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A quase extinção do tatu-bola (Tolypeute-<br>stricinctus) no bioma Caatinga e no Cerrado juntou num mesmo projeto a Associação Caatinga e a Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. Hoje, em Fortaleza, as duas instituições lançam, no auditório da Fiec, o Programa de Conservação do Tatu-Bola.Uma tentativa de evitar o desaparecimento da espécie que consta nas listas vermelhas de espécies ameaçadas da fauna brasileira (ICMBio) e no relatório da International Union for Conservation of Nature (IUCN). O status atual dele é “em perigo (EM)”, o que representa apenas duas categorias antes da extinção.
O tatu-bola é um animal da fauna brasileira que, acuado, enrola-se na própria carapaça e se transforma em uma esfera semelhante às antigas bolas de couro. Mas se entrincheirar no próprio corpo, um instinto de proteção, deixou de ser eficiente para escapar de perigos gerados pela ação humana. No Ceará, segundo o biólogo Rodrigo Castro, coordenador da Associação Caatinga, o bicho quase desapareceu devido à caça e ao desmatamento. “Ainda é possível encontrar o animal no sul do Estado”, afirma o pesquisador.
O Piauí, esquadrinha Rodrigo Castro, concentra atualmente as maiores áreas de ocorrência do menor dos tatus existentes na Terra. Inicialmente, o programa focará ações no território piauiense. Lugares próximos dos limites com o Ceará. A Serra das Almas, por exemplo, que está localizada no município cearense de Crateús (Inhamuns), é um dos lugares da pesquisa.
Lá, a Associação Caatinga está mapeando a ocorrência da espécie. “Na região, principalmente, do lado do Piauí, os relatos da existência dele ainda são bastante frequentes”, descreve Castro. O tatu-bola também vive na Bahia e com menos frequência nos outros estados do Nordeste.
BATE-PRONTO
Emerson Oliveira, coordenador de Ciência e Informação da Fundação Grupo Boticário, afirma que, ao apoiar programas de preservação no Brasil, a iniciativa privada pode contribuir com a redução do impacto das mudanças climáticas nos biomas da Terra. Ao tentar recuperar e conservar o habitat do tatu-bola, por exemplo, se fortalece a Caatinga contra as mudanças climáticas. Leia entrevista a seguir, concedida por e-mail, ao O POVO:
O POVO – Qual retorno que a Fundação Boticário tem quando financia programas de preservação, a exemplo do tatu-bola?
Emerson Oliveira – Proteger o tatu-bola envolve a proteção de habitats na Caatinga, que é o único bioma 100% brasileiro e que carece de proteção. A espécie é um símbolo do bioma e pode ser um símbolo pela conservação de toda a região.
OP – Como o Boticário acompanha o andamento do programa?
Emerson – As ações desenvolvidas pela Associação Caatinga envolvem o monitoramento dos habitats e regiões de ocorrência. Análise de áreas para criação de unidades de conservação públicas e reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs) para proteção da espécie. E realização de eventos e oficinas de sensibilização das comunidades. As atividades serão reportadas semestralmente à Fundação.
OP – Quais critérios são usados pela Fundação Boticário para decidir apoiar um projeto de preservação?
Emerson – Priorizamos projetos que envolvam espécies ameaçadas, de biomas que necessitem de ações de conservação mais efetivas (como a Caatinga) e que tenham Planos de Ação planejados.
OP – Isso contribui de que maneira no arrefecimento das mudanças climáticas?
Emerson – As mudanças climáticas afetarão os biomas em função de eventos climáticos extremos, sobretudo alterando o regime de chuvas e a oscilação da temperatura sazonalmente. Estes eventos climáticos podem ter impactos nos biomas, especialmente em áreas naturais que sofrem modificações pelas atividades do homem. A proteção dos habitats do tatu-bola, importantes áreas da Caatinga, fortalecerá o bioma. (Demitri Túlio)
SAIBA MAIS
- Desde 2012, a Associação Caatinga desenvolve ações para a preservação do tatu-bola.
- Existem 11 espécies de tatus no Brasil das 19 espécies que ocorrem nas Américas. Eles têm importância no equilíbrio ecológico e na saúde das florestas, pois se alimentam essencialmente de cupins, contribuindo para a regulação da população de insetos.
- O tatu-bola ainda ocorre na Caatinga em áreas com cobertura florestal preservada. Os lugares coincidem, na maioria das vezes, com locais que protegem nascentes e fontes de água.
- Segundo o biólogo Rodrigo Castro, da Associação Caatinga, a preservação dos habitats do tatu-bola não é apenas importante para a sobrevivência da espécie. Garante a segurança hídrica das populações humanas no semiárido, que depende das florestas preservadas para a manutenção deste serviço ambiental (recarga hídrica).
- O custo total para a implementação do programa, em cinco anos, foi orçado em cerca de R$ 7 milhões. Para a primeira fase já foram mobilizados, aproximadamente, 10% desse valor.
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