das antigas 05/06/2016

Confissões de um ex-torturador

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Demitri Túlio demitri@opovo.com.br

Há um ex-torturador da ditadura militar de 64/85 que, vez ou outra, me liga ou escreve para dizer desaforos e fazer provocações. Vive num corpo de mais de 80 anos e não se acha um idiota ou assassino, embora tenha participado da tortura e morte de pelo menos um preso político do Ceará.

Idiota pra ele, que está preso no passado, é o povo comunista do PT. Era um povo que vivia pregando a santificação e não conseguiu se diferenciar das corriolas do PSDB, do DEM e, principalmente, do PMDB. Diz-me.

Pra ele, Bolsonaro seria o padrinho ideal para os bisnetos. E, cheio de certezas, vive a repetir que vagabundo bom é vagabundo morto; que baitolagem tem cura e que mulher de decote pede para ser tascada.

Pois desde que Sérgio Machado se tornou o delator mais proeminente da era da redemocratização, ele não para de me escrever ou telefonar. Manda até telegramas. Na cabeça dele, até os canalhas têm de ter escrúpulos.

Às gargalhadas, berra que o ‘frouxo’ da Transpetro redimiu até o Cabo Anselmo. Algo quase semelhante ao que a Seleção Brasileira de 2014 fez com o Brasil de 1950. Depois daquele 7 a 1 vexatório para os fogoiós, Barbosa finalmente se livrou do assombro uruguaio.

Sim, o ex-torturador da era Médice ficou possesso com a tocaia armada por Sérgio Machado para pegar um por um dos padrinhos ou compadres que lhe deram a Transpetro como bodega para fazer negócios particulares. Fez melhor do que o Cabo Anselmo, arrelia.

Numa coisa tinha de elogiar a ex-esquerda brasileira que não se metia, naquele tempo, com empreiteiras. Quem delatou no 64/85 o fez por não aguentar tanto pau-de-arara, tanto saco-d’água, palmatória, choque elétrico... Ou quem via na entregação a chance de passar para o outro lado.

Mas abrir tudo sem sentir nem uma dorzinha na unha? Na ética às avessas do ex-torturador, Sérgio Machado não lhe causaria prazer no trabalho que repetiu durante os anos em que o inferno foi aqui.

Apenas foi ameaçado de ser preso por Moro e, além de se entregar, ofereceu na bandeja quem o tinha na conta de fiel. Aí, horrorizou-se o ex-torturador, mora a diferença entre os delatores da Lava Jato e os ex-presos políticos de 64/85.

Fiel e leal são coisas diferentes, berrou. A lealdade não permitiu que Dilma abrisse nada quando esteve nas mãos da Operação Bandeirante. Nem o culpado Zé Dirceu, mesmo agora com o Mensalão e a Lava Jato, abriu o bico para enredar ninguém.

Havia um ideal romântico nos torturados de 64/85 diferente da covardia do salve-se quem puder dos delatores da Lava Jato. Dilma apanhou, perdeu um dente, foi para o pau, tomou descargas, sofria com a espera da hora do destroço da dignidade... mas ali. Nem o verme do capitão Albernaz a tirou do prumo.

Ainda bem que a Lava Jato existe, independente das vaidades do juiz, e a ditadura militar não é mais a espada no Brasil. É a minha única resposta para o ex-torturador e sua espera solitária pela morte que faz pouco dele.

DEMITRI TÚLIO é repórter especial e cronista do O POVO demitri@opovo.com.br

espaço do leitor
Lunga Jr 05/06/2016 08:38
Quem ousa escrever o que quer tem de ter coragem para ler o que não quer, se liga Túlio, os revolucionários de ontem são os ladrões de hoje, cresceram e aprenderam? quiçá.
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