu o sinal porque achou que não daria tempo; preferiu frear Podia ter seguido, mas não seguiu. O carro de trás poderia ter freado, mas não freou. Será que tem algum culpado? Não seria melhor cada um assumir seu erro e seguir em frente?
Doer sempre dói. Dúvidas sobre o que poderia ter sido feito sempre existirão. Mas quando as coisas tentam ser resolvidas pelos dois lados, com boa vontade, a dor diminui. Afinal, tudo não passa de um susto. Vai ficar tudo bem de novo.
Lílian Calixto de Vasconcelos
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