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Em 1996, Fortaleza ocupava uma posição discreta no ranking de taxas de homicídios das capitais brasileiras. À época, a cidade era a 18ª colocada, com um índice de 38,3 homicídios por 100 mil habitantes. Vitória (92,3), Rio de Janeiro (86,6) e Recife (82,5) despontavam nos primeiros lugares. Em 2014, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a capital cearense passou à incômoda liderança nacional do ranking, com uma taxa de 77,3 homicídios a cada 100 mil habitantes. O que aconteceu nesses quase 20 anos? Por que nos tornamos uma cidade tão violenta?
Antes de começar a responder essas questões é importante deixarmos de lado justificativas que mais atrapalham que ajudam. A primeira delas diz respeito à falta de uniformidade na produção das estatísticas. É fato que há estados que contam com maior cuidado que outros na hora de contabilizar os assassinatos. A falta de uma metodologia única prejudica a compreensão do fenômeno tanto para quem pesquisa quanto para o cidadão. O Ceará avançou muito nesse quesito e não deve retroceder no processo de fornecer maior transparência e confiabilidade aos dados. Ainda que estados vizinhos possam burlar a contagem, uma taxa acima de 70 por 100 mil habitantes representa o dobro da média nacional (que já é bastante elevada), ou seja, muito além do que se pode considerar como aceitável.
A segunda justificativa é a de que a divulgação de notícias como essa do ranking afugenta turistas e prejudica a economia do Estado. Tal visão desconsidera o fato de que as pessoas costumam se informar sobre onde vão com amigos e conhecidos. Não reconhecer o problema do ponto de vista oficial é uma tentativa frustrada de resolver a questão além de inviabilizar que algo possa ser feito de forma efetiva.
Feitas essas ressalvas, um ponto de partida para pensarmos a questão é o trabalho de Daniel Cerqueira, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e autor da tese “Causas e consequências do crime no Brasil”, que trata da distribuição territorial dos homicídios no Brasil e foi vencedora do 33º Prêmio BNDES de Economia. O texto completo pode ser acessado aqui: http://bit.ly/1Z16ME8. A partir de uma extensa base de dados, artigos científicos e modelos matemáticos, Cerqueira enumera alguns fatores causais para os homicídios. Por se tratar de um fenômeno complexo, os indicadores funcionam como uma base empírica para que possamos refletir sobre a dinâmica dos homicídios.
Sete variáveis foram definidas: efetivo policial, taxa de encarceramento, percentual de jovens na população, drogas ilícitas, armas de fogo, renda per capita e desigualdade. O estudo mostra o impacto desses fatores na taxa de homicídios de 1981 a 2007. Se, de 1981 a 2000, o Brasil assiste a uma escalada vertiginosa nas mortes violentas, esse cenário começa a mudar entre 2001 e 2007. O período é marcado por melhorias nas condições de vida, uma política mais eficaz de controle das armas de fogo e aumento nas taxas de encarceramento.
A melhora na maioria dos fatores causais provocou uma redução no número de homicídios nos estados mais violentos. Segundo Cerqueira, “o aumento da renda per capita e a sistemática diminuição da desigualdade de renda fizeram diminuir os incentivos a favor do crime. O envelhecimento da população também teve um efeito substancial para fazer cair a taxa de homicídios no País”. Em São Paulo, por exemplo, a taxa caiu 64% entre 2001 e 2007. O Ceará, no mesmo período, só obteve melhoria em dois indicadores: renda e diminuição da desigualdade. Os fatores socioeconômicos que beneficiaram os estados como um todo não foram capazes sozinhos de reduzir a mortalidade violenta no Estado. Faltaram políticas públicas específicas para a população jovem e o efetivo policial por muito tempo esteve defasado. Em contrapartida, o mercado de drogas ilícitas e a circulação de armas de fogo tornaram-se onipresentes. A soma de todos esses fatores levou a uma “tempestade perfeita” no que diz respeito às taxas de homicídios no Estado. Como resultado, de acordo com o Ipea, os homicídios cresceram 92% no Ceará entre 2000 e 2010.
É preciso atualizar a trajetória dos sete fatores causais de 2007 para cá para que possamos ter um quadro mais aproximado da dinâmica da violência estrutural no Ceará. É possível perceber, contudo, sinais de reação por parte do Governo do Estado. A trajetória ascendente de homicídios deve ser interrompida em 2015. Se os rankings de violência são frequentemente contestados, eles trazem um aspecto bastante positivo: o de criar um sentimento de urgência nos governantes. Afinal, quem se sente confortável em morar na capital mais violenta do País?
Ricardo Moura
Esta coluna é publicada às segundas-feiras
O jornalista escreve esta coluna quinzenalmente
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