“Preso desde novembro de 1969, eu já havia sido torturado no Dops. Em dezembro, tive minha prisão preventiva decretada pela 2ª Auditoria de Guerra da 2ª Região Militar. Fiquei sob a responsabilidade do juiz auditor Dr. Nelson Guimarães. Soube posteriormente que este juiz autorizara minha ida para a OB sob ‘garantias de integridade física’. Ao chegar a OB fui conduzido à sala de interrogatórios.
A equipe do capitão Maurício passou a acarear-me com duas pessoas. O assunto era o congresso da UNE em Ibiúna, em outubro de 1968. Queriam que eu esclarecesse fatos ocorridos naquela época. Apesar de declarar nada saber, insistiam para que eu ‘confessasse’. Pouco depois, levaram-me para o ‘pau-de-arara’. Dependurado, nu com mãos e pés amarrados, recebi choques elétricos, de pilha seca, nos tendões dos pés e na cabeça.
Eram seis torturadores, comandados pelo capitão Maurício. Davam ‘telefones’ (tapas nos ouvidos) e berravam impropérios. Isso durou cerca de uma hora. Descansei 15 minutos ao ser retirado do pau-de-arara. O interrogatório reiniciou. As mesmas perguntas, sob cutiladas e ameaças. Quando mais eu negava, mais fortes as pancadas. A tortura, alternada de perguntas, prosseguiu até as 22 horas. Ao sair da sala, tinha o corpo marcado de hematomas, o rosto inchado, a cabeça pesada e dolorida.
(...) Na quarta-feira, fui acordado às 8 horas. Subi para a sala de interrogatório onde a equipe do capitão Homero esperava-me. Repetiram as mesmas perguntas do dia anterior. A cada resposta negativa, eu recebia cutiladas na cabeça, nos braços e no peito. Nesse ritmo, prosseguiram até o início da noite quando serviram a primeira refeição naquelas 48 horas: arroz, feijão e um pedaço de carne. Um preso, na cela ao lado da minha, ofereceu-me copo, água e cobertor. Fui dormir com a advertência do capitão Homero de que no dia seguinte enfrentaria a ‘equipe da pesada’.
(...) O capitão Albernaz queria que eu dissesse onde estará o frei Ratton. Como não soubesse, levei choques durante 40 minutos. Queria os nomes de outros padres de São Paulo, Rio e Belo Horizonte ‘metidos na subversão’. Partiu para a ofensa moral: ‘Quais os padres que têm amantes? Por que a igreja não expulsou vocês? Quem são os outros padres terroristas?’
(...) Na cela eu não conseguia dormir. A dor crescia a cada momento. Sentia a cabeça dez vezes maior de que o corpo. Angustiava-me a possibilidade de os outros padres sofrerem o mesmo. Era preciso pôr um fim àquilo (sic). Sentia que não iria aguentar mais o sofrimento prolongado. Só havia uma solução: matar- me”.
Relato escrito por Frei Tito de Alencar, em fevereiro de 1970, após ser retirado do Presídio Tiradentes. Publicado no livro Frei Tito, de Socorro Acioli, publicado pela Fundação Demócrito Rocha, 2001.
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