[an error occurred while processing this directive][an error occurred while processing this directive] A humanização do estereótipo | Vida e Arte | O POVO Online
ATUALIZAÇÃO 28/01/2012 - 17h00

A humanização do estereótipo

Os cariocas Cavi Borges e Luciano Vidigal realizam documentário sobre a vida dos atores de Cidade de Deus, uma década depois do lançamento
FOTOS DANIELA CANTAGALLI/ DIVULGAÇÃO
Os atores Darlan Cunha e Douglas Silva gravam depoimento para o documentário

 

Durante o festival de cinema Curta-Se em Sergipe, a jornalista e crítica de cinema Maria do Rosário Caetano procurou o cineasta carioca Cavi Borges para ajudá-la em uma matéria sobre o que aconteceu com os atores de Cidade de Deus, dez anos após sua estreia. Na época, Cavi já era amigo de vários deles e inclusive namorava a atriz Sabrina Rosa, que fez o papel da namorada de Mané Galinha (Seu Jorge). Foi Rosário quem sugeriu a proposta de fazer um documentário sobre o assunto. Para colocar em prática a ideia, o cineasta chamou Luciano Vidigal, que foi assistente de produção de Cidade de Deus. “Mandamos um e-mail pro Fernando Meirelles pedindo autorização e saber se ele topava nos ajudar. De cara, ele adorou a ideia, mas disse que não queria produzir pra gente. Apenas ajudaria no que fosse preciso”, explica Cavi.


Em fase de filmagens desde o início de janeiro e ainda sem patrocínios, o documentário Cidade de Deus – 10 Anos Depois pretende mostrar como está a vida dos jovens moradores da região, contratados para trabalhar no filme. Como o longa transformou suas vidas? Quem se deu bem e quem se deu mal com o sucesso do filme? “Temos uma equipe de filmagem que participou de Cidade de Deus como atores, que viraram produtores, câmeras e diretores. Eles também fazem parte dessa história e foram transformados pelo filme”, comenta Cavi.


Na co-direção, Vidigal é uma destas pessoas da equipe que maior teve envolvimento direto com quem trabalhou no filme de Meirelles. “O distanciamento é um grande desafio pra mim. A maioria dos atores eu vi criança e acompanhei o crescimento artístico e humano”, revela Vidigal. Entre os atores mais próximos, estão Douglas Silva, que fez o Dadinho; e Darlan Cunha, que interpretou Laranjinha. “Como documentário, é belo assumir o emocional desse encontro dez anos depois com os atores. Mas sempre trabalhando com a poesia e a sutileza”, afirma o diretor.


Apesar da delicadeza do assunto, as polêmicas descobertas em torno da produção são inúmeras e certamente serão abordadas pelo documentário. “Daria pra fazer uns cinco filmes diferentes com tantas histórias. Mas sabemos que tiveram atores que viraram bandidos. Outros viraram grandes atores e tem até um que virou cozinheiro e não quis continuar como ator”, frisa Cavi.


Uma das participações mais controversas é a do ator Rubens Sabino, que viveu o personagem Neguinho, que mata Zé Pequeno em Cidade de Deus. Em 2003, ele ganhou as páginas dos principais jornais do Rio por furtar a bolsa de uma passageira de ônibus, fugir com o celular e apenas R$ 26. Na época, ele afirmou não ter recebido nenhum centavo por sua participação no filme. “Apesar de ser um grande ator e uma pessoa com história de vida muito interessante, não queremos problemas com ele e com nosso filme”, pontua Cavi.


Para Vidigal que foi pesquisador de elenco de Cidade de Deus, o mais complicado na época da produção de 2002 era visitar muitas favelas para descobrir e selecionar atores com potencial. “A única coisa que o Fernando Meirelles exigia era que os jovens moradores das favelas tivessem vontade de fazer cinema”. A experiência de estar em set de cinema levou inclusive Vidigal a dirigir posteriormente o longa 5 X Favela (2010), projeto capitaneado por Cacá Diegues. Vidigal diz que aprendeu com o tempo “a humanização do estereótipo, a magia que envolve a verdade absoluta dos atores em cena e a estética da câmera como mais um personagem do filme”.


A história mais fascinante que Cavi Borges ouviu até o momento tem a ver com a visita do presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, à Cidade de Deus no ano passado. Obama queria conhecer pessoalmente o ator Leandro Firmino, que interpretou o famoso Zé Pequeno. No entanto, vários seguranças impediram muitos moradores a saírem de suas casas, em defesa da segurança do presidente norte-americano. “Como protesto, Leandro preferiu fazer um churrasco com os amigos e não ir ao encontro do presidente. Ele ama muita a sua comunidade e achou falta de respeito com seus amigos aquilo tudo e literalmente deu um ‘bolo’ no Obama”, conta Cavi.


Para o cineasta, Cidade de Deus foi um grande marco do cinema brasileiro, um divisor de águas que fez nosso cinema voltar ao circuito mundial. “O filme estimulou artistas e cineastas das comunidades a fazerem cinema também e mostrarem seus pontos de vistas”, afirma Cavi. Porém, o diretor revela que muitos moradores não concordam com as imagens mostradas no filme. Alguns acham ruim, outros não. Apesar disso, ele explica que a Cidade de Deus está pacificada e passando por reconstrução. “O governo resolveu olhar pra aquele lado de lá. Ruas em obras, calçadas reconstruídas, saneamento e esgotos sendo tratados. Muito legal essa transformação. Não vemos mais bandidos nas ruas com armas em punho”.

 

Veja também

Aos olhos do mundo
0
Comentários
300
As informações são de responsabilidade do autor no:
espaço do leitor
Nenhum comentário ainda, seja o primeiro a comentar esta notícia.
  • Em Breve

    Ofertas incríveis para você

    Aguarde

Erro ao renderizar o portlet: Caixa Jornal De Hoje

Erro: maximum recursion depth exceeded while calling a Python object

ACOMPANHE O POVO NAS REDES SOCIAIS

Erro ao renderizar o portlet: Barra Sites do Grupo

Erro: <urlopen error [Errno 110] Tempo esgotado para conexão>

O POVO Entretenimento | Vida & Arte