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Antonio Airton Machado Monte nasceu em Fortaleza, Ceará, em 16 de maio de 1949. Filho de Airton Teixeira Monte e Valdeci Machado Monte, foi partejado em casa, no Solar dos Monte, na rua D. Jerônimo, no Benfica, bairro que o viu nascer, crescer e passar a maior parte de sua existência, com o qual guardou uma estreita vinculação umbilical, posto que, até mesmo quando mudou-se de casa, o fez para bairros contíguos: Gentilândia e Otávio Bonfim, e, finalmente, no Parque Araxá, igualmente nas imediações do Benfica.
As primeiras letras foram a ele ministradas, no aconchego do lar, por sua avó paterna, a D. Maroca, e, uma vez alfabetizado, fez o Curso Primário no Grupo Escolar Rodolfo Teófilo. Sua formação escolar foi marcadamente propiciada pelo Colégio Cearense Sagrado Coração, onde recebeu esmerada educação marista, sorvendo ali os bons ensinamentos contidos nos livros didáticos da F.T.D., a exemplo da famosa gramática da língua portuguesa do irmão Arnolfo, vindo a adquirir as ferramentas que o habilitaram ao escorreito manejo de nosso vernáculo.
O Grêmio José de Alencar, responsável pela edição da revista Verdes Mares, um tradicional centro cultural do colégio, que movia a juventude marista local e serviu de lastro para as primeiras incursões literárias de tantos autores cabeças-chatas, foi o berçário das florescentes ideias de Airton, ao tempo em que, por certo, se prestava para contemporizar as rusgas do seu comportamento libertário frente à rígida educação ministrada pela Irmandade de Champagnat. Ainda colegial, participou do Clube dos Poetas Cearenses, dirigido por Carneiro Portela.
Ingressou na Universidade Federal do Ceará, em 1970, inicialmente, no curso de Farmácia, no qual estudou durante um ano, e só, em 1971, por novo vestibular, obteve a matrícula em Medicina, tendo ele concluído o curso médico como integrante da Turma JK, de dezembro de 1976.
Desde acadêmico, ele teve o seu interesse despertado para a Psiquiatria, engajando-se no Grupo de Estudos de Psiquiatria e Psicanálise, conduzido pelo Prof. Nascimento Pereira, e realizando vários estágios extracurriculares em hospitais psiquiátricos de Fortaleza, como o Hospital Mira y Lopez, um aprendizado que, em concomitância, com o atendimento que ele prestava na Clínica Psiquiátrica do Projeto Acadêmico Pacatuba, uma atividade de extensão da UFC, sedimentaram a boa experiência que o levou ao exercício dessa especialidade como profissional.
Depois de formado, Airton Monte foi, durante alguns anos, médico da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará, atrelado ao trabalho assistencial no Hospital de Saúde Mental de Messejana, mas, em virtude de seus dotes literários e pendor jornalístico, teve sua lotação remanejada para a Assessoria de Comunicação dessa pasta.
No início dos anos 1970, como letrista, dividiu a autoria de diversas músicas, tendo como parceiros de composição, vários amigos, como: Antônio Luiz Macedo, Paulo Gurgel Carlos da Silva, Antônio José Mendes Forte e Chico Barreto.
Como literato, efetivamente, iniciou-se publicando contos na revista Etc., editada por Ângela Linhares, Paulo Linhares e Cartaxo de Arruda de Jr. À conta do seu caráter editorial irreverente, assumindo ser feita “inter-fêmures”, sofreu forte censura, motivando o fechamento do periódico ainda no terceiro número. Depois, passou a ser colaborador de O Saco, revista criada por Nilto Maciel, Manoel Raposo Coelho, José Jackson Coelho Sampaio e Carlos Emílio Barreto Correia Lima, que também seria alvo de intensa censura do regime militar.
Foi um dos fundadores do Grupo Siriará de Literatura e da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores no Ceará (Sobrames/CE), da qual participaria da primeira antologia, a Verdeversos, editada em 1981. Na década de 1980, fez parte do encarte Pixote, suplemento multitemático do JD, o Jornal do Dorian.
Estreou em livros, no gênero conto, com O Grande Pânico (1979), seguido de Homem não Chora (1981), Alba Sanguínea (1983) e Os Bailarinos (2010). Participou de algumas coletâneas, como Queda de Braço: uma antologia do conto marginal. De sua lavra, saíram também a coleção de crônicas selecionadas de sua coluna no O POVO, adotada pelo vestibular da UFC, Moça com Flor na Boca (1ª. Edição, Fortaleza: Funcet, 2004; 2ª. Edição, Editora da UFC/Coleção Literatura no Vestibular, 2005), além do livro de poesia Memórias de Botequim (Fortaleza: edição do autor, 1979), prefaciado pelo médico e escritor Paulo Gurgel, que venceu o Prêmio Governo do Estado do Ceará em 1979.
O psiquiatra Airton Monte, que escrevia crônica diária, de segunda a sexta-feira, em O POVO, iniciada em 1993, substituindo o também escritor Rogaciano Leite Filho, portanto, há quase 20 anos, configurou uma situação bastante peculiar e até hegemônica, entre os cronistas da Terra da Luz.
Por ano, ele publicava mais de 250 crônicas, significando dizer que ultrapassou a marca das 4500, superando as cifras de afamados e longevos escritores profissionais, dedicados a esse gênero, a exemplo de Carlos Drumond de Andrade, Rachel de Queiroz, Rubem Braga etc., aos quais nada ficava ele a dever, em termos de qualidade dos seus escritos.
Além de cronista do O POVO, comentarista de rádio, redator de televisão, letrista, teatrólogo, Airton Monte foi, primordialmente, poeta e contista.
Terminou seus dias, na sua tão amada Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, em 10 de setembro de 2012, aos 63 anos, cobrindo de luto a literatura do Ceará, que se viu despojada de um dos seus mais fecundos escritores. Com essa perda, expira-se um ciclo dos grandes cronistas cearenses, cuja troica de elite foi composta por Ciro Colares, Milton Dias e Airton Monte.
MARCELO GURGEL CARLOS DA SILVA é membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores e da Academia Cearense de Medicina.
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