[an error occurred while processing this directive] Holandeses no Ceará | O POVO
ana miranda 06/03/2016

Holandeses no Ceará

notícia 2 comentários
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Ana Miranda S/ Email

Este fim de semana esteve em minha casa um jovem holandês de Roterdã. Tão gentil, delicado, simpatia pura, ele me fazia imaginar como seria o Ceará se tivesse continuado nas mãos dos holandeses, e Fortaleza fosse uma cidade nascida e criada holandesa, e falássemos hoje a língua neerlandesa. Goedendag, hoe gaat het met je? Teríamos diques imensos represando as águas dos rios? Moinhos de vento e plantios de tulipas de todas as cores, até o horizonte? Uma rainha, navios, tamancos, galerias de pintura e tapeçarias... Todo mundo andando de bicicleta... Em vez de tapiocas, poffertjes. E no lugar de bolinhos de vento, oliebollen. Talvez até nevasse por aqui.

Tem muita gente que acha que a culpa do que está acontecendo nos dias de hoje é da colonização portuguesa, e que se tivéssemos sido colonizados pelos holandeses tudo seria bem melhor. Outros, acham que é melhor olharmos os países africanos que foram colônias holandesas.

Claro, naquela época tudo era brutalidade, mas fora os tiros e incêndios a missão de Nassau veio com um refinamento extraordinário que ainda hoje ilumina aspectos do Recife, apesar de ter permanecido por tão pouco tempo. Fato é que eu olhava aquele rapaz de cútis alva, calmo, que terminava de comer e se levantava para lavar o prato, e tentava imaginar o primeiro holandês que pisou a nossa terra. Fui olhar no livro O Siara na rota dos neerlandeses, organizado por J. Terto de Amorim. Ali descobri. Foi um comerciante chamado Sijens, vindo de uma ilha na província de Noord Holland. Sijens desembarcou na Baj von Moucuru em novembro de 1600. Deve ter sentido o mesmo deslumbramento que meu holandezinho olhando as dunas e os verdes mares da Prainha. Uma emoção inspirada, os olhos sonhadores perdidos na paisagem.

Decerto acalentado por histórias que contavam os judeus portugueses refugiados na Holanda, após perseguições da Inquisição, Sijens veio em busca de mercadorias que davam lucro, como o pau-brasil, e das afamadas minas de prata. O Ceará já era rota de navegação para os holandeses. Lugar para se conseguir descanso, caça, água fresca, farinha de mandioca e seguir viagem. Sijens visitou um assentamento de cinco mil índios perto da Barra do Ceará, depois viajou para uma serra no interior. Os índios lhe ofereceram algodão silvestre, tabaco, pimenta, favas turcas e nitrato. Sijens queria o valiosíssimo âmbar, e bálsamo, produtos que costumavam enriquecer os navegadores holandeses. Mas só levou uma carga do pau-amarelo, o tatajuba. E aves comestíveis. Depois vieram Clop e Cluit com a nau carregada de espelhinhos, facas, panos, para fazer escambo com os índios, foram até a Ibiapaba, e levaram pau-violeta. Mas a essas alturas já havia holandeses instalados no Ceará. Ameland visitou-os e disse que era um assentamento pequenino, com umas doze casas, e um castelinho cercado de paliçadas. Tinham plantado algodão, milharais, canaviais, produziam açúcar, negociavam com cristal, prata, cobre, peles e madeiras. Cá estavam os holandeses e seus pastores calvinistas.

Chegamos a ser uma província holandesa, suportada por Tobaiaris, Teermenbees e outros povos aliados. Os holandeses tentaram fazer riqueza a partir de salinas, mas tratavam mal os índios e acabaram expulsos, ou assassinados. Em 1649 voltaram, comandados por Matias Beck, que construiu o nosso comentado forte Schoonenborch, nome complicado que qualquer criança cearense sabe dizer. Matias plantou mandioca, ordenou a feitura de mapas, encontrou minas de prata, e a coisa andava bem. Mas os holandeses tiveram de se retirar após a derrota dos Países Baixos na guerra
contra Portugal.

Lá se foram, com saudades da maniok, “saborosa e doce de comer”, amargando um tremendo prejuízo. Deixaram-nos pouca coisa, mas preciosa: estradas, uma farta cartografia, canhões, olarias, engenhos, fortalezas, desenhos, diários... E séculos depois, cá está o rapaz holandês a provar um pirão de peixe, tomando água de coco, aprendendo a dizer Bom dia, Obrigado, Tudo bem, enquanto eu me entrego a devaneios, matutando, Mas, e se tivéssemos sido colonizados por ingleses? ou se fôssemos cultura indígena pura, sempre deitados nas redes debaixo dos cajueiros, comendo peixe na tapioca, e flechando os invasores que ousassem incomodar? Assim como seus antepassados, o jovem holandês permaneceu pouco tempo por aqui, deixando, todavia, questões históricas e culturais em nossas mentes, e afetuosas saudades em nossos corações.

Lá se foi ele, com sua linda namorada ruiva, rumo a Jurriquaequaerre.

espaço do leitor
J Terto de Amorim 01/08/2016 08:06
Ana Miranda, interessante ponte entre os dias atuais e a história.
vandick 06/03/2016 10:43
Se o Ceará fosse holandês,Guaramiranga seria a cidade das tulipas "mais bonitas do mundo"...
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