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Um dos assuntos que considero mais fascinantes é a etimologia. De onde vêm as palavras? Como surgiram? Que caminho percorreram? Que significados tiveram? A palavra que me parece mais misteriosa é o nome de nossa terra: Ceará.
Até chegarmos a este nome, Ceará, foram diversas as grafias e sonoridades. Os portugueses fizeram muita confusão, em alguns documentos escreviam Seara, em outros, Seará, ou Siara, ou Siará, Ciará, e até Ceará. Colonos chegavam a dizer: Ponta de Caba das Sirra Siara.
Os holandeses queriam conquistar a região do Cirra, e falam no rio Sijara; ou na capitanie van Sijra. Estudos econômicos mencionavam a Província de Siara, um mapa de Gerbier vendia aos ingleses informações sobre a zilvermijn van Chiara, enfim, só os holandeses, para registrar o nome da capitania, do rio ou do forte, usaram: Sijara, Sijra, Siara, Sirra, Chiara, Ciara, Cirra, Ziera, ou Syará. De toda forma, o nome Ceará é antigo, já se encontra numa carta do padre Luís Figueira em 26 de março de 1608. Mas o que significa a palavra ceará?
Algumas interpretações antigas nos surpreendem. Antônio Bezerra levantou a hipótese de que Ceará era uma corrupção de Sahara, o imenso deserto africano que os primeiros exploradores acharam parecido com as terras ainda sem nome, repletas de dunas alvas. Diz Bezerra que, ainda no começo do século 20, escutava muita gente dizer Sahará. Teodoro Sampaio acreditava que ceará significava simplesmente uma casta de papagaios. Na Paraíba, ceará significa charque.
Mas o Senador Pompeu nos dá uma explicação diferente, em seu dicionário topográfico: segundo ele, o nome Siará viria de suia, que é caça, e foi dado em virtude da abundância de caça na região. O José de Alencar, que não era etimólogo mas tinha muita intuição linguística, refutou: essa etimologia era forçada, porque a palavra certa, em tupi, seria suiaiba – iba significando quantidade.
O nome ceará teria sido dado por índios potiguares, que estavam fugindo de suas terras no Rio Grande do Norte, a um pequeno rio e uma barra, onde encontraram bandos de aves em tal quantidade que em nenhum outro lugar tinham visto. A palavra, segundo Antônio Bezerra, era composta de çôo, sôo, ou sûu, que significava caça; e ara, que era pássaro. Pássaros para caçar.
Verdade, a capitania do Ceará tinha fama de muita fartura de caça, e havia aqui tantas aves que mal se podiam proteger as lavouras de suas vorazes bicadas. Antigas câmaras municipais chegavam a obrigar os moradores a matar, todos os anos, um certo número de aves. No Aquiraz, em 1750, disposições determinavam que “os lavradores seriam obrigados a dar doze cabeças todos os annos a câmara de periquitos e outros passaros que fazem damno, e não dando as ditas cabeças dentro do anno seriam condemnados em doze mil réis”. Ainda em 1804, foi dada uma ordem pela câmara de Fortaleza para que todos os lavradores do termo da vila fossem obrigados a apresentar ao escrivão trinta cabeças de pássaros de bico redondo – ou seja, jandaias. Porque aqui sempre houve muita jandaia.
Mesmo com as ordens de extermínio, essas aves não foram extintas, e quem atravessa o sertão, diz Antônio Bezerra, “ainda ouve continuamente, a longa distância, a animada algazarra que fazem os periquitos em bandos imensos à sombra das árvores, sobretudo das oiticicas, nas horas quentes do sol”.
Muitas são as descrições antigas que mencionam a algazarra de papagaios, periquitos, quero-queros, jacus, corrupiões, xexéus, bandos extraordinários de pombas avoantes, e outras aves. Pois então, além de Terra de Luz, o Ceará deveria receber o epíteto de Terra de Aves. Jandaia, no dicionário, é nome comum para as aves psitaciformes, psitacídeas, do gênero Aratinga, que são comuns em todo o Brasil. Mas, também é a A. Jantaia, ou maritaca, nhandaia, nandaia, periquito-rei, a ave que conhecemos tão bem: amarela, de dorso verde, as asas azuladas e o rabo do verde ao azul, linda! E barulhenta.
Quase todos concordam, hoje, que Ceará significa “canto da jandaia” - tradição referida por Aires de Casal em Corografia brasílica, e adotada por José de Alencar numa nota em Iracema. Gosto desse significado, é bonito, e faz sentido, segundo a explicação de Alencar: “Ceará é nome composto de cemo – cantar forte, clamar, e ára – pequena arara ou periquito”. De cemoára a Ceará o caminho não é longo.
A complicação não termina em Ceará. Será que alguém consegue adivinhar que lugares são estes, de nossa antiga geografia? Buapava, Jagoripe, Camori, Jaguarnambi, Jaracoara...
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