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O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, fez um grande negócio ao fazer israelenses e palestinos dizerem sim aos Estados Unidos. Ele conseguirá agora fazer com que digam sim uns aos outros?
Admiro a persistência de Kerry em fazer israelenses e palestinos voltarem à mesa de negociação pela primeira vez em cinco anos; em parte ao deixar claro que quem quer que dissesse não ao pedido norte-americano de retomada das negociações seria repreendido publicamente. Também gosto do fato de Kerry ter ousado correr o risco de falhar. É como uma pessoa faz história como secretário de Estado. Também pode ser de ajuda para ele seguir em frente. Mesmo um pequeno sucesso como esse dá a ele mais autoridade, e mais autoridade pode proporcionar mais sucesso em outras áreas.
Isso dito, as perspectivas de um acordo entre israelenses e palestinos permanecem muito pequenas. De fato, se essas negociações fossem uma peça, ela se chamaria “Quando o Necessário Encontrou o Impossível”.
Assim, por que nos darmos ao trabalho? Sempre achei que a regra mais importante do jornalismo é: nunca tente ser mais inteligente do que a história. Existem todas as razões para duvidar que essas negociações terão sucesso, mas, quando você olha sob o capô da história, percebe que existem algumas forças poderosas impelindo os dois lados a dizerem sim para Kerry - e ao menos considerarem dizer sim uns aos outros - de modo que vale a pena deixar isso se desdobrar um pouco.
Comecemos por um pequeno item no jornal britânico The Independent de 24 de julho, que começou: “Ele já cantou You Gotta Get Outta This Place, mas agora Eric Burdon não precisa nem mesmo comparecer, após decidir cancelar um concerto planejado em Israel (...) O vocalista do The Animals, cujos sucessos incluem House of the Rising Sun e San Franciscan Nights, se apresentaria ao lado de bandas locais israelenses em Binyamina (...) Mas, em uma declaração, o empresário de Burdon disse: ‘Nós estamos recebendo crescente pressão, inclusive numerosos emails ameaçadores, todos os dias (...)’. Burdon foi apenas o mais recente de um crescente número de artistas e intelectuais que começaram a boicotar Israel por causa da questão da ocupação”.
A continuidade da ocupação da Cisjordânia por Israel está isolando o Estado judeu cada vez mais. Pouco antes do primeiro-ministro Bibi Netanyahu concordar com essas negociações, a União Europeia anunciou novas diretrizes proibindo a UE de financiar ou cooperar com quaisquer instituições israelenses em território tomado durante a guerra de 1967. Isso envolve verbas de pesquisa, bolsas de estudo e intercâmbios culturais. A UE está considerando exigir que qualquer produto feito nos assentamentos da Cisjordânia seja rotulado como dessa proveniência (alguns estados individuais da UE já fazem isso) para facilitar que os europeus os boicotem. Essas são tendências perigosas para Israel.
A UE é uma das maiores parceiras comerciais de Israel. E some a isso o fato de a Palestina ter recebido o status na ONU de “Estado observador não membro”, de modo que o presidente Mahmoud Abbas está em posição de pedir ao Tribunal Penal Internacional que investigue as atividades dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, que são amplamente vistos como uma violação da lei internacional.
Enquanto isso, Abbas estava vendo uma situação na qual a turbulência no mundo árabe está deixando de lado tanto a questão palestina quanto enfraquecendo seu arquirrival Hamas, que era apoiado pelo regime sírio e pela Irmandade Muçulmana do Egito. Se Abbas - que tolamente não aproveitou a oferta do primeiro-ministro israelense Ehud Olmert de um acordo de dois estados em 2008 - não aproveitar este novo esforço norte-americano, não está claro quando o próximo ônibus passará perto dele.
Se tudo isso explica por que os dois lados sentiram que essas conversações eram necessárias, o que faz com que pareçam impossíveis é o simples aumento de obstáculos. Existem cerca de 350 mil colonos judeus na Cisjordânia e pelo menos entre 50 mil e 80 mil teriam que ser retirados, mesmo após trocas de terras. Existem dezenas de milhares de refugiados palestinos vivendo fora da Cisjordânia e de Gaza que terão que ser persuadidos que podem retornar a esses dois lugares, mas nunca para seus lares originais em Israel pré-1967. O Hamas tentará usar quaisquer concessões de Abbas para miná-lo, enquanto os direitistas em Israel enlouquecerão diante de qualquer devolução israelense em Jerusalém, e os palestinos condenarão qualquer líder que não restaure a presença palestina lá.
E não tenha dúvidas: apenas a tentativa de fazer a paz terá consequências no minuto em que os dois lados revelarem seus mapas. Ninguém deve esquecer quão loucos são alguns colonos israelenses de Israel. Eles assassinaram o primeiro-ministro Yitzhak Rabin quando ele tentou ceder parte da Cisjordânia pela paz. Também não se deve subestimar a capacidade dos palestinos linha-dura de gerar violência suicida quando lhes restar apenas desespero ou uma sensação de terem sido traídos por sua liderança.
Mas não fazer nada também prometia desastre - controle israelense permanente da Cisjordânia -, e acho que o centro nas duas comunidades passou a ver isso. Repito: eles não voltaram à mesa por acaso ou para nos agradar. Mas dizer sim uns aos outros exigirá um novo tipo de liderança por parte de Abbas e Netanyahu. Eles terão que ajudar um ao outro a enfrentar seus respectivos oponentes internos em vez de usar um ao outro como desculpa para não fazer isso. Como e se eles farão isso é o drama que você está prestes a ver. Puxe uma cadeira.
Tradução: Daniela Nogueira
danielanogueira@opovo.com.br
Thomas Friedman
tendencias@opovo.com.br
Colunista de assuntos internacionais do New York Times, Friedman já ganhou três vezes o prêmio Pulitzer de jornalismo. É autor do best-seller O Mundoé Plano
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