Erotilde Honório 30/03/2014

- OS LIVROS -

Erotilde Honório, médica, jornalista e professora universitária
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"Eu vivi a ditadura. Eu era adolescente e estudante da UFC (Universidade Federal do Ceará) e Uece (Universidade Estadual do Ceará). Fazia História na Estadual e Jornalismo na Federal. Eu hoje me considero, naquela época, uma alienada politica. Avaliando hoje. Só que eu aprendi com a minha família a ter respeito pelas leis e aos mais velhos, mas a nunca ficar calada diante de fatos que ferissem a dignidade humana ou com fatos injustos.

Junto a isso eu tive um irmão que foi preso politico. Ele foi tido como comunista e a partir daí toda a minha família, assim como eu, foi tida como comunista. Fui perseguida, fui levada à Policia Federal sob ameaças. Lá, o delegado que estava me interrogando me perguntou se eu era virgem. E disse que eu poderia passar a noite na Polícia Federal. Não cheguei a passar a noite lá, mas isso foi uma tortura psicológica.

Já meu irmão, ele passou um tempo preso no quartel da polícia, na praça José Bonifácio (Centro). Ele e vários amigos dele. A Polícia Federal arrombou a nossa porta de madrugada para pegá-lo. Minha mãe estava de camisola e quatro homens armados de fuzil entrando nos quartos, inclusive no meu. Esse é o temor que os jovens de hoje não sabem. O que significa passar por uma ditadura. Você introjeta o medo.

Eu fazia história na UECE, e uma professora, Luiza de Teodoro Vieira, a maior educadora que o Ceará já conheceu, de repente, me fez ter o gosto pela leitura, pela politica, pela leitura crítica do mundo. A partir dessa prisão, meu irmão se ligou à militância política. E quando ele saiu da cadeia, aí escondemos ele em Orós, quando estava sendo construído o açude. Escondemos com parentes que moravam lá. Ele ficou lá durante oito meses.

Então, a ditadura foi uma marca muito grande, tive uma adolescência muito atemorizada, com muito medo. Pelo meu irmão. Ele foi preso no Crato porque recebeu convite de um amigo que vendia livros de (Leon) Trotsky, e O Capital, de (Karl) Marx, considerados livros comunistas. Meu pai enterrou os livros em casa, para escondê-los.

A ditadura é algo que o povo deve combater. Viver na ditadura é uma vida que só quem passa por ela sabe as marcas psicológicas que ela deixa".

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