Dom Paulo evaristo Arns 30/03/2014

- DIGNIDADE -

Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo
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"Foi sobretudo por ocasião das visitas às penitenciárias, onde eu mesmo pude verificar os efeitos da tortura. Houve momentos de grande impacto, como a tortura dos frades dominicanos, mas também aquela dos operários, exatamente no momento em que falecia minha mãe (fevereiro de 1974). Mas posso acrescentar que, durante mais de dez anos, não passei nenhum dia, nenhuma noite sem ouvir ou sentir o que as pessoas inocentes, mas idealistas, sofriam. (...)

A atuação mais eficiente foi através da Comissão de Justiça e Paz da CNBB, que influía em todos os escalões do Exército e em favor de todos os que nós sabíamos que estavam sendo torturados. Também organizamos diversas cerimônias religiosas, sem no entanto citar ou atacar pessoas. Era a nossa maneira de levarmos as queixas de torturas até Aquele que soprou sobre a pessoa humana no momento da criação e lhe conferiu uma dignidade inviolável. Nenhum meio ou instrumento legal foi omitido quando era possível empregá-lo, dentro das normas da justiça. (...)

Quem é que não tem medo em situações como as nossas? Sobretudo quando telefonemas e cartas anônimas exprimiam ameaças que não costumavam ser inofensivas? Recuar? Nunca pensei nisso porque minha vida está consagrada, em primeiro lugar aos irmãos que sofrem. (...) Durante os nossos anos de repressão, achamos por bem que a Declaração dos Direitos Humanos fosse conhecida em todo Brasil, para conscientizar a população, que vivia um tanto alheia à violação, grave sob todos os aspectos, dos direitos humanos".

Entrevista ao O POVO, 10 de dezembro de 1998, por ocasião dos 50 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos

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