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Fortaleza é uma cidade festeira. Tudo justifica uma comemoração. Um violão ou uma sanfona são o suficiente para agrupar pessoas e justificar a festa. O Carnaval mobiliza o Brasil de norte a sul em torno da folia. Fortaleza tem suas particularidades: tem seu Carnaval tradicional na Avenida Domingos Olímpio com os desfiles de blocos, escolas de samba e maracatus, mas no Pré-Carnaval a cidade se anima mais. Já no finalzinho do ano os blocos mostram a cara, com seus nomes criativos e provocativos. São dois públicos distintos: o do Pré-Carnaval e o da Avenida. O primeiro grupo se diverte e no Carnaval viaja para outras cidades. Este ano não está sendo igual aquele que passou. Medos e temores reduziram ou impediram que algumas comunidades deixassem de organizar suas festas e folguedos.
O Carnaval tinha como as demais festas, um caráter mais local, reunindo parentes e pessoas amigas, as mesmas que se divertiam em torno da fogueira nas festas juninas ou que encenavam a Vida de Cristo, durante as celebrações da Semana Santa. Essas reuniões de pessoas amigas foram perdendo seu caráter de manifestação local à medida que a cidade crescia e impunha escalas diferenciadas na organização das festas. A chegada do estranho, na maioria das vezes, incomoda. A festa contemporânea está sendo cada vez mais ressignificada. Enquanto manifestação imaterial da cultura adquiriu nova dimensão política, tornou-se moeda de troca, ganhando peso extraordinário no cenário eleitoral. Não é a toa que várias cidades disputam títulos de serem as melhores em determinadas festas e eventos.
Fortaleza tem tido perdas e ganhos na organização de suas festas. O Réveillon reúne uma multidão considerável. A estrutura móvel, após sua realização, desaparece totalmente da paisagem. Os estádios, sejam romanos ou contemporâneos, geram infraestrutura fixa como legado ao local. Uma festa do porte do Réveillon de Fortaleza permite múltiplas leituras. É palco, é palanque, é vitrine. É um brinde para os cidadãos, atrai milhares de turistas e ainda insere a cidade no rol das capazes de realizar eventos de grande porte. Ao mesmo tempo, é caos, é sujeira, lixo, dejetos e odores desagradáveis que contaminam as areias e provoca um enorme mal estar aos moradores da área onde se realiza. Todos estão lembrados da renhida luta pela retirada do Fortal da Beira Mar.
As festas e os folguedos se confundem com a própria história da sociedade. Religiosas, cívicas ou profanas ocupam espaços fixos demarcam percursos, quando de seu deslocamento. As praças são espaços preferenciais para a realização das festas. As religiosas com suas novenas, cultos públicos, quermesses, leilões, procissões vinculam-se à formação de fluxos de fieis em pontos ou percursos determinados da cidade, marcados pela fé. Os enormes arraiais reúnem a dimensão do sagrado e do profano em torno da festa. Muitas festas perderam visibilidade dando lugar a outras, com novos formatos, especialmente os megaeventos, inclusive, os religiosos.
O Carnaval de Fortaleza teve seu auge no interior dos clubes quando seus salões eram animados por orquestras e cordões. Protegidos pelos muros, as festas eram invejadas, eram de poucos. As agremiações que animam as ruas só adquirem visibilidade durante o Carnaval. O grande diferencial em Fortaleza foi a organização do Pré-Carnaval, particularmente nas ruas e praças do Benfica, da Praia de Iracema e do Papicu. Reunindo jovens da classe média, esses blocos inovaram e provocaram um fato novo na cidade.
A festa em Fortaleza adquiriu formato corporativo. No caso do Réveillon, a afluência do público de todas as classes sociais comprova sua aprovação popular. Entretanto, os gestores públicos devem garantir a infraestrutura capaz de dar suporte às festas populares conforme seu formato e abrangência: espaços compatíveis com a dimensão da festa, energia, plano de circulação alternativa para o transporte público e veículos particulares, assistência médica, vigilância sanitária, banheiros públicos, segurança pública etc. É fundamental que não se perca a dimensão da festa. Nosso povo é festeiro e a festa faz muito bem!
JOSÉ BORZACCHIELLO da Silva é doutor em Geografia, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e articulista do O POVO.
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