O POVO


NESTE DOMINGO

No Dia do Orgulho Nerd, O POVO celebra os mais de 30 anos da série de Douglas Adams

24/05/2014 | 20:33

O dia 25 de maio, Dia do Orgulho Nerd, também é o dia em que é comemorado internacionalmente o Dia da Toalha! Não sabe do que estamos falando? Não entre em pânico, porque segue aqui uma guia rápido (ou não tão rápido) para você conhecer o autor por trás desse dia: Douglas Adams, o criador de O Guia do Mochileiro das Galáxias, um clássico de ficção que mescla humor e ação.

Por que Douglas é genial ao ponto de ter um dia que celebra não só sua saga, mas toda a cultura nerd geek? A começar pelo seu primeiro lançamento, o próprio Guia dos Mochileiros, que começou a ser produzido em 1977 como uma radionovela humorística sobre ficção-científica. O autor faz críticas contundentes sobre política e manias das pessoas - tudo por meio de uma narrativa não muito coerente do ponto de vista científico, mas totalmente relacionada ao nosso dia a dia.

A maioria de nós já tentou deixar recados com terceiros e percebeu que eles não saem exatamente do jeito que queremos. Ou quem sabe tentar planejar toda a vida, mas perceber que, no final, como ele mesmo diz no volume 5, “qualquer tipo de plano que pudesse ser arquitetado com antecedência era como tentar comprar ingredientes para uma receita no supermercado: você acaba comprando coisas completamente diferentes”. E quanto as más notícias? É uma verdade universal que elas viajam mais rápido que a velocidade da luz!

O Guia dos Mochileiros angariou uma legião de fãs e eternizou, desde o dia de seu lançamento, em 1979, jargões como: “Não entre em pânico”, "Tudo o que você precisará quando o universo acabar é de uma toalha" e "Toda resistência é inútil". Cada um dos cinco volumes são recheados de frases que não só se aplicam à nossa vida, mas fazem com que a levemos de uma maneira mais leve e irônica.

O protagonista

Arthur Dent é um típico anti-herói. O inglês amante de chá não possui nenhuma característica extraordinária digna de uma história de aventura, mas a simpatia que ele transmite é de uma sensibilidade sem tamanho. Você com certeza conhece um cara assim ou já se sentiu um muitas vezes. Pacato e limitado à mediocridade da própria vida, ele é obrigado a sair de sua zona de conforto quando uma nave extraterrestre pretende destruir a Terra para dar espaço a uma nova via hiperespacial intergaláctica (qualquer semelhança com Fortaleza é mera coincidência).

O que Arthur não sabe é que o melhor amigo dele, Ford Prefect, é um alienígena disfarçado de ator desempregado que trabalha para o guia, o mais completo “repositório padrão de todo o conhecimento e sabedoria". Depois de ficar 15 anos estudando os hábitos terráqueos, Ford Prefect resume o planetinha inútil em uma frase: “Praticamente Inofensiva” (será mesmo?).

O enredo intergaláctico

Prefect tem um anel mágico que o permite pegar carona em qualquer nave intergalática, o que salva ele e Arthur da destruição da Terra pelos maléficos Vogons. E justamente com os invasores da Terra sentimos o início da critica velada à sociedade, que se faz presente em todos os livros. Os Vogons são criaturas altamente burocráticas, que requisitam formulários impossíveis para praticamente tudo, o que torna muito lenta qualquer tentativa de se conseguir algo deles (novamente, qualquer semelhança com sua cidade é mera coincidência, o livro foi lançado em 1979).

Embarcando na nave Coração de Ouro, munida do incrível Gerador de Probabilidade Infinita, Arthur, Ford, Trillian, Zaphod Beeblebox e o robô maníaco-depressivo Marvin partem em busca da “Grande Pergunta da Vida, do Universo e Tudo Mais”. Quarenta e dois é a resposta da “pergunta fundamental”, mas o megacomputador construído com inigualável inteligência artificial, o “Pensador Profundo”, não é capaz de explicar a relação do número com o Universo.

O que aprendemos sobre a Terra

Somente algumas certezas ficam: os golfinhos são as segundas criaturas mais inteligentes da Terra, que não passa de uma encomenda dos ratos. Há muito os golfinhos sabiam da iminente destruição do planeta Terra, mas as mensagens de alerta deles para o perigo foram mal interpretadas pela humanidade (suas cambalhotas na verdade queriam dizer “Adeus, e obrigada pelos peixes”). E claro, a toalha é o objeto mais útil para o viajante interestelar, “uma toalha molhada é uma ótima arma no combate corpo-a-corpo”. Ela serve também como agasalho, um pedido de socorro e, bem, para enxugar.

Porque ler D.A.?

Douglas consegue transmitir de maneira envolvente a profundidade filosófica da existência humana e a posição dele contrária às religiões sem cair em explicações confusas ou entediantes. Ou melhor, suas descrições são recheadas de elucidações matemáticas “nonsense”, mas de maneira intrigante, os vários circunlóquios tornam divertido o incongruente: falar muito sem dizer nada. Não nos perdemos em nenhuma das explicações absurdas graças à linguagem criativa. O leitor é capaz de identificar inúmeras personas humanas, e uma reflexão mais profunda sobre a tal vida, o universo e tudo o mais é praticamente inevitável.

Nem o amor escapa da análise espirituosa do autor: “A Enciclopédia Galáctica define o amor como algo incrivelmente complicado de se explicar”. Como entusiasta de novas tecnologias, Douglas foi capaz de escrever sobre e-mails sem que esses fossem amplamente conhecidos. O profundo conhecedor da teoria da evolução não viveu para ver nos cinemas a sua obra clássica, e talvez tenha tido sorte. A reprodução superficial nas telas não apreendeu nem um terço da genialidade do criador.

Uma obra para todas as idades, o Guia dos Mochileiros das Galáxias se reinventa em um período de cada vez maior globalização. As inferências políticas e culturais não ficam ultrapassadas e a obra promete ser fonte de conhecimento e diversão ainda por muito tempo. Os cinco volumes, embora vendidos separadamente não podem nem devem ser compreendidos de maneira independente. Até tenho os dois preferidos, que são o primeiro (o pontapé inicial e por isso mais divertido) e o quarto (que determina a lição sobre a Terra). Mas vale ler até o quinto, que é considerado um presente do autor, por ter sido lançado treze anos depois do primeiro volume (1992).

E tem outra coisa

Em 2012, ano em que Adams faria 60 anos (ele morreu em 2001, com 49 anos), o irlandês Eoin Colfer lançou um livro que seria a continuação do Guia dos Mochileiros: “E tem outra coisa...”. O texto traz os mesmo personagens e imita até bem as frases mirabolantes de Douglas. No entanto, o fato de não ser o próprio Douglas pesa mais.

Outro “plus” da obra foi lançado recentemente, no último dia 20: “O salmão da dúvida”. De acordo com a editora Arqueiro, o livro é feito de textos encontrados no computador de Douglas após sua morte. São resenhas, artigos e ensaios inéditos do autor.

Serviço

Na Livraria Cultura, cada um dos cinco volumes custa R$ 26,90. Em inglês, há uma versão de luxo disponível com todas as obras, por R$ 84,90. Na Saraiva, cada volume está custando R$ 24,90. No submarino, o kit com os cinco é vendido por R$ 29,90, porém há o acréscimo do frete e a demora para chegar.

Vol. 1- “O Guia dos Mochileiros da Galáxia”

Vol. 2- “O Restaurante no Fim do Universo”

Vol. 3- “A Vida, o Universo e tudo mais”

Vol. 4- “Até mais, e obrigada pelos peixes”

Vol. 5- “Praticamente Inofensiva”