Raymundo Netto 13/08/2016

O Ceará em Quadradinhos

notícia 0 comentários


A primeira grande manifestação das histórias em quadrinhos do Ceará se deu com Luiz Sá (1907-1979), desenhista, caricaturista, ilustrador, quadrinista, pintor, cenógrafo e publicitário. Luiz era filho e neto de desenhistas (o avô, também Luiz Sá, foi o único desenhista e pintor entre aqueles que fundaram o movimento de letras e artes conhecido como Padaria Espiritual, e a sua mãe, Francisca Sá de Araújo, professora de desenho na Escola Normal) e, ainda enquanto estudante do Liceu, elaborava um jornalzinho a mão, denominado Charleston. Antes de partir para o Rio, por volta de 1928/29, na busca de “tentar a vida”, ainda trabalhou como gravador de clichê em jornal e colaborou em revista humorística em Fortaleza.


No Rio de Janeiro, passou por maus bocados até conseguir publicar na Tico-Tico, a primeira revista em quadrinhos do País, em que nasceram seus mais famosos personagens: os “redondos” Reco-Reco, Bolão e Azeitona. Daí, não parou mais, aventurando-se, inclusive, pelo cinema de animação, sendo um dos pioneiros no Brasil, ilustrando panfletos e cartilhas do Serviço Nacional de Educação Sanitária – onde trabalhou por 12 anos –,aberturas de jornais cinematográficos e das emissoras de TV Rio, Continental e Globo, e até desenhando ao vivo para plateias de programas de auditório da Rádio Globo.


Em 1938, Luiz Sá, que daqui saiu anônimo, sem lenço nem documento, visitaria agora a sua Fortaleza, em breve passagem de “celebridade”, sendo anunciado por João Jacques no jornal O POVO: “conhecido a princípio através do trabalho que o granjeou apenas franquia nas páginas da imprensa diária e das melhores revistas do País, já é agora um ilustrador disputado, um colaborador cuja assiduidade todos desejam sem restrição.” Naqueles tempos, assim como ainda hoje na provinciana terrinha, os artistas têm que ser validados pelos cariocas e/ou paulistas para ser “disputado” por aqui, já que a crítica local, seja ela de qual linguagem for, inexiste, sendo exercida en passant apenas por amigos e bajuladores.


Assim, no dia 7 de fevereiro de 1938, às 19 horas, após visitar a redação de O POVO e conversar com seus redatores, seria aberta a sua exposição (a “Feira Artística”), como de costume na época, no hall do Cine Moderno, na Praça do Ferreira, sob o patrocínio da Sociedade de Cultura Artística. Eram cerca de 20 quadros, dos quais mais da metade foram vendidos para famílias cearenses. Onde estarão? Ainda existem?


No dia 12 de março, véspera de seu regresso pelo paquete “Almirante Jaceguai”, amigos e admiradores lhe ofereceram um jantar no restaurante do Baquial Hotel, na Praia de Iracema, “regado a vinho e cerveja”. Entre os presentes, Florival Seraine, Renato Soldon (que discursou em nome do grupo) e Paurillo Barroso. Não encontramos mais nenhum registro de vindas de Luiz Sá ao Ceará, desde então, e, após 41 anos, 14 de novembro de 1979, nosso caricaturista faleceria em Niterói, vitimado por complicações pulmonares, sequelas de uma insistente tuberculose adquirida ainda nos primeiros dias de fome e de sufoco em terras guanabaras. Morre o quadrinista... a sua obra morre com ele?

espaço do leitor
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro a comentar esta notícia.
0
Comentários
500
As informações são de responsabilidade do autor:

raymundo netto

RSS

raymundo netto

raymundo netto

Atualização: Quinzenalmente às Terças-Feiras

TV O POVO

Confira a programação play

anterior

próxima

Fortaleza

  • Em Breve

    Ofertas incríveis para você

    Aguarde

Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje

Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object

Newsletter

Receba as notícias da Coluna Airton Monte

Powered by Feedburner/Google