[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] As artes plásticas de Fortaleza | O POVO
trajetória 25/02/2012 - 14h00

As artes plásticas de Fortaleza

Em artigo, Jaqueline Medeiros faz um retrospecto da trajetória do artista Zenon Barreto, contextualizando a atuação dele com os movimentos e escolas das respectivas épocas
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FOTO: DIVULGAÇÃO
A 5ª Bienal de Arte de São Paulo, em 1959, recebeu trabalhos de Zenon Barreto

Zenon Barreto inicia publicamente sua arte em 1949, um período que Fortaleza vivencia uma efervescência nas artes plásticas promovida desde a criação do Salão de Abril (1943) e da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (1944), passando pelo Salão dos Novos (1952) e da Casa Raimundo Cela (1967). Ações que dão visibilidade a talentos em consolidação como Antonio Bandeira, Ademir Martins, Estrigas e Sérvulo Esmeraldo e a jovens artistas como Heloisa Juaçaba, Floriano Teixeira e Zenon Barreto. Grupo este que foi considerado como a geração de artistas responsáveis por introduzir o modernismo nas artes plásticas cearense. O litoral e o cotidiano cearense eram as cenas mais retratadas por esses artistas, exceto Sérvulo Esmeraldo, que adentrava os caminhos construtivos cinético e Antonio Bandeira, que inovava com sua arte abstrata. Zenon se inseria neste cenário temático herdado desde Raimundo Cela, que já no início do século passado pintava jangadeiros e rendeiras.

 

Há uma aproximação temática desses artistas com a segunda fase do modernismo brasileiro, como nos painéis de Zenon Barreto Estivadores (1963) e Trabalhando no Campo (1960). O primeiro retratando o trabalhador portuário, tem as chaminés das indústrias como segundo plano, e o segundo painel retrata vários trabalhadores na construção de estradas. Ambos são símbolos do desenvolvimento brasileiro. Contudo, ao mesmo tempo há um afastamento, uma vez que predominam nos artistas cearenses a sua não intenção de aliar questões sociais aos debates do fazer artístico, como era uma das características daquela fase do modernismo. Havia muito mais a intenção de usar os elementos folclóricos como identidade local e exaltação do sertanejo, a exemplo dos conjuntos de esculturas de Zenon Barreto Mulher Rendeira (1966) e álbum de xilogravura de figuras do Nordeste, como também nos desenhos e pinturas de Ademir Martins Mulher Rendeira (1972 e 1980) e Cangaceiros (1973 e 1982). São temas que nunca foram abandonados na produção de Zenon Barreto. Na década de 1980 o artista retoma com uma série de esculturas em homenagem ao artesão e trabalhador rural, onde utiliza objetos do cotidiano do sertão (lamparinas, arreios, pás e foices) e transforma-os em esculturas não-figurativas. Assim, as ferramentas que têm a força de transformação da terra em alimento, tornam-se inúteis e não têm mais serventia. Em um caminho inverso, o artista Zé Pinto transformava peças de motores, carros, bicicletas e sucatas, de sua oficina de carro, em esculturas figurativas como as esculturas Dom Quixote (1983) e Cachorro de Ferro (1991).


A obra de Zenon Barreto se caracteriza pela busca de novos significados e pela confrontação dos limites da relação dos temas identitários locais com o pensamento moderno e construtivo. Isto pode ser visto nas suas obras geometrizadas e multiplicadas quase ao infinito, como Regresso das Jangadas ao crepúsculo (1960), série Cataventos (1977), painel Peixes (1978) e confirmando pela sua participação na 5² edição da Bienal de Arte de São Paulo, em 1959. Naquela Bienal, a maior parte dos mais de cem artistas brasileiros tinham ligações com o abstracionismo, com grande número de concretistas e construtivistas, refletindo a produção do País naquele momento. Caminho também seguido pela artista Heloisa Juaçaba, que realizou sua abstração e cor na série construtivista de punhos de rede sobre duratex em branco sobre branco. Apesar de serem materiais representativos da tradição indígena, são aliados a uma concepção de ordem puramente geométrica construtiva.


Na contramão dos movimentos de artistas na rota dos maiores centros de arte que sempre existiu a partir de Fortaleza, de Antônio Bandeira em direção a Paris, José Tarcísio, Sergio Pinheiro, Eduardo Eloy e Eduardo Frota em direção ao Rio de Janeiro, Zenon Barreto foi um dos que permaneceu no Ceará e buscou os caminhos dos salões nacionais como forma de inserir sua arte no reconhecimento nacional, assim como Heloisa Juaçaba e Estrigas. Por outro lado, numa postura crítica como lhe é peculiar, Zenon Barreto desempenhou um papel fundamental na cena das políticas para artes plásticas locais e de formação de novos artistas, se rebelando contra o Salão de Abril, criando o Salão dos Independentes e incentivando jovens artistas, frequentadores assíduos nos anos 1970 e 1980, como Eduardo Eloy, Allanno e Sergio Pinheiro.


No caminho das migrações também tivemos o artista Bené Fonteles, natural do Pará, que veio morar em Fortaleza nos períodos de 1959-1975 e 1978-1980, onde iniciou sua carreira artística com sua primeira individual em 1974 na Casa de Cultura Raimundo Cela. Bené Fonteles participou ativamente do meio artístico de Fortaleza e escreveu nos jornais da cidade atualizando o que acontecia nos grandes centros de artes plásticas. No seu texto em homenagem aos 25 anos de arte de Zenon Barreto, no XIX Salão de Abril de Fortaleza, em 1974, identifica na sérieCataventos do artista a sua supremacia da poesia, talvez próximo do conceito de Geometria Sensível, conceito do crítico pernambucano Roberto Pontual para a arte abstrata e concreta sul-americana.

 

JAQUELINE MEDEIROS é coordenadora de Artes Visuais do Centro Cultural Banco do Nordeste e curadora da mostra Z.Non.

 

Jaqueline Medeiros

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Construtivismo


A pintura e a escultura são pensadas como construções e liga-se diretamente ao movimento de vanguarda russa de 1913. O construtivismo teve impacto direto nos ideais da Escola Bauhaus na Alemanha. Não são pequenas as influências do construtivismo na América Latina, em geral, e no Brasil, em particular, no período após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), basta observar o movimento concreto de São Paulo, Grupo Ruptura, e no Rio de Janeiro, Grupo Frente.

 

Escola Bauhaus


Inaugura em 1919 com a fusão da Academia de Belas Artes com a Escola de Artes Aplicadas de Weimar, Alemanha, a nova escola de artes aplicadas e arquitetura traz na origem um traço destacado de seu perfil: a tentativa de articulação entre arte e artesanato. Os projetos do Instituto de Arte Contemporânea ( IAC) do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp) 1951, e o da Escola Superior de Desenho Industrial ( Esdi), do Rio de Janeiro, 1963, inspiram-se, cada qual a seu modo, no programa educativo da escola de Gropius. No campo das artes plásticas, é possível pensar no impacto das obras de Max Bill (1908 - 1994), na década de 1950, por meio das quais certos princípios da Bauhaus atingem o concretismo brasileiro.

 

Arte concreta


É compreendida como parte do movimento abstracionista moderno iniciado em 1917, na Holanda, mas só popularizado com Max Bill (1908-1994), ex-aluno da Bauhaus. Os princípios do concretismo afastam da arte qualquer conotação lírica ou simbólica. O quadro, construído exclusivamente com elementos plásticos - planos e cores -, não tem outra significação senão ele próprio. O ano de 1952 e a exposição do Grupo Ruptura marcam o início oficial do movimento concreto em São Paulo. Liderado pelo artista e crítico Waldemar Cordeiro (1925-1973), o grupo propõe em seu manifesto a “renovação dos valores essenciais das artes visuais”, por meio das pesquisas geométricas, pela proximidade entre trabalho artístico e produção industrial.

 

Geometria Sensível


Aproxima-se da noção de abstração lírica e de informalismo - como “geometria lírica” ou “sensível” -, indicando uma direção da arte abstrata inclinada ao percurso da emoção, ao ritmo da cor e à defesa da improvisação. Em sentido mais estrito, a designação faz referência à mostra Arte Agora III, América Latina: Geometria Sensível, realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) em 1978. Com curadoria do crítico e historiador da arte Roberto Pontual, a exposição reúne artistas latinoamericanos de diversas procedências, com a ambição de evidenciar um caminho comum e particular da arte construtiva latinoamericana, que teria “um sentido mais vitalista e orgânico”, além de um lirismo “tipicamente nosso”. O termo “geometria sensível”, seria capaz de definir de modo sintético uma expressão latino-americana específica.

 

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