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11/05/2008 - 19h52

Peixoto de Alencar<br> "... O Ceará escuta"

Foi por causa da força da Dragão do Mar que Peixoto de Alencar chegou à Assembléia Legislativa e à superintendência do Instituto Nacional de Previdência Social. Era o tempo da lei do cartãozinho de político e ídolos do rádio
(Foto: Mauri Melo)

Cláudio Ribeiro, Demitri Túlio, Landry Pedrosa e Thiago Cafardo

da Redação

A sugestão de entrevista partiu do jornalista e ouvinte de rádio Landry Pedrosa, 63. Em seu tempo de rapaz novo, insistia, "quando Peixoto de Alencar falava pela ondas da Rádio Dragão do Mar, o Ceará escutava". Mais instantânea que qualquer época de Internet, a Dragão dava as cartas e aparecia como principal meio de oposição ao governo de Flávio Marcílio, da coligação PTB/UDN (1958-1959), e depois reprimida pela ditadura militar instalada a partir de 31 de março de 1964, sendo vendida pelo industrial Moysés Pimentel ao general Almir Macedo de Mesquita.

Nasceu como tribuna para juntar em um meio de comunicação particular, a corriola do senador Valdemar Alcântara e os militantes do Partido Social Democrático (PSD). Na fase de Moysés Pimentel pré-1964,, entre os nomes que se opunham ao coronel Virgílio Távora, primeiro governador do Ceará durante o período da Ditadura (1963-1966), estavam os jornalistas Blanchard Girão e Peixoto de Alencar.

A Dragão do Mar, cada um a seu estilo, destilava críticas. O que era considerado desgoverno ou impopular virava editorial no texto de Blanchard Girão da crônica A Nossa Palavra ou nos apimentados comentário políticos bradados pelo vozeirão de Peixoto de Alencar. "O idealista era o Blanchard. Eu apenas lia, na hora do Diário de Notícias, o que não saía nas outras rádios de nos jornais de Fortaleza", relembra Peixoto.

Tanta paulada no governo acabou rendendo aos dois comunicadores votos e duas cadeiras na Assembléia Legislativa do Ceará. Mas, o ônus por causa da língua afiada viria também a galopes e coturnadas. Com apenas quatro meses de parlamento, Peixoto de Alencar teve os direitos políticos cassados e foi preso - a exemplo de Blanchard Girão. Os dois também foram testemunhas do lacre da Dragão do Mar e de sua reabertura. Agora, sob as ordens do general Almir Macedo Mesquita, que "goela abaixo", substituiu Moysés Pimentel.

Ao sabor do destino, da aproximação de pessoas influentes como o então presidente Juscelino Kubitschek, de suas seis formaturas e de seu jeito "gaiato", Peixoto de Alencar foi fiando história entre Baturité, Fortaleza e o Palácio do Catete no Rio de Janeiro. Aos 81 anos, um dos últimos radialistas da era de ouro do rádio cearense, recebeu O POVO para uma conversa no bairro Monte Castelo. "Sou o mais antigo. Mas tem também o Narcélio Limaverde e o Cid (Carvalho)", ri. Acompanhe, a seguir, a entrevista.


O POVO - A Dragão do Mar foi uma rádio importante mesmo para o Ceará?
Peixoto de Alencar - A Rádio Dragão do Mar está completando agora 50 anos (foi fundada em 25 de março de 1958). Um dos fundadores fui eu. Eu que dei esse nome, em homenagem ao Dragão do Mar, de Aracati (primeiro jangadeiro a se recusar a transportar escravos). É um símbolo do rádio cearense. Tínhamos vários nomes: Rádio Capital, Rádio Fortaleza... Nessa época, eu era membro da executiva estadual do Partido Social Democrático (PSD). Eu ainda não era deputado, estava muito longe ainda. O doutor Valdemar Alcântara foi fichado e não tinha espaço pra falar nas rádios e jornais. Eu já era economista, isso há 50 anos, e disse: "Doutor Valdemar, tenho uma sugestão pra lhe dar. Você pega os principais líderes do partido (PSD) no Ceará, faz uma cooperativa. Cada qual contribui com um bocado de dinheiro e compra uma rádio. Aí, fizeram essa cooperativa e compraram uma rádio. Nesse tempo, eu já estava como delegado do IAPC (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários). E o 11º andar do IAPC estava desocupado. Eu sugeri e eles, arrendaram o andar do prédio (funcionava na rua Pedro Pereira, entre Barão do Rio Branco e Major Facundo. Onde atualmente é o INSS). Foi ali que a Dragão começou. Passei a ser comentarista político e dizia muita coisa que desagradava, inclusive, o governador Virgílio Távora (a rádio já era na avenida do Imperador). Uma vez ele chegou pra mim e disse: "Alencar, como você faz isso comigo?"

OP - Eram dois partidos fortes naquela época?
Peixoto de Alencar - Eram dois. O PSD (Partido Social Democrático) e a UDN (União Democrática Nacional). Nesse tempo, não tinha televisão. Ou melhor, tinha televisão, mas sequer chegava na Parangaba. Estava começando a implantação. Então, a Dragão do Mar se tornou a emissora mais potente, mais importante do rádio cearense. Além dela, existiam a Rádio Iracema e a Ceará Rádio Clube.

OP - O senhor lembra qual foi o último texto que o senhor leu na Dragão do Mar, que resultou na sua prisão?
Peixoto de Alencar - Isso foi em 1964. Eu era comentarista político, né? A gente falava várias coisas todos os dias. Fui preso porque criticava o governo.

OP - Quantos dias o senhor ficou preso?
Peixoto de Alencar - Passei 39 dias no 23º BC (Batalhão de Caçadores), em Fortaleza.

OP - Como foi o dia de sua prisão? Eles foram buscar o senhor na rádio?
Peixoto de Alencar - Esse dia foi mais ou menos 30 de abril. É... Hoje está fazendo aniversário da prisão (a entrevista foi gravada no último dia 30). Eu, Blanchard Girão, Amadeu Arrais... Foram 80 presos.

OP - Eles foram lá na rádio, botaram o senhor no jipe e levaram para o quartel?
Peixoto de Alencar - Não. Meu irmão era tesoureiro do Círculo Militar. Aí ele disse pra mim: "Vamos dar uma voltinha por aí que eles vão na rádio. Estão te procurando". Eu ainda fui pra Baturité, fiquei lá. Dias depois, fui me apresentar (no quartel). Houve pressão, claro. Aí eu resolvi me apresentar. Depois saí de lá e voltei para o mesmo emprego. Eu trabalhava de fiscal do Instituto (IAPC) e não perdi meu emprego. Nem na rádio.

OP - Torturaram o senhor no quartel?
Peixoto de Alencar - Não. nada, nada, nada...

OP - E foram os interrogatórios?
Peixoto de Alencar - Muita conversa, só. Inclusive, o presidente do inquérito, o major Hortêncio Aguiar, me perguntava porque eu atacava tanto o governo. Por que eu falava tanto mal das autoridades. Depois, a rádio passou para as mãos do general Almir Macedo de Mesquita.

OP - Tem uma história que alguém foi no quartel e perguntou com quem poderia falar para soltar o senhor?
Peixoto de Alencar - Eu não era comunista. Eles sabiam. Eu era comentarista político da rádio. Falava sobre o dia-a-dia. O Blanchard (Girão) já era o redator.

OP - Senhor Peixoto... (interrompe)
Peixoto de Alencar - Senhor Peixoto não, que nós temos a mesma idade (risos)...

OP - Durante o interrogatório no quartel, o senhor disse que não era comunista e que seguia o que o dono da rádio, Moysés Pimentel, orientava. O senhor e o Blanchard não eram movidos por um ideal político?
Peixoto de Alencar - Nós éramos diferentes. O Blanchard fazia A Nossa Palavra, que era a voz oficial da rádio. Ele era idealista. Eu criticava o governo, só.

OP - Peixoto, por que o senhor quis ser deputado?
Peixoto de Alencar - Eu não tinha essas vontades todas, não. Era do PSD e acabei entrando... Não tinha muita motivação.

OP - O senhor chegou a pegar sua ficha do Dops (Delegacia de Ordem e Política Social)?
Peixoto de Alencar - Não peguei. Eu tenho direito a R$ 50 mil de indenização, mas nunca fui tirar. Não guardo nenhum documento daquela época. E um amigo do governo limpou meu nome dos arquivos.

OP - Peixoto, a Rádio Dragão do Mar foi lacrada na época da ditadura. Depois, a rádio voltou a funcionar com o general Almir Macedo de Mesquita na presidência. A nomeação dele foi imposição do regime?
Peixoto de Alencar - Quando o Moysés Pimentel foi cassado, ele acabou assumindo a rádio. Mudou totalmente. A rádio passou a atender os interesses do governo.

OP - O senhor passou quanto tempo como deputado estadual?
Peixoto de Alencar - Ah! Isso é muito interessante. Eu era o terceiro suplente para deputado estadual. O primeiro suplente era o Brasilino de Freitas. O segundo era o Aníbal Bonavides. E o terceiro suplente, eu. Aí, o Aníbal foi fazer uma viagem para a Rússia. E o Brasilino disse pra mim: "Peixoto, eu me candidatei pra ser deputado estadual, não foi pra ser vice. Pode assumir".

OP - Na Dragão, o senhor sempre fez jornalismo político?
Peixoto de Alencar - Só político. Antes eu trabalhei na Rádio Iracema.

OP - E o primeiro trabalho do senhor foi como balconista?
Peixoto de Alencar - Isso. Balconista lá da Mercearia Salomão. Depois passei para Casa Bodega. Só trabalhei com galego, em Baturité. Aí vim para Fortaleza estudar. Passei a trabalhar um só expediente, consegui estudar. Tenho seis formaturas: Direito, Ciências Contábeis, Administração, Administração Pública, Ciências Atuariais e Jornalismo. Minhas colegas de faculdades sempre diziam: "Peixoto, mas seis faculdades?". Naquele tempo, a gente podia, né? A última foi Administração Pública, eu tinha uns 40 e poucos anos.

OP - Peixoto, e como foi a campanha que o senhor fez para tirar um norte-americano da câmara de gás (Caryl Chessman, condenado à morte em 1960 nos Estados Unidos)?
Peixoto de Alencar - Foi uma campanha que eu fiz na Rádio Dragão do Mar, em todo o Ceará. Foi transmitido em várias rádios do Brasil, até na Rádio Nacional. Eu sei que a campanha foi muito grande.

OP - E por que a rádio fez essa campanha?
Peixoto de Alencar - Era uma campanha mundial, rapaz. Esse cara era muito importante na história dos Estados Unidos, certo? E pegar pena de morte! Mas mataram ele mesmo assim.

OP - E ele foi acusado de homicídio sem praticar?
Peixoto de Alencar - Eu sei lá (risos). Fizemos a campanha e pronto.

OP - Como foi o trabalho da Dragão quando o Orós arrombou?
Peixoto de Alencar - O Orós arrombou. Então, veio JK (Juscelino Kubitschek). Até fotografia tirei com ele. Eu transmitia direto de lá. Andei com JK em Camocim, Sobral, Iguatu, Juazeiro, Crato... Depois, eu me taquei pro Rio de Janeiro para o Parsifal Barroso. Cheguei lá, fui recebido pelo ministro do Trabalho (Parsifal) e ele me encaminhou para o JK. Na época, eu era do IAPTC. E o JK mandou, através de cartão, me nomear secretário de arrecadação e fiscalização do IAPC. Por causa da Previdência, acabei escrevendo uma coluna sobre aposentadoria no jornal O POVO.

OP - O senhor marcou época na Rádio Dragão do Mar. De quem foi a criação do jargão: "Peixoto de Alencar, quando fala, o Ceará escuta"?
Peixoto de Alencar - Foi do Valdir Xavier (também era radialista). O programa era das 12 horas às 12h30min, com o nome de Rádio Notícias.

OP - O senhor ainda é um ouvinte assíduo de rádio? Quais programas o senhor prefere hoje?
Peixoto de Alencar - Aqui e acolá eu ouço o menino, o Nonato (Albuquerque). Na TV, rezo o terço todos os dias vendo a Rede Vida com minha esposa.

OP - O senhor é de uma turma de radialistas, como Narcélio Limaverde, Wilson Machado, José Lisboa e José Pessoa de Araújo?
Peixoto de Alencar - Conheci Wilson Machado no Crato, trabalhando em uma amplificadora. Eu fundei a Rádio Iracema também, em 1948. Nessa época, a Rádio Iracema era da Arquidiocese. Passei oito anos lá e depois fui pra Dragão.

OP - Nesse tempo o Carnaval era forte em Fortaleza. Teve o episódio do porre que o senhor deu no rei Momo e fez ele abrir, com exclusividade, o Carnaval pela Dragão. Gerando uma confusão entre as emissoras.
Peixoto de Alencar - Não lembro disso (risos). Ele era amigo da gente, só. O Carnaval começou pela Dragão do Mar. (O rei Momo anunciou a rádio como sendo a emissora oficial da festa).

OP - Na atual composição da Assembléia Legislativa do Ceará, existem quatro radialistas que foram eleitos pela força do rádio ou TV. Edson Silva, Ely Aguiar, Ferreira Aguiar e Gomes Farias. Naquela época, o deputado que saía do rádio era atuante ou apenas populista?
Peixoto de Alencar - Eu era atuante. Cheguei até a conseguir uma ponte para Baturité, minha terra. Conseguimos trocar a ponte velha que tinha lá. Consegui escolas. Eu tinha atuação. Mas eu passei pouco tempo, só quatro meses lá.

OP - O senhor chegava a ser reconhecida só pela voz?
Peixoto de Alencar - Sim, só pela voz. Ainda hoje aqui e acolá eu pego um táxi e sou reconhecido. Muitos motoristas me reconhecem. Peixoto de Alencar era um nome e tanto, rapaz! Foram 40 anos. Oito na Rádio Iracema e 32 na Dragão do Mar. Minha última transmissão foi depois de aposentado, quando eu voltei pra rádio. Não lembro o ano. Hoje, sou o radialista mais velho de Fortaleza. Depois de mim vem o Cid Carvalho (professor, ex-senador e jornalista) e o Narcélio Limaverde... Já me convidaram para voltar à Rádio Dragão do Mar. Mas estou de férias (risos)...

OP - O senhor gostava da noite?
Peixoto de Alencar - Eu saía todo dia (risos). A gente juntava lá na praça do Ferreira jornalista, radialista. Começava 8 horas da noite e ia até de madrugada. Era todo dia, de segunda a domingo. A gente andava naquele Centro tudinho (risos).

OP - Dentro do rádio, o senhor acha que viveu tudo que tinha de viver?
Peixoto de Alencar - Tudo que eu tinha vontade eu fazia. Não tinha boca fechada para mim. Só gostava de fazer política mesmo. Nunca quis fazer novela. É muito fresco esse negócio (risos).

OP - Por que o senhor adotou o nome Peixoto de Alencar (o nome de batismo é José Olavo Peixoto)?
Peixoto de Alencar - Eram 135 candidatos para locutores e só passaram três na Rádio Iracema. Eu e mais dois, um deles era o Bertrand Boris. Aí, o César de Alencar, um dos grandes radialistas do Brasil, estava aqui. Eu me apresentei: "Meu nome é José Olavo Peixoto, vim de Baturité...". Ele disse: "Que negócio é esse de locutor de rádio chamar José Olavo Peixoto. A partir de hoje será Peixoto de Alencar". Aí fiz minha alteração no registro civil para José Olavo Peixoto de Alencar.

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