Um caminho escolhido

GABRIEL GONÇALVES

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Wagneide Menezes por Naara Vale

A história de hoje merece estar em um livro. Ou, pelo menos, deveria ser lida por quem acha que histórias de superação e força de vontade são coisas que só acontecem em novela. A protagonista é a doutora Wagneide Menezes, uma dentista que, quando criança, sonhava um dia ser chamada assim, mas que, para conseguir o título, sabia que precisaria lutar muito. Nascida e criada no Pirambu, bairro da periferia de Fortaleza, Wagneide cresceu alimentando o sonho de ter uma vida melhor, de um dia ser chamada de doutora e conseguir tornar-se uma realizadora de sonhos. Ela conseguiu, e foi além. “Não tenho a síndrome de Gabriela: nasci assim, cresci assim, sou mesmo assim. Nunca fui uma pessoa conformada, sempre sonhei muito alto”, descreveu-se.

1. PAI GUARDADOR

Passou boa parte da infância sem poder sair de casa para brincar na rua. Era a forma do pai de proteger os filhos do perigo que morava lá fora. Ao invés de achar ruim, Wagneide aproveitava o tempo para estudar. As saídas se resumiam às idas ao colégio Liceu do Ceará. Às vezes, botava o pé fora de casa também para ajudar o pai no bar da família, hoje transformado em um grande comércio do bairro.

2. SONHO DE UMA PESSOA SÓ

A ideia fixa de fazer uma faculdade, ganhar dinheiro e morar em um local com melhores condições era um sonho que só Wagneide apostava no início. Mais que viver em um bairro com melhor infraestrutura, o que ela queria eram simplicidades que muita gente nem imagina o valor: bonecas para brincar, um banheiro com chuveiro, uma casa resguardada de enchentes. Persistiu nos estudos até que conseguir passar de primeira para Odontologia na UFC. “Ninguém acreditava muito em mim”, conta. “Eu não tinha nada. Não tinha dinheiro, não tinha sobrenome. A única coisa que eu tinha era fé e força de vontade”, ensina.

3. PERSISTÊNCIA E REALIZAÇÃO

A visão da família mudou depois do resultado do vestibular. Como uma espécie de poupança, durante os anos de faculdade, o pai guardou garrafas vazias de cachaça em um quarto da casa. Ao final do curso, ele vendeu todas e, com o dinheiro, montou o primeiro consultório da doutora Wagneide Menezes, no Pirambu. Foram 13 anos ali, trabalhando até aos domingos. Enquanto isso, continuou investindo nos estudos. Especializou-se em ortodontia, implantodontia e hoje sua atuação é quase toda votada à reabilitação oral. “Teve uma hora que eu decidi focar no belo. Eu via aquelas atrizes de televisão e ficava imaginando onde elas tratavam do sorriso”, lembra.

4. REALIZADORA DE SONHOS

Atualmente considerada uma das principais referências em odontologia estética do Ceará, Wagneide diz que o principal retorno que a dedicação à profissão lhe dá é ver a alegria no rosto dos pacientes. “Quero realizar o sonho das pessoas. Isso para mim tem sido o meu melhor pagamento. Realizando o sonho das pessoas, Deus realiza os nossos”, ressalta. É verdade. Hoje, a realizadora de sonhos tem os seus próprios concretizados: um consultório próprio equipado com os mais modernos aparelhos odontológicos, mora em um confortável apartamento com vista para o mar, já conheceu a Europa toda em viagens. Seus pais continuam vivendo no antigo bairro, mas em condições completamente diferentes da sua infância.

5. PRÓXIMOS PASSOS

Aos 42 anos e mãe de um adolescente de 16 anos, Wagneide está com o foco todo concentrado na profissão e na instalação do próprio ateliê para montagem de peças odontológicas de cerâmica. Recentemente, ela comprou também um consultório móvel que vai auxiliá-la nas missões sociais que planeja fazer na África, em breve. Missionária da Igreja Verbo da Vida, a dentista sonha em ajudar outras pessoas levando não só saúde bucal, mas também um pouco de sua história, uma lição que serve de exemplo para qualquer um. “Quero levar amor, o toque, a conversa, quero levar sonhos”.

Naara Vale é repórter do Núcleo de Cultura e Entretenimento do O POVO