[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] Porque a cidade ri e também chora | O POVO
Cidade 12/09/2012

Porque a cidade ri e também chora

Com seu olhar íntimo e esmiuçador, o escritor Airton Monte deixou um legado que retratou as nuances e as delicadezas da Fortaleza que tanto amou
PATRÍCIA ARAÚJO, 13/1/2007
Entre os muitos cenários contados e vividos por Airton Monte, o tradicional Flórida Bar, na Praia de Iracema, foi palco para inúmeras alegrias e encontros do cronista e a irreverente confraria do Clube do Bode
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Airton Monte era daqueles boêmios que viviam mergulhados nas intimidades de uma Cidade cheia de nuances. Nos botecos de esquina, nas conversas de calçada, nas reuniões de amigos à beira da praça em meio a cervejadas, gargalhadas e cigarros, ele ia se redescobrindo para então eternizar o tempo nas suas crônicas.


Viver imerso no cotidiano, enfronhado nas suas delicadezas, era a maior estratégia para fazer brotar a inspiração, mas acima de tudo, era um estilo de vida. Assim, o escritor foi retratando tempos de uma história completamente dedicada ao seu berço.


Com orgulho das suas ancestralidades, ele batia no peito para defender o seu lugar, a sua família, as suas amizades. Pregava a cordialidade, a liberdade, o bom humor em uma cidade que julgava cada vez mais megalomaníaca e, por vezes, fria, mas que amava demasiadamente. “Nunca saí daqui. Nasci na Rua Dom Jerônimo, de parto normal, filho do primeiro amor, do primeiro ‘descuido’, como dizia a minha mãe. E fui criado naquele território mágico da Gentilândia, do Benfica, do Jardim América”, disse, ele em entrevista às Páginas Azuis do O POVO. E foi ali, no bairro boêmio dos botequins universitários, que Airton encontrou muitos dos seus personagens.


Para ele, os pontos positivos de Fortaleza estavam, na maioria das vezes, bem longe dos holofotes de uma cidade turística. Era principalmente nos espaços discretos - mas pulsantes - que ele encontrava inspiração. “O domingo no subúrbio ainda tem coisas boas. Eu vejo na rua do meu pai, vejo na Gentilândia também: Ano Novo e Natal as pessoas entram nas casas umas das outras e levam uma torta, outra leva não sei o quê”, recorda.


Seus lamentos saudosistas eram também protestos por uma cidade mais humana, mais gentil, menos quadrada, como o bairro que lhe construiu. “Fortaleza ensandeceu, enselvageceu. Nós perdemos a democracia da gentileza, a democracia do lirismo. Hoje nós não somos mais próximos, nós somos ilhas de solidão, de desconfiança”.


Mesmo assim, ele ia visibilizando - com seu lirismo lúcido-embriagado – as coisas boas que encontrava: os bêbados de calçada, os doidos de rua, as belas de minissaia e joelhos rechonchudos, os peladeiros dominicais, os velhinhos “baralheiros”, os vira-latas, os mendigos e os gringos atoleimados.


Os personagens que ele encontrava no Benfica, no Centro, na Parquelândia ou na Praia de Iracema eram protagonistas dos seus causos. Essas são apenas algumas das reminiscências do poeta que tinha a cidade como quintal. Fortaleza construiu Airton, agora é também possível dizer o contrário.

 

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