Troquei e-mails com Águeda Muniz (Seuma), Artur Bruno (Sema) e conversei por telefone com o geógrafo Jeovah Meireles (UFC). Seguindo na conversa sobre o vão administrativo do Parque Natural Municipal das Dunas da Sabiaguaba e a Área de Proteção Ambiental dali. Vácuo gerador, por exemplo, de invasões.
A secretária Águeda me respondeu que era um “equívoco” afirmar que o Parque não possuía gerenciamento. O Conselho Gestor da Sabiaguaba, que junta à mesma mesa os mais diversos personagens – dos nativos aos donos de grandes terrenos que querem fazer negócio nas dunas (CE-251) -, faria as vezes de administrador. Ela é a presidente.
Disse mais. O Conselho funciona desde 2013 e trouxe para a comunidade Gereberaba água encanada. Iluminação pública. Transporte coletivo. Informou que os “administradores” do Parque têm a obrigação de se reunir bimestralmente.
E disse outras. Que as invasões às terras públicas do Parque de Dunas eram coibidas “diariamente” pelo Grupo de Trabalho de Ocupações Irregulares (GTOI), coordenado pela Secretaria da Segurança Cidadã e participação da Defesa Civil, Seuma, secretarias regionais e Polícia Militar.
Pois muito bem. O modelo do Conselho Gestor da Sabiaguaba não dá conta do que vem ocorrendo ali nos 467,60 hectares do Parque e dos 1.009,74 da APA. Falta um administrador, sede, laboratórios de pesquisa, pesquisadores, trilhas sustentáveis, transporte, programa de educação ambiental, fiscais, segurança...
Como não há sistematização de ações nem existe fiscalização permanente do território nem há investimento na afirmação da “existência” do Parque, a Cidade não percebe o lugar e por isso não o compartilha. E, naturalmente, é insensível aos mundos daquele “planeta” de dunas móveis, fixas, semimóveis e praia.
“Equívoco” é a secretaria Águeda afirmar que “diariamente” o GTOI “coíbe” as invasões. Não é verdade. Resolvi acompanhar uma ocupação, que começou há dois meses, na beira da CE-251. Até agora, não cruzei com fiscais nem esbarrei em nenhum conselheiro-gestor-administrador.
Apresentei-me como interessado em comprar um terreno na área invadida da APA e do Parque. Uma senhora (a conversa está gravada) me ofereceu um lote por R$ 3 mil. Sem documento, na lei do bigode. Tranquila.
Custava cinco mil. Baixou. Invadiu a convite da irmã, que mora da Praia do Futuro. Ela, mesma, mora no Mucuripe. Além dela, o cunhado, a mãe do cunhado e outros parentes... também ficaram com um pedaço das dunas. Águeda disse que esse povo tinha sido posto pra fora, mas voltou.
O caos na “gerência” do Parque da Sabiaguaba (que existe, mas não existe) dará no que é hoje o Parque do Cocó. Jeovah Meireles fez a observação. Vai ser comido pelas beiradas. Antropizado por ricos, não miseráveis e pelo próprio Poder Público.
Vão chegar os shoppings, os prédios, os hotéis, oficinas de carros, viadutos... Parque aquático... A insustentabilidade. E, para compensar o impacto além da conta, se traçarão planos de compensação ambiental... Replantio de mudas nativas... Desassoreamento dos mananciais... Tudo igual ao que se deu com a floresta, rio e mangue do Cocó.
DEMITRI TÚLIO é repórter especial e cronista do O POVO demitri@opovo.com.br
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