[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Invente suas canções | O POVO
ARTIGO 31/03/2013

Invente suas canções

O JORNALISTA DAWLTON MOURA elenca alguns exemplos, "entre tantos possíveis", da produção contemporânea no Ceará. Entre reflexões sobre o cenário musical, pistas para descobrir os sons desta multifacetada geração
Fotos de André Salgado/ Arte Guabiras
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Falar sobre novos compositores de destaque em Fortaleza implica, além da satisfação pelo espaço dedicado ao tema, a lembrança imediata de alguns paradoxos que cercam nossa cena musical. O descompasso entre as persistentes carências formativas – apesar de alguns avanços, nos últimos anos – e o constante surgimento de novos e impressionantes músicos. A falta de um mercado que se configure plenamente como tal – prescindindo ainda de certas condições e etapas, de mais fomento, estofo, porte, profissionalismo e principalmente visibilidade – e a numerosa oferta de produtos, concebidos e levados a termo mesmo nesse contexto.

 

A riqueza e a variedade de expressões artísticas e propostas estéticas e a dificuldade comum a muitas delas: a de chegar ao público, angariar repercussão, ocupar espaços, despertar reações (favoráveis ou não), galgar instâncias de consagração que as legitimem e impulsionem a um novo patamar de consequências e notoriedade. A nova e a novíssima gerações, vez por outra confrontadas com expectativas e comparações, como a recorrente questão do porquê de nossa música popular não ter tornado a se projetar nacionalmente em dimensões semelhantes às de tempos e cenários outros, não têm como responder a essas questões apenas do ponto de vista estético. Nem estão, aliás e felizmente, preocupados em fazê-lo. Não é por serem menos talentosos, criativos ou obstinados, em relação a colegas de décadas anteriores, que tantos nomes que hoje buscam os caminhos de seus fazeres musicais por entre as praças reais e virtuais têm encontrado dificuldade em se consolidar localmente e se destacar em outros planos.


Do mesmo modo que não se pode relativizar nem a coragem, nem o notável mérito artístico e empreendedor da geração que reinseriu o Ceará no mapa da indústria fonográfica brasileira, não é razoável, nem verossímil, que novas e novas levas de compositores, intérpretes, instrumentistas sigam, tempos depois, sendo percebidas de modo enviesado, olhadas erroneamente através de lentes de outros momentos. Poucos setores mudaram tanto, não só pelas novas tecnologias mas por circunstâncias, decisões e equívocos de mercado, quanto a música. Não apenas seu consumo se modificou, no limite da compressão da indústria fonográfica e do showbizz, mas a própria forma de relacionamento do público com a música passou por um significativo deslocamento.


Enquanto a agenda dos grandes meios de comunicação se mantém tediosamente mais uniformizada, incapaz de traduzir a efervescência do que acontece nas tantas esquinas do Brasil, é potencialmente infinita a oferta de novas opções ao ouvinte. Mas, enquanto tantas mudanças se processam em velocidade cada vez mais vertiginosa, criando novos cenários e potencializando oportunidades para a troca de um eixo por um cenário nacional de muitos e inquietos polos, nossa cena musical segue procurando resolver – ou conviver do modo possível com – as citadas questões relativas a produção, difusão, visibilidade. Conhecimento e reconhecimento (não necessariamente aplauso, mas também o exercício do não, igualmente importante). Sentimento de pertença em relação a nossos artistas, sem os velhos complexos “das dificuldades, da falta de apoio”, sem obrigações de pretensa genial originalidade, sem estereótipos geográficos ou estéticos. Apenas a presença, devidamente perceptível.


A necessidade de ainda equalizar melhor essas questões deixa pistas para se compreender o fato de tantos novos nomes de nosso cenário musical serem ainda desconhecidos por grande parte do público de nossa própria cidade. E desafia até mesmo o mote inicial dessas reflexões, tendo em vista que é impossível falar tão somente de uma novíssima geração, mas de várias “safras” que se sucedem e muitas vezes se superpõem, também dialogando. E guardando em comum o fato de terem, todas elas, trabalhos ainda por serem descobertos.


O cardápio é vasto e não há, objetivamente, como escapar do velho risco das omissões, inerente à tarefa de listar alguns dos destaques desse vasto, multifacetado cenário. Longe, portanto, de qualquer pretensão de apontar um suposto roteiro (muito mais rico é convidar o leitor a descobrir por si, a partir de seus próprios referenciais e hábitos). Elenquemos apenas alguns exemplos, entre tantos possíveis.


Embora a canção sempre salte à mente, há que se chamar atenção também para a música instrumental, que tem contado com o talento de performers também dedicados com à criação de seus próprios temas. Assim o fazem, por exemplo, o jovem violonista Marco Leonel Fukuda (com destaque a composições para violão solo, reunidas em seus dois discos), o multi-instrumentista Ayrton “Bob” Pessoa (além de um criador de canções com os colegas do grupo Argonautas, escultor das harmonias e melodias de seu Manual Prático da Saudade, que reinventa influências choronas) e o violonista e guitarrista Cainã Cavalcante, atualmente preparando um DVD que privilegia sua produção autoral.


Entre os que se dedicam aos mistérios e seduções da canção, o também cantor e violonista Fernando Rosa não pode ser considerado um estreante, mas suas composições se destacam pela precoce maturidade e pelas boas soluções para as dualidades entre redundância e novidade, fio em que se equilibra a canção popular. Transmissor de um regionalismo que soa sincero e nunca simplório, Fernando, que une a linguagem saudavelmente brejeira de um Eugênio Leandro às harmonias enriquecidas pela formação universitária, vem tecendo sua obra entre dois belos discos próprios, clássicos em potencial como Coivara e Águas do esquecimento e muitos prêmios em festivais.


De geração próxima, o compositor (e também escritor e dramaturgo e produtor cultural) Alan Mendonça reúne em torno de si uma legião de parceiros que exemplificam bem esta nova cena da canção cearense. São, literalmente, centenas de canções tecidas a muitas mãos, perpassando gêneros como rock, baião, valsa, maracatu, coco, blues, balada, incursões na música erudita, entre dezenas e dezenas de coautores que conjugam as especificidades de seus trabalhos à poesia e ao vocabulário próprio das letras de Alan. Marcas de um lirismo multiforme, mas reconhecido em índices daquilo que mais agrada e desafia um bom compositor: um sotaque próprio, uma maneira de dizer, uma identidade. Entre os compositores que se dedicam principalmente à letra, podem ser citados nomes como os de Antônio Filho, Fábio Marques, Francélio Figueiredo, Marcos Lupi e Silvia Bezzato, em meio a outros, de diferentes influências e propostas.


Com trabalhos e expressões diferentes entre si, mas unidos pela dedicação ao autoral, podemos citar novos cantores e compositores como Artur Menezes (que une o blues e o regional a muitas outras cores, do soul ao pop), Caio Castelo (ora angariando elogios para seu disco de estreia, com composições, também no coletivo Comparsas da Vivenda, com parceiros como Allan Diniz, João Paulo Peixoto, Richell Martins e Samuel Goes), Carlos Hardy (autor de temas instrumentais e também canções em parceria), Claudio Mendes (com o pop-rock criativo da banda Mobilia), Danilo Guilherme (entre reggae, pop, eletrônico), Davi Silvino (com o belo disco Produto local), Edinho Vilas Boas (compondo música e letra, ou dividindo criações com parceiros como Rui Farias), Felipe Breier (em composições solo ou com parceiros como o citado Alan Mendonça), Felipe Cazaux (outro a partir do blues para ir bem além, com muita intensidade), Felipe de Paula (com uma musicalidade bem cuidada e sem medo de ser popular), Gustavo Portela (sempre arregimentando trabalhos coletivos e autorais), Ivan Timbó (investindo na pesquisa de sonoridades), Jácio Cidade (do regional ao lírico), Jânio Florêncio (explorando timbres eletrônicos), Joyce Custódio (vestindo poemas de melodias), Jefferson Portela e Jord Guedes, assíduos em shows e festivais.


Outros possíveis pontos de entrada para mergulhar nesta nova cena são Lenine Rodrigues (violonista também dedicado à composição), Lia Veras (percorrendo terrenos de lírica delicadeza no descobrir-se compositora), Lídia Maria (cantora e bandolinista que também vem destacando suas criações), Lorena Nunes (cantora que produz parte de seu próprio material), Luciana Costa (multi-instrumentista que vem priorizando suas obras nas apresentações), Luciana Lívia (nos rocks e baladas da Mafalda Morfina), Marcelo Pinheiro (com mais tempo na estrada roqueira, mas renovada verve nas 15 canções do novo disco Além dos Rótulos), Marcos Lessa (magistral intérprete que, sozinho ou na companhia do violonista Eduardo Holanda, também vem investindo na composição), Oscar Arruda (entre o rock e o experimental), Rodrigo Oliveira (egresso de grupos e festivais), Tom Drummond (também multi-instrumentista, músico popular e erudito e autor de canções premiadas), Vitoriano (com vários projetos e formações, mas sempre reservando atenção ao autoral), Zé Rodrigues (entre influências roqueiras e bem cearenses), entre tantos, tantos outros. Dos novos aos novíssimos, dos rappers aos roqueiros, dos “emepebistas” aos eletrônicos, dos “regionais” aos experimentais, mais e mais protagonistas de nossa música vêm fazendo coro ao compositor que ensinou: “Se você quiser se divertir, invente suas próprias canções”. Que possam ecoar cada vez mais.


Dalwton Moura é jornalista, crítico musical, compositor, pesquisador musical e produtor cultural. É autor do livro Nos Acordes do Jazz & Blues.

 

O ORIGINAL


MANERA FRUFRU


MANERA

FAGNER

Ayrton Pessoa ocupa o lugar de Fagner na capa do primeiro álbum de estúdio gravado pelo cantor. Das 13 canções do disco, lançado há exatos 40 anos, Fagner assina nove.

Dalwton Moura .
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espaço do leitor
Vuldembergue Farias 05/04/2013 23:40
Com todo o respeito ao músico, ao compositor, ao psquisador e ao produtor cultural Dalton Moura, esse discurso é muito estreito. Você falou nos nomes de sempre. Há uma revolução musical extraordinária que não contempla quase nenhum desses nomes. Vamos conhecer melhor esse universo musical cearense?
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